sexta-feira, 9 de março de 2012

ACASO - 51 -

 - Eva Green -
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CARROCINHA
Às seis e meia da manhã Joel já estava pronto para ir ao Grupo Escolar. Conferia ele o que estava ou não em sua bolsa de estudos. Cadernos, livros, lápis, borracha, caderneta de apontamentos dentre muitas coisas necessárias ou não. Tudo pronto, caminho aberto. A benção da mãe e nada mais, até porque o seu pai já estava a trabalhar na Emissora de Radio, pois sua mãe o ouvia religiosamente as transmissões do “Barracão da Aldeia”, como se intitulava o programa regional de Jaime Calassa. O homem abriu o programa a todos os que se apresentavam na cidade e no interior de modo a dar gosto a quem quisesse ouvir. O tema musica e propaganda era o forte de cada dia. Com isso, Jaime Calassa fazia um bom dinheiro na programação da Emissora. E Joel ouviu já ao final do programa e saiu correndo para a sua escola amada. No caminhar foi encontrado ele os alunos do mesmo curso. Alguns discutiam as matérias do dia enquanto outros apenas falavam do jogo de futebol da cidade. Ele se entrosou com aquela gama de alunos a ouvir sempre o desacordo entre eles. Em um dado instante surgiu a tao falada “Carrocinha” de pegar meninos vadios. Ninguém falou nada e apenas correu ao desespero com medo da afamada “Carrocinha”. Tal viatura era um veiculo todo em madeira a não ser a parte de baixo e o motor. Esses componentes eram mesmo de ferro e aço fora os pneus e alguns mais componentes. A “Carrocinha” era o alarme da criançada, pois já era dito ter pegado muita gente em seu trafegar. Meninos e meninas. Os meninos de cerca de dez a dezessete anos eram recolhidos ao abrigo dos meninos. E as meninas também iguais idades eram levadas para o abrigo feminino. Pelos menos era o que dizia os garotos temerosos de serem levados para a prisão do abrigo das inocentes. Na verdade, na capital tinham mesmo os dois abrigos: masculino e feminino. Os meninos, vez por outra, marchavam até a praia para tomar banho de mar. Era uma corriola e tanto de pequenos e médios garotos. Esses eram conduzidos por um maior. Todos em fileiras vestindo um calção e camiseta. Os dois abrigos ficavam de locais bem distantes e era tomada conta pela Sociedade das Irmãs Religiosas. Pelo menos o das meninas, crianças violentadas por gente adulta. Os meninos eram crianças sem pai ou mãe a cuidar. Essa era a sina dos moleques de rua. 
Quando os garotos chegaram ao Grupo a “Carrocinha” passou sem nem sequer buzinar. Mas a garotada estava temerosa com tais alarmes. Além do mais, tinha um homem que se dizia ser da Marinha a apanhar moleques andejos para levar para os porões da Base e somente eles saíam quando completavam seis a nove anos de serviços prestados ao serviço naval. A Base pegava apenas garotos de dezesseis a dezessete anos para os seus serviços. Esse ponto da Carrocinha dos meninos foi o principal a ser discutido entre os estudantes da manhã naquele dia. Cada qual tivesse a sua opinião. E divergiam bastante. Mas em um ponto todos os alunos concordavam: o saber em detalhes para não se correr pela rua. Uma comissão de alunos foi até a diretoria do estabelecimento muito embora acompanhada pelos demais alunos. Ao falarem a diretora os alunos perguntaram quem podia ser preso pela Carrocinha. A diretora Maria da Penha ouviu os reclamos e respondeu:
Diretora:
--- Olhe aqui meus filhos. Tem-se ouvido muitas noticias sobre essa tal Carrocinha. Pelo visto os alunos aqui matriculados não correm risco algum. Mas se é a vontade de todos, podemos ouvir a autoridade competente no assunto. O que vocês acham da ideia? – indagou a Diretora.
Comissão:
--- Boa ideia. Nós esperaremos, portanto. – disse um membro da comissão.
E os alunos, todos soltaram vivas. Era uma animação geral.
