- LENIRA -
- 36 -
- RISOS -
Com a história contada por Lenira o
abalo foi terrível por acaso em Nair, pois a moça não se aguentava de tanto delirantemente
gargalhar a imaginar a cara do homem sem modos nenhum a espera da decisão da
atendente. E por outro lado ela imaginava a cara da atendente, com todos os
seus ruivos cabelos despenteados, a face rubra, olhos profundos, boca
extremamente torcida, óculos caídos no nariz e apenas a olhar a face do gêmeo à
sua frente. O gracejar foi frenético e delirante para todo o sempre. A quieta
moça não conteve o indagar surpresa Lenira, a saber, que tantos risos eram
aqueles. Nair a rolar no chão quente, a mão no ventre, quanto mais desejava
falar ainda mais o riso saía a ponto de se urinar por todo o maiô de famosa
marca Catalina ainda inexistente em todo o País.
Lenira:
--- Imagina! Eu heim! - comentou desatenta a moça com a mão no queixo.
Foram vários segundo para então Nair se
acalmar. Mas nem de toda. Cada vez mais ela olhava a cara de Lenira, vinha à
vontade de gargalhar. E Nair já quase morta de sorrir correu para o mar a se
banhar da urina caída em seu maiô. Nesse
instante Lenira se levantou para ir até a beira-mar quando um homem alto, forte
e apenas de calção a chamou. Lenira, de supetão, de vez parou. E o homem
indagou se estava a vender o carro. E apontou para trás. Lenira, sem entender,
respondeu:
Lenira:
--- Não senhor. Aquele é de “maroca”.
Nem se dá, nem se vende, nem se troca! – respondeu com atrevimento.
Narcíseo era o nome do homem. Narcíseo
de Almeida. Ele disse isso a seguir. E então falou a Lenira.
Narcíseo:
--- Então é bom ir resolver o problema.
Ele está com o pneu na lona. – disse homem com a maior tranquilidade.
Lenira:
--- Que? Meu “Buíque”? Tem certeza? –
indagou a moça já um tanto apavorada.
Narcíseo:
--- Pode ir olhar. E tem mais: um
mecânico consertador de pneus, na vila. – declarou com maior paciência.
A moça seguiu a toda pressa, trocando
desaforos e impropérios contra o carro ou o diabo que deu. Zangada como nunca
abanando os braços para um lado e outro. A seguir: o homem. Ainda olhou para a
praia e notou a moça acompanhante a gritar de beira d’água.
Nair:
--- EI! Pra onde está indo? – gritava
Nair meio assombrada.
Narcíseo:
--- O carro! E eu quero saber quem toma
conta da cesta de panquecas! – disse o homem à Nair.
Nair:
--- Que? O carro? – estranhou assustada sobremaneira.
O homem balançou a cabeça dizendo “sim”
e apontou o cesto de comidas e bebidas. Em seguida indagou à moça por aceno o
que faria com o cesto. E apontou para baixo. Nair já estava a caminho a enxugar
o ouvido, sacolejando a cabeça para um lado e outro. Ela percebia o homem
gigante e fazia cara amarga. O homem, sisudo, ainda indagou o que faria com o
cesto. A moça já chegando ao local ainda perguntou ao homem grandalhão se a
moça teria corrido em direção ao seu carro:
Narcíseo:
--- Pneu! – fez com a mão – o pneu. Arriado.
Nair então procurou ver como estava.
Lenira já ao posto onde estava o seu carro. E olhou para o homem com estampa de
imenso a observar o cesto já enchendo de formigas. Pegou Nair o cesto e
caminhou por depressa para o local onde estava o carro. No caminho observou o
homem gigante e então perguntou quem ele era:
Nair:
--- O senhor é daqui? – fez cara amarga.
Narcíseo:
--- Não!. Estou apenas vagando pelas
praias da cidade. – disse o homem sem achar graça.
Nair:
--- Ah! Bom! Eu também! Que houve com o
carro? – indagou incerta mais uma vez.
Narcíseo:
--- Pneu! Ela foi à frente zangada por
demais! – relatou Narcíseo com paciência.
