- Nathalia Dill -
- 19 -
TAPIOCA
O garoto se voltou e pegou o caminho do mercado a procura de bananas e de outras coisas mais. No seu caminhar, ele, ao entrar no mercado se topou com uma mulher gorda e de vestido banco, com uma touca na cabeça cobrindo-lhe os cabelos a amassar um punhado de goma enquanto fritava a tapioca molhada. Tapioca molhada é um tipo de tapioca feita seca e que se unta com o leite do coco e se espalha por inteiro coco ralado por cima da tapioca. O garoto ficou desejoso em comer uma tapioca com coco e leite, mas não tinha o dinheiro para efetuar o pagamento. Então, ele observou a feitura da tapioca e se mandou para a banca de bananas. Fez às compras das bananas, uma lata de leite é pó e dois quilos de açúcar granulado seguindo então pelas travessas do mercado a observar as lojas de artigos domésticos, como sapato, blusa, calça comprida e camisas de mangas compridas. Ele de imediato pensou na vestimenta que usara na sabatina da qual participara diante de professores catedráticos. Contudo, as perguntas feitas não lhe prestavam mais. Coisas do passado. Nesse instante, em um beco deserto de dentro do mercado surgiu a figura de Isabel. Ele a olhou e sorriu. A ninfa também sorriu e os dois perseguiram becos sem ninguém. Em um dado tempo a moça olhou para Joel e fez a doação de uma tapioca molhada. O garoto se surpreendeu com o tal gesto:
A tapioca:
--- Como você sabia que eu queria comer tapioca? – indagou Joel a sua amada.
Isabel:
--- Coma! É gostosa! Leva açúcar também! – respondeu Isabel ao garoto.
O garoto:
--- Foi você quem fez? – foi a pergunta seguinte de Joel.
A ninfa:
--- Coma! Faz bem ao espírito! Não fui eu quem fez! A mulher do balaio! Ela não cobrou pela tapioca! – falou entusiasmada a moça.
Espanto:
--- Nossa! Se eu soubesse tinha pedido! – relatou o garoto a sua ninfa.
Isabel sorriu e continuou a passear em companhia do garoto. Eles olharam os artigos de luxo expostos nas vitrines então já fechadas e não se sabia o porquê esse intento. Em alguma vitrine tinha sombrinhas expostas, abertas como se fosse para usá-las. Isabel então usou uma sombrinha e saiu delirante com ela. Sombrinha de cor branca e rosas de enfeites. O garoto Joel se abismou da faceta da moça e ainda indagou:
Surpresa:
--- Você tira assim e não paga? – perguntou o garoto mostrando surpresa:
A mocinha sorriu e saiu pelo mercado de sombrinha aberta e ela como se estivesse em outro espaço universal. Ela dançava, cantava, assobiava. Enfim ela passava de um canto a outro com a sua sombrinha mágica a rodopiar constante. Em dado instante agarrou o menino pelo braço e saiu a perambular cantado algo tão divino e magistral como as ninfas de luz. E os dois subiram ao céu como se fossem anjos e querubins. Eram em fim um delírio astral os dois a mirar o Universo infindo. Ele de trajes celestes. Ela em vestes brancas de um cetim dourado. Vestes longas e deslumbrantes iguais às deusas do Olimpo. Adornos em ouro lhe cobriam os cabelos soltos, lindos, apaixonantes de um amarelo cetim a lhe cobrir enfim até a leve cintura. As aurículas e regaço também se cobriam de adornos dourados como a mistura de nanquim em áureo. Pulseiras e adornos cobriam-lhes os pulsos. A cada segundo as vestes mudavam de tom. E Joel, maravilhado com tamanho contorno angelical deixava-se enlevar pelo espaço sem fim. A dança de duendes em delírio sobre folhas de labaça entre contos de fadas era o êxtase perpétuo dos leprechaun.