Dias depois uma autoridade da Secretaria de Educação compareceu ao estabelecimento de ensino para dialogar com os estudantes a respeito do Abrigo de Menores. E fez uma exposição da forma como se sustentava o abrigo e o serviço que prestava a cidade em uma época de seca e desemprego para os homens trabalhadores. Declarava aquela autoridade que o Abrigo era uma instituição do Governo para dar amparo a menores carentes sem ter nada o que fazer de tao imediato. Com relação à Carrocinha, a mais temida de todas pelos estudantes, ele garantia se apenas um veículo da entidade governamental e nada mais. A Carrocinha corria a cidade como qualquer outro veículo. E não se devia temer a sua presença, pois a mesma não tinha menção de prender ninguém. Apenas os garotos sem pai e sem mãe ou mesmo que os adotassem eram as crianças protegidas pelo amparo do Governo. Foi uma verdadeira festa a presença daquela autoridade do Governo no setor de aulas do Grupo Escolar. E estava dado o recado aos alunos à mostra ter o flagelo da seca o principal responsável pela angustia da sociedade da capital. Nesse ponto, o aluno Otto Resende fez uma proclamação geral:
Otto:
--- Quem puder doe um pouco de farinha, açúcar, arroz, feijão e até mesmo frutas para que nós possamos entregar aos irmãozinhos nordestinos que, hoje, sofrem as agruras da terra seca no interior e vem lutar por melhores dias na capital. – falou o rapaz com lágrimas nos olhos.
E teve inicio aí o sacolão da solidariedade dos alunos do Grupo Escolar para doar às vítimas do flagelo da seca no Estado.
Ao passar a conferencia do homem da Secretaria de Educação, veio o tempo da aula. E foi então onde Joel procurou deslanchar o que sabia de memória colhida nos ultimas semanas. E foi assim ter ele perguntado a sua professora Sonia Andrade a questão do surgimento de nano diamantes, resultado de um corpo cósmico cujo resultado foi um choque de algo com a Terra.
Joel:
--- Esse impacto se deu há 12.900 anos. Um objeto se chocou com a Terra. Foi um cometa ou asteroide com várias centenas de metros de diâmetro, professora. – relatou o garoto.
A professora ficou assustada e voltou à pergunta:
Sonia:
--- Quando foi isso, menino? – indagou perplexa a professora.
Joel:
--- Ao caso de 12.900 anos. Ele entrou na atmosfera e o calor do impacto derreteu rochas e causou uma grande perturbação territorial. – disse mais o aluno.
A professora ficou mais aturdida com o fenômeno e voltou a indagar com as suas mãos presas nos quartos.
Sonia:
--- E onde foi isso, menino? – quis saber a professora de olhos arregalados.
O garoto de apoiou melhor na carteira e respondeu sem graça.
Joel:
--- No México, professora. Centro do país. Região do lago Cuitzeo. A colisão causou a extinção da fauna e redução da população. – tentou explicar o aluno de forma sisuda.
A professora se ergueu e disse mais claro ao aluno pesquisador.
Sonia:
--- Isso foi há bastante tempo! Você acha que eu estou acordada para ouvir essas histórias de 13 mil anos passados? Pergunte coisa mais recente! Ô burrice extrema! – pois Sonia a mão na testa.
O garoto ficou sem jeito de responder a professora e disse apenas isso:
Joel:
--- Eu só queria saber, professora! Se não sabe, então deixa pra lá. – ratificou o aluno.
A professora então declarou com insistência ao apelo do garoto.
Sonia:
--- Olha criança! Eu não sou burra como você pode pensar! Mas há 13 mil anos eu nem estava na barriga de minha mãe! – voltou à garra desaforada a professora.
O garoto respondeu de repente:
Joel:
--- Estude mais, professora! Eu tenho outras perguntas! Essas são da Groenlândia e Europa Ocidental. – fez um resto de sorrir o garoto.
A professora, de dedo em riste gritou:
Sonia:
--- Pra fora! Já pra fora! Ora que teima! Treze mil anos! – gritou a professora de forma aturdida
O garoto Joel saiu da sala a sorrir diante da professora alarmada.

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