sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ACASO - 25 -

- Rooney Mara -
- 25 -
ASMA
No dia seguinte, já sem chuva torrencial como o dia anterior, aconteceu o imprevisto. Talvez por mudança da temperatura ou por consequência de um resfriado tardio, o moço Joel Calassa amanheceu com uma terrível tosse e um puxado horroroso de acordar a casa inteira. Seu pai já saíra logo cedo para o trabalho, na Estação de Radio onde apresentava um programa matuto todo santo dia. Ele, quando saiu de casa deixou o garoto à dormir apesar de ter ouvido Joel tossir constantemente ao longo da madrugada. Mesmo assim, entre o trabalho a fazer e a tosse do menino, Jaime Calassa não teve outra saída: o trabalho. Enquanto isso, pouco antes das seis horas, Joel já estava acordado mais pelo chiado no peito e pela respiração ofegante do que por outra coisa qualquer. A sua mãe, Isaura Calassa, já estivera por varias vezes no decorrer da madrugada junto à cama do garoto em que untava com vick vaporub o peito do menor e se culpando pelo mal tempo que fizera na madrugada, manha e quase toda do dia passado.
--- Que tosse! Foi àquela chuva de ontem! – reclamava por vezes dona Isaura.
Joel
--- Está fedendo. – reclamava o garoto Joel ao ver a sua mãe passar aquela pomada.
Isaura:
--- Fedendo que nada! Eu vou passar nos peitos e nas costas até você passar essa asma! Tirana! Um doenção! Minha Ave Maria! Chega! Mais prá cá! Assim! Não meta as mãos na água quente da torneira! Eu vou levar você para o enfermeiro! – diagnosticou a mãe Isaura naquela hora da manhã bem cerdo.
--- Aquele que dá injeção, mãe! –perguntava o garoto com voz sombria e a cara de choro a respirar com muito esforço.
Nesse momento, chegou à porta da sala dona Maria Rosa conhecida por Lita, com um ramo verde para curar o menino. Nem precisava chama-la, pois a velhinha sabia de todos os enfermos a precisar de cura. Mulher de 80 anos, ela sempre dizia:
--- Eu aprendi a reza com minha avó. Eu a ajudava muito a rezar nas capoeiras do sertão. Homens e mulheres. Crianças muitas. A gente saiu antes de o sol nascer e só voltava quando era hora do almoço. A minha avó pegava menino e curava antraz, tumor maligno, doença de criança. Ave Maria. Ave Maria. Ave Maria. Não se diz o nome quanto se está perto de criança para não pegar. – disse a anciã antes de curar o menino com galho de arruda fortemente aromática.
Quando a anciã ia rezar a criança, pedia que a mãe ficasse para trás da curandeira para não “pegar” a doença “braba”.  E Isaura Calassa obedeceu a ordem o ficou para trás da anciã.
Então começava a sessão de cura. Dona Lita com um traje simples e longo de cor escura começava a benzer Joel perguntando afinal o nome da criança.
Isaura:
--- Joel. – respondia a mulher com um dedo na boca a temer ter errado em algo.
Então, dona Lita começava a reza. Falava como um murmúrio para ninguém ouvisse o que a ancião rezava. Um rosário lhe cobria os peitos do pescoço até a cintura. A mulher não levava nada além do galho de arruda. Na reza principal ouvia-se muito bem a anciã dizer:
--- Ia Jesus e Jose pelo campo. Jesus andava. José se atrasava. Jesus dizia: “Anda José! Senhor (eu) não posso! Que tendes José? Dor de puxado, dor de pontada, ramo do tempo, constipação, ventrusidade, dor encasada e mais alguma por aqui encostada”! Joel, são e livre de puxado no peito, dor de pontada, ramo do tempo, constipação, ventrusidade, dor encasada.! – e nesse ponto a anciã rasava a murmurar algum oficio até terminar por três vezes em seguida. Quando terminava o galho de arruma já estava murcho. A anciã mostrava a dona Isaura como ficava o ramo da cura.
Lita:
--- Olha como ficou o ramo? – mostrava dona Lita à mulher mãe do menor e dizia então.
--- Olhado do brabo. – respondia enfim dona Lita, a anciã.
E saiu de dentro da casa e, no quintal, sacudia o ramo para longe e pelas costas a dizer:
--- Vai-te por mar sagrado mal amaldiçoado. - justificava a mulher anciã.
Quando dona Lita voltava Isaura Calassa perguntava:
--- Quanto custa, minha avó? – perguntava Isaura a velhinha.
Lita:
--- Nada não minha filha. É não perder minhas “forças”. Quando se reza não deve se pensar em dinheiro. Nada não. Nada não! – respondia a velha Lita, corcunda pela idade e sempre a dizer:
--- Minha neta não veio hoje. Está com mal de mulher. E não pode vir. – dizia a anciã a cuspir de banda.
Isaura:
--- Quer café minha avó? – perguntava Isaura Calassa.
Lita:
--- Um pouquinho para me livrar do mal do tempo. – respondia dona Lita com voz angustiada.
E depois passava no quarto para ver Joel e mandava o menino repousar, não pegar em água quente, não andar descalço e não tomar sol quente. O menino ouvia tudo o que a anciã dizia e fazia que sim. Depois de mais conversa, dona Lita saia de casa a dizer ter que ir a outra casa curar uma mulher de aborto.
Logo após as oito horas, dona Isaura Calassa saiu com Joel para ir até o enfermeiro Manoel Severino para consultar o seu filho de uma bronquite. Por lá já tinha uma porção de gente com e sem meninos. Era gente de perto e da distancia vindo ao enfermeiro para fazer uma injeção, ou um curativo e até mesmo para curar de cansaço. Depois de um bom pedaço de tempo, o enfermeiro ajeitou as agulhas no aquecedor e o menino olhou assustado:
Joel:
--- Vai dar injeção, mãe? – indagou a criança com um medo atroz.
Isaura:
--- Não se incomode. Ele sabe o que faz. – respondeu a mulher a tranquilizar o filho em uma sala reservada para essas consultas.
Joel:
--- Mas eu tenho medo de doer. – respondeu o garoto com voz chorosa.
O homem Manoel Severino veio devagar e baixou a calçado menor injetando-lhe a agulha para fazer a injeção. E disse:
Enfermeiro:
--- Menino caviloso! Pronto! Está bom agora! A senhora vá até a farmácia e compre esses comprimidos. Dê dois por dia a ele. E uma bomba para fazer fomentação prescrita. Já vem com a medicação prescrita. Não deixe de ir ao médico. Eu sou apenas um enfermeiro. – respondeu o homem com a cara séria.

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