- Doris Day -
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CASAMENTO
Certo dia, a professora Maria da Penha, estava a conversar com outra mestra em seu gabinete de trabalho, aproveitando estar havendo aulas e ninguém – das professoras – poderia ver e ouvir o assunto delicado. E entre um caso e outro surgiu o da professora Maria Eugenia, mulher ainda de pouca idade, coisa de 25 anos, e de fato uma heroína do ensino do curso fundamental. A professora e diretora do Grupo fez ver um fato bem pouco conhecido com respeito a professora Eugenia. Ela fora casada logo na sua juventude. Porém, com pouco tempo o marido largou de vez em busca de uma mundana. Sabia-se ter o marido de Eugenia um fraco pela bebida. E dai largou a esposa por ter em troca uma dama de cabaré. A professora Eugenia nunca falara sobre a sua decepção amorosa. Após concluir os estudos ingressou na Secretaria de Educação e dai então fez de conta que o passado era passado. Apenas a mestra fazia o seu trajeto de casa para o trabalho e do trabalho para a casa, salvo quando era para participar de alguma solene ciência educativa. Para Eugenia era então para o mundo uma delicada personagem tão somente alguém cega, surda e muda.
--- É difícil o seu caso. Muito difícil. Quer dizer: outros casos desse tipo sempre existiram e sem duvidas, ainda estão para existir. Marido ruim é coisa fácil de encontrar. Eu vejo com certa precaução as mocinhas de hoje perdidas de amor por alguém. Elas se casam e logo depois são abandonadas. – relatou em segredo a diretora Maria da Penha.
A outra mestra:
--- Eu não sabia nada a respeito de Eugenia! – falou surpresa a sua companheira de ofício.
A Diretora:
--- Ela não fala a ninguém sobre esse desacerto. E eu te peço não falar nada a outra colega. – relatou a mestra Maria da Penha.
Resposta:
--- Fique tranquila. Eu não vou dizer nada a ninguém do que você me disse. – falou a mestra companheira da diretora.
A diretora:
--- E nem comente nada com Eugenia. Ela faz do seu passado um túmulo. Também nunca me falou desse caso. Nem eu pergunto. O meu marido é quem sabe e tudo foi por ele contado. – disse mais a diretora coma cabeça muito baixa quase a tocar no birô.
A hora avançou depressa e a sineta do recreio tocou e a meninada saiu para a festa das merendeiras, todas com os seus cabelos cobertos por uma touca; vestes brancas; e a servir bolos, café com leite, pães e para que gostasse, tinham mangas colhidas dos pés abundantes da terra do Grupo Escolar. A meninada era louca pelas mangas bem pequenas, porém doces e com um saber meio azedo para complemento. Elizabete procurou Joel. Esse estava a tomar seu leite com bolo. Ao ser indagado sobre a matéria passada, ele apenas respondeu com a sua boca entupida de bolo feito com farinha de trigo e outros complementos:
--- Eu sei. Tiradentes era na verdade um alferes. – respondeu o garoto com a boca cheia de bolo.
A moça:
--- Alferes? O que é isso? – indagou surpresa a mocinha Elizabete.
A resposta:
--- Militar. Assim como tenente. Ele foi tropeiro, minerador, comerciante e ativista político. – relatou o garoto a comer seu bolo de farinha de trigo.
A pergunta:
--- Tropeiro? O que é isso? – indagou abalada a jovem mocinha.
O garoto querendo sorrir:
--- Condutor de burras! – falou alegre o garoto Joel.
A garota estremeceu de raiva e respondeu na hora.
--- Burra é a sua mãe! – e se largou mundo a fora não querendo saber de mais nada.
O garoto sorriu como que chegando a entonar o copo de leite. E ele se deitou na calçada alta sob as brandas sombras das mangueiras sempre a sorrir arrebatadoramente.
Os que vinham a passar olhavam o garoto se contorcendo de risos e, por isso, também sorriam sem saber do verdadeiro motivo de tanta risadagem.
A sineta tocou e novamente a aula recomeçou. Joel entrou e viu de longe Elizabete com a cara trombuda a olhar para o outro lado da sala de formas a não querer ver de forma alguma o seu delicado amigo. A professora Maria Eugenia estava em classe e de inédito notou algo de anormal havido entre os dois colegas. E de imediato a mestra Eugenia indagou:
A pergunta:
--- Pode-me dizer o que está havendo aqui na sala? – perguntou a professora com a voz firme e em pé por trás do birô:
A resposta:
--- Nada não, professora! – sorriu o garoto olhando para Elizabete e se recuando na carteira.
A professora:
--- Eu quero saber. Um dos dois fez molecagem! – falou com altivez a professora.
A garota:
--- Foi ele, professora! Foi ele! – respondeu a garota com a cara trombuda e apontou para Joel
A professora:
--- O que o senhor fez seu Joel? – perguntou a Joel a professora com sua impertinência.
O aluno:
--- Nada. É ela que se emburrou por causa de Tiradentes. – disse o garoto ainda enroscado no assento da carteira.
A mestra:
--- O que tem Tiradentes com isso? – perguntou a professora com forma ativa.
A menina:
--- Ele me chamou de burra! – respondeu a garota completamente desnorteada.
A mestra:
--- Foi isso seu Joel? – quis saber a professora com a régua na mão
Joel:
--- Ela não sabe de nada. Ela veio me perguntar o que era tropeiro e eu respondi ser tangedor de burro. – respondeu o garoto a professora já se ajeitando na carteira.
A mestra:
--- Foi isso dona Elizabete? Responda ou mando para a diretoria! – perguntou Eugenia a aluna já um tanto inquieta.
A aluna;
--- Foi. Mas ele disse que eu sou burra! – chorou a moça rebelde com o rosto emborcado na carteira.
O colega:
--- Eu não chamei você de burra! Eu disse que o alferes era tangedor de burros. Foi o que você perguntou. Foi isso! Ou não foi? – indagou Joel a Elizabete.
Toda a turma caiu na gargalhada, uns e outros fazendo gestos de burros com as mãos presas a cabeça e a abanar para a garota. Foi um tumulto geral que a professora não teve outra saída. E gritou firme para toda a classe:
A professora nervosa:
--- Silencio bando de burros! Já para a diretoria!. Todos! Os dois ficam aqui! – e a professora chamou seu Josino a levar os alunos para a direção da Escola.
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