domingo, 25 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 12 -

- Kristen Stewart -
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A VISITA
Nesse momento alguém tocou a porta do quarto onde estavam reunidos o coronel Godinho e o pistoleiro Otelo Satanás em conversas reservadas pelo acontecido na Fazenda de Policarpo. A porta foi aberta pelo pistoleiro a mando do coronel e adentrou ao recinto a moça Emília a dizer ao coronel ter vindo visitas para o homem já idoso. O coronel por vezes perguntou de quem se tratava e teve a resposta de quem poderia ser àquela hora tardia da manhã.
Emília:
--- Seu Prefeito e uma cabroagem com ele! – respondeu a moça sem fazer cerimonias.
O coronel olhou bem o pistoleiro Otelo Satanás e, após ajeitar a sua jaqueta relatou ao homem ser bom ficar no quarto enquanto ele tirava prosa com a autoridade municipal. Isso Otelo concordou e ficou a se ajeitar a seu modo pondo o cinto cheio de dalas a ponto de sacar a arma se por acaso tivesse necessidade. O velho coronel fez com a mão para ter ele cuidado, pois não havia necessidade de qualquer reação. À saída do quarto o coronel indagou de quem o prefeito estava em companhia e a moça fez de conta não saber.
O pistoleiro Satanás ficou no quarto e passou a ver as fotos penduradas na parede do quarto com se pusessem a recordar tempos remotos quase imortais no então vividos pelos pelas figuras de pais, mães, avós, bisavós e quanto mais restasse a se prestar uma meiga e singela homenagem. Fotos de uma menina, ainda pequena, talvez de oito anos emoldurasse todo aquele ambiente nostálgico e pleno de saudades. Quadro de barcos a vapor e de caravelas talvez de passageiros a trazer ocupantes de terras distantes para tao longo confins. E Otelo estava a procurar algum vestígio de parentes já há tanto desaparecidos do velho e decadente coronel Godinho. Livros velhos na estante empoeirada. Traços de um tempo infindo, talvez. Otelo, de mãos para trás, procurava ver de perto o tal passado longínquo. E, de repente, ainda a procurar relíquias de um tempo fugidio deu para ele notar ima imagem de uma Santa. Ela era a mãe de Jesus. Uma bela imagem da Santa Virgem. Podia-se notar em sua roupagem um traço fino de um vestido branco a cobrir por um manto azul suave arrodeados de ouro se bem parecia. A imagem representava o grande mistério da salvação. O arrepio tomou o corpo de Otelo ao notar bem acima de Maria Mae a figura de um ser totalmente moribundo o quase morto de Jesus Cristo, o filho. A cruz enorme mostrava Jesus pregado pelas mães e pelos pés com a cabeça pendida ao sinal de quem estava quase morto. Um frio terrível sacudiu todo o corpo de bandoleiro. E o homem não teve jeito e se persignou levando a mão para se benzer e proferir algumas palavras aprendidas do seu tempo de criança, ditas por sua mãe. Ao se lembrar do seu tempo infantil ele não teve jeito e chorou de emoção e saudades. Os seus tempos de criança onde tudo era verdade. E Otelo a perguntar a sua mãe como faria para chegar ao céu. E a mãe respondia com doce afago ter o tempo de se encarregar o momento. E Otelo a se lembrar de sua mãe já velhinha, se não tivesse morrido. Ele nunca mais ouviu a voz de sua genitora desde quando deixou a sua casa. E nem respondeu a sua mãe ao lhe perguntar se ele voltaria para um jantar.
Satanás:
--- Por que minha mãe? Por quê? – comentou com suma vergonha o pistoleiro.
O coronel Godinho chegou ao alpendre da casa onde encontrou o Prefeito Jorge Nepomuceno, da cidade de Alcântara e mais dois vereadores do município e dois soldados da Polícia. O prefeito se levantou do seu assento onde estava e cumprimentou o coronel como era a vez de fazer. O pistoleiro Renovato Alvarenga, o Chulé, estava encostado à varanda a ajeitar um espeto com o seu canivete e a observar bem para os dois policiais. Ele era de fora e não conhecia nada daquela comarca.  Os policiais se mantinham de pé. Um deles escorado com um pé no degrau da escada. Dava a impressão ter o policial olhado bem para os dois revolveres estilo 45 na cintura de pistoleiro. E esse não fazia por temer. Em certo instante Renovato subiu um pouco o cinto de balas e verificou se estava bem para sacar a arma. O coronel observou essa manha do pistoleiro e nada fez de questão. Nesse momento apareceu a moça virgem senhorita Emília com uma bandeja e uns copos para encher com um vasilhame cheio de água bem fresquinha tirada do pote de barro. O Prefeito Nepomuceno agradeceu a gentileza e mandou a moça servir aos dois vereadores e aos policiais. A moça não se fez de rogada e levou a bandeja e os copos para encher e servir aos vereadores e aos policiais. Por fim ofereceu também ao pistoleiro Renovato e esse agradeceu a oferta. Ele fez com o dedo um “não” sugestivo.
