- Kristen Stewart -
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A VISITA
Nesse momento alguém tocou a
porta do quarto onde estavam reunidos o coronel Godinho e o pistoleiro Otelo
Satanás em conversas reservadas pelo acontecido na Fazenda de Policarpo. A
porta foi aberta pelo pistoleiro a mando do coronel e adentrou ao recinto a
moça Emília a dizer ao coronel ter vindo visitas para o homem já idoso. O
coronel por vezes perguntou de quem se tratava e teve a resposta de quem
poderia ser àquela hora tardia da manhã.
Emília:
--- Seu Prefeito e uma cabroagem
com ele! – respondeu a moça sem fazer cerimonias.
O coronel olhou bem o pistoleiro
Otelo Satanás e, após ajeitar a sua jaqueta relatou ao homem ser bom ficar no
quarto enquanto ele tirava prosa com a autoridade municipal. Isso Otelo
concordou e ficou a se ajeitar a seu modo pondo o cinto cheio de dalas a ponto
de sacar a arma se por acaso tivesse necessidade. O velho coronel fez com a mão
para ter ele cuidado, pois não havia necessidade de qualquer reação. À saída do
quarto o coronel indagou de quem o prefeito estava em companhia e a moça fez de
conta não saber.
O pistoleiro Satanás ficou no
quarto e passou a ver as fotos penduradas na parede do quarto com se pusessem a
recordar tempos remotos quase imortais no então vividos pelos pelas figuras de
pais, mães, avós, bisavós e quanto mais restasse a se prestar uma meiga e
singela homenagem. Fotos de uma menina, ainda pequena, talvez de oito anos
emoldurasse todo aquele ambiente nostálgico e pleno de saudades. Quadro de
barcos a vapor e de caravelas talvez de passageiros a trazer ocupantes de
terras distantes para tao longo confins. E Otelo estava a procurar algum
vestígio de parentes já há tanto desaparecidos do velho e decadente coronel
Godinho. Livros velhos na estante empoeirada. Traços de um tempo infindo,
talvez. Otelo, de mãos para trás, procurava ver de perto o tal passado
longínquo. E, de repente, ainda a procurar relíquias de um tempo fugidio deu
para ele notar ima imagem de uma Santa. Ela era a mãe de Jesus. Uma bela imagem
da Santa Virgem. Podia-se notar em sua roupagem um traço fino de um vestido
branco a cobrir por um manto azul suave arrodeados de ouro se bem parecia. A
imagem representava o grande mistério da salvação. O arrepio tomou o corpo de
Otelo ao notar bem acima de Maria Mae a figura de um ser totalmente moribundo o
quase morto de Jesus Cristo, o filho. A cruz enorme mostrava Jesus pregado
pelas mães e pelos pés com a cabeça pendida ao sinal de quem estava quase
morto. Um frio terrível sacudiu todo o corpo de bandoleiro. E o homem não teve
jeito e se persignou levando a mão para se benzer e proferir algumas palavras
aprendidas do seu tempo de criança, ditas por sua mãe. Ao se lembrar do seu
tempo infantil ele não teve jeito e chorou de emoção e saudades. Os seus tempos
de criança onde tudo era verdade. E Otelo a perguntar a sua mãe como faria para
chegar ao céu. E a mãe respondia com doce afago ter o tempo de se encarregar o
momento. E Otelo a se lembrar de sua mãe já velhinha, se não tivesse morrido.
Ele nunca mais ouviu a voz de sua genitora desde quando deixou a sua casa. E
nem respondeu a sua mãe ao lhe perguntar se ele voltaria para um jantar.
Satanás:
--- Por que minha mãe? Por quê? –
comentou com suma vergonha o pistoleiro.
O coronel Godinho chegou ao
alpendre da casa onde encontrou o Prefeito Jorge Nepomuceno, da cidade de
Alcântara e mais dois vereadores do município e dois soldados da Polícia. O
prefeito se levantou do seu assento onde estava e cumprimentou o coronel como
era a vez de fazer. O pistoleiro Renovato Alvarenga, o Chulé, estava encostado à
varanda a ajeitar um espeto com o seu canivete e a observar bem para os dois
policiais. Ele era de fora e não conhecia nada daquela comarca. Os policiais se mantinham de pé. Um deles
escorado com um pé no degrau da escada. Dava a impressão ter o policial olhado
bem para os dois revolveres estilo 45 na cintura de pistoleiro. E esse não
fazia por temer. Em certo instante Renovato subiu um pouco o cinto de balas e
verificou se estava bem para sacar a arma. O coronel observou essa manha do
pistoleiro e nada fez de questão. Nesse momento apareceu a moça virgem
senhorita Emília com uma bandeja e uns copos para encher com um vasilhame cheio
de água bem fresquinha tirada do pote de barro. O Prefeito Nepomuceno agradeceu
a gentileza e mandou a moça servir aos dois vereadores e aos policiais. A moça
não se fez de rogada e levou a bandeja e os copos para encher e servir aos
vereadores e aos policiais. Por fim ofereceu também ao pistoleiro Renovato e
esse agradeceu a oferta. Ele fez com o dedo um “não” sugestivo.
