segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Vinte e Três -

- SERTÃO -
- 23 -
MEDO
E o senhor Edgar olhou para moça percebendo seu físico esguio como o de uma menina bem longe de ter os seus 17 anos de idade e voltou a observar os esguios coqueirais, não mais de uma dúzia ao sabor da ventania de um mar bravio e então por mais uma vez observou o físico da infante salientado ser mais provável ele altear em um pé de cactos a acreditar na versão de Nair com aquele aspecto de menina.
Nair:
--- Verdade. Por que eu mentiria? Só tem um, porém: o traje que eu uso. – sorriu a valer a moça.
Edgar:
--- Verdade. De vestido não é possível. – salientou o homem
Nair:
--- Mas eu visto calça comprida também. Inda pego no sono em cima do coqueiral. – lembrou.
Edgar.
--- Ave Maria. Deixa-me acordar. – sorriu leve.
Trocando de assunto.
Nair:
--- Hoje, madrugadinha eu tive um pesadelo. Acordei assustada e não dormi mais. Eram quatro horas da manhã. – relatou cismada.
Edgar:
--- Como foi esse sonho? – indagou sem pressa.
Nair.
--- Não sei contar. Eu lembro estar em uma campina onde havia um rio. Antes, uma moça que eu não sei o seu nome, mas era a minha irmã, se acercou com uma bandeja de frutas. Ela me ofereceu e eu agradeci. Então eu estava no rio com uma trouxa de roupar para lavar. Um grupo de meninas dançava. E a minha irmã saía da casa. Um que eu entendia ser da Polícia atirava uma flecha no peito de minha irmã. Nisso eu gritei. Então acordei assombrada! Foi esse o pesadelo. Virgem! – contou a moça cheia de espanto o seu pesadelo.
O homem não fez ligação de momento o que ouviu de Zélia, quando estava no sepultamento de José Pereira. Mesmo assim, relatou o homem ser um sinal de alguma circunstancia de vida passada. Não raro, se tem um sonho e este está ligado à outra vida a qual se viveu. O Bonde passou para o seu terminal enquanto o homem indagava chegar ao ponto de dona Yayá, uma anciã de longa vida.  Foi a virgem quem falou. Ao comentar os empecilhos da sorte, Nair se lembrou de um curioso fato ocorrido quando no tempo de criança:
Nair:
--- Dona Yayá é uma velhinha. Ela é baixa e emborcada. Anda com um pau. Nunca sai de casa. Dona Yayá mora em uma casinha bem ali – e apontou -. Certa vez ela falou ter um barco a sair do porto. Mas esse barco não voltaria. Os seus tripulantes morreriam e ninguém conseguiria acha-los. Era um barco de pesca. E ninguém deu importância ao que a velhinha disse naquela ocasião. Depois de uma semana se encontrou o resto da embarcação para os lados do Ceará. Dos quatro tripulantes, nem sinal. O barco deve ter sido abalroado por um navio gigante, na noite sombria. Os tripulantes, provavelmente, foram traçados pelos tubarões. Por sinal, outro barco arpou um tubarão dias depois e esse trazia uma bota de um pescador na sua barriga. Essa tragédia foi notícia de jornal. – relatou constrangida.
Edgar:
--- Por acaso a anciã chegou a observar o barco? – indagou paciente
Nair:
--- Não. Não. Ela apenas apontou com o dedo para a boca da barra. De onde ela estava não se podia perceber a boca da barra. Ela estava sentada numa cadeira, na sala, e apontou dizendo: “Aquele barco que vai saindo, não volta mais”. Foi o que dona Yayá falou. – disse a moça de forma pensativa.
Edgar:
--- E você estava presente nessa ocasião? – perguntou com insistência.
Nair:
--- Eu? Estava. Eu brincava com as netas de dona Yayá. Eu ouvi, mas nem me dei conta. – foi o relato.
Edgar;
--- Ela é espírita? – indagou.
Nair:
--- Ela? Nem se dá conta. Vive rezando o seu rosário. Não sei quantas vezes por dia. É assim. – declarou a moça
Edgar:
--- Ela faz cura? – perguntou mais ansioso.
Nair:
--- Sempre. Quando um menino tem “puxado”. Quando aparece uma coceira lá por baixo da mulher. Ou mesmo só para benzer quem vai pedir uma prece. Para um emprego. E não erra. A não ser que a pessoa não mereça. Mas mesmo assim a velhinha faz a benção. Interessante. Quando dona Yayá termina diz uma coisa por demais interessante: “Vai-te para o mar sagrado mal amaldiçoado”. – argumentou a sorrir com os braços encruzados sobre o busto.
Edgar:
--- Qual o seu nome? – perguntou de forma sutil.
Nair:
--- O dela? Veneranda. Mas o povo conhece apenas por Yayá. – confirmou com certeza.
Edgar:
--- Será possível ela nos receber? – perguntou calmo
Nair:
--- Agora? – indagou surpresa.
O carro de Edgar tropeça nos buracos feitos na areia ou desviava de uma barreira montada para segurar a subida de uma bodega. E foi devagar em um zig-zag vagaroso até chegar a um mocambo feito de barro onde a luz era apenas de lamparina. A jovem moça informou ser o local para se encontrar dona Yayá. Na subida do barranco via-se a fileira de latas onde as pessoas buscavam água em um chafariz. Era aquele o Motor existente. Como esse nome ficou sendo conhecida a rua. Um barulho eterno de gente a procura de encher suas latas, tambores e barris. A rua era toda escura por falta de iluminação adequada. No extremo sul, havia apenas um matagal onde passava uma única pessoa por vez. Depois, era a subida para a estrada de pedras chamada “Balaustrada”. Com gente de tambor, barril e lata indo e vindo, Edgar parou seu carro e Nair foi indagar por dona Yayá.
Mulher:
--- Ela está madornando. O que tu procuras? – indagou a mulher da casa.
Nair:
--- Esse homem que queria falar com ela. – sorriu a moça em direção à mulher.
Nesse ponto, um cambaleante home buscava se aprumar e chegou bem próximo a Edgar com a cara de quem estava ébrio. E perguntou em voz grossa;
Ébrio:
--- Que vai querer aqui? – perguntou o ébrio em desaforo.
Nair:
--- Sai pra lá moleque. Não é da tua conta! – disse Nair com altivez.
Mulher:
--- Entra pra teu quarto, moleque. Não basta está bebendo desde a manhã cedo? – falou forte a mulher.
O homem, acanhado, pediu um miúdo para tomar de cana a o senhor Edgar e esse doou sem pressa. O bêbado agradeceu fazendo uma continência desajeitada e entrou na sua casa. Nesse ponto, chegou a porta a ancião Yayá a indagar que era o homem que a procurava.
Nair:
--- Meu patrão minha avó. Ele está precisado de ajuda. – respondeu a moça.
Yayá:
--- Ajuda? Pois tá certo. Se abanque. Pegue aqui dentro da sala um tamborete. E diga o que sofre. Para mim, o senhor é um homem forte. O que deseja? Deixa eu pegar um raminho! – respondeu a anciã já um tanto carcomida pela idade.
Edgar:
--- Minha avó. Eu quero saber do meu futuro. Eu perdi um noivado há muito tempo. Hoje estou abatido pela sorte. – relatou o homem para começo de conversa.
Yayá:
--- Dona Zélia? Mas a moça está bem. E veio também com o senhor. – disse a anciã com voz quase inaudível.

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