- SILFÍDES -
- 39 -
- NOÇÃO -
Com toda certeza, João Mota soube logo.
Nair seria boa aluna. Ele a olhou ao entrar pela segunda vez no Buíque, veículo
não hidramático, como o de Lenira, porém de excelente qualidade como todos os
carros importados dos Estados Unidos. Se bem a Inglaterra, a França, a Itália
terem modelos de veículos capacitados sem contar com a Alemanha, ferida da
guerra e ainda sem recuperar os estragos de sua máquina automotiva. Por certo,
Mota não teria o impacto de mover modelos de outros países, como os europeus,
sem falar nos russos, distantes do mercado consumidor do Brasil. Importados
pelo país havia poucos carros, tal como o Cadillac, da GM. O cambio automático
dava melhor rendimento aos veículos e motoristas além de permitir maior
durabilidade e economia do motor, bem como de todos os componentes, tal qual
caixa, eixos e diferencial. Todavia, o mecânico não tinha méritos para discutir
a qualidade do automóvel, se então soubesse ser um veículo de maior segurança.
Na Agencia General Motors, do bairro da Ribeira, João Mota tinha acesso
frequente por meio onde o mecânico desmontava e montava uma caixa de marcha
hidramática sem pestanejar de certo. Um homem sem instruções era capaz de desfazer
e fazer o feito. Enfim, ele era Mota, o mecânico de total esmero. A sua pouca
estatura não afetava a grandiosidade do saber.
Com determinação, João Mota fez a volta
no Buíque e tomou direção contraria percorrendo a ladeira do Hospital “Miguel
Couto” e seguindo pela Rua Nilo Peçanha a terminar em uma região mais tranquila.
Quando ele acertou com o ponto alertou à moça:
Mota:
--- Aqui está bom. Não tem movimento de
veículos. Rua tranquila. Sem gente, pois quando a senhora estiver dirigindo
tenha cuidado com os pedestres. Velhos são mais arriscados. Além disso, tem
animais e mesmo outros veículos. Catabirros são piores do que se pode imaginar.
Pois, pois. Vamos ver como funciona o automóvel. Uma alerta: a senhora não
dirige agora!. E nem vai resolver dirigir onde tem a “telha”!. (e bateu na
própria cabeça) Esse é outro assunto. Bem!. O carro está estacionado, paradinho
sem mexer com nada. Entendeu? Eu sei que sim!. Para a senhora começar a
entender, veja bem. A senhora entra no veículo depois de enxergar se tudo está
bem por fora, como os pneus e o tanque de gasolina. Ou outra coisa qualquer,
como para-choque. Tudo em ordem e a senhora entra no seu carro. Costume
verificar se não tem bichinhos, como escorpião e baratas. Tudo bem. Agora, a
senhora se senta e verifica tudo por perto. A chave está em suas mãos. A
senhora verifica os pedais. – ele mostra os pedais -. Tem os pedais de
embreagem, esse aqui. É como se diz mesmo. Tem o acelerador. E tem o freio.
Quando a senhora for dirigir, preste atenção nos sapatos. Eu vejo que a senhora
está de sapato de salto alto. Tudo bem. Antes de começar a saída do carro,
preste atenção com outros carros em volta. Bonde, inclusive. Então a senhora
vai começar a dirigir. Mas não agora!. Espere!. A senhora põe a chave na
ignição. Aqui, está vendo? –e olhou para Nair que continuava de braços presos
ao busto e sorrindo alegre por demais. – Não é para achar graça! É sério!
Pergunte a ele! – e apontou para Edgar. –
Edgar;
--- É sério, meu amor. – respondeu compenetrado
e com maior incerteza
E então começou o curso de direção com o
motorista em alerta para os trancos e barrancos, a mostrar como se mover o
carro. De início, vagaroso! Lento! Cuidadoso! E a moça sem sorrir então prestou
atenção a tudo. O noivo, atrás, observava atento! Mota, à direção, apenas
falava em “carburador”, radiador, marcha-à-ré, estacionar, largar, acertar, não
tocar. Mas, em nada tocar para não atrasar quando sair. E assim começou a aula de direção.
