segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Vinte e Quatro -

- AS IRMÃES -
- 24 -
TEMOR
O homem se levantou intempestivamente e procurou vislumbrar a imagem a sua querida ex-noiva desaparecida há 25 anos vítima de uma deficiência coronariana. O sague lhe fugiu da face com a notícia da anciã. Zélia estava ao seu lado. Ele precisava acreditar em tudo o que lhe afirmava a depauperada senhora dos seus 90 anos. Com certeza, por várias vezes, Edgar teve contato com sua antiga noiva. Mesmo assim, não esperava uma notícia tão severa de tal modo. Ele procurou onde se aguentar e a única pessoa na sala eram a doméstica Nair. Então, o homem se aguentou com certa fraqueza a sentir nas próprias pernas. O suor frio lhe desceu pelo corpo e a sua mente se revezada com certa inconstância a ponde do homem querer vir ao desmaio. Porém, Edgar se soergueu de momento e logo se restabeleceu por completo. A fraqueza se dissipou e a única luz na sala a lamparina, ele pode enxergar dissipando sua real tontura.
Yayá:
--- Acalme-se. Acalme-se. Eu já sabia que o senhor estava por vir. E agora, eu contar tudo que Zélia vai me dizer. Acalme-se. E preste bem atenção. Tudo que em lhe disser, é por ordem de dona Zélia. -  relatou com voz branda a anciã.
E a anciã, após fazer uma breve oração, iniciou a história. A sala tinha sido abandonada por a outra mulher e a anciã estava sozinha na companhia de Edgar e Nair. A moça segurou pelos ombros o seu patrão. E também ficou tranquila. Se não sabia rezar por completo, pelo menos Nair fez o sinal da cruz.
Yayá:
--- Estou a mando de dona Zélia. O que ela disser, eu transmito. ... (pausa) ... Ela me disse que era a sua noiva em outra geração tempos passados. ... (pausa) . ... E que a sua irmã era Cecília. ... (pausa)...Cecilia está ao seu lado. ... (pausa). ... Ela é a moça Nair, ....(pausa) ...Nair era Cecília e estava longe do acidente. ...(pausa). ...Zélia morreu por causa de uma flechada. .... (pausa). ....Seu nome era Emma....(pausa)...Emma teve outro irmão. ....(pausa)... O nome dele era Joel. ...{pausa). ..Ele também foi morto junto com o seu noivo. ...(pausa)...O nome do noivo de Emma era Eduardo.... Hoje, Nair teve um sonho. E o sonho ele contava toda a historia de Emma. ... (pausa).... Cecília se escondeu junto ao rio. ... (pausa) ... O rio das Moças. ... – disse a anciã.
Nesse ponto Edgar se lembrou do sonho contado por a virgem Nair. Então, ele a olhou com uma face retraída como a indagar o porquê daquele instante havia um sentido para o homem com certeza tão familiar. Nair ficou retraída e nervosa. Como foi que o espírito de Zélia teria observado todos os elementos de um mero sonho. Nada podia enfim responder. A sombra da noite se alargava cada vez mais nas almas daqueles humildes seres. A premonição da anciã era uma verdade demais para se compreender. O terror se aplacou na pura e virgem Nair. Enfim, a moça nada mais queria ouvir. Ela estava atraída para um laço eterno de angustia. Era então o temor do sinistro.
Nair:
--- Minha avó o que eu faço agora? – indagou angustiada.
A anciã procurou ser mais pacífica e relatou:
Yayá:
--- Minha filha. Você vai se casar em breve. Você será a esposa do homem ao seu lado. E terá dois filhos, sendo uma menina. É o que diz o espirito de Zélia. Abençoada seja. Amem. – falou com tranquilidade a anciã.
Aquele fardo foi demais para Nair. Ela estaria se postando a frente de homem capaz de ser o seu próprio pai e então o queria apenas para se casar. Um enorme abalo projetou a moça para um abismo sem fim. Para a ingênua e precoce diva aquela realidade inocente era de se fazer angustia inimaginável. As sombras mais escuras daquela noite se fizeram enfim presentes. A virgem cambaleou por um instante e de modo a encontrar apoio no ombro amigo de Edgar. E então lacrimejando, balbuciou:
Nair:
--- Minha avó! Meu Deus do Céu. – declarou apavorada e sem sentido a virgem.
Edgar:
--- Calma! Calma! Calma! Aguente-se firme. Eu também estou em delírio.
