domingo, 8 de janeiro de 2012

ACASO - 05 -

- Piper Laurie -
- 05 -
A FLOR
O sacristão da Igreja estava limpando os altares quando se deparou com uma lembrança depositada aos pés de Santa Edwiges. Uma rosa branca. Caso bastante natural. Mas o fato é de quem retribuiu a flor aquela santa pouco lembrada pelos fieis. O sacristão era João Batista que ficou apelidado pelos meninos do catecismo de apenas “seu Sinagoga” por ter ele chamado um infante de Sinagoga em uma perseguição audaz para nem sequer agarrá-lo. Do garroto corredor não se ouviu mais falar. Mas Sinagoga continuava ajudando o padre na Igreja. De certa vez, Sinagoga foi à feira de fim de semana para fazer compras. E entre outras ele também, como de costume, ele trazia um frasco de tabaco – fumo moído – para o sacerdote. E nesse sábado, lá foi Sinagoga fazer a feira. Ele comprou de tudo. Porém, ao chegar à Igreja, a conferir o que havia comprado notou de que se esquecera da peste do tabaco. Contudo, Sinagoga não se deu por vencido. E foi a procura de esterco de gente, de modo singular, seca. Ao encontrar o esterco trouxe um pouco para por no tabaqueiro do sacerdote. Arrumada a mesa com todos os paramentos que o sacerdote usava quando celebrava Missa, lá estava o tabaqueiro do padre. Sinagoga calado estava e calado ficou. Antes da celebração, o padre se paramentou e pôs o tabaqueiro no bolso da calça. Como o sacerdote vestia a batina e os demais paramentos tinha o trabalho de enfiar a mão para puxar o tabaqueiro. E foi na hora do sermão do domingo que o sacerdote meteu a mão no bolso para tirar o tabaqueiro e pronto feito. Ao cheirar o tabaco, não deu outra. O sacerdote disse:
--- É merda! É merda em pó! – falou o padre na hora do sermão.
E dessa vez em diante não se ouviu mais falar no excêntrico senhor Sinagoga.  O homem se escafedeu por completo. Há quem diga que até hoje ele está correndo estrada a fora.
Mas, dentro deste adendo, continua-se o relato da Santa Edwiges. O sacristão teve o cuidado de retirar dos pés da santa a rosa branca e perfumosa. Ele olhou para um lado e para o outro, não vendo viva alma jogou fora a rosa. E disse:
--- Molecada. Sinagogas. – ele descompôs baixinhos os que puseram a rosa branca.
Ao se voltar para os altares, Sinagoga encontrou novamente a flor branca no mesmo local. Ele foi até o pedestal da Santa e olhou a rosa e disse:
--- Tem outra? – indagou Sinagoga pesquisando o altar.
E tirou a flor e a jogou para o beco onde devia estar à outra rosa. E foi embora de Igreja adentro reclamando as arteirices dos mandriões. Passado o tempo, Sinagoga voltou pelo mesmo lugar para ir até o andar de cima onde ficava o Coro da Igreja e fazer a limpeza como de sempre. Ao passar em frente ao altar de Santa Edwiges. Lá estavam duas rosas brancas. Sinagoga olhou para um lado e para outro e correu em debandada sem nunca mais passar pelo altar da Santa. Há quem diga ainda hoje que Sinagoga fugiu com conta das rosas. Mas teve o caso das fezes do tabaqueiro do padre. Pelo sim e pelo não fica posta a dúvida.  
Depois que Joao Batista Sinagoga sumiu o padre da Igreja teve o trabalho de conseguir outro ajudante, E por sinal tinha o nome de João. Mas era um pouco diverso. Em vez de Batista esse era Clemente. Homem alto, porem magro, nariz avantajado, mãos suaves e vestia roupa branca, a não ser durante os dias santos de guarda. Quando o padre precisava de algo gritava:
--- Clemente! Traga a estola! – dizia o padre.
Podia ser outra indumentária que não a estola. E o sacristão seguia as regras com rigor.  
No dia de aula, uma segunda feira, Joel Calassa, falou a Elizabete ter tido na madrugada passada um sonho com Isabel. Sabia apenas dizer ter sido ela quem pediu que ele fosse levar uma rosa e por aos pés de Santa Edwiges, uma santa da Polônia. A garota estremeceu e em seguida perguntou se o menino sabia onde ficava essa cidade:
--- Cidade? Que cidade? É um País. Polônia. Ela falou! – respondeu o garoto meio aturdido.
