- Ana Paula Arosio -
- 07 -
O ISLÃ
E a tensão acalorada continuava com a garotada falando tudo de uma só vez mais parecia um vespeiro a zoar. A professora, Maria Eugenia, já não aguentava tanto desacerto entre seus alunos a ponto a mulher enlouquecer de tanta raiva. Ela não sabia o que fazer e bateu com força com a régua em cima do estrado do birô para ver se era capaz de alguém ouvir. Não se sabe por que, a questão deu certo. Todos os alunos se calaram. Houve um silencio sepulcral pela ação intempestiva da Mestra. Suando pelas bicas então Maria Eugenia advogou:
--- Vamos acabar com essa balbúrdia e tentar explicar o que está havendo! Primeiro: quem começou a confusão na sala. – perguntou a professora bastante neurastênica.
--- Foi ele! – disseram todos a um só tempo cada qual apontando em direção oposta.
A professora Maria Eugenia se irritou e bateu com a régua em cima da mesa e gritou.
--- Calados! – falou braba a professora.
E foi a frente da mesa a perguntar o que estava a se passar.
--- Um de cada vez! Você! – replicou Maria Eugenia com a régua apontada para Joel e ainda cheia de ira com o rosto tenso.
O garoto, meio sem jeito, disse apenas que discutira o assunto com a sua colega Elizabete ainda no meio da rua.
--- Que assunto foi esse? – perguntou a mestra vendo se derreter a sua maquiagem.
O garoto, com o maior medo do mundo, explicou:
--- Jesus! Eu disse a Elizabete que Jesus era o Presidente de Céu. E que Nossa Senhora era a secretaria. Só isso! – respondeu com muita calma o garoto.
Isso foi o bastante para recomeçar a confusão novamente e a professora Maria Eugenia gritar:
--- Silencio bando de bestas! Ora! Quem já se viu! E você, Joel: quem falou isso a você? - perguntou exaltada a professora enjugando o suor que lhe escorria face abaixo.
O garoto, que estava levantado do assento da carteira, disse apenas:
--- Meu pai. E que no Céu não entra protestante e nem gente do harém. – respondeu o garoto tranquilamente.
A garotada caiu na risadagem e apontando de dedo em riste para Antônio dos Santos, filho de Pastor protestante. O garoto nada falou ficando apenas a olhar os seus inimigos.
--- De onde? – perguntou a mestra, revoltada:
--- Harém. Foi o que ele disse. – falou timidamente o garoto Joel Calassa.
A professora refletiu um pouco e voltou a falar:
--- Não teria sido o Islã? – indagou a mestra com todos os seus arranjos desmontados.
O garoto pensou um pouco e veio à resposta seguinte.
--- É. Parece que foi esse homem. – descreveu o garoto.
Nesse momento, Maria Eugenia não teve outra razão a não ser sorrir com muito vagar. E logo após ela descreveu.
--- É o Islã. No Islã o povo segue o Corão, a chamada “Suna” de Maomé considerado o profeta de Deus. Isso não tem nada a ver com Jesus. Mas eu vou convidar uma Freira para ela dar aula de religião dentro de poucos dias. Vocês todos estão convidados. Agora vamos a aula de hoje. – falou por fim a mestra Maria Eugenia.
No decorrer da semana apareceu no Grupo uma Irmã de nome Dolores. De porte quase magro A Freira vestia traje negro com um limpel, pano branco que envolve o pescoço da religiosa; um hábito do Coro conhecido popularmente por batina. O Hábito de Coro tem esse nome porque faz alusão a coro de música quando as freiras participavam do “ofício divino”. Após os cumprimentos com a diretora do estabelecimento de ensino, a Irmã foi em companhia de a professora Maria Eugenia dar aula de religião aos componentes da sala da mestra. Foi uma aula disciplinar onde a Irmã falou sobre Deus e os conceitos religiosos da Igreja Católica. Em seguida vieram as questões pertinentes do garoto Joel. E ele quis saber:
--- Irmã, com sua licença. Eu quero saber se Jesus é o presidente do Céu. – perguntou Joel diante da classe em silencio.
A Freira ficou meio cismada em responder tal pergunta, mas ao fim chegou a eterna confusão.
