- Paola Oliveira -
- 05 -
TIRA-TEIMA
Com um pouco de tempo chegou
Emília com a roupa nova do seu irmão falecido: calça, meias, cuecas, camisa,
blusão e até mesmo um paletó e um par de botinas. Ela enfiou por cima da porta
do banheiro chega o pistoleiro estranhou daquela muda de roupa. E perguntou de
imediato.
Chulé:
--- O que é isso? – quis saber
Chulé espantado.
Emília:
--- Roupa! Não está vendo? Aqui
fora tem outra muda. As velhas eu joguei no lixo! Pronto! Quer mais? –
enfezou-se Emília.
De fora do banheiro uns grupos de
vaqueiros viram todo o acontecido e caíram na gargalhada a mostrar a cada um a
teimosia de Emília. A moça saiu depressa do banheiro e com sua cara rosada só
fazia:
Emília:
--- Thunq! – e caiu na cozinha
para arrumar os preparos do almoço.
Chovia a cântaros e barris quando
ainda o pistoleiro deixou o banho para ver se sentar na cadeira acolchoada de
frente da casa grande. Para Chulé fazia um frio desgraçado e ele ficou moquecado
na cadeira a tremer de ponta a rabo. E nesse instante surgiu à porta do casarão
o coronel Godinho seguido dos seus ilustres capangas, os pistoleiros Otelo,
Júlio e Antero o homem atirador de punhal. Eles chegaram a conversar assuntos
alheios ao pistoleiro Chulé, pois esse, àquela hora só pretendia guarnecer a
moça Lu. Ao se acercarem os quatro da varanda ouviu-se um murmúrio solene e
franco feito pelo o coronel Godinho:
Godinho:
--- Quem é esse ai? – quis saber
o coronel.
Quando todos olharam em volta
deram logo com a cara de Chulé. Não por nada, mas os pistoleiros caíram na
gargalhada ao ver Renovato Alvarenga de roupa nova e todo bem trajado como um
nobre oficial da guarda.
Satanás:
--- É o nobre Chulé coronel! – e
gargalhou como que afinal.
E os dois comparsas fizeram uma
roda em frente a Renovato Alvarenga a cantar e dançar como duas crianças para o
azedume de Chulé morto de vergonha e de raiva. Então o chefe do bando se
aprontou a dizer:
Satanás:
--- Tenha calma, Chulé. Os
garotos querem apenas se divertir. – disso o pistoleiro.
E em seguida tirou o seu chapéu e
fez um cumprimento cordial ao balançar o chapéu aos pés de do pistoleiro e deu
uma risada bem forte ao dizer:
Satanás:
--- Nossos cumprimentos, mestre!
– falou sorrindo o pistoleiro mor.
Nesse momento o pistoleiro
Renovato Alvarenga se levantou do acolchoado e saiu irritado a dizer:
Chulé:
--- Vocês são uns bostas. Não se
pode nem vestir uma roupa nova? – resmungou o pistoleiro
E os dois pistoleiros Antero e
Júlio animaram a festa ainda mais a dançar e a pular ao som de música nenhuma.
O trovão a ribombar do alto da
serra parecia fazer de propósito a música inexistente. E Emília de varanda a
fora, correndo e achando graça com a presepada feita por Renovato. Naquele dia
Alcântara faltou pouco pra brigar. A animação só acabou quando o coronel disse:
Godinho:
--- Basta! Desse jeito não tem
quem suporte! – gargalhou o coronel.