Os condutores de água com os seus galões a atravessar as costas seguiam mudo como a ave noturna a passar sobre as palhoças dos coqueirais noctâmbulos. Os ingênuos bichos-do-mato corriam por entre a selva ondulante do empinado morro. O ladrar de um cão se fez presente enfim na tenebrosa escuridão. A luz da lamparina ondulava o caminho percorrendo o lugar das enormes ratazanas. Era em tudo a misteriosa noite do desamor. O veículo a sacolejar para um lado e para outro, devagar ao solavanco fazia dos seus ocupantes adormecidos bonecos de cera. De repente, quatro cavaleiros despontaram logo à frente do automóvel. Eram soldados da Policia vindos da Cavalaria do Esquadrão a procura de eventuais homicidas e desordeiros. Rua escura, lâmpadas apagadas pela sorte do ignoto. Nada além do mar revolto a tragar imensas ondas escuras e tenebrosas. A calmaria da noite triste era o revoltar do desprazer.
Nair:
--- A velha disse tudo certo. – falou sem emoção.
Edgar:
--- Eu penso que sim. Um lutuoso infausto. – relatou sombrio.
Nair:
--- Eu? Cecilia? Como é que pode? – imaginou insistente.
Edgar:
--- Estranho. Mas, isso quer dizer: pessoa amável, criativa e curiosa. O nome é do Latim. A santa é a Padroeira da Música. – explicou com exatidão.
Nair:
--- Santa? Que Santa? – perguntou a desconhecer o nome.
Edgar:
--- Cecília. – disse o homem a dirigir seu carro na ladeira da Balaustrada.
Nair:
--- Tô pra ver. E o meu? – indagou curiosa.
Edgar:
--- Estrela brilhante. É árabe. Pessoa trabalhadora, inteligente e criativa. – explicou
Nair:
--- Ainda bem. Esse é melhor. – falou baixo com o polegar da boca.
No sábado, pela manhã bem cedo o homem Edgar Penteado viajou para a Fazenda no interior de Macaíba. Tinha chovido pela madrugada e poças de lama eram constantes no caminho. A estrada feita com barro nem adivinhava o tempo do seu piçarro de pedras, areia e terra. Em alguns pontos havia o revestimento. Mesmo assim, era um lugar muito remoto aquele. A Fazenda era para um buraco imenso seguindo por uma estrada vicinal. Em baixo, havia um rio quase sempre seco, pois o açude barrou a água existente por perto. Para se chegar a cerca da fazenda tinha que se andar demais ladeira à cima ladeira a baixo. Mulher com uma trouxa de roupas na cabeça, um cachimbo na boca e mais um menino de colo, dois adiante e um burro puxado por uma corda, foi o que o homem notou ao pegar a estrada vicinal.  Após atravessar intensos lugares Edgar Penteado chegou finalmente à porteira da Fazenda. Quando o homem desembarcou do seu automóvel, notou a presença de dona Deodora, esposa do seu capataz, Manoel Carrapicho a conduzir consigo a sua filha menor. Nesse instante, Deodora começou a chorar por dizer está de viagem para Natal, onde teria que procurar a presença do senhor Edgar por causa de acontecimentos cruéis.
Edgar:
--- O que houve senhora? – indagou com espanto.
Deodora:
--- Os “macacos” estiveram aqui há pouco tempo e levaram o meu marido. Os “macacos” infernizaram Carrapicho, deram-lhe coronhadas e prenderam com as correntes– foi o que falou a chorar.
A menina pequena também chorava com os tormentos de sua mãe. Nessa ocasião, Edgar ficou alarmado com a angustiosa noticia.
Edgar:
--- E o que os homens queriam? – perguntou mesmo sabendo do passado de Carrapicho
Deodora:
--- Eles não disseram. Apenas agarraram Carrapicho pelos braços e cabeça e mandaram-no ele andar. Um deles falou: “Agora você verá quem é o bom de verdade”. Foi o que entendi. – disse angustiada e chorando a mulher.
Edgar:
--- Pra onde eles foram? – indagou já nervoso.
Deodora:
--- Eu não sei. Mas devem ter ido para o distrito na sede da Polícia. Um deles ainda perguntou: “Levo a mulher também, capitão?” E esse disse: “Deixa pra lá. Só quero essa peste” – falou a mulher comentar chorando.
Edgar:
--- Entra no carro. Vamos correr o distrito. Cambada de mundiça. Eles verão quem sou eu. – falou zangado o homem.
O veículo correu estrada sem medo nem piedade com o fazendeiro soltando todos os desaforos por entender ser aquela corja uma cambada de policiais trapaceiros. O tempo prometia inverno na região e nada havia de atrapalho no caminho. Somente o automóvel a correr sacolejando a todo tempo. Uma raposa atravessou a estrada e sumiu na mata.

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