Nair:
--- Já sei! Nem precisa dizer mais! –
retrucou a moça a balançar as mãos. De pronto, correu para o automóvel da amiga.
Ao chegarem – Nair e Narcíseo - a frente
ao boteco de madeira, Lenira já estava discutindo com o mecânico para a troca
do pneu e tinha-lhe entregue as chaves do porta-malas para remover o estepe. De
imediato o rapaz falou.
Mecânico:
--- Seco. – relatou o mecânico.
E uma tonelada de desaforos soltou
Lenira, pois o pneu da frente estava – provavelmente – furado e o estepe apenas
vazio. E tome chute no pneu furado até machucar seu dedo grande do pé. Lenira
sai gritando por horríveis dores com a perna soerguida. E a moça a “dançar”.
Mas em seguida, como louca, em desespero, deu mais umas pancadas na lataria do
seu Buíque para sanar por completo as dores do dedo. O mecânico tirou o pneu da
frente usando um macaco jacaré enquanto o seu ajudante levava o da mala para
verificar se tinha furos. E tome uma hora de paciência. O homem grande chamado
Narcíseo levou o tempo a conversar com as duas amigas. Lenira cada vez mais
desesperada e de qualquer forma, no bar do barraco fazia de contas que prestava
a atenção ao seu novo “amigo” a olhava sempre a demora do mecânico.
Narcíseo:
--- Cerveja? – indagou com calma o
senhor.
Lenira:
--- Até que é boa pedida! Eu as tenho no
cesto. – garantiu a suave e encantadora moça.
Narcíseo:
--- Mas aqui estamos no barraco. Cerveja
e caranguejo. É a melhor pedida. – formulou.
Lenira:
--- Quem paga? – perguntou ainda azucrinada.
Narcíseo:
--- Só Deus sabe! – sorriu leve o homem.
Nair:
--- Eu não quero a tal cerveja. Dá-me
nojo. – reclamou a noiva.
Lenira:
--- Besteira! A de ontem foi nas águas
do mar! – querendo se referir o maiô da moça.
A conversa se estirou por longo tempo,
pois o mecânico já terminara o conserto dos dois pneus A trinca não parava de
conversar. Desse modo Lenira ficou inteirada de que Narcíseo era médico do
Hospital onde o seu irmão Nestor já estava a concluir o curso de Medicina e já
sentia o gosto das alianças com a colega médica ginecologista. Nestor passaria
o domingo em casa da noiva. E o seu pai – França - estava para as núpcias com a
amiga Nair entre todas as sortes de acontecimentos. Por sua vez Narcíseo também
falou de ter vindo do Recife há algum tempo. De conhecer o jovem Nestor e
igualmente a doutora Norma Cortes de quem fora instrutor há certo tempo. Apenas
de não saber constante de Edgar Penteado. O médico Narcíseo entrou em boa
conversa e se decidiu em poder ir à residência de Lenira em algum dia qualquer.
A responder a indagação de ser casado o médico disse “não”.
Narcíseo:
--- Não! Não! Eu sou viúvo. Minha esposa
sofreu um acidente e veio a óbito. – relatou com pesar.
Lenira:
--- Quando? – indagou surpresa.
Narcíseo:
--- Três anos. Foi no Recife. O carro capotou
na estrada. Ela e o nosso filho! – disse constrangido
Lenira:
--- Coitado! Duas vidas! – reclamou a
moça.
Narcíseo:
--- Podia ter sido maior o estrago. Eu
estava de plantão nesse dia. Houve mais uma doméstica. Essa moça escapou. Mas
tem sofrido os terrores. É o fato inevitável – relatou o médico.
E foi assim o começo da amizade entre
Narcíseo, Lenira e Nair. Às três horas da tarde todos rumaram para a capital
após uma longa despedida. Houve abraços entre Lenira e o médico e um até logo
de simpatia com a noiva Nair. Os três formaram um circulo de amizade. Nair
dizia apenas que ele aparecesse em sua casa. O homenzarrão ficou de ir à data
próxima.
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