- Eva Green -
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CARROCINHA
Às seis e meia da manhã Joel já
estava pronto para ir ao Grupo Escolar. Conferia ele o que estava ou não em sua
bolsa de estudos. Cadernos, livros, lápis, borracha, caderneta de apontamentos
dentre muitas coisas necessárias ou não. Tudo pronto, caminho aberto. A benção
da mãe e nada mais, até porque o seu pai já estava a trabalhar na Emissora de
Radio, pois sua mãe o ouvia religiosamente as transmissões do “Barracão da
Aldeia”, como se intitulava o programa regional de Jaime Calassa. O homem abriu
o programa a todos os que se apresentavam na cidade e no interior de modo a dar
gosto a quem quisesse ouvir. O tema musica e propaganda era o forte de cada
dia. Com isso, Jaime Calassa fazia um bom dinheiro na programação da Emissora.
E Joel ouviu já ao final do programa e saiu correndo para a sua escola amada.
No caminhar foi encontrado ele os alunos do mesmo curso. Alguns discutiam as
matérias do dia enquanto outros apenas falavam do jogo de futebol da cidade.
Ele se entrosou com aquela gama de alunos a ouvir sempre o desacordo entre
eles. Em um dado instante surgiu a tao falada “Carrocinha” de pegar meninos
vadios. Ninguém falou nada e apenas correu ao desespero com medo da afamada
“Carrocinha”. Tal viatura era um veiculo todo em madeira a não ser a parte de
baixo e o motor. Esses componentes eram mesmo de ferro e aço fora os pneus e alguns
mais componentes. A “Carrocinha” era o alarme da criançada, pois já era dito ter
pegado muita gente em seu trafegar. Meninos e meninas. Os meninos de cerca de
dez a dezessete anos eram recolhidos ao abrigo dos meninos. E as meninas também
iguais idades eram levadas para o abrigo feminino. Pelos menos era o que dizia
os garotos temerosos de serem levados para a prisão do abrigo das inocentes. Na
verdade, na capital tinham mesmo os dois abrigos: masculino e feminino. Os
meninos, vez por outra, marchavam até a praia para tomar banho de mar. Era uma
corriola e tanto de pequenos e médios garotos. Esses eram conduzidos por um
maior. Todos em fileiras vestindo um calção e camiseta. Os dois abrigos ficavam
de locais bem distantes e era tomada conta pela Sociedade das Irmãs Religiosas.
Pelo menos o das meninas, crianças violentadas por gente adulta. Os meninos
eram crianças sem pai ou mãe a cuidar. Essa era a sina dos moleques de
rua.
Quando os garotos chegaram ao
Grupo a “Carrocinha” passou sem nem sequer buzinar. Mas a garotada estava
temerosa com tais alarmes. Além do mais, tinha um homem que se dizia ser da
Marinha a apanhar moleques andejos para levar para os porões da Base e somente
eles saíam quando completavam seis a nove anos de serviços prestados ao serviço
naval. A Base pegava apenas garotos de dezesseis a dezessete anos para os seus
serviços. Esse ponto da Carrocinha dos meninos foi o principal a ser discutido
entre os estudantes da manhã naquele dia. Cada qual tivesse a sua opinião. E
divergiam bastante. Mas em um ponto todos os alunos concordavam: o saber em
detalhes para não se correr pela rua. Uma comissão de alunos foi até a
diretoria do estabelecimento muito embora acompanhada pelos demais alunos. Ao
falarem a diretora os alunos perguntaram quem podia ser preso pela Carrocinha.
A diretora Maria da Penha ouviu os reclamos e respondeu:
Diretora:
--- Olhe aqui meus filhos. Tem-se
ouvido muitas noticias sobre essa tal Carrocinha. Pelo visto os alunos aqui
matriculados não correm risco algum. Mas se é a vontade de todos, podemos ouvir
a autoridade competente no assunto. O que vocês acham da ideia? – indagou a
Diretora.
Comissão:
--- Boa ideia. Nós esperaremos,
portanto. – disse um membro da comissão.
E os alunos, todos soltaram
vivas. Era uma animação geral.
