domingo, 3 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capitulo Dezoito -

- MANSÃO ASSOMBRADA -
- 18 -
FANTASMAS
No domingo pela manhã, Edgar Penteado ainda estava fechando uma encomenda de gado para outro fazendeiro do Estado da Paraíba. Das cabeças de gado existentes na fazenda, aquelas eram bem poucas para se negociar. A vida era difícil  na fazenda Dois Irmãos. De um jeito ou de outro, era possível se vender algumas cabeças passada a II Guerra Mundial. Entre negócios e conversas entre ele e o capataz surgiu a história contada a ele por sua mãe. Essa, por sua vez já ouvira contar por sua avó. Quer dizer: era uma antiga história podendo ser de carochinha. Edgar lembrado o contado do dia passado, animou a festa com esse evento.  
Edgar:
--- A minha mãe conta uma história ouvida da sua avó. Isso já faz muito tempo. Minha mãe era uma jovem dos seus 17 anos de idade. Dizia-me que a sua avó contava essa historia vivida pelos seus parentes quando estavam em Portugal. Isso já faz muitos anos. Meus tataravôs moravam em um casarão nas imediações de Lisboa, em uma espécie de mansão. Era algo bem gigante e nesse tempo não havia iluminação elétrica. Era tudo a querosene. Havia luminárias ao redor de toda a mansão. Por dentro e por fora. No período do inverno, havia calefação feita em cada cômodo da mansão. Queimava-se madeira. Isso ainda hoje se faz. As lareiras. Mas, os meus tataravôs se aqueciam de todo modo. As lareiras ficavam sempre acesas. E minha mãe ouvia de sua avó algo de arrepiar. Os seus parentes mais distantes, com certezas avós de minha tataravó por assim falar. Certa noite de muito fria e intensa chuva a mansão se encheu de medo. Não sei bem o que foi, mas o alarme das crianças correu por todo o quarteirão.
Meninas:
--- Fantasmas! Fantasmas! Fantasmas! – gritavam as crianças a correr de corredor afora enchendo de terror quem já estava deitado ou dormindo, disse o advogado.
Edgar:
--- E o pessoal acordou. Todos acordaram! Criadagem! Mãe, pai, avós! Todos enfim! As crianças alarmadas gritavam a um só tempo! – falou o homem.
Meninas:
--- Eles estão lá em cima! Socorro! Acudam-nos! Mãe! Papai! – gritavam as meninas.
Foi, na verdade, um terror em plena noite de inverno. A criadagem não sabia o que fazer. Mãe e pai do mesmo modo. Enfim, diante de tudo, uma voz se ouviu. Era da avó! Ela falou, sem susto, ter visto esse “fantasma” quando ainda era criança. E sempre ele aparecia. A avó nunca gritou. Ela brincava com o “fantasma” e o ouvia. Sempre o espectro dizia-lhe ter vivido naquelas terras. Era a sua casa. E sentia-se bem, pois a guerra passara e no local se sepultava muitos corpos. Ele era o coveiro do cemitério da região. E trabalhava a fio. Dentre os espectros vários deles estavam a passear pela vizinhança buscando amizades com outros espíritos. Ela revelou ter visto espíritos não conhecidos. E muitas outras coisas mais.
Edgar.
--- Tudo isso a minha mãe conta. Ela fala ter conhecimento por intermédio de sua avó. – disse sem medo
Carrapicho:
--- Mesmo sem acreditar nessa história, a minha avó me contava casos acontecidos, conforme dizia de negócios de assombrações e cemitérios. Eu era menino. Ele contava que uma mulher – seu nome era Conceição -  certa vez foi ter com uma velha índia. A índia fazia mesinhas. Era uma curandeira. E a mulher, dona Conceição, vivia triste, não comia e nem gostava de falar com o povo. Ela dizia não gostar de quem se metia na sua vida. E também não trabalhava em casa. O seu marido a deixou por causa desses tormentos. E dona Conceição vivia amuada em um canto da sala, sozinha e na maior parte do tempo também calada. Quando esteve com a índia levada por sua irmã, ela disse que a velha não sabia coisa alguma.
Conceição:
--- Sinha velha. A senhora não sabe coisa alguma. – declarou a mulher
Carrapicho.
--- E amaldiçoou a velha índia e toda sua gente. Falou coisas horríveis. Depois disso sumiu. Mas a minha avó sempre dizia que, se há vida após a morte, a vida não acaba aqui.
India:
--- Algumas almas conseguem achar o seu caminho para outro plano. Outra, por diversas razões continuam nessa parte da Terra. – falou a índia.
