- Isabella Swan -
- 03 -
MORTE
Após a celebração da Santa Missa o pessoal saiu para as suas casas. Meninos na frente. Adultos atrás. Entre todos estavam os casais de namorados a conversar assuntos corriqueiros. E à frente dos alegres casais de namorados estavam Joel e Elizabete. A garota perguntava ao seu amigo se ouvira o padre da Igreja anunciar a morte de Isabel, a mocinha que se confessara no dia anterior. O garoto fez que sim.
--- Você vai à casa de Isabel? – perguntou Elizabete de certo modo vacilante.
O garoto não sorriu, mas disse apenas:
--- Tenho medo. Ela depois se levanta! – refletiu o garoto com o coração batendo.
--- É mesmo. Faz medo. Um pessoal que estava no banco de trás disse que a moça morreu por enforcamento. – relatou a garota tremendo de apreensão.
--- Por que ela se matou? – perguntou Joel tremendo de medo.
--- Não sei. Mas a mulher estava dizendo que ela deixou um bilhete para o seu irmão. – relatou a pequena.
--- Bilhete? – estranhou o moleque ao ouvir tal frase.
--- É. Ela disse que tinha se confessado para não morrer em pecado mortal. – disse de modo baixo a menina Elizabete.
--- E resolve? – perguntou o menino com pleno temor.
--- Não sei. Mas acho que Deus perdoa a pobre inocente. – disse mais Elizabete.
--- E ela esta em casa? – quis saber Joel.
--- Parece! Não tem outro canto, - disse mais a garota.
--- Eu acho que nem vou passar na rua. Um homem falou que certa vez uma menina morreu e depois veio ver o seu corpo. – enfatizou Joel com pleno temor.
--- Eu já ouvi uma história assim. Dá medo. – falou a mocinha com os olhos arregalados.
--- Um homem contou a meu pai que, certa vez, ele viu uma alma. Era uma moça em traje de noiva. Ela caminhou com o homem até o portão do cemitério. E então desapareceu. – relatou com segurança o garoto.
--- Nossa! Ave Maria. Nem diga uma coisa dessas! – falou com assombro a mocinha.
--- O povo diz que tem uma loja no centro da cidade que os homens fazem não sei o que! – enveredou nesse instante o garoto Joel.
--- Não fazem o que? – indagou espantada a infante Elizabete.
--- Não sei. Negócios para os defuntos que morrem! – relatou Joel com o maior medo do mundo.
--- E eles levam os defuntos pra loja? – indagou perplexa a mocinha.
--- Parece. – informou Joel com amplo temor.
--- Ave meus Deus. Vou rezar uma Ave Maria! – disse Elizabete puxando o catecismo.
--- Ave Maria só se reza em casa e na Igreja sinhá burra. – comentou com raiva o garoto.
--- Burra é a sua avó ouviu? Pois vou voltar para a Igreja. – disse por fim a mocinha Elizabete plenamente revoltada por ser chamada de burra.
O menino Joel Calassa gargalhou a seu modo. Elizabete passou por mãe feita uma brasa quase correndo sem temer a ninguém. A sua mãe Elza viu a garota bem arrebitada e procurou saber:
--- Para onde vai? – perguntou a mulher do seu modo atrevido.
--- Vou pra Igreja. E pronto! – respondeu Elizabete quase a correr entre o povo.
--- Hei. Vem cá. Pronto não. Vai fazer o que? – perguntou dona Elza se sentindo ofendida com a resposta da filha.
--- Ora mãe. Vou rezar e pronto. – respondeu a garota em meio do povo.
--- E com essa disposição? Volta já pra cá! Sua cabrita! – falou dona Elza cheia de cisma com a atitude da menina moça.
--- Ora mãezinha! Deixa eu rezar! – falou Elizabete com cara de choro.
--- Nada disso! A Igreja está sendo fechada! Volte já para casa, arruaceira! – respondeu a mulher diante de tantas pessoas e com voz ativa.
Nesse ponto a menina voltou e largou a chorar como uma criança. A mãe de Joel, dona Isaura, já saíra do meio do pessoal e ainda perguntou ao filho o que estava a acontecer com a garota toda cheia de manhas. O garoto respondeu torcendo os ombros.
--- Sei lá. Foi rezar. – respondeu o garoto fazendo o jeito com os seus ombros.