Lembrança:
E em tal instante de delírio, o garoto recordou:
--- As bananas! – falou por o garoto Joel Calassa a mostra as compras que fizera a sua ninfa.
E, delirante, a ninfa desceu do espaço sem fim e pôs em seu lugar o extasiado garoto. E em um instante delirante, Isabel partiu para a paragem onde vivem as enlevadas fadas.
Em um dado instante, sentindo que o tempo passara tao rápido, o infante em delírio buscou o seu caninho de casa. E foi assim: ter ele vivido entre sacis e fadas a dança da roda. Ao passar em frente da casa de Elizabete, viu a mocinha a olhar por entre a vidraça da janela com o seu rosto infante e lânguido a tecer a sua blusa por uma forma de ninguém notar o que não se podia vislumbrar enfim. O menino quase rapaz infante sorriu à sua amiga e correu sem fim em busca do seu solar.
A mãe:
--- Demora? – falou a sua mãe com cara grosseira por ter corrido longo tempo em buscar as bananas.
O menino nada respondeu e tomou o caminho da cama para se deitar e sonhar com as fadas e ninfas como jamais vira tão belas e tão angelicais.
O tempo infindo passou e, com ele, o dormir do soberbo e afetuoso menino quase rapaz a sempre sonhar com as musas do seu passado presente futuro. Às seis horas, o pai de Joel já estava a ler os jornais circulantes da cidade, e a sorrir com as matérias ainda postas sobre o debate daquela semana e a provocação de outros minguados e débeis alunos então com os professores de esquerda. O discurso do barbudo. Esse falatório agoniado não tinha nada a ver com o debate do garoto no auditório da Secretaria de Educação. Eram apenas motivos para se criar alarde por seus aumentos salarias e tão somente. E nesse instante Jaime Calassa disse:
--- São uns bostas. É o que eles são! Uns bostas! – relatou Calassa sacudindo os jornais no cesto para ir tomar seu café da noite.
A mulher:
--- Que foi? – perguntou Isaura ao marido enquanto tirava o café do fogo.
O pai:
--- Esses bostas! Falam, falam por que querem apenas aumento de salario. Onde está a nossa classe? Para nós, ninguém fala em aumento! Eles são uns bostas! – falou com raiva o homem.
A mulher:
--- Toma o café! Come! Tu também não acreditas em nada! Foi gastar um dinheirão com as roupas, sapatos. Até gravata para o filho! Um dinheirão! Quanta besteira! Eu não vejo pra que se gasta tanto dinheiro assim! – declarou aborrecida a mãe de Joel.
O marido:
--- Lá vem você. Parece que não entende de nada? Comprei, sim! Comprei compro! Tantas vezes for preciso! – desatou Calassa a sua fala.
A mulher:
--- Pois compre! Compre carne que não tem mais! Desaforado! – falou braba a mulher Isaura.
Com o clamor a assumir tais proporções, quem acordou foi o pequeno Joel. Era a hora do Ângelo. No radio tocava a música da Ave Maria. O galou não entoou sua canção dessa vez. Já era o anoitecer. A sua mãe entrou no quarto para despertá-lo.
Chamado:
--- Acorda! Ou vai dormir de pés sujos! – reclamou com toda raiva a mulher Isaura.
O garoto se levantou da cama e foi direto para o banheiro onde cumpriu suas obrigações infantis. Alguém bateu a porta. Isaura foi ver que batia. Era um bêbado. Ela notou logo pelas suas roupas rasgadas e como se fosse de luto. O homem era sujo e asqueroso. Pedinte, com certeza. E Isaura indagou:
--- Que é? – falou Laura com certa brabeza.
O homem sofrido:
--- Uma esmola pelo Santo Amor de Deus, filha de Deus! – disse o homem acabrunhado com uma voz acanhada.
A mulher:
--- Ah bom. Só faltava essa. Pera! – respondeu Isaura se voltando para ir buscar um punhado de farinha.
O marido:
--- Dá café, pelo menos! – respondeu Calassa.
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