- MODA -
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FESTA
Dias depois Lenira assumiu o controle da
festa de casamento com as compras de novos trajes para a virgem Nair Pereira.
Houve o combinado e no sábado – quando não havia atividades na Escola Domestica
com relação à Lenira – as duas virgens saíram saltitantes a perambular pelas
lojas do bairro da Ribeira a procura de mostruário, vestes, meias, sapatos,
roupas íntimas, adornos e tudo mais. Para Lenira Penteado, a virgem deveria ter
uma elegância magistral no trajar e no calçar. E por isso Lenira teimava com a
virgem Nair de se soerguer quando passar na Igreja a fazer o charme da moda. Nesse
ponto, durante a semana, houve ensaio onde Nair não era acostumada ou mesmo nem
sabia postar a sua silhueta juvenil. Com isso, Lenira se alterava, zangava,
irritava, enfim pedia ter a virgem maior polidez para ser simplesmente ela
notada pelos sempre presentes frequentadores da Catedral. Era sinal do ponto
alto da cerimônia. Nair afinal de contas demonstrava não saber ou entender ao
certo o fazer de fato. E a importuna completa teima e zoada prosseguia noite adentro
durantes todas as noites antes do sábado.
Lenira:
--- Elegância! Elegância! Assim não!
Elegância! – falava a irrequieta moça a todo som.
Era o sapato a saltar do pé. Era o
vestido acochado. Era o adorno a balança de um lado. Era tudo enfim a não dar
certo. A certa altura Nair ficava trombuda e se sentava no divã como se tudo o
ensinado não prestasse a conta. Quem podia ver a moça, lá estava Nair
aborrecida, acabrunhada, melancólica com os seus braços cruzando o busto e a
sentar chorando. E a teima continuava noite e madrugada com as duas virgens a
discutir, a se irritar, a se odiar enfim. Andava tudo muito bem durante o dia.
Porém, ao chegar à noite, todo o acerto desandava. E a questão era reclama não
entender. E depois a “professora” a se desculpar entre burras e ofensas menos
graves.
Lenira:
--- Assim não sinhá “burra”! Assim, ó! –
demostrava a “professora” como se trajar ou se calçar.
Isso ocorria na própria sala da casa
grande todas as noites entre os clamores da mãe de Lenira a chamar as duas
virgens ter de dormir, pois de manhã bem cedo Lenira devia estar em forma para
a sua lida no estabelecimento de ensino.
Clara:
--- Deixa para amanhã! Vai dormir! –
relatava em murmúrio a sua mãe a querer dormir em seu quarto.
Com esse estrago de pó as duas virgens
obedeciam e terminavam por dormir. Mas sempre no dia seguinte se encontrava uma
arenga para saber onde Nair passaria a “lua de mel” ou mesmo onde estava
organizada a moradia dos dois “pombinhos”, quem seria a cozinheira ou mesmo a
arrumadeira. Coisas simples desse modo.
Nair:
--- Eu não sei! O doutor ainda não
combinou nada disso – dizia acanhada
Lenira:
--- Doutros uma “merda”! Vá chama-lo de
“doutor”! É Edgar sinhá mentecapta! – reclamava com ira a sobrinha de Edgar.
Nair:
--- É o costume. Eu ainda não de
habituei! – declarava Nair ligeiramente entristecida.
Lenira:
--- E tem mais uma coisa! Afaste-se do
fogão! Dê apenas as ordens e pronto! – relatava com ênfase a sobrinha do
advogado.
Nair:
--- E quem vai fazer o café de dona
Amélia? – indagava surpresa.
Lenira:
--- A senhora Odiléia! Ora mais! –
relatava com firmeza.
Nair:
--- Mas a mulher chega tarde. – falava
desconfiada a virgem
Lenira:
--- É só dormir no trabalho! – enfatizou
com certeza a moça.
E do quarto de sua mãe só se ouvia a
gargalhada de França. E os comentários em surdina dos antigos noivos.
França:
--- É assim que a gente aprende! Tu
fizesses desse modo? – indagou sorrindo o aeronauta.
Clara:
--- Nem me lembro! Faz tanto tempo!
Agora vê se dorme! – disse a esposa de França.
As duas ninfas continuavam no seu
lengalenga. Há certo instante Lenira
indagou de Nair se não tinha a moça um traje melhor que sempre usava. A moça
olhou de modo estranho o vestido de cozinheira e relatou ter apenas aquele
traje de trabalho. Por sinal foi o fornecido por Edgar Penteado quando a moça chegou
a sua casa.
Lenira:
--- Que pobreza! Vista dos meus! Vamos
aqui que te mostro! – e puxou a moça pelas mãos.
Nair:
--- E a senhora? – perguntou perplexa a
doméstica.
Lenira:
--- Olha o que eu disse! Olha o que eu
disse! – se virou a moça a advertir a futura cunhada.
Nair:
--- Que foi? – perguntou estranhando.
Lenira:
--- É você. Não é senhora! Ora mais que
merda! – se alterou a moça com a doméstica.
E as duas caminharam para o quarto de
Lenira, essa maldizendo o costume da gente pobre do lugar. E disse ainda ter a
virgem o direito de escolher o que servisse, pois roupa tinha muita. Não era
uma ou duas a lhe fazer falta.
Lenira:
--- Afinal eu sou chique! – relatou a
moça levantando a saia e a sorrir em troca.
Nair:
--- Mulher! Dá pra ver as suas roupas
íntimas! – relatou alarmada a moça já dentro do quarto.
Lenira:
--- E o que é que tem? As mundanas
vestem mais ao gosto do que eu. – e ela desceu suas vestes a demostrar os
preparos das damas da noite.
Nair:
--- As mundanas são as mundanas. Você
não é mundana. – falou certo a doméstica.
Lenira:
--- Olha como você falou certo!
Aprendestes rápido! – declarou a virgem a sorrir
Em seguida a virgem Nair começou a
sorrir, pois já estava na intimidade com a sua patroa. E daí por diante era
apenas buscar os trajes mais propícios para Nair usar noite e dia. E se chegou
até mesmo ao termo de saírem apenas às duas donzelas para assistir um filme no
cinema nobre de Natal em qualquer dia desses, ao mais tardar.
Nair:
--- Rio Grande? – indagou com alegria
Lenira:
--- É chique! Você vai conhecer o novo
mundo. – relatou com ênfase.
Nair:
--- Nunca eu tive a oportunidade de sair
para um cinema. – relatou tristonha.
Lenira:
--- Nem o São Pedro? O cinema das
pulgas. – gargalhou a moça a falar em tal cinema.
Nair:
--- Pulgas? Que horror! – relatou com vexame.
Lenira:
--- Sim! E tem outros para aqueles lados
dessa vil metrópole. – informou sem constrangimento
Nair;
--- Imagino só! Tem um até mesmo na
Ribeira. – dialogou a moça.
Lenira:
--- Onde? – estranhou a casta.
Nair:
--- Pros lados da Rua 15 – teceu ver a
moça.
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