- MANSÃO ASSOMBRADA -
- 18 -
FANTASMAS
No domingo pela manhã, Edgar Penteado
ainda estava fechando uma encomenda de gado para outro fazendeiro do Estado da
Paraíba. Das cabeças de gado existentes na fazenda, aquelas eram bem poucas
para se negociar. A vida era difícil na
fazenda Dois Irmãos. De um jeito ou de outro, era possível se vender algumas
cabeças passada a II Guerra Mundial. Entre negócios e conversas entre ele e o
capataz surgiu a história contada a ele por sua mãe. Essa, por sua vez já
ouvira contar por sua avó. Quer dizer: era uma antiga história podendo ser de
carochinha. Edgar lembrado o contado do dia passado, animou a festa com esse
evento.
Edgar:
--- A minha mãe conta uma história
ouvida da sua avó. Isso já faz muito tempo. Minha mãe era uma jovem dos seus 17
anos de idade. Dizia-me que a sua avó contava essa historia vivida pelos seus
parentes quando estavam em Portugal. Isso já faz muitos anos. Meus tataravôs
moravam em um casarão nas imediações de Lisboa, em uma espécie de mansão. Era
algo bem gigante e nesse tempo não havia iluminação elétrica. Era tudo a
querosene. Havia luminárias ao redor de toda a mansão. Por dentro e por fora.
No período do inverno, havia calefação feita em cada cômodo da mansão.
Queimava-se madeira. Isso ainda hoje se faz. As lareiras. Mas, os meus
tataravôs se aqueciam de todo modo. As lareiras ficavam sempre acesas. E minha
mãe ouvia de sua avó algo de arrepiar. Os seus parentes mais distantes, com certezas
avós de minha tataravó por assim falar. Certa noite de muito fria e intensa
chuva a mansão se encheu de medo. Não sei bem o que foi, mas o alarme das
crianças correu por todo o quarteirão.
Meninas:
--- Fantasmas! Fantasmas! Fantasmas!
– gritavam as crianças a correr de corredor afora enchendo de terror quem já
estava deitado ou dormindo, disse o advogado.
Edgar:
--- E o pessoal acordou. Todos
acordaram! Criadagem! Mãe, pai, avós! Todos enfim! As crianças alarmadas
gritavam a um só tempo! – falou o homem.
Meninas:
--- Eles estão lá em cima! Socorro!
Acudam-nos! Mãe! Papai! – gritavam as meninas.
Foi, na verdade, um terror em plena
noite de inverno. A criadagem não sabia o que fazer. Mãe e pai do mesmo modo.
Enfim, diante de tudo, uma voz se ouviu. Era da avó! Ela falou, sem susto, ter
visto esse “fantasma” quando ainda era criança. E sempre ele aparecia. A avó
nunca gritou. Ela brincava com o “fantasma” e o ouvia. Sempre o espectro
dizia-lhe ter vivido naquelas terras. Era a sua casa. E sentia-se bem, pois a
guerra passara e no local se sepultava muitos corpos. Ele era o coveiro do
cemitério da região. E trabalhava a fio. Dentre os espectros vários deles
estavam a passear pela vizinhança buscando amizades com outros espíritos. Ela
revelou ter visto espíritos não conhecidos. E muitas outras coisas mais.
Edgar.
--- Tudo isso a minha mãe conta. Ela
fala ter conhecimento por intermédio de sua avó. – disse sem medo
Carrapicho:
--- Mesmo sem acreditar nessa
história, a minha avó me contava casos acontecidos, conforme dizia de negócios
de assombrações e cemitérios. Eu era menino. Ele contava que uma mulher – seu
nome era Conceição - certa vez foi ter
com uma velha índia. A índia fazia mesinhas. Era uma curandeira. E a mulher,
dona Conceição, vivia triste, não comia e nem gostava de falar com o povo. Ela
dizia não gostar de quem se metia na sua vida. E também não trabalhava em casa.
O seu marido a deixou por causa desses tormentos. E dona Conceição vivia amuada
em um canto da sala, sozinha e na maior parte do tempo também calada. Quando
esteve com a índia levada por sua irmã, ela disse que a velha não sabia coisa
alguma.
Conceição:
--- Sinha velha. A senhora não sabe
coisa alguma. – declarou a mulher
Carrapicho.
--- E amaldiçoou a velha índia e toda
sua gente. Falou coisas horríveis. Depois disso sumiu. Mas a minha avó sempre
dizia que, se há vida após a morte, a vida não acaba aqui.
India:
--- Algumas almas conseguem achar o
seu caminho para outro plano. Outra, por diversas razões continuam nessa parte
da Terra. – falou a índia.