Mota:
--- Por aqui! Não! Não! Está dirigindo
troncho! – gritava insistente o mecânico.
Nair:
--- E eu faço o que? – a perguntar
nervosa, com temor.
Mota:
--- Assim! Assim! Veja! – gritava
ingenuamente o mecânico a voltear a direção com as próprias mãos.
Esse era o começo! O início! A partida! A
invertida! A saída! Assim era o desabrochar da ninfa para seguir adiante nos
temores, horrores, terrores da vida da imaginável motorista. Depois, a subida.
A descida, a corrida, a batida. Era um mundo para o qual Nair, ao desespero
interior se compadecia de ter consentido a fazer e não daquele inacreditável
modo da vida a levar. Ao cabo de duas horas, o mecânico, suado, alertado,
alterado findou a entregar o volante ao seu dono Edgar. Pronto! Agora, apenas
no dia seguinte. A virgem ao dissabor seguiu à sua mansão, então, entrou.
Suada! Irritada! Agoniada. Maltratada! Ela jamais saberia o acontecer dos dias
a seguir. E assim foi a chama para aquele que clama a proteção de algum modo de
viver e de quem ama. E se não ama começa a amar, deleitar, suportar a ânsia de
animar.
Meio-dia. Almoço. Lenira indaga:
Lenira:
--- Então? – de olhos acesos e sorrir
constante.
Nair:
--- Horror! – falou ligeiro a donzela.
Lenira:
--- Por quê? Tão fácil! Amanhã se
aprume! As lições serão “pesadas”! – falou sem insistência.
Nair:
--- Não vou mais! O homem irrita
qualquer um! – relatou a ninfa a olhar para um lado e a mão no queixo.
Lenira:
--- Ah vai! Tem que ir! Ora se vai! E
tem mais: amanhã começa uma nova etapa na vida! – zangou de outro modo
Nair olhou em troca e quis saber qual
era a nova etapa.
Nair:
--- Não quero ouvir tragédia! Já chega!
Qual? – indagou surpresa.
Lenira:
--- Francês! De tarde! A matrona chega! Veja bem! Todas as
lições! Etiquetas! – falou enfim com muito esmero.
Nair:
--- O que? – se abusou com a cara amarga.
Lenira:
--- Não é por mal! Você entrou em um
novo mundo! Um mundo esplendoroso! Mágico! Tudo é fascínio! Requinte!
Ocidental! Eternal! Perenal! – vibra a moça a iniciar a dança das sílfides! Das
melhores elegantes mulheres.
Nair:
--- Não entendo nada! – despachou a moça
aquietada em seu sofá.
Lenira:
--- Mas entenderá. Após essa semana tem
outra coisa! – relatou com suavidade no olhar e seu modo de sorrir.
Nair:
--- Qual? Pirangí? Já conheço! –
destacou a ninfa com voz soturna.
Lenira:
--- Nada de praia! São outras “eras”! –
relatou a sorrir constante e a dançar as sílfides com a sua mão no coração.
Nair:
--- Como? – indagou a ninfa com a mão no
queixo e a olhar do seu divã de baixo para cima.
Lenira:
--- Mas eternas, seguem sem cruzes, sem
flautas, sem arados. São sonhos da vida e do sonhar. Estão perto do mundo e
distante do juízo. Qualidades sem limites. Tudo é segredo! Esperemos! – falou
elegante a dançar constante.
Nair:
--- Droga! Diga o quê? – perguntou com
cismas e inquieta ao se soerguer do sofá.
Lenira:
--- Crepúsculo dos Deuses! – e dançava,
dançava, dançava, dançava as lembranças das sílfides.
Nair:
--- Que? – indagou ainda mais misteriosa.
Lenira:
--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! –
cantava a bela de forma eternal a bailar.
Então, Nair se aquietou e fez sentar de
novo. Ainda indagou meio em dúvida.
Nair:
--- Cinema? – perguntou para saber.
Lenira:
--- Isso! Deuses! Deuses! Deuses! –
delirava sem sossego a bela diva.
Nair:
--- Ah! Bom! Melhor! – relatou ansiosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário