- Nathália Dill -
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ATAQUE
O vaqueiro Enério Suçuarana ainda
fraquejava e devagar foi se refazendo ao ponto de poder balbuciar algo. Muito
abatido pelo susto levado, deitado no tabuado feito de madeira forte, com a
cabeça sustentada pelas pernas da mulher do fogão da casa, ele chegou a dizer
ter um homem morto no caminho para a fazenda escorado em um pé de aroeira.
Enério disse apenas isso com bastante dificuldade para pronunciar as palavras
certas. O fazendeiro ao saber do tal fato mandou outro jagunço procurar no
cercado para dentro da porteira e saber da verdade. O jagunço pôs pé no caminho
até encontrar o outro jagunço morto escorado em um pé de aroeira parecendo ter
sido enforcado, por certo. O jagunço se aproximou do morto com bastante cuidado
temendo ainda estar vivo e empurrou com o cabo da faca. O defunto não se mexeu
e na verdade estava morto de bom modo. Nesse ponto o jagunço por nome de Magro,
como se veio logo, a saber, pinoteou de volta em seu cavalo, de olhos arregalados
e de terror de mais a gritar insistente:
Magro:
--- Morto! Ele está Morto! Morto!
– gritava apavorado o jagunço Magro a chicotear o seu cavalo em direção à
entrada da casa.
Nesse ponto alguém chamou o
fazendeiro a dizer ter o jagunço voltado com os bofes postos pela boca. E
bastante alarmado o jagunço Magro apenas comentava ter o homem morrido de morte
matada. O fazendeiro veio depressa e quis saber quem era o morto.
Policarpo:
--- Quem danado é esse morto? –
perguntou o homem a esbravejar de todo modo.
Magro:
--- É o homem Zé de Cota! Ele
está bem morto! E quem fez a morte dependurou no pé de aroeira. Tá morto, meu
senhor! – falou Magro ao fazendeiro com todo medo do mundo.
O fazendeiro Policarpo ainda
perguntou quem tal era esse Zé de Cota, pois não adivinhava a quem pagava pela
proteção de sua vida.
Mulher cozinheira:
--- É um danado da vida!. Ele é
moço ainda!. Quer dizer: era!. Ave Maria! – relatou a mulher cozinheira a
respeito de Zé de Cota.
Ao saber da morte o fazendeiro
Severino Policarpo apenas declarou:
Policarpo:
--- Enterrem! – declarou o homem
sem mais por que.
E dali marchou para dentro da
casa grande a resmungar palavras impróprias para um vivo, quanto mais um morto.
Nesse ponto, quando o fazendeiro
tentava a chegar à porta da casa grande algo de novo ocorreu. Na mata virgem
uma revoada de pássaros. Era bem longe da entrada da fazenda onde havia os pés
de árvores muito bem alongadas, próximo a Serra do Timbó. Havia alí quantidade
enorme de pássaro e algo fez com eles sumissem de vez por conta de algo. Magro
foi quem notou a revoada. E de imediato chamou a atenção de Policarpo para o
desacerto ocorrido.
Magro:
--- Meu patrão tem coisa lá no
mato! – fez ver o moço a Policarpo.
O fazendeiro então voltou para
ver de fato o motivo do chamado de Magro.
Policarpo:
--- Coisa? Que coisa? – indagou
Policarpo sem entender de nada.
Magro então voltou a dizer ter os
pássaros voados e alguma coisa os tinha assombrado.
--- É coisa de gente viva. Pois
os passarinhos voaram. - relatou com temor o jagunço.
Severino Policarpo se voltou e
com a mão na testa procurou vislumbrar a passarada e logo mandou chamar mais
dois jagunços. Com o Magro eram três. Eles deviam ir até a mata da Serra do
Timbó e vasculhar toda a área. Não importava o quanto fosse para encontrar os
assustadores das aves, pois de cautela e galdo de galinha ninguém havia morrido
certamente. Dito isso, por conseguinte, Policarpo pôs o pé para o interior da
sala. E vaqueiro Enério, já restabelecido procurou beber um copo de água e
depois foi para o seu aposento a descansar do susto levado. Um cabrito correu
solto de mato a fora a berrar e Enério Suçuarana meio incomodado espantou o
bicho. Na sequencia veio outro vaqueiro para apanhar o bezerro. Foi nesse
momento onde tudo quase era calmo algo assombroso ocorreu. Foi um estrondo do
outro mundo. Um ribombar frenético de uma única e só vez. Algo de assustar até
os mortos. O paiol de munição explodiu e voou tudo pelos ares. A casa grande
estremeceu e todos os moradores caíram pelo chão, quarto, cozinha e por
qualquer lugar onde houvesse apoio de qualquer forma. Não houve um só espaço
desocupado na casa onde não tivesse abrigo. O fazendeiro Severino Policarpo foi
largado longe e veio a cair de qualquer forma por cima de um armário. Ele não
teve tempo para fazer coisa alguma e nem noção do acontecido. Era um barulho
tremendo aquele havido. Com certeza ninguém percebeu o paiol em baixo da casa a
explodir tão de repente. E demorou um pouco para alguém dizer:
Alguém:
--- Ave Maria! O que é isso! –
quis saber uma mulher caída por cima de uma tina.
