- Grazi Massafera -
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DESCULPAS
Começo da aula. A professora com
a caderneta escolar pôs a chamar pelo nome os alunos presentes. E foi seguindo
até topar com o nome de Joel Calassa. Nesse ponto, Sonia Andrade parou para
verificar se, na verdade, o aluno estava presente em sala, pois havia
respondido a presença. Quando verificou o aluno, esta pediu que o mesmo fosse
até a direção do colégio para falar com a diretora Maria da Penha. O garoto
obedeceu sem maior constrangimento e saiu a caminhar lento para a sala da
diretora. Ao passar pela professora Sonia Andrade ainda ele fez um gesto de
sorriso, A professora não entendeu muito bem e sorriu de volta. O garoto olhou
outra vez a professora Sonia Andrade e depois se dirigiu a sala da diretora Maria
da Penha. Ao chegar a sala da Direção do Grupo Escolar, Joel Calassa pediu
licença e se apresentou comportado sem dizer uma só palavra. E esperou Joel certo
momento enquanto a diretora Maria da Penha fazia suas anotações. Ele se
comportou de pé até a diretora o olhar e mandar sentar em uma cadeira de
madeira tosca. Na rua, o movimento era o de sempre. Gente indo e vindo da
bodega de seu Ferrer. Uma mulher a varrer da frente de sua casa. O Magrão ao
sair de casa para a rua. Magrão estava a espirrar constante como era o seu
estalecido impertinente. A mulher da casa de Magrão chegou à porta e disse
algo. Ele ouviu e fez com os braços esticados para o alto como se dissesse.
Magrão:
--- Tá bom! Ora! – teria dito o
Magrão a sua tia ou mãe. Joel não sabia ao certo. Apenas que Magrão estava
abusado pelo gesto feito.
O tempo fechou de repente. Nuvens
carregadas enchiam o céu fazendo desaparecer o sol de uma vez por todas. O
sinal de aguaceiro estava presente. A professora Maria da Penha, diretora do
estabelecimento escolar ficou alarmada:
Diretora:
--- Chuva? – comentou espantada a
diretora do estabelecimento.
O vento soprava bravo, uivando
como um lobo feroz por entre a folhagem das mangueiras plantadas no terreno do
Grupo. E por outros cantos além era o uivo persistente. Logo o estalo do
trovão. E o relâmpago tinha já aquecido a natureza. Na rua, o povo a correr.
Mulheres a tirar suas roupas do varal armado. A casa de taipa do Magrão fechava
sua porta. Ele voltava correndo para onde havia saído. Um ébrio saiu da bodega
de seu Ferrer com uma mão para cima e outra a levar a boca uma ponta de limão.
O lampejo do relâmpago voltou a iluminar o chão. No Grupo, seu Josino entrava
correndo para fechar a janela da Diretoria. Ele teve a ajuda da diretora Maria
da Penha. A chuva caía tão depressa despertando a ação das ajudantes de cozinha
e das próprias merendeiras. Essas juntavam tudo que era de mesa para por em
cima da calçada do alpendre. Era um vexame total das mulheres. Umas com frio
aquecendo os braços recolhidos ao corpo. As janelas das salas batiam fortes
como se estivessem em total alarmo. O tempo era escuro cada vez mais. A chuva
era torrencial de não se divisar um toco a meia distancia. Para completar a
real situação, a luz apagou de vez em todo o prédio e a falta de energia se
encaminhou por toda a cidade.
O uivo insistente do vendaval era
o mais preocupante de todos. As águas caídas rumavam em volume para a Rua Do
Sapo onde se formava um lago no cruzamento com a Avenida dos Marechais, onde
ficava o Grupo.
Alunos:
--- Faltou luz! – gritavam os
alunos com temor.
Sonia
--- Ninguém se mexa. Todos em
suas cadeiras. -respondia irritada a professora.