Carrapicho:
--- Depois dessa confusão, dona Conceição voltou para a sua casa e se enfurnou de novo.  Certa vez, uma mulher rumou para o local do cemitério em plena noite. E essa mulher era dona Conceição. Ela entrou no cemitério sem bater em coisa alguma. Dona Conceição já havia passado desse mundo para outro há alguns anos. Quem a viu foi um mendigo. Ele dormia numa das catacumbas. Mas há aquela altura, ele estava acordado contando o seu apurado do dia.  E dona Conceição ainda não tinha subido como todos os espíritos fazem. No dia seguinte, quando amanhecia, o mendigo se topou com uma mulher que aguava os canteiros das catacumbas. E ele contou o que viu na noite passada. A mulher, Nazinha, contou a historia a supervisora, a senhora Maria Soledade. A senhora Soledade ouviu e nada comentou. Nesse mesmo dia, dona Soledade foi verificar o estado do cemitério e sentiu a presença de alguma coisa. Mas que depressa a mulher caminhou para o seu escritório do cemitério a sentir ter uma sombra a perseguir até quando chegou ao seu gabinete de trabalho. Na mesa de trabalho encontrou entre outros objetos, um anúncio de jornal no qual informava sobre o programa na difusora e se alguém precisasse era apenas ligar para o setor. Ela de imediato ligou para um homem e pediu a sua colaboração no cemitério. Era bastante procurar dona Soledade. E o homem chamado Francisco que foi ao cemitério sentiu uma sensação de peso, sem poder andar, com forte dor de cabeça. Seu Francisco estava acostumado com esse tipo de evento. A chegar ao cemitério encontrou uma coisa violenta. Era um fantasma. Fantasma de mulher. Seu Francisco levava sua máquina fotográfica e tirou de imediato umas fotos. Era de uma mulher de cabelos longos, vestindo escuro. A mesma imagem dita pelo mendigo.  De posse dessas fotos, dona Soledade pesquisou no obituário e encontrou o registro de um sepultamento de dona Conceição. Ela havia morrido há alguns anos.
Edgar:
--- E então? A Conceição pediu ajuda? – indagou o advogado.
Carrapicho:
--- A minha avó disse que depois de algum tempo, a índia chegou à casa de dona Conceição para oferecer ajuda, pois sabia está o espírito da defunta em grande aflição. A velha disse ter contato com a defunta. E a família da morta concordou em se fazer esse contato, pois em sua casa, já não havia sossego depois de sua morte. Panelas caíam, pratos se partiam, pilões batiam sem ninguém bulir até uma menina de seis anos ficava brava sem nenhuma explicação. O espírito de dona Conceição veio até a velha índia totalmente confusa sem nenhuma consciência  do feito. Ela apenas agia. E ameaçou a irmã de um acidente. A defunta ameaçava matar a irmã na cacimba. – relatava o capataz.
Edgar:
--- Cacimba? Como é que pode? – indagou angustiado.
Carrapicho:
--- A irmã de dona Conceição era casa e tinha um filho. Certo dia, quando ela foi tirar água deu-se a confusão. O garoto caiu dentro da cacimba. Não fosse o avô do menino ele teria morrido. – contou o capataz.
Edgar:
--- Meu Deus do Céu! E então? – perguntou o patrão.
Carrapicho
--- Bem. Disse minha avó que uma pessoa que se suicida não mais liberdade de subir. Ela fica sozinha e se transforma em um espirito agressivo. A irmã da defunta pediu a índia deixar a sua mãe de fora do suplicio. A briga era entre a defunta e a irmã. Então a velha índia entendeu e disse que era a hora de fazer com que dona Conceição se desligasse de vez de sua irmã. E então a índia fez as suas preces e benzeu a irmã da morta para poder conseguir a libertação da defunta. – explicou o capataz
Edgar;
--- É o que eu digo. O espiritismo é assim. Tem casos tão complicados como esse. Eu acredito que, se o senhor puder frequentar o nosso centro seria melhor ainda. – falou o patrão
Carrapicho:
--- É como eu disse. Eu contei a história ditada por minha avó, mas eu mesmo não levo em conta. Pode ser até verdade. Mas eu não vou acreditar nessas coisas. – declarou o Capataz.
Na tarde daquele domingo, Edgar Penteado retornou a Natal levando em seu pensar tudo o que houve com a mulher em algum lugar do interior do nordeste. Outros fatos estariam por acontecer, com certeza. Eram seis horas da noite quando o homem chegou à residência de sua mãe, dona Maria Amélia. Próximo à praia do Meio, dia de domingo, o movimento já estava tranquilo naquela área. O bonde passava com os seus passageiros vindos da Cidade. Poucos eram os que subiram quando a lança fez a volta para o bonde retornar. Uns torcedores de um time seguiam pela calçada a afora discutindo o resultado da partida daquela tarde. Edgar não se importou como tudo e fez o descarrego das frutas para deixar em sua casa.

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