E todos os pistoleiros voltaram
para ouvir Marcolino Godinho a falar sobre a arenga tida com o dono de um sitio
chamado Severino Policarpo, homem severo e duro como ninguém e pai de Deodato
Policarpo. Esse queria porque queria namorar a filha do coronel Godinho. Esse
nada consentia apesar de correrem boatos da moça andar de asa pensa por
Deodato. Desde o surgimento desse entrevero o velho coronel proibiu da filha
sair de casa e de negar acesso ao rapaz Deodato de entrar na sua fazenda. E tal
fato já construiu serias discórdias entre os dois fazendeiros a ponto de
Severino Policarpo preparar uma desforra com seus competentes pistoleiros e
arriscar até a alma para impedir a chegada de Satanás e seus amigos à sua
fazenda Guandu. O coronel estava sem saída e procurava se altercar a qualquer
preço a livrar a sua família do assedio do criador de caso, como o coronel
havia dito:
Coronel:
--- Ele é um criador de casos! A
minha filha não se casa com um Policarpo nem a ferro! – falou grosseiro o
coronel Godinho.
Satanás:
--- O senhor tem medo de um
ataque de surpresa? – indagou o pistoleiro.
Godinho:
--- Se eu tenho? Se eu tenho? Eu
não acredito na palavra desse energúmeno! Ele tem uma fazenda de pistoleiros!
Só tem pistoleiros! E os senhores foram seu alvo! Ora se eu tenho! – exclamou o
coronel Godinho a bufar de raiva.
O tempo continuou com chuva
torrencial formando um lado na parte baixa para onde seguia o inicio da vila
para os lados do Sem Rumo onde toda gente corria o campo em busca do comer para
então sobreviver às necessidades urgentes. Nesse tempo o trabalho no campo não
rendia coisa alguma. Os agricultores preferiam trabalhar de graça para o dono
da terra e ter direito ao leite do gado do qual fazia queijo de coalho, queijo
de manteiga e mesmo fazer a manteiga propriamente dita. Com o seu apurado
vendido nos mercados ou nas feiras o agricultor tinha a vez para comer e às
vezes gastar os trocados o qual lhe sobravam. A vida era rude demais para o
homem do capo. Alguns cuidavam da terra. Outros cuidavam do gado. Os mais
valentes cuidavam das armas. Essa era a sina do caboclo, do homem da roça. Se
fosse tempo de seca, as arribaçãs voavam para bem longo e o caboclo desprezado,
fazia suas trochas e se mandava do campo. E sempre dizia:
Caboclo:
--- É. Não paga a pena! – dizia o
caboclo.
E sempre voltava para o mesmo
terreiro. Vida dura a do sertanejo. Quem era o dono. Esse tinha tudo e do
melhor. Era ele um “doutor”, mesmo sem saber ler ou contar. O coronel Godinho
teve tempos difíceis. Mesmo assim, ele enfrentou a seca braba e voltou a
plantar e a colher aquilo de melhor. O Governo. As autoridades. Apenas diziam:
Governo:
--- É ano de tempo ruim. – era o
que dizia o Governo.
Esperava-se o tempo bom chegar.
Então as coisas mudavam de cor. Casamentos de uma filha com um bom rapaz, isso
era fartura. Fartura de monta. Mas, no caso de Ludmila e Deodato, esse episódio
não era possível de tal forma. Um evento de vida ou morte por assim falar. E
desta forma viviam as duas famílias em constante beligerância. Viver ou morrer.
Alí então se pressentia onde começaria o inverno para se melhor falar.
E a invernada começava naquele
momento. O tempo escureceu de vez com os relâmpagos e trovões insistentes sem
sessar na colina daquela serra. A água em borbotão corria feita uma carrancuda
enxurrada nervosa para o baixio onde para o camponês passar em tempos de
invernada montava-se uma ponte de tronco de madeiras quase sempre mal feita. E
nesse ponto as águas já enxiam por vezes toda a extensão dos alagados pondo a
trempe ao sabor da natureza. Não faltaram avisos para tal quando a trempe ruiu.
Alguém gritou com certeza:
Alguém:
--- Lá vai a ponte! – gritou-se
alarmantemente ao sentir a ponte ruir.
Foi um baque só. Naquele momento
a ponte de madeira ruiu completamente arrastada pela correnteza das águas. Dai
então ninguém passava mais pelo local. Tudo veio a baixo de uma só vez.
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