quarta-feira, 7 de março de 2012

ACASO - 49 -

- Eesha Narang -
- 49 -
DIFERENÇA
Para o menor a ansiedade do seu pai não fazia a menor ou maior diferença. Ele estava confiante no texto visto dos livros da estante e se deleitava com apenas as mãos presas a sua cabeça puxada para trás. Os seus pés a balançar lhe davam maior tranquilidade. Joel ficou um pouco estirado entre o birô e a cadeira e sempre a sorrir para o seu pai. Após alguns segundos o garoto resolveu falar como se nada soubesse de verdade. E perguntou ao homem:
Joel:
--- Deus existe? – indagou o menino de forma presunçosa.
Jaime Calassa ficou pensativo com a pergunta, pois de qualquer modo o que ele responderia poria em duvida a pergunta seguinte. Passou ele a folhear bem os seus livros e tendo visto o que Joel lera, admitiu que sim.
Jaime:
--- Claro que sim. Por que a pergunta? – pesquisou o homem a intenção do seu filho.
O garoto se pôs a sentar e logo falou no texto do livro. Pelo oque notara então o Deus mesmo não existia. O que existia era a posição de uma Igreja a forçar a seus adeptos a acreditar em um Deus superior. Essa era a questão. E fez ver:
Joel:
--- Não existe! Apenas a Igreja a nós faz crer que Ele existe. Eu creio ter Jesus existido. Pois além de ser Ele um judeu, também fazia parte de uma idéia de que Ele era o próprio Filho de Deus. – apontou o menino.
Jaime Calassa pesquisou um tempo no livro apontado pelo seu filho e anotou na memoria o que o menino fazia crer. E então veio a falar.
Jaime:
--- Olha aqui filho! Você está segundo a orientação do que diz essa historia. Agora, não esqueça que a historia é feita por um homem. Isso que ou não dizer ser a verdade meia palavra. Ou até nenhuma palavra. O que o homem disse ou diz, pode nem ser a verdade. A  verdade é relativa. O que para mim pode ser verdade, para outrem pode não ser. Não existe uma verdade única. Existe a especulação de um texto em torno da verdade. Eu admiro muito você em querer saber qual é a verdade. Você veja: Hoje existe a Itália. Antes era Roma. Quando Jesus nasceu, já existia Roma. E por oitocentos anos Roma governou a Galileia. E governou também a França, a Inglaterra, a Escócia, Egito, Síria, Grécia e amplos territórios. Roma surgiu de uma pequena comunidade agrícola fundada na península Itálica no século X antes de Cristo. Ou seja: foram mil anos de governo. Quando Jesus nasceu, já havia o império romano em suas terras. Quer dizer: Ele viveu sob o julgo do poder romano. E o Egito tinha então vivido por mais tempo ainda sem o poder do Império Romano. – e aí o depoimento de Jaime foi interrompido pelo filho.
Joel:
--- Tá certo. Muito bem. O senhor tem razão. Não vou entrar em querelas. Eu já sei que a civilização egípcia se formou a 3.150 anos antes de Cristo. Isso já é muito tempo. Mas, quando Jesus nasceu e a partir de sua juventude, Ele pode ter seguido por esses caminhos a procura de uma divindade. E como Ele era um Rei – o garoto parou um pouco para ver a reação do pai e esse disse:
Jaime:
--- Continue! – disse o homem a seu filho.
O garoto sorriu um pouco e depois continuou.
Joel:
--- Pois bem. Como Ele era um Rei pode ter tido ace4sso aos escritos de Osíris. Era o que eu tinha a declarar. – comentou Joel.
O seu pai ficou pensativo antes de falar. Em seguida ele disse a seu filho:
Jaime:
--- Quem é Manoel? – perguntou o homem ao seu filho.
E o garoto foi pego de surpresa:
Joel:
--- Manoel? Alguém que eu conheça? – indagou o garoto.
O homem sorriu e calou. Em seguida prosseguiu:
Jaime:
--- Não. É uma hipótese. Veja bem: você não sabe quem é Manoel, João, Pedro e outros tais porque a historia não se refere a eles. Mas se refere ao Governante. Se ele for Manoel, então terá seu nome inscrito. Veja bem: Aqui, no Estado tem um Governador. E na Prefeitura da Cidade tem outro Governador. Em tua casa tem um Governador. Se alguém chegar aqui, vai procurar pelo dono da casa. Pois ele é a figura máxima do poder na tua casa. Se ele não estiver, procura-se a vice-governadora: a tua mãe. E se ela não estiver também, procura-se por alguém que responda pelos dois na ausência de ambos. Da mesma forma é com o país. Não se procura Manoel. Procura-se o mandatário. E assim foi com Jesus, Maomé, Ramsés, Nero, Atila e outros líderes já existido no mundo. Pode ser ter Jesus procurado alguma informação sobre o passado Egito. Porém, ao Ele dividir o pão não tem nada a ver com o que Ísis fez com o seu marido. Ele, Jesus, apenas recomendou aos seus discípulos para irem de porta em porta pregar o Novo Evangelho, ou seja, a nova mensagem, pois Evangelho significa Mensagem. Foi isso o que Ele fez. E nada mais.
O menino calou por certo tempo e depois perguntou:
Joel:
--- A Igreja está certa em dizer que aquele que pecar vai morrer no inferno? – indagou o menino com a sua cabeça encurvada para baixo.
O pai sorriu e depois respondeu:
Jaime:
--- Veja bem: Inferno é terra, é prisão, é estar por baixo. Isso é inferno. No dizer de Dante Alighieri, inferno era um lugar para onde seguiam os mortos. Cada pecado que os vivos cometiam, tinha mais inferno. A questão de Dante é que para ele sucumbir mais era melhor para os governantes da época, pois ele estava no exílio. Em “A Divina Comédia”,  - o nome por si só diz - ele colocou os políticos no inferno. O Inferno de Dante. – explicou o homem.
O garoto meditou um pouco e depois, logo em seguida, indagou:
Joel;
--- Quem era Dante? – indagou o menor.
O homem sorriu e trancou o gesto para poder explicar.
Jaime:
--- Dante Alighieri foi escritor poeta e político da Itália. Ele nasceu em Florença em junho de 1265. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana. Ele morreu em 1321. Ele foi muito mais do que literato; numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema épico e teológico, A Divina Comédia que se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo.  Sua família era comprometida com partidos políticos e se envolvia em lutas. A família de Dante tem raízes na Roma Antiga, como eu já ti falei. Entendes? – indagou o pai do menino.
O garoto ficou a meditar por algum tempo e depois falou;
Joel:
--- Eu vou ter que ler muito para poder saber. O senhor agora me explicou tudo. Eu fazia um pensamento diferente. Bem diferente. Mas a Igreja é omissa em certos pontos. A Igreja diz somente que o Inferno é para o pecador. Não explica o que é inferno, como o senhor explicou agora. – fez ver o garoto.
Joel calou por completo durante alguns minutos como se estivesse a imaginar os tempos de outrora onde as pessoas não tinham nada a fazer e apenas elas teriam que rezar uma Ave Maria, uma Salve Rainha, um Pai Nosso e se benzer afinal. No fim de tudo ele disse:
Joel:
--- Cristo era um político! Politico! E não um religioso! – refletiu Joel Calassa olhando o céu do anoitecer.

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