--- Nunca ouvi falar. Deve ser na África! – respondeu à garota ajeitando sua bolsa a tira colo.
--- Não. É na Alemanha. Isabel também me disse. – respondeu o garoto Joel.
--- Nunca ouvi falar. Deixa prá lá! – respondeu Elizabete olhando em frente, direto,  na direção de Grupo.
Os garotos estavam todos animados a conversar sobre tolos assuntos. Joel olhou, sem querer, na direção da casa pequenina onde residia o rapaz grandão que lhe ameaçara atirar uma pedra em certa ocasião. E Joel observou o grandalhão fazendo qualquer coisa provavelmente em uma mesa de escrever. O grandalhão observou bem os meninos com a cara um pouco abaixada e logo saiu fechando a pequena janela da sala de entrada. Nesse momento, outro rapaz chegou e ficou na porta. Os dois conversavam assuntos de interesse comum. Joel observou bem o rapaz vindo de fora e depois se enveredou para chegar até o portão do Grupo onde já estava um sem número de alunos.
Na metade do horário de aulas a sineta tocou dando recreio para todos. Eram nove horas da manhã. Quando os garotos saíam para o pátio onde era servido o café, Joel se atrasou e então perguntou a sua professora onde ficava a Alemanha.
--- Alemanha? É bem longe daqui! Por que a pergunta? – falou curiosa a professora.
--- Por nada. Mas fica para qual lado? – voltou a indagar Joel.
--- Não sei se você vai entender mesmo. Mas fica perto da França. Sabe onde fica a França? – perguntou a professora louca para sair e ir até a diretoria.
--- Não. Fica pra lá? – e apontou o norte para a professora.
Esse se viu desorientada a apenas disse:
--- Fica onde tem a Torre Eiffel. Sabe onde fica a Torre? – perguntou a professora parecendo estar de vasando em urina.
--- Não. Nunca ouvi falar. – respondeu o menino.
--- Depois eu explico. Deixa-me sair que a diretora me chama. – respondeu a professora e saiu nas carreiras.
--- Ora! Ela nem explicou! – falou em surdina o garoto.
Nesse momento surgiu a garota Elizabete trazendo um pão extra, fazendo presente ao garoto.
--- Peguei outro! Toma! – falou a garota Elizabete enquanto comia o pão de seda que trazia.
Quando terminou o recreio a turma toda entrou na sala de aula. E a professora abriu o mapa para mostra a toda classe a posição do Brasil com o restante do mundo. E apontou bem em cima da Alemanha. E indagou a Joel bem ativo:
--- Sabe agora, Joel? É o País do morticínio dos judeus pelo governo da época. Está vendo agora. Essa é a Alemanha. Mais alguma dúvida? – indagou a professora ao garoto.
--- Está bem. – respondeu Joel com a cara tecendo por não saber de qualquer forma onde ficava a Alemanha. E morte de judeu nunca ouvira falar.
E Elizabete perguntou em surdina ao garoto.
--- O que é judeu? – indagou em surdina a garota.
--- Sei lá. Deve ser um bocado de bêbado! – respondeu Joel abrindo seu livro escolar.
De volta a sua casa Joel Calassa resolveu a pergunta. Ele esperou a chegada do seu pai da Estação de Radio e tao logo o homem chegou ele foi logo indagando sobre a Alemanha.
--- Alemanha? É um País! Por quê? – indagou o pai do garoto ao tirar os sapatos dos pés e cheirá-los para sentir o seu forte odor.
O garoto observou a ação do pai e em seguida tapou o nariz para evitar sentir o odor do sapato.
--- Fede! – respondeu o menino ao cuspir para longe.
--- É o chulé. – respondeu o homem, sentado no sofá a esfregar os dedos dos pés.
--- Põe fogo! – disse o garoto a cuspir insistente.
--- Você é besta? Põe tu da tua. ... – e parou o pai no que ia dizer.
E o garoto Joel voltou a conversa dentro de alguns instantes.
--- E o que é judeu? – perguntou o garoto a seu pai.
--- Judeu? Judeu é um povo! Você não lê a Bíblia? – respondeu o pai enquanto soltava um flato
--- Um livrão que o padre lê? – indagou o menino com os olhos bem abertos e os braços estendidos em forma de cruz.
--- É. Mais ou menos. – respondeu o pai, Jaime Calassa.

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