Outros caíram por cima dos
estoques de panelas, tachos, armários, camas, fogões, mesas e tudo o mais
havido pela casa. Nas casas dos vaqueiros não ficou nada em pé. Até mesmo as
crianças correram alarmadas com pavor a procura dos colos de suas mães. Isso,
quando elas podiam. Pois no meio da confusão alarmante não havia jeito para
alguém compreender o sucedido. Em cima da hora tinha jeito para se compreender
de forma alguma aquele estrondo descomunal havido ao que parece em baixo do
chão. Os cães latiam, corriam com espanto. As aves galináceas acorriam em busca
de proteção em qualquer canto. Gado, bodes, carneiros, cabras e até mesmo o
gato ficaram sem saber para onde correr. Os vaqueiros se quedavam apavorados do
temor apresentado. A fumaça saiu do chão da parte onde estava o paiol e formou
logo as labaredas imensas de fogo por todo o canto das dependências da casa.
Então o tormentoso fogo tomou conta de todas as dependências do solar. O
pessoal de dentro se levantou às pressas e correu para fora inclusive o
fazendeiro Severino Policarpo a cambalear pelo caminho e o seu filho Deodato,
rapaz de 20 e poucos anos. Ele estava a dormir aquela hora da manhã e o
estrondo sacudiu da cama. O rapaz caiu entre a cama e o armário e só viu alguém
gritar.
Alguém:
--- Fogo! Está tudo pegando fogo!
Fogo! – dizia alguém alarmado e a correr puxando os outros ainda atordoados com
o barulho descomunal.
Em dois minutos estava toda a
casa ardendo em chamas. Os vaqueiros tentavam de locomover para fora de suas
habitações, pois o estrago não havia atingido as modestas casas dos colonos e
os jagunços eram todos alarmados. Esse pessoal estava a correr para longe da
desgraça enquanto o tiroteio descomunal sacudia todo o solar como se fosse um
bombardear constante deveras sustentado por algo inimaginável. Com a casa em
chamas, o paiol a sacudir estrondos, o povo inteiro correu para então suspeitar
de uma coisa qualquer a sacudir algo como faísca no quarto de guardar munições,
com certeza.
Alguém:
--- É o mundo todo! – gritava
alguém a correr desesperado para longe da residência.
O velho Policarpo, completamente
atordoado, tentava sair da casa quando algo vindo de dentro sacudiu pelas
costas o homem em voraz temor. O homem teve tempo apenas de gritar:
Policarpo:
--- AH! – Policarpo de gritou e
caiu bem distante do casarão.
Com todos a correr para bem longe
a casa então ruiu de vez ao cabo de poucos minutos. O filho do velho estava
completamente zonzo com todo aquele barulho sem saber o que fazer. As cozinheiras
ficaram a chorar com tudo o feito e nada podiam fazer. Os pobres vaqueiros
arranjaram água para tentar aplacar o incendo destruidor. E por mais água a
jogar, mais o fogo consumia as dependências da casa grande. Era um verdadeiro
pandemônio sem ninguém saber o mais a fazer. O valho Policarpo, atingido em
cheio por algo descomunal. Não teve jeito e morreu no mesmo instante com
fratura da espinha dorsal. A fazenda foi abandonada no correr do dia por
jagunços e vaqueiros. Alguns arranjaram um gado para levar consigo e outros
eram sós abandonos.
Alguém:
--- Coisa triste! Quem diria! –
reprovou alguém pelo destruidor incêndio.
O fogo perdurou por vários dias a
consumir o restante da casa. O filho Deodato Policarpo era um só inconformado.
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