domingo, 24 de novembro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Trinta e Sete -

- NAIR -
- 37 -
GIGANTE
O tal homenzarrão até que era bom pedido para a moça Lenira apesar dele está por demais sofrendo a perda da esposa e filho em desastre na estrada do Recife. Foi essa a conclusão obtida por Lenira ao pensar no assunto de forma tão rápida. Ela, professora. Ele, médico. Nada mal. Lenira, 26 anos ou coisa assim, não teve namoro até essa data com ninguém do seu ou não tipo. Já ultrapassara a barreira da esperança de um cavaleiro medieval de cortes nobres notadamente de coragem com generosidade e a mágica noção de amor cortês. Foi de essa forma ter pensado e repensado a jovem moça ao entrar em sua mansão em companhia de Nair. As duas tomaram destino diverso. Cada qual para o seu banheiro. Uma ordem dada por Lenira apontando com o dedo em riste a entrada para cada qual. E nem era preciso falar ou dizer coisa alguma. Nair procurou em primeira forma a reestruturar de suas vestes para em seguida voltar ao banheiro. Ela apenas sorriu a Lenira como apenas podia falar:
Nair:
--- Ok. Vou lá. – sorriu em seu andar ligeiro
Após o banho as duas amigas ao sentar nas cadeiras de balanço a entrada do solar e lembraram todo o passado na praia. Um exemplo foi Nair indagar ter Lenira soltado certa pilhéria por Nair também não bem compreendida.
Lenira:
--- Qual? – indagou displicente.
Nair:
--- Sei lá. Uma de um cabo na cabeça. – foi o que Nair lembrou.
Lenira:
--- Ah. A do tabelião? Essa é boa. Eu não era nem nascida. Dizem ter esse tabelião chegado ao local de embarque para a praia da Redinha. Ele, a mulher, duas empregadas, um serviçal e seus 16 filhos. – contava a moça.
Nair:
--- Nossa! Tanta gente assim? – perguntou com pressa.
Lenira:
--- Deixa-me contar. (falou Lenira com a mão de quem quer dá uma tapa). O velho chegou ao trapiche e encontrou um barqueiro. Esse barqueiro estava lutando com as cordas do barco todas ao desenleado. Então o “velho” indagou para o barqueiro:
Miguel:
--- “Olá da costa d’África! Por quanto quereis vós para nos transportar desse polo àquele hemisfério?” – disse o velho Miguel com voz autentica.
Barqueiro:
--- “Cuma seu dotô? Pru çumitero?” –  o barqueiro de pele escura ao se soerguer estranhando de leve fez a indagação.
Então o velho Miguel o reportou de forma autentica.
Miguel
--- “Se dizes isso por ignorância, perdoar-vos-ei”! “Mas se queres zombar de minha alta prosopopeia, dar-vos-ei com este cetro (mostrando o cajado) no alto de tua sinagoga pondo-vos por terra mais rente (erres triplicados) que o solo pátrio”! – respondeu altivo o senhor.
Mais uma vez a noiva Nair quase cai em sorrisos. Sorrisos de forma tal como igual a uma criança. A moça se esticou na cadeira de balanço e toca sorrir desregradamente. Foi o surto de risos a durar longos minutos. Nair olhava para o rosto impassível da moça de forma a não sorrir, então sorria mais.  E logo Lenira indagou:
Lenira:
--- Que foi? Foi isso mesmo. – relembrou a moça a olhar a noiva e com as unhas na boca.
E a noiva correu o chão pondo a mão fazendo rente ao solo como quem desejava divagar ter o tabelião posto o barqueiro “mais rente que o solo pátrio”. Então mais a moça sorria e Lenira com uma voz gotejante apenas deu as suas breves risadas como alguém que faz:
Alguem:
--- He, he, he, he. –  sorriu a moça.
O tempo nas ondas da praia a marulhar deixava uma suave brisa se acercar da parte alta do bairro de Petrópolis de onde podia se descortinar homens de volta em suas jangadas trazendo a pesca do dia. Entre outras coisas, podiam-se vislumbrar pequenos traços nas pedras. Era gente a buscar mariscos, siris, caranguejo ou mesmo peixe miúdo para quem fosse e pudesse se refastelar por completo no restante do dia ou da noite. Caricia de tempo aquele tal qual quem pudesse adornar encantos maviosos de suaves cantos. O Bonde das cinco horas a trafegar constante, deixava seus passageiros no final da linha para em seguida retornar. A calçada da borda da balaustrada impedia de se notar os humildes casebres por onde Nair tanto tempo vivera. A recordação era a imagem remota de um passado quase distante como não desejava viver outra vez a magistral noiva de então.