Renovato:
--- (com o dedo da mão direita dispensou a cortesia) –
Em seguida a conversa. O coronel ao prefeito como estava a passar. O prefeito imaginou ser ele sabedor do incidente com Severino Policarpo, seu vizinho.
Godinho:
--- Via penas a fumaça e alguns tiros. Eu até pensei se ele não estava a festejar o nascer de algum bezerro. – disse o velho coronel.
Prefeito:
--- Bezerro? (espantado). Policarpo morreu! A casa voou pelos ares, coronel! Ora bezerro! – reclamou o Prefeito o dizer do coronel.
Godinho:
--- Morreu? (assustado). Mas como foi essa tragédia? – fez saber o coronel.
Prefeito:
--- Da cidade a gente ouvia eram os estrondos! Parece ter sido o paiol! Policarpo guardava as armas no paiol em baixo da sua casa! Ora bezerro! Foi estrondo mesmo! – declarou o prefeito assustado com o parecer do coronel.
Godinho:
--- Mas não me diga uma coisa dessas? A casa do velho voou pelos ares? Mas que coisa! E todo mundo morreu também? – indagou o coronel se fazendo de inocente.
O Prefeito Jorge Nepomuceno passou o lenço na testa e respondeu ao coronel:
Prefeito:
--- Não! Todo mundo escapou. Tem uns feridos! Mesmo assim, nada grave! Uma mulher foi quem desmaiou pelo choque da explosão! Ele foi pego por uma haste de madeira ao sair da sua casa! Pelo menos foi o que eu soube! Informações de quem estava próximo! Ele morreu mesmo! E deve ser sepultado no cemitério da Fazenda! O filho espera chegar um tio, irmão de Severino! Parece! – declarou o prefeito aturdido com a questão.
Godinho:
--- Que coisa! Estou embasbacado com essa história! Como é que pode uma coisa dessas? É por isso que eu não confio em guardar armas perto de casa! Os trabucos que eu tenho, eu guardo em um quarto lá nos fundo do casarão! E digo mais! Com arma não se brinca! Ta vendo no que dá? Mas Severino Policarpo?! Estou pasmo! Quem diria? – comentou preocupado o coronel.
E as conversas continuaram por um bom espaço de tempo até entrar na questão da política. Sabia-se do Prefeito Nepomuceno ser ele prefeito para um novo mandato. Até por que no município tinha um único partido e esse era comandado pelo velho Coronel Godinho. Os demais partidos eram apenas proforma e todos aderiam ao partido maior. E nessa situação todos obedeciam e ninguém discordava.  O município tinha um deputado apenas. E esse era o coronel Godinho. Quando havia sessão na Câmara, esse tinha presença marcada. Isso era apenas “quando”! De resto, o coronel passava o tempo na roça a espantar as moscas. De deputado o povo nem pensava ser ele. E apenas se chamava de doutor ou coronel. Era assim a vida do campo.
Godinho:
--- Você se prepare, pois vai haver eleição. E todos querem o senhor. São 200 eleitores. Mas isso é importante. – relatou o coronel Godinho.
Prefeito:
--- Eu sei patrão! Eu sei. Agora, quando for para marcar as eleições e venho procurar o senhor para melhor ter certeza. – disse mais o Prefeito.
Godinho:
--- E o delegado vai trabalhar com a gente. Tem mais essa! – alertou o Coronel de olhos bem abertos.
O tempo passou e o prefeito se despediu do coronel. Os vereadores também agradeceram a presteza depositada. Os dois policiais de nada reclamaram. Apenas um esteve à espia por algum tempo para as armas do bandoleiro, talvez apenas com inveja por ter o rapaz um revolver estilo 45 e ele está bem longe disso. Nenhum dera até logo ao deputado e coronel Marcolino Godinho. Sempre a cavalos os cinco partiram para a cidade na esperança de tudo terminar bem.

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