- Vitória Frate -
- 09 -
MUNGUZÁ
Dos quatro cavaleiros apenas três
podiam seguir o destino marcado para o jagunço temeroso. Isso porque o quarto
pistoleiro, Renovato Alvarenga tinha compromisso assumido com o seu chefe de
guardar a moça, senhorita Ludmila da possível ação de combate ou de conquista
pelo pessoal do sito do homem forte Severino Policarpo. Desse modo, o
pistoleiro buscou ajuda de outro jagunço
da Fazenda Guandu, do coronel Marcolino Godinho. E para todos os efeitos eram
quatro a levar o jagunço, homem preso cuja sina era morrer após a saída do
terreiro da Fazenda. Dito isso, Renovato Alvarenga sossegou, pois a sua missão
continuava: a de garantir a segurança da moça Ludmila. Àquela hora da manhã a
moça Lu estava ainda a dormir, uma vez ter ido para a cama por volta de uma
hora da madrugada. Ao saber da decisão do coronel Godinho o alvoroçado
pistoleiro teve mesmo de voltar para o seu café da manhã e a comer apetitoso
munguzá de caroço. Para o homem, a comida estava uma delícia, principalmente
para quem passou a noite quase toda sem se alimentar, uma vez ter o fogo
desnorteado as obrigações domesticas da casa. E na tensão do povo, nem sequer o
café havia sido pronto, regularmente para todos os habitantes da Fazenda. Ao
chegar a seu devido canto na mesa dos vaqueiros, Renovato estranhou o caso e
logo foi perguntar a cozinheira da manhã:
Renovato:
--- Ei! Meu munguzá? Ele
desapareceu. - reportou o pistoleiro.
A mulher olhou para o pistoleiro
e fez um bico como se nada soubesse do tal munguzá. E disse ao homem sem ver de
que:
Cozinheira:
--- Pergunte a Emília. Ela é quem
toma a responsabilidade da sopa! – falou sem ter receio.
O pistoleiro rodou nos pés e saiu
a procura da moça Emília passando por uