- Gene Tierney -
- PLANETAS -
- 10 -
Na noite de sexta-feira. Joel Calassa estava em sua casa, lendo uma revista em quadrinhos, com os pés em cima da cadeira onde ele se sentava e o seu pai, Jaime Calassa estava lendo o Jornal da Tarde para se atualizar do que havia já anunciado durante o dia na Estação de rádio onde trabalhava. Para matar o tempo, o rádio estava ligado em uma estação qualquer com Jaime a ouvir músicas e a ler o jornal. Foi quando o quase rapaz Joel veio a lhe perguntar sem que nem por que.
--- Pai, quais são os planetas que existem? – perguntou como sem querer o garoto.
--- Planetas? Planetas tem uma porção. Oito ou nove mais ou menos. – respondeu o pai do garoto enquanto lia o jornal.
--- Ah bom. Mas nós estamos da Terra? – indagou Joel para pesquisar melhor.
--- É. Na Terra sim. Vocês estão estudando isso, agora? A professora sabe! – respondeu Jaime Calassa enquanto cuspia para um jardim uma gosta de fumo e continuava a ler o jornal.
--- Sabe? Eu pergunto a ela. Mas a questão é de ter uma Via Láctea. E essa tem muitos planetas espalhados por ai. Não sei se a professora sabe. – respondeu melancólico o garoto.
--- Sabe. Ela sabe. Ora se eu sei! Ela é quem sabe mesmo! –respondeu Jaime sem tirar os olhos do jornal.
--- É. Ela sabe. Uma colega disse que já leu numa revista que tem um mundão de Planetas nessa tal Via. Sei lá! Achou que vou é dormir! – articulou o garoto para com o seu pai.
--- É bom. Durma bem. – respondeu Jaime sem cuspir para fora.
E o garoto foi dormir em seu quarto mobiliado com uma mesa de estudos que ele nunca utilizava; um camiseiro onde estavam guardadas suas roupas e nas gavetas os livros, cadernos, coleções de lápis e borrachas. Em cima do camiseiro, onde tinha um espelho, vidros de perfumes, goma para passar no cabelo – se ele quisesse – e outro punhado de negócios não usados pelo garoto. A sapateira só servia de enfeite, pois Joel tirava os sapatos de qualquer forma, sacudindo os mesmos para cima e os deixava cair no chão ou em qualquer parte do quarto. Na parede que dava para o oitão da casa havia uma janela feita em duas bandas em veneziana. E essa hora da noite, a janela já estava trancada, pois era o cuidado de sua mãe Isaura Calassa deixar tudo fechado ao anoitecer. A luz difusa de um abajur era a única parte que restava na penumbra do quarto, pois a lâmpada de 40 velas já estava desligada. Quando Joel entrou no quarto, a sua mãe veio olhar para ver se tudo estava nos conformes. Ela olhou bem o filho. Esse se deitou e pediu a benção a sua mãe. Essa o abençoou e fechou a porta devagar com bastante cuidado para não soar ruído.
O garoto estava a dormir e toda a vizinhança também. Na rua só se ouvia o ladrar dos cães e os miados dos gatos. A bodega de seu Ferrer estava fechada e, talvez algum rapaz voltasse da cidade para a sua casa. O apito estridente do guarda-noturno se fazia ouvir, muito longe, a cada instante. A noite continuava sem chuva e a lua magra fazia o quase desaparecer no horizonte oeste. Foi em um momento como esse de ter aparecido como uma luz brilhante nos aposentos de Joel a bela imagem da mocinha Isabel. Ela não precisou acordar o seu amigo e entrou no sono dele para poder conversar com maior vontade. E foi logo a dizer:
--- O passei de hoje estava bom. – falou a moça a Joel Calassa a dormir tranquilo.
O garoto sorriu e perguntou a Isabel.
---Para onde você foi naquela hora? – indagou Joel a bela moça.
Ela sorriu e com o passar dos segundos respondeu.
--- É que tinha alguém a me chamar. Eu me ausentei um momento. – sorriu a moça ao dizer o seu desaparecimento.
O garoto pensou um pouco e logo disse.
--- Na verdade eu pensava que você tinha morrido. Mas não passava de pensamento. Você está viva e aqui. – sorriu o garoto ao dizer tal fato.
A ninfa sorriu e respondeu:
--- Ninguém morre. Tem umas casas que levam os desencarnados e procuram dar melhores momentos a sua vida. Mas essas casas tem um grave problema. Elas ditam coisas que não são precisos. – falou a jovem ninfa ao garoto.
O garoto se surpreendeu e perguntou:
--- Que coisas?! – indagou espantado o garoto.
A ninfa sorriu para poder falar.
--- Coisas! Apenas coisas. Têm nas casas os chamados médiuns. Eles – alguns – se emocionam, choram, gritam, esperneiam, fazem de tudo. Mas não vejo necessidade. – relatou a ninfa sem dar importância a tal fato.
O garoto ficou inquieto e perguntou logo após:
--- Mas você já viu esses casos? – indagou perplexo o garoto.
Isabel sorriu e declarou:
--- Já! – (meio longo ao dizer tal fato) – Todas elas fazem o mesmo. O importante é se viajar. Eu estive num lugar bem ambientado onde não houve nada do que se fala! – argumentou a moça
O quase rapaz ficou admirado e perguntou a Isabel.
--- E onde é esse lugar? – perguntou o garoto quase não acreditando.
Isabel suspirou para poder dizer, sentada a beira da cama do garoto.
--- Veja bem. Eu estive em um lugar distante dessa Terra. É um local tranquilo onde as pessoas trabalham, mas não tem um superior que mande com força: “Faça isso!” – Isabel falou com certa arrogância – Mas o povo opera como se diz: milagres!. – sorriu Isabel para o garoto.
O garoto se surpreendeu e voltou a perguntar:
--- Milagres? Mas milagres mesmo? – indagou confuso o garoto Joel.
--- É. Milagres! Eu estive até olhando em uma relação e não me surpreendeu de ver seu nome no calendário passado de que você tinha feito diversos milagres. – sorriu Isabel.
O garoto se espantou e disse:
--- Eu? Eu nunca tive em um lugar desses! – reclamou com temor o moço Joel.
A moça sorriu e disse apenas:
--- É. Você diz isso. Mas, na verdade, você esteve lá. Em algumas outras gerações. É uma galáxia não muito longe daqui da Terra. Não tem nome. Ela fica atrás da poeira das estrelas na constelação de Cepheus. É grande, maravilhosa. As estrelas mudam do amarelo para o azul. Mas é possível se chegar até a galáxia e penetrar em um globo como se fosse a Terra. E você já esteve nessa galáxia e na poeira de Cepheus. Esteve sim! – sorriu a ninfa ao relatar o fato ao garoto.
O garoto se inquietou e disse a Isabel:
--- Cepheus? Eu nunca estive num lugar tao feio assim! – relatou o garoto com o rosto amargo
Isabel falou:
--- Filho. Você já inventou negócios que a Terra ainda vai inventar. Os espíritos são eternos. Eles vivem a eternidade. Você é eterno. Sempre vive e sempre viverá. – disse a moça e de repente apagou a luz e sumiu do quarto de Joel.
Logo em seguida Joel Calassa acordou todo suado e com um medo atroz gritou por sua mãe.
--- Mãe! (grito prolongado e vazio) A senhora está aí? – gritou o menino para a sua mãe.
Uma voz respondeu:
--- Estou! Vá dormir! – respondeu Isaura Calassa ao seu filho.
O relógio da sala bateu as doze horas da noite e Joel, nesse instante, ouviu o galo a cantar. Outros galos dos terreiros próximos também cantavam. O garoto sentia-se todo molhado de suor e uma vontade louca lhe acometeu com a vontade de urinar. O coração batia firme e em seguida o garoto se levantou do leito para urinar no pinico posto em seu quarto. Nesse momento, a sua mãe entrou no recinto e ajudou o menino a urinar.
--- Faça xixi, faça! – disse dona Isaura para o seu terno infante garoto.
Um carro apitou ao longe e nada mais aconteceu.
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