--- Bem, meu filho. Jesus é o Nosso Senhor. Ele pode ser dito como o Senhor Presidente do Céu. Vejamos o que um presidente faz. Ele governa um Estado. Pode ser um Estado grande o pequeno. E Jesus governa todo o mundo. Ele está no Céu. E de lá Ele vê todas as coisas da Terra. Mas, não é dizer que ele seja apenas um Presidente. Ele é mais que isso. Porém como não temos palavra para descrever ao certo, vale a pena dizer ser ele um certo Presidente. Está bem assim? – quis saber a Irmã do menino perguntador.
E esse disse para Elizabete:
--- Não te disse? – fez ver o garoto a moça.
--- Eu quero saber de Nossa Senhora. Ela será então a Secretária de Jesus? – perguntou a menina Elizabete se encobrindo na carteira em seguida.
--- Bem. Não restam dúvidas que Nossa Senhora é uma Santa. Não podemos dizer ser a maior de todas, pois todos os Santos são Santos. Não tem maior ou menor. Santo é o cristão reconhecido por suas virtudes especiais. São Santos todos aqueles que foram convertidos e salvos por Jesus Cristo. É um título que se dá ao fiel que está na graça de Deus. Porém existem servos de Deus que nunca foram reconhecidos como Santos. – respondeu a Irmã Dolores com suavidade e respeito.
E a confusão de acendeu novamente em toda a sala cada qual fazendo uma pergunta bastante diversa do seu colega de aula. O tumulto se generalizou por completo até a Irmã Dolores negociar uma paz entre célebres alunos. E foi assim, de imediato, obedecida. Quando a paz reinou na sala veio então a questão:
--- Mas Irmã, Crente pode ser um Santo? – indagou um dos alunos da classe.
A turma toda soltou uma bela gargalhada ao ver presente o seu colega Antônio dos Santos. A Irmã Dolores foi advertida em murmúrio para o caso do garoto protestante que se mantinha calado em toda a aula de religião. Ela compreendeu e disse:
--- Vejam bem. Existem várias religiões no mundo. Tem a ortodoxa, a anglicana, a judaica, a Islamita, a budista. Umas seguem a doutrina de cada qual. Nós estamos falando aqui na religião católica. Pois é essa que nos interessa. A doutrina protestante é outra coisa. A Igreja de Martinho Lutero não crê no processo de canonização. É tanto que, mesmo estando a pregar o Santo Evangelho, os Protestantes, - como ainda hoje alguém os chama - não aceitam a Santidade dos Servos de Deus. Porém isso deve mudar com o tempo. Veja que Martinho Lutero viveu em 1717. Quando ele fundou a sua Igreja na Alemanha, País distante do nosso amado Brasil. Estou certa? – quis saber a Irmã aos alunos.
Novamente o célebre tumulto se formou no ambiente escolar com a turma a chamar de nomes declináveis o aluno Antônio dos Santos.
--- Herege! Herege! Herege! - - jogavam bolas de papel no aluno que se vendo ofendido saiu da classe de aula.
A Irmã, atormentada pelos alunos pediu apenas calma, pois o garoto tinha saído da classe. Esse era o modo de protesto do menor em ver os seus colegas gritarem.
--- Fora! Fora! Fora! – gritavam os alunos do Grupo.
No entanto, a aula de religião prosseguiu com a Irmã Dolores explicando o que era uma pessoa santa, pois nem todos os cristãos católicos podem ser chamados de Santos. Fez ver a freira que a Igreja tem um altar onde pode colocar os Santos por ela reconhecidos. E disse mais serem Santos todos àqueles servos de Deus que obedecem as leis da Igreja e se tornam legítimos fieis onde pregam o Evangelho e praticam a boa fé de ser cristão. E disse ainda a Irma Dolores:
--- Deus é vida. E os Santos estão vivos no Céu. E assim, os Santos podem interceder junto a Deus por aquele que ainda estão da Terra. Essa é a comunhão dos Santos. – refletiu a Irmã Dolores.
Após a aula de religião, a Irmã Dolores foi cercada pelos alunos a perguntar ser obrigado a rezar durante o dia; ou se as pessoas que morrem podem aparecer a outra em vida; e questões relacionadas com os protestantes, pois o garoto Antônio dos Santos talvez não quisesse mais voltar à escola depois daquela aula tão tumultuada. A Irmã aconselhou ter os alunos de fazer uma comissão dos estudantes tendo à frente a mestra Maria Eugenia e ir até a residência do aluno para que ele pudesse voltar ao Grupo.
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