- SAARA -
- 06 -
TOPÁZIO
O noviço Euclides de Astúrias
lembrou sem emoção e de imediato do tempo no qual chegou ao Convento. A marcha
ela longa e o acesso para subir a íngreme ladeira não era tão fácil assim.
Pelo mesmo caminho percorrido o noviço, sempre com o seu trajar de monge
observou um senhor de tantos anos mais parecendo um eremita a caminhar lento
para subir a escarpada estrada. Esse senhor pelo seu trajar, também era um
monge. A andejar com passos lentos, o ancião parecia cansado demais.
Provavelmente pela sua prolongada idade. De pés calejados, provavelmente com
seus joelhos inchados o ancião levava tempo a caminhar. De onde chegava, ele
não disse. Nem tampouco o seu nome. Apenas pediu ajuda a noviço para peregrinar
a segurar o seu braço. E ambos foram a subir a escarpada e dificultosa estrada.
Era andar e parar um pouco para repousar. E em uma dessas paradas, o monge falou
de vários fatos até chegar ao tempo do Cálice Sagrado. O velho monge indagou se
o noviço sabia de algo com relação a esse mito. O noviço respondeu ser o Cálice
o recipiente servido durante a Ceia do Senhor. O velho monge curvou a sua
cabeça e passou a lhe contar uma
história:
Ancião:
--- Filho! Deixe eu te contar uma
história. (disse isso e descansou). Há muito tempo, no tempo de Jesus, houve
uma ceia. Era como qualquer outra ceia. O certo é que no simples banquete o
Mestre reuniu os seus discípulos e mostrou o “Cálice” ou para se falar melhor,
a sua mulher. Maria Madalena. Jesus era casado com Madalena. E sua esposa
estava grávida, ou seja: a sua mulher havia de dar à luz a um seu filho, pois
Madalena tinha em seu ventre o “sangue” verdadeiro do Senhor. Veja bem o que
diz o Evangelho: ela era a “bandeja” do Mestre e em seu cálice, se bem quereis
saber – em seu útero estava depositado o sangue do Mestre: o sangue real. Se o
jovem não soube ainda, Jesus era um Rei e sua mulher, uma Rainha. Após os judeus
terem crucificado Jesus, um seu seguidor, homem nobre e rico, levou o “objeto”,
ou seja, Madalena, devidamente santificada ou grávida para um local seguro.
José de Arimatéia era membro do Tribunal Judeu. Logo após a crucificação, José
pediu a Pilatos para que o deixasse sepultar o corpo de Jesus e o inumou em
suas terras. Por isso mesmo ele foi expulso do Sinédrio e feito prisioneiro. E
passou longo tempo na prisão. Nesse período, Madalena levava todos os dias à
refeição para José. Certa vez, o próprio Cristo foi até ele e pediu que, quando
solto, fosse o guardião de Madalena e do seu filho (ou filha). Após conquistar
a sua liberdade Arimatéia viajou para a Inglaterra e levou Madalena com
ele. Na Inglaterra, José fundou uma
pequena Igreja onde atualmente há ruinas da Abadia de Glastonbury. Madalena
ficou da França. Ela concebeu a menina Sara. Sara Saint-Clair. Na época em que
Sara nasceu, a França tinha o nome de Gália. A própria Madalena relatou ter viajado
para a Gália com sua filha Sara e ali morou até o fim de sua vida. É essa a
verdadeira história do Santo Graal. – relatou o monge ancião
De Astúrias:
--- Meu Jesus! Então era ele
casado? – perguntou quase sem fala.
Ancião
--- Há muitas lendas a respeito.
A lenda de Arthur e a Távola Redonda podem ser associadas a Jesus e seus
apóstolos. A lança que fere Cristo pode ser interpretada como o elemento
masculino; o cálice como o útero feminino. Portanto, há um simbolismo do sangue
nobre (de Jesus Cristo) fecundando o “útero mágico”. – reportou o ancião bastante
cansado.
De Astúrias:
--- Quer dizer que o que se prega
não é a verdade? – indagou perplexo o noviço.
Ancião
--- Não. Inteiramente, não! –
tossiu o ancião com acesso de asma.
Alarmado com a tosse do ancião, o
noviço tentou fazer algo, como pressão em suas costas para o Monge parar de
tossir e se sentir mais confortável. Foi um instante de temor para o noviço. O
Mosteiro ainda era distante para ele pedir ajuda. Alguém devia conhecer o
ancião naquela casa de orações. Mesmo assim, o noviço apenas observou de longe
o Mosteiro e, de imediato continuou a massagear as costas do idoso. Das árvores
partiam um bando de andorinhas em busca de outros locais mais aprazíveis. Um
cão a ladrar fez sua apresentação. O tempo seco não permitia o vento a acoitar.
O calor àquela hora era intenso. Das matas, as mariposas inauguravam sua façanha de um lado para outro.