Um carro buzinou à entrada do casarão. Era Edgar com a sua governanta, dona Deodora, viúva de pouco tempo desde quando mataram seu amado companheiro de jornada impregnada de incertezas de um futuro distante. A sobrinha olhou muito bem para Deodora enquanto Nair foi abrir o portão de entrada para poder dar acesso ao veículo. A virgem pura, largamente sorriu e comprimentou a viúva como se tivesse obrigação. E assim, deu o seu beijo luxuoso na face do seu verdadeiro homem de formas a tecer ciúmes àquela enigmática companhia de jornadas.  De momento a moça temia aquela espécie de companhia. Deodora era mulher dos seus 35 anos de idade. A viuvez compadecia, por certo, ao seu protetor Edgar Penteado. Mulher de certa forma frágil, no entanto era a dona do seu nostálgico sentir pelas agruras da vida perdida, sem espaço ou trégua.  Logo após entrar no recinto, a mulher buscou descarregar o carro com seus legumes, batatas, frutas entre outros estoques, inclusive uma cesta de ovos. Edgar veio ter com sua noiva e em seguida ratear um pouco com a sobrinha, filha de Clara e Ricardo França, o austero comandante de aviões Douglas.
Edgar a sentar em uma cadeira acolchoada ainda teve de indagar pelo passar do dia àquelas duas diletas fêmeas as quais se sentaram em suas cadeiras de balanço.
Edgar:
--- E então? – perguntou o homem sem preocupação de nada.
Lenira:
--- Pirangí. A “debutante” ainda não conhecia a praia. – sorriu a moça com a unha do dedo na boca a palitar coisa nenhuma.
Edgar:
--- Gostou? – indagou à sua amada noiva.
Nair:
--- Gostei sim. Mas houve um defunto na estrada. E ainda teve tal Zé da Bosta. Horror! – falou a moça intrigando o nome.
Edgar gargalhou por causa do nome do homem a viver de apanhar fezes de vacas e cavalos para a venda aos compradores da Capital. E a moça ainda fez um senão como se tudo aquilo fosse uma “tristeza”. Lenira sorriu com o espanto da sua amiga. E após houve a pergunta de Edgar querendo saber de coisas mais.
Edgar:
--- Tinham bêbados? – perguntou sem descanso.
Lenira:
--- Uns. Mas a merda foi o pneu.
Edgar:
--- Que houve? – indagou a sacolejar as pernas.
Lenira:
--- Murcho! E o outro seco! Um mecânico consertou os “palermas”. Mas, então teve o caso a mais. Eu estava na praia. E então se aproximou um “gigante” dessa altura – e fez com a mão -. Ele foi me dizer ter o pneu secado no pé. E depois entrou em outra conversa. Então eu fiquei sabendo que ele era médico e leciona o garoto daqui. Diz ele conhecer a noiva de Nestor. A doutora Norma Cortes. Ele falou até em noivado de ambos. Parece ele saber de tudo. Médico. Hospital. Conversa franca. Ele cuidou até de vir em casa qualquer dia desses. E perguntei se conhecia você, ele disse “não”. Mas, vai ter tempo. – sorriu a moça a palitar os dentes com a unha.
Edgar:
--- Eu também não o conheço. Talvez Celia saiba quem seja. – replicou o homem.
Lenira:
--- Eu estou pensado. – relatou a moça com a cabeça rodada para um lado.
Edgar:
--- Em que? No homem? – indagou cheio de graça.
Lenira:
--- Nada. Que homem! Eu estou pensando em Nair aprender a dirigir carro. Eu tenho o meu. Tem aquele mecânico. João Mota. Foi ele quem me ensinou. E podia muito bem ensinar a Nair. Que achas? – perguntou à donzela.
Nair:
--- Eu? Que coisa! E você sabe se eu quero? – perguntou a noiva em êxtase.
Edgar:
--- Boa ideia. – salientou o velho noivo.

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