- Ava Gardner -
- 13 -
ACORDO
Após a saída do prefeito Jorge
Nepomuceno de sua estancia acompanhado dos quatro cavaleiros o deputado-coronel
Godinho se voltou para o quarto ou sala do seu escritório onde havia deixado o
pistoleiro Satanás. Ao entrar na sala-quarto ainda encontrou o pistoleiro com
os olhos marejando de lágrimas. O coronel Godinho viu e fez de conta não ter
percebido. Apenas se encaminhou para a sua escrivaninha já cheia de documento,
os mais diversos, alguns para ser revisados. Outros sem a menor importância.
Pedras feitas de vidro torneadas igual a um cuscuz totalmente transparentes. Um
tinteiro para nunca ser usado. Canetas muito bem feitas. Um boneco preto e
barrigudo de uns sete centímetros para escorar objetos. E outros utensílios
diversos. O coronel Godinho sentou na cadeira estofada e cruzou as mãos para
tirar um dedo de prosa. O pistoleiro Satanás enxugou as lágrimas se pôs pronto
a dialogar no que viesse a falar. O coronel passou um tempo relativamente
curto, mas parecendo para Satanás uma eternidade. E depois o homem falou:
Godinho:
--- O homem morreu mesmo! –
relatou o coronel com a cara tristonha.
O pistoleiro nada comentou. Ele
ficou sempre a esperar por um assunto de sua combinação. E o homem Godinho
olhou as armas penduradas na cintura de Otelo, mas nada comentou. Ficou sem
nada a falar. Com um pouco de tempo girou a sua cadeira e pôs-se a observar os
retratos na parede. Em um deles fixou o olhar. Com certeza era do seu pai ou
seu avô. Ele permaneceu ali pensativo como quem dizia ter a vingança chegada ao
fim. Mesmo assim não se sabia se era mesmo aquele o tal pensar. Podia ser
pensamento de outras quimeras. O seu nome era de procedência latina. E
significava: Bondoso. Era de um homem muito sério, e com grande honestidade no
meio profissional. Godinho buscava a perfeição em tudo e se aborrecia quando as
coisas não saiam conforme o planejado. Após esse longo e terrível instante ele
se voltou para Satanás. E foi logo a dizer:
Godinho:
--- O enterro deve ser amanhã. Eu
não posso ir. Inimizade ferrenha! Tudo por causa tola! – relatou Godinho de
forma pensativa.
E se voltou na cadeira a ficar de
pé e olhar o retrato de sua genitora, ao que parecia. Depois de algum tempo caminhou
para frente da escrivaninha onde se escorou com os braços cruzados olhando
firme para o pistoleiro. E por final falou:
--- O dinheiro está pronto. – fez
ver Godinho.
Satanás, de pé, nada falou.
Apenas olhava para o coronel. Esse por mais uma vez olhou para os coldres do
pistoleiro, porém nada falou de armas. Apenas indagou se ele não pretendia
ficar por mais algum tempo. E o pistoleiro respondeu perguntando:
Satanás:
--- A serviço? – indagou o
pistoleiro ao coronel.
O coronel ficou pensativo antes
de responder. Isso demorou um logo espaço:
Coronel:
--- Pode ser. Um serviço. Mas se
o senhor não sabe, eu também sou o deputado estadual. E deve haver eleição no
próximo ano. E fiquei a pensar. Coisa sem grande importância. Quando eu entrei
na sala encontrei o senhor chorando. Nem precisa explicar. Mesmo assim, quando
um pistoleiro chora algo de mais o afeta. O meu pensar sobre o senhor deu volta
de 360 graus, Isso é: virou o mundo ao contrario. E eu tenho um plano. Sendo eu
um deputado, devo ter um suplente. E agora eu penso no senhor em ser meu
suplente. Eu quero ouvir a sua proposta; - confidenciou o coronel.
Satanás de momento sentiu-se um
pouco constrangido com a pergunta a sangue frio e nada soube responder com
certeza. Ele era um homem do mato. E sair para um suplente de deputado era
coisa muito séria. Otelo Gonçalves Dias procurou chão nos pés sem encontrar. E
levou um bom período de tempo para ter ele a resposta. E após longos minutos
Otelo falou:
Satanás:
--- Mas coronel! O senhor nem me
conhece! Eu sou homem do mato! Eu pego cobra! Mato onça! Corro de cócoras! Faço
cada besteira que só se vendo! – relatou Otelo ao coronel.
O Coronel sorriu de repôs em
troca:
Coronel:
--- Olhe bem seu moço. Quem já
serviu o Exercito faz tudo isso e muito mais. E nem por isso deixa de ser
macho! Andar de cócoras! Ora já se viu? Quem importância tem isso? – indagou o
coronel ao pistoleiro.
Satanás:
--- (sorriu breve) – É por que na
cidade não tem nada disso! – comentou lamentando Satanás.
Coronel:
--- Besteira! Besteira! Lá tem um
punhado de beradeiros. Gente simples do mato. A gente encontra um ou outro que
sabe ler. O resto só engordar a pança. Gente besta por sinal! E afinal o senhor
não vai ficar no lugar. Eu arranjo um empreguinho aqui no mato e o senhor fica
por aqui. A não ser ter eu necessidade do senhor como meu guarda costa. –
relatou o coronel a espinhar as costelas do pistoleiro.
Satanás:
--- É. Pode ser! Mas primeiro eu
tenho a ver os rapazes da empreitada! Vou dividir a soma com cada um e depois
ver o que vai dar certo. – comentou com mágoa Satanás.
Coronel:
--- A propósito dos outros, tem
um que me deixa curioso. Ele está aí fora. Os senhores o chamam de Chulé. Quem
é ele? – indagou o coronel.
Satanás:
--- É também do mato. Ele veio de
longe. Eu o contratei por ver o moço com duas pistolas e, com certeza, ele
atirava muito bem. Eu fiz a experiência e deu certo. – comentou Satanás.
Coronel:
--- Bom. Muito bom. O senhor me
chame para nós termos uma conversa! – acerto o Coronel.
Satanás:
--- Agora? – indagou com espanto
o pistoleiro.
Coronel:
--- É preferível! – comentou o
coronel já sentado à sua mesa e olhando a Satanás.
Satanás saiu do escritório e foi
chamar Renovato Alvarenga, o Chulé. Muito rápido e sem conversa. A chegar ao
alpendre encontrou Chulé com as pernas esticadas e o chapéu cobrindo a visão em
uma aparecia de estar a dormir. Satanás foi até o companheiro de empreitada e
chutou de leve os seus pes.
Satanás:
--- Acorda? Estás dormindo? O
coronel mandou te chamar. – disse Otelo bem cismado.
Renovato levantou a aba do chapéu
para cima e olhou Otelo como quem não queria sair do local r perguntou afinal.
Chulé:
--- Que diabos ele quer? –
indagou Renovato ainda com as pernas esticadas para frente.
Satanás:
--- Não sei. Talvez seja um novo
contrato! – respondeu Otelo sem querer dizer tudo afinal.
Renovato:
--- Tem que ser agora? – indagou Renovato
a puxar o chapéu novamente para baixo.
Satanás:
--- Eu temo que sim. Vamos! –
reclamou o bandido Otelo.
Nesse ponto, Renovato recolheu as
pernas um tanto longas e se levantou da poltrona, saindo para dentro da sala da
casa grande. O seu companheiro saiu logo à frente para ensinar a porta de
entrada. Otelo ainda olhou para Renovato e fez sinal com a cabeça para o
pistoleiro entrar na sala da casa onde se fazia contratos.
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