O chão duro mostrava apenas o sulco profundo das rodas das carretas que por alí
passavam. Das áleas ouvia-se o silvo dos pássaros. Um rato do mato surgiu de
repente como querendo observar o sucedido e sumiu de vez. O ancião pediu um pouco de água. O
noviço procurou tirar de repente de seu cantil a água desejada. Todo isso era
feito em ligeiro tempo com o rapaz a correr de um lado para outro em busca de
algumas folhas ou sementes de acácia para fazer uma infusão. O tempo corria
célere e o ancião se esticava para trás como forma de deixar o ar penetrar bem
dentro de seus pulmões. O noviço encontrou uma porção de gengibre e colheu para
mais que depressa fazer o unguento. E falou:
De Astúrias.
--- O que não mata, engorda. –
falou baixinho o noviço.
No Mosteiro, às quatro horas da
manhã, a sineta dobrava para despertar os Monges. Era tudo escuro no vão dos
cômodos. Os discípulos se levantavam para as suas obrigações diurnas ouvindo ao
longe o cantar gregoriano dos mais atentos. O Mosteiro era um local onde se
podia fazer de tudo um pouco, desde cuidar a hora a ouvir a Santa Missa diurna
às seis e meia da manhã. Os Monges faziam todos os dias as suas obrigações. Ser
monge é um chamado a viver de maneira mais perfeita à vocação cristã. Era nesse
aspecto ter o noviço o seu fervor. Já estando no interior do Mosteiro de São
Simplício. O noviço Euclides se apresentou ao monge beneditino Ambrósio de
Escócia o homem seu protetor. No templo
De Astúrias se acomodou em quarto com muito pouco de conforto. Após a Santa
Missa da manhã era servido o café um uma banca para dois Monges. De vestes
completas o Monge seguia os preceitos da Religião Cristã. Entre outras
obrigações, o noviço de Astúrias tinha o dever de ajudar o Monge Ambrósio de
Escócia em suas pesquisas sistemáticas no Observatório da Serra. Do largo do
Mosteiro, os monges dedicados a tal fim
limpavam o mato e colhiam frutas ou regavam os canteiros, cuidavam dos
animais ou mesmo faziam a limpeza diurna. Na cozinha, os Monges faziam o
preparo de suas comidas. O Tempo era de paz de sossego com as suas árvores bem
tratadas e se separando as casas simples dos anciãos. Às nove horas da manhã
tinha a Terça onde os Monges cantavam os hinos de louvor. O suplício já não era
tão exigido, apesar de alguns Monges ainda praticassem. O suplicio era uma
forma de se guardar do corpo aquilo que não era aprazível. Ou mesmo uma
desobediência ou um pensamento maldoso. Para depois do meio dia, o Monge parava
para o almoço onde todos participavam de modo silencioso. De uma parte do salão
ouvia-se a pregação de um Monge agradecendo a Deus os alimentos dados. O tempo
passava até das duas horas e meia da tarde onde os Monges se reuniam para agradecer
o bom dia que eles haviam tido sob o canto gregoriano. Era uma vida muito dura
viver em um ideal de não ser tão simples. O Mosteiro era uma esfera especial à
frente do mondo profano. A dificuldade maior é entre a própria pessoa.
Necessita-se de muitos anos para se conviver de um modo pacífico. É uma alusão
de que no Mosteiro o Monge seria o que nunca deveria ser. Se o Monge pensa em
ser um diamante nunca vai ser um topázio. Por isso, essa vida é uma grande
dificuldade de aceite a si mesmo ou conviver com outro. É, enfim, descobrir o
sagrado dos demais irmãos.. O dia termina às sete e quinze da noite com novas
preleções e o cantar gregoriano.
Pregação:
--- “Vinde e vede como é bom.
Como é bom os irmãos viverem juntos e bem unidos”. – essa é uma das preleções.
O dia já estava chegando à sua
metade. O Monge Ambrósio de Escócia observou o noviço com muita atenção para
poder falar de algo. E assim fez:
De Escócia:
--- Vos me perguntastes sobre
aspecto do Graal. É bem simples. Porém de difícil assimilação. O que eu vos
direi são coisas que vós tardiamente sabereis sobre essa parte da vida profana
que ainda tendes de ver. Exemplo: Graal é um cálice. Esse cálice de se beber
apenas. Mesmo assim, se quereis saber da verdade, estude mais e por completo
para que possais entender melhor. – dialogou o mestre com muita prudência.
O noviço escutou aquilo que seria
uma repreensão e, de momento, nada mais quis saber. As palavras do ancião lhe
pairavam vivas como um tempestuoso dilúvio. O noviço não podia falar do que lhe
disse o ancião, pois bem parecia um senil mais que nada. Embasbacado, o noviço
seguiu para a capela onde faria o seu suplício como forma de penitência. Era a
hora do descanso matinal para todos os monges. O noviço ouviria a preleção do
meio dia para depois voltar à sala do suplício onde faria em silencio o magoado
pedido de perdão. Na clausura, era a hora de se fazer penitência como forma de
arrependimento.
De Astúrias:
--- Perdão meu Senhor por duvidar
de Ti. – recitava o noviço por diversas vezes.
Com isso, o jovem demorou o um
logo tempo de cabeça abaixada e com o olhar inquieto por ter duvidado do seu
Mestre naquela manhã.
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