Carrapicho:
--- Depois dessa confusão, dona
Conceição voltou para a sua casa e se enfurnou de novo. Certa vez, uma mulher rumou para o local do
cemitério em plena noite. E essa mulher era dona Conceição. Ela entrou no
cemitério sem bater em coisa alguma. Dona Conceição já havia passado desse
mundo para outro há alguns anos. Quem a viu foi um mendigo. Ele dormia numa das
catacumbas. Mas há aquela altura, ele estava acordado contando o seu apurado do
dia. E dona Conceição ainda não tinha subido
como todos os espíritos fazem. No dia seguinte, quando amanhecia, o mendigo se
topou com uma mulher que aguava os canteiros das catacumbas. E ele contou o que
viu na noite passada. A mulher, Nazinha, contou a historia a supervisora, a
senhora Maria Soledade. A senhora Soledade ouviu e nada comentou. Nesse mesmo
dia, dona Soledade foi verificar o estado do cemitério e sentiu a presença de
alguma coisa. Mas que depressa a mulher caminhou para o seu escritório do
cemitério a sentir ter uma sombra a perseguir até quando chegou ao seu gabinete
de trabalho. Na mesa de trabalho encontrou entre outros objetos, um anúncio de
jornal no qual informava sobre o programa na difusora e se alguém precisasse
era apenas ligar para o setor. Ela de imediato ligou para um homem e pediu a
sua colaboração no cemitério. Era bastante procurar dona Soledade. E o homem
chamado Francisco que foi ao cemitério sentiu uma sensação de peso, sem poder
andar, com forte dor de cabeça. Seu Francisco estava acostumado com esse tipo
de evento. A chegar ao cemitério encontrou uma coisa violenta. Era um fantasma.
Fantasma de mulher. Seu Francisco levava sua máquina fotográfica e tirou de
imediato umas fotos. Era de uma mulher de cabelos longos, vestindo escuro. A
mesma imagem dita pelo mendigo. De posse
dessas fotos, dona Soledade pesquisou no obituário e encontrou o registro de um
sepultamento de dona Conceição. Ela havia morrido há alguns anos.
Edgar:
--- E então? A Conceição pediu ajuda?
– indagou o advogado.
Carrapicho:
--- A minha avó disse que depois de
algum tempo, a índia chegou à casa de dona Conceição para oferecer ajuda, pois
sabia está o espírito da defunta em grande aflição. A velha disse ter contato
com a defunta. E a família da morta concordou em se fazer esse contato, pois em
sua casa, já não havia sossego depois de sua morte. Panelas caíam, pratos se
partiam, pilões batiam sem ninguém bulir até uma menina de seis anos ficava
brava sem nenhuma explicação. O espírito de dona Conceição veio até a velha
índia totalmente confusa sem nenhuma consciência do feito. Ela apenas agia. E ameaçou a irmã
de um acidente. A defunta ameaçava matar a irmã na cacimba. – relatava o
capataz.
Edgar:
--- Cacimba? Como é que pode? –
indagou angustiado.
Carrapicho:
--- A irmã de dona Conceição era casa
e tinha um filho. Certo dia, quando ela foi tirar água deu-se a confusão. O
garoto caiu dentro da cacimba. Não fosse o avô do menino ele teria morrido. –
contou o capataz.
Edgar:
--- Meu Deus do Céu! E então? –
perguntou o patrão.
Carrapicho
--- Bem. Disse minha avó que uma
pessoa que se suicida não mais liberdade de subir. Ela fica sozinha e se
transforma em um espirito agressivo. A irmã da defunta pediu a índia deixar a
sua mãe de fora do suplicio. A briga era entre a defunta e a irmã. Então a
velha índia entendeu e disse que era a hora de fazer com que dona Conceição se
desligasse de vez de sua irmã. E então a índia fez as suas preces e benzeu a
irmã da morta para poder conseguir a libertação da defunta. – explicou o
capataz
Edgar;
--- É o que eu digo. O espiritismo é
assim. Tem casos tão complicados como esse. Eu acredito que, se o senhor puder
frequentar o nosso centro seria melhor ainda. – falou o patrão
Carrapicho:
--- É como eu disse. Eu contei a
história ditada por minha avó, mas eu mesmo não levo em conta. Pode ser até
verdade. Mas eu não vou acreditar nessas coisas. – declarou o Capataz.
Na tarde daquele domingo, Edgar
Penteado retornou a Natal levando em seu pensar tudo o que houve com a mulher
em algum lugar do interior do nordeste. Outros fatos estariam por acontecer,
com certeza. Eram seis horas da noite quando o homem chegou à residência de sua
mãe, dona Maria Amélia. Próximo à praia do Meio, dia de domingo, o movimento já
estava tranquilo naquela área. O bonde passava com os seus passageiros vindos
da Cidade. Poucos eram os que subiram quando a lança fez a volta para o bonde
retornar. Uns torcedores de um time seguiam pela calçada a afora discutindo o
resultado da partida daquela tarde. Edgar não se importou como tudo e fez o
descarrego das frutas para deixar em sua casa.
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