Renovato:
--- (com o dedo da mão direita
dispensou a cortesia) –
Em seguida a conversa. O coronel
ao prefeito como estava a passar. O prefeito imaginou ser ele sabedor do
incidente com Severino Policarpo, seu vizinho.
Godinho:
--- Via penas a fumaça e alguns
tiros. Eu até pensei se ele não estava a festejar o nascer de algum bezerro. –
disse o velho coronel.
Prefeito:
--- Bezerro? (espantado).
Policarpo morreu! A casa voou pelos ares, coronel! Ora bezerro! – reclamou o
Prefeito o dizer do coronel.
Godinho:
--- Morreu? (assustado). Mas como
foi essa tragédia? – fez saber o coronel.
Prefeito:
--- Da cidade a gente ouvia eram
os estrondos! Parece ter sido o paiol! Policarpo guardava as armas no paiol em
baixo da sua casa! Ora bezerro! Foi estrondo mesmo! – declarou o prefeito
assustado com o parecer do coronel.
Godinho:
--- Mas não me diga uma coisa
dessas? A casa do velho voou pelos ares? Mas que coisa! E todo mundo morreu
também? – indagou o coronel se fazendo de inocente.
O Prefeito Jorge Nepomuceno passou
o lenço na testa e respondeu ao coronel:
Prefeito:
--- Não! Todo mundo escapou. Tem
uns feridos! Mesmo assim, nada grave! Uma mulher foi quem desmaiou pelo choque
da explosão! Ele foi pego por uma haste de madeira ao sair da sua casa! Pelo
menos foi o que eu soube! Informações de quem estava próximo! Ele morreu mesmo!
E deve ser sepultado no cemitério da Fazenda! O filho espera chegar um tio, irmão
de Severino! Parece! – declarou o prefeito aturdido com a questão.
Godinho:
--- Que coisa! Estou embasbacado
com essa história! Como é que pode uma coisa dessas? É por isso que eu não
confio em guardar armas perto de casa! Os trabucos que eu tenho, eu guardo em
um quarto lá nos fundo do casarão! E digo mais! Com arma não se brinca! Ta
vendo no que dá? Mas Severino Policarpo?! Estou pasmo! Quem diria? – comentou
preocupado o coronel.
E as conversas continuaram por um
bom espaço de tempo até entrar na questão da política. Sabia-se do Prefeito
Nepomuceno ser ele prefeito para um novo mandato. Até por que no município
tinha um único partido e esse era comandado pelo velho Coronel Godinho. Os
demais partidos eram apenas proforma e todos aderiam ao partido maior. E nessa
situação todos obedeciam e ninguém discordava.
O município tinha um deputado apenas. E esse era o coronel Godinho.
Quando havia sessão na Câmara, esse tinha presença marcada. Isso era apenas
“quando”! De resto, o coronel passava o tempo na roça a espantar as moscas. De
deputado o povo nem pensava ser ele. E apenas se chamava de doutor ou coronel.
Era assim a vida do campo.
Godinho:
--- Você se prepare, pois vai
haver eleição. E todos querem o senhor. São 200 eleitores. Mas isso é
importante. – relatou o coronel Godinho.
Prefeito:
--- Eu sei patrão! Eu sei. Agora,
quando for para marcar as eleições e venho procurar o senhor para melhor ter
certeza. – disse mais o Prefeito.
Godinho:
--- E o delegado vai trabalhar
com a gente. Tem mais essa! – alertou o Coronel de olhos bem abertos.
O tempo passou e o prefeito se
despediu do coronel. Os vereadores também agradeceram a presteza depositada. Os
dois policiais de nada reclamaram. Apenas um esteve à espia por algum tempo
para as armas do bandoleiro, talvez apenas com inveja por ter o rapaz um
revolver estilo 45 e ele está bem longe disso. Nenhum dera até logo ao deputado
e coronel Marcolino Godinho. Sempre a cavalos os cinco partiram para a cidade
na esperança de tudo terminar bem.
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