Dias depois uma autoridade da
Secretaria de Educação compareceu ao estabelecimento de ensino para dialogar
com os estudantes a respeito do Abrigo de Menores. E fez uma exposição da forma
como se sustentava o abrigo e o serviço que prestava a cidade em uma época de
seca e desemprego para os homens trabalhadores. Declarava aquela autoridade que
o Abrigo era uma instituição do Governo para dar amparo a menores carentes sem
ter nada o que fazer de tao imediato. Com relação à Carrocinha, a mais temida
de todas pelos estudantes, ele garantia se apenas um veículo da entidade
governamental e nada mais. A Carrocinha corria a cidade como qualquer outro
veículo. E não se devia temer a sua presença, pois a mesma não tinha menção de
prender ninguém. Apenas os garotos sem pai e sem mãe ou mesmo que os adotassem
eram as crianças protegidas pelo amparo do Governo. Foi uma verdadeira festa a
presença daquela autoridade do Governo no setor de aulas do Grupo Escolar. E
estava dado o recado aos alunos à mostra ter o flagelo da seca o principal
responsável pela angustia da sociedade da capital. Nesse ponto, o aluno Otto
Resende fez uma proclamação geral:
Otto:
--- Quem puder doe um pouco de
farinha, açúcar, arroz, feijão e até mesmo frutas para que nós possamos
entregar aos irmãozinhos nordestinos que, hoje, sofrem as agruras da terra seca
no interior e vem lutar por melhores dias na capital. – falou o rapaz com
lágrimas nos olhos.
E teve inicio aí o sacolão da
solidariedade dos alunos do Grupo Escolar para doar às vítimas do flagelo da
seca no Estado.
Ao passar a conferencia do homem
da Secretaria de Educação, veio o tempo da aula. E foi então onde Joel procurou
deslanchar o que sabia de memória colhida nos ultimas semanas. E foi assim ter
ele perguntado a sua professora Sonia Andrade a questão do surgimento de nano
diamantes, resultado de um corpo cósmico cujo resultado foi um choque de algo
com a Terra.
Joel:
--- Esse impacto se deu há 12.900
anos. Um objeto se chocou com a Terra. Foi um cometa ou asteroide com várias
centenas de metros de diâmetro, professora. – relatou o garoto.
A professora ficou assustada e
voltou à pergunta:
Sonia:
--- Quando foi isso, menino? –
indagou perplexa a professora.
Joel:
--- Ao caso de 12.900 anos. Ele
entrou na atmosfera e o calor do impacto derreteu rochas e causou uma grande
perturbação territorial. – disse mais o aluno.
A professora ficou mais aturdida
com o fenômeno e voltou a indagar com as suas mãos presas nos quartos.
Sonia:
--- E onde foi isso, menino? –
quis saber a professora de olhos arregalados.
O garoto de apoiou melhor na
carteira e respondeu sem graça.
Joel:
--- No México, professora. Centro
do país. Região do lago Cuitzeo. A colisão causou a extinção da fauna e redução
da população. – tentou explicar o aluno de forma sisuda.
A professora se ergueu e disse
mais claro ao aluno pesquisador.
Sonia:
--- Isso foi há bastante tempo!
Você acha que eu estou acordada para ouvir essas histórias de 13 mil anos
passados? Pergunte coisa mais recente! Ô burrice extrema! – pois Sonia a mão na
testa.
O garoto ficou sem jeito de
responder a professora e disse apenas isso:
Joel:
--- Eu só queria saber,
professora! Se não sabe, então deixa pra lá. – ratificou o aluno.
A professora então declarou com
insistência ao apelo do garoto.
Sonia:
--- Olha criança! Eu não sou burra
como você pode pensar! Mas há 13 mil anos eu nem estava na barriga de minha
mãe! – voltou à garra desaforada a professora.
O garoto respondeu de repente:
Joel:
--- Estude mais, professora! Eu
tenho outras perguntas! Essas são da Groenlândia e Europa Ocidental. – fez um
resto de sorrir o garoto.
A professora, de dedo em riste
gritou:
Sonia:
--- Pra fora! Já pra fora! Ora
que teima! Treze mil anos! – gritou a professora de forma aturdida
O garoto Joel saiu da sala a
sorrir diante da professora alarmada.
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