- SERTÃO -
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MEDO
E o senhor Edgar olhou para moça
percebendo seu físico esguio como o de uma menina bem longe de ter os seus 17
anos de idade e voltou a observar os esguios coqueirais, não mais de uma dúzia
ao sabor da ventania de um mar bravio e então por mais uma vez observou o
físico da infante salientado ser mais provável ele altear em um pé de cactos a
acreditar na versão de Nair com aquele aspecto de menina.
Nair:
--- Verdade. Por que eu mentiria? Só tem
um, porém: o traje que eu uso. – sorriu a valer a moça.
Edgar:
--- Verdade. De vestido não é possível.
– salientou o homem
Nair:
--- Mas eu visto calça comprida também.
Inda pego no sono em cima do coqueiral. – lembrou.
Edgar.
--- Ave Maria. Deixa-me acordar. –
sorriu leve.
Trocando de assunto.
Nair:
--- Hoje, madrugadinha eu tive um
pesadelo. Acordei assustada e não dormi mais. Eram quatro horas da manhã. –
relatou cismada.
Edgar:
--- Como foi esse sonho? – indagou sem
pressa.
Nair.
--- Não sei contar. Eu lembro estar em
uma campina onde havia um rio. Antes, uma moça que eu não sei o seu nome, mas
era a minha irmã, se acercou com uma bandeja de frutas. Ela me ofereceu e eu
agradeci. Então eu estava no rio com uma trouxa de roupar para lavar. Um grupo
de meninas dançava. E a minha irmã saía da casa. Um que eu entendia ser da
Polícia atirava uma flecha no peito de minha irmã. Nisso eu gritei. Então
acordei assombrada! Foi esse o pesadelo. Virgem! – contou a moça cheia de
espanto o seu pesadelo.
O homem não fez ligação de momento o que
ouviu de Zélia, quando estava no sepultamento de José Pereira. Mesmo assim,
relatou o homem ser um sinal de alguma circunstancia de vida passada. Não raro,
se tem um sonho e este está ligado à outra vida a qual se viveu. O Bonde passou
para o seu terminal enquanto o homem indagava chegar ao ponto de dona Yayá, uma
anciã de longa vida. Foi a virgem quem
falou. Ao comentar os empecilhos da sorte, Nair se lembrou de um curioso fato
ocorrido quando no tempo de criança:
Nair:
--- Dona Yayá é uma velhinha. Ela é
baixa e emborcada. Anda com um pau. Nunca sai de casa. Dona Yayá mora em uma
casinha bem ali – e apontou -. Certa vez ela falou ter um barco a sair do
porto. Mas esse barco não voltaria. Os seus tripulantes morreriam e ninguém
conseguiria acha-los. Era um barco de pesca. E ninguém deu importância ao que a
velhinha disse naquela ocasião. Depois de uma semana se encontrou o resto da
embarcação para os lados do Ceará. Dos quatro tripulantes, nem sinal. O barco
deve ter sido abalroado por um navio gigante, na noite sombria. Os tripulantes,
provavelmente, foram traçados pelos tubarões. Por sinal, outro barco arpou um
tubarão dias depois e esse trazia uma bota de um pescador na sua barriga. Essa
tragédia foi notícia de jornal. – relatou constrangida.
Edgar:
--- Por acaso a anciã chegou a observar
o barco? – indagou paciente
Nair:
--- Não. Não. Ela apenas apontou com o
dedo para a boca da barra. De onde ela estava não se podia perceber a boca da
barra. Ela estava sentada numa cadeira, na sala, e apontou dizendo: “Aquele
barco que vai saindo, não volta mais”. Foi o que dona Yayá falou. – disse a
moça de forma pensativa.
Edgar:
--- E você estava presente nessa
ocasião? – perguntou com insistência.
Nair:
--- Eu? Estava. Eu brincava com as netas
de dona Yayá. Eu ouvi, mas nem me dei conta. – foi o relato.
Edgar;
--- Ela é espírita? – indagou.
Nair:
--- Ela? Nem se dá conta. Vive rezando o
seu rosário. Não sei quantas vezes por dia. É assim. – declarou a moça
Edgar:
--- Ela faz cura? – perguntou mais
ansioso.
Nair:
--- Sempre. Quando um menino tem “puxado”.
Quando aparece uma coceira lá por baixo da mulher. Ou mesmo só para benzer quem
vai pedir uma prece. Para um emprego. E não erra. A não ser que a pessoa não
mereça. Mas mesmo assim a velhinha faz a benção. Interessante. Quando dona Yayá
termina diz uma coisa por demais interessante: “Vai-te para o mar sagrado mal
amaldiçoado”. – argumentou a sorrir com os braços encruzados sobre o busto.
Edgar:
--- Qual o seu nome? – perguntou de
forma sutil.
Nair:
--- O dela? Veneranda. Mas o povo
conhece apenas por Yayá. – confirmou com certeza.
Edgar:
--- Será possível ela nos receber? –
perguntou calmo
Nair:
--- Agora? – indagou surpresa.
O carro de Edgar tropeça nos buracos
feitos na areia ou desviava de uma barreira montada para segurar a subida de
uma bodega. E foi devagar em um zig-zag vagaroso até chegar a um mocambo feito
de barro onde a luz era apenas de lamparina. A jovem moça informou ser o local
para se encontrar dona Yayá. Na subida do barranco via-se a fileira de latas
onde as pessoas buscavam água em um chafariz. Era aquele o Motor existente.
Como esse nome ficou sendo conhecida a rua. Um barulho eterno de gente a
procura de encher suas latas, tambores e barris. A rua era toda escura por
falta de iluminação adequada. No extremo sul, havia apenas um matagal onde
passava uma única pessoa por vez. Depois, era a subida para a estrada de pedras
chamada “Balaustrada”. Com gente de tambor, barril e lata indo e vindo, Edgar
parou seu carro e Nair foi indagar por dona Yayá.
Mulher:
--- Ela está madornando. O que tu
procuras? – indagou a mulher da casa.
Nair:
--- Esse homem que queria falar com ela.
– sorriu a moça em direção à mulher.
Nesse ponto, um cambaleante home buscava
se aprumar e chegou bem próximo a Edgar com a cara de quem estava ébrio. E
perguntou em voz grossa;
Ébrio:
--- Que vai querer aqui? – perguntou o
ébrio em desaforo.
Nair:
--- Sai pra lá moleque. Não é da tua
conta! – disse Nair com altivez.
Mulher:
--- Entra pra teu quarto, moleque. Não
basta está bebendo desde a manhã cedo? – falou forte a mulher.
O homem, acanhado, pediu um miúdo para
tomar de cana a o senhor Edgar e esse doou sem pressa. O bêbado agradeceu
fazendo uma continência desajeitada e entrou na sua casa. Nesse ponto, chegou a
porta a ancião Yayá a indagar que era o homem que a procurava.
Nair:
--- Meu patrão minha avó. Ele está
precisado de ajuda. – respondeu a moça.
Yayá:
--- Ajuda? Pois tá certo. Se abanque.
Pegue aqui dentro da sala um tamborete. E diga o que sofre. Para mim, o senhor
é um homem forte. O que deseja? Deixa eu pegar um raminho! – respondeu a anciã
já um tanto carcomida pela idade.
Edgar:
--- Minha avó. Eu quero saber do meu
futuro. Eu perdi um noivado há muito tempo. Hoje estou abatido pela sorte. –
relatou o homem para começo de conversa.
Yayá:
--- Dona Zélia? Mas a moça está bem. E
veio também com o senhor. – disse a anciã com voz quase inaudível.
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