Após tudo isso, a calma voltou a reinar no ambiente. Quando eram dez e meia da manhã, o sepultamento da mocinha Isabel ocorreu. O carro fúnebre recolheu a urna totalmente branca tapetada de rosas em sua maioria brancas e nos enfeites ao redor do ataúde as grinaldas brancas também, camuflando a cor negra do veículo. Carros seguiram o veiculo do enterro de Isabel entre choros de certas pessoas. Tais pessoas não entendiam o porquê do enforcamento da moça naquela hora de tão clemente juventude. As casas vizinhas da residência de Isabel fecharam as suas portas em sinal de luto. Uma mercearia de esquina cerrou suas portas até o sepultamento passar. Na Igreja, o sino plangente e triste dobrava os acordes anunciando a triste partida de um ente querido. Após o carro fúnebre, vinha outro onde estavam a mãe, o pai, um irmão e o padre da freguesia compungido com a tristeza do ambiente nostálgico e triste daquela manhã de domingo.
O garoto Joel já estava em sua casa, deitado na cama, e ouviu o repicar do sino dolente como uma lamentação eterna em busca de algum socorro. O garoto lembrou-se de Isabel, a mocinha que ele vira um dia antes no confessionário da Igreja. E naquele instante ela já não mais era viva como há vinte e quatro horas. Com esse temor, o garoto se pôs a chorar de forma branda. Isabel não da mesma sala que Joel no grupo escolar. Mas não deixava de fazer parte de alunos da mesma escola. Para Joel, a mocinha era bela. Entretanto jamais lhe falara mesmo como colegas de Grupo. Ele se lembrou de um dia em que foi a mercearia próxima a casa de Isabel, e a mocinha estava a comprar algo qualquer. Ele a olhou de viés, e quando Isabel quis olhar em volta Joel trocou de vista. De momento, a mocinha passou por ele e deu um leve sorriso. O seu perfume era pouco, mas deixara no ambiente a sua presença. Foi com isso que Joel mais lamentou a morte de Isabel. O sino continuava a badalar com espaços longos como quem chama alguém para rezar contrita a sua pobre lamentação. Cada repique do sino era como se fosse uma punhalada no coração de Joel. E cada punhalada Joel mais chorava. Era um cântico lânguido para todos os presentes ao féretro de Isabel.
Após alguns dias da morte de Isabel, tudo era normal no ambiente frequentado pela garota, como escola, bodega, mesmo a sua casa. Se alguém falasse em Isabel, a sua mãe chorava e se retirava para o quarto de dormir onde ali permanecia por horas a fio. Isabel era filha de Clotilde Amâncio Freire e Nestor Andrade Freire. A menina moça deixou um irmão de nome Gustavo. Todos na casa de Isabel era gente puramente católica fervorosa. O vigário costumava ir fazer visitas a dona Clotilde e, às vezes tirava a sorte no jogo de damas com seu Nestor. Isso, muito antes do acontecimento da morte de Isabel. Desde aquele dia, o sacerdote visitava uma vez ou outra o casal para conforto espiritual. Porém, de dama não jogava. O tabuleiro permanecia guardado da estante da sala como se fosse algo emudecido e a espera de poder ser tomado pelas mãos de alguém.
Algumas vezes, por esses dias, alguém da vizinhança comparecia a casa de Isabel para levar um prato de cuscuz, munguzá ou mesmo frutas, como manga rosa, caju e mamão. Era costume se oferecer uma lembrança aos que eram visitas. No tempo do feijão verde era bem comum se levar um quilo do produto e em troca se receber uma canjica de milho verde. O padre era o tipo que gostava ainda mais. E às vezes, pedia permissão aos donos da casa para poder ir até o quintal e por lá dá uma baforada de cachimbo. Desde que ninguém fosse até ele para lhe dar um recado ou coisa assim. Depois de tudo, o sacerdote voltava à sala pigarreando para dizer que já havia feito o seu serviço de cachimbeiro. Logo após a morte de Isabel. O sacerdote foi por duas vezes ao lar dos enlutados e ao ser indagado por que a menina tinha feito tal ato, ele respondia.
--- Isso é segredo de confissão. E mesmo que ela tenha feito o ato extremo nada me falou antecipadamente. – dizia o sacerdote com sua voz grossa e pesada.
--- Ela era tao jovem. – dizia alguém penalizada pela morte a infante.
--- O diabo atenta minha senhora. O diabo atenta. – falou uma vez o padre ao falar lento sobre Isabel.
E a conversa encerrava nesse instante.
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