Na mesma ocasião entrava de
imediato da sala o senhor Josino ajudado pela professora Sonia Andrade. Nas
outras salas as professoras procuravam fechar também as janelas. Uma porta
estava a bater insistente com o vendaval.
Elizabete:
--- A luz! A luz! – pedia a aluna
temerosa com a escuridão em plena manhã.
Outros:
--- A luz, professora! A luz! –
gritavam apavorados os demais alunos.
Todos os alunos ficaram alarmados
pela falta de luz ambiente. Seu Josino olhou de volta as luminárias apagadas a
nada pode fazer. Ele disse apenas:
Josino
--- Faltou luz mesmo. – relatou o
homem.
Dai saiu correndo em direção as
outras salas enquanto as merendeiras procuravam se ajeitar como podiam, fazendo
as suas leves bancas encostadas na parede da escola sob o telhado carcomido do
alpendre.
Merendeiras:
--- Chuva intensa, essa! – diziam
as mulheres.
Enquanto isso as aguas
turbulentas escoavam para a Rua do Sapo. E as casas acanhadas do lado esquerdo da rua sofriam o revés da
cheia pressentindo as águas alagarem suas portas de entrada. Cada dona de casa varria
tudo para fora. Os rapazes improvisavam sacos de pó de serra nas frentes das
casas como forma de proteger a entrada. Era um sofrer atroz dos moradores das
casas ali existentes. No Grupo, a sua diretora ordenava cuidados nos serviços
mais urgentes temendo um galho de uma arvore a roçar insistente o telhado do
prédio. Numa parte de baixo havia uma cozinha onde as mulheres faziam café.
Naquela hora não podiam fazer nada pois as aguas em borbotões entravam de chão
a dentro.
Merendeira:
--- Olha um rato ai? – gritava
uma merendeira.
--- Onde? – perguntava outra a
temer o rato.
Seu Josino chegou às pressas com
um pau matando o rato. Na sala de aula uma mocinha falava baixo à professora.
Aluna:
--- Tô com vontade de fazer xixi!
– dizia a garota um tanto inquieta.
Sonia:
--- Vá lá dentro! – ordenava a
professora.
O garoto procurava a diretora para
saber o que devia fazer naquela hora, pois seus pertences estavam abandonados
sem sequer ele nem poder tomar cuidado. A diretora caminhou para o aluno e
ordenou ter ele obedecido a chamada da direção.
Diretora;
--- Pode ir. Pode ir. Se a
professora pergunta, diga que já fez o que tinha de ser feito e peça desculpas
a Sonia.
Joel;
--- Eu pedir desculpas? –
lamentou o garoto sob o intenso frio a fazer.
Diretora:
--- Sim. Sim. Vá. Vá. – fez ver a
diretora apavorada com uma parte do teto ameaçando a cair.
E as desculpas foram feitas e os
perdões foram dados enquanto o vento rugia feito um cão acuado sob o nervoso
tempo. Os alunos não podiam enxercar a lagoa a se formar mais abaixo na chamada
rua do mesmo nome – Rua do Sapo -. E os acuados estudantes ficaram num único
canto da escola, cada um em sua banca. Alguns pegaram a conversar sob o mau
tempo a ser feito. E outros aproveitavam para conferir as figurinhas das
artistas.
Aluno:
--- Falta uma! – diziam um aluno
procurando enxergar as figurinhas.
Outro:
--- Tenho duas dessa! – respondia
outro ao se referir as figurinhas encontradas.
As luminárias continuavam sem
energia da rua, pois a chuva fizera faltar à força em todo o bairro e na cidade
inteira. Não havia um só veiculo a passar nas ruas mais afastadas onde o Grupo
estava naquela hora da manhã. Apenas a lama sacudia de um lado a outro os
efeitos do vendaval.
Alguém:
--- É chuva muita! – relatava alguém acuado na
esquina onde estava a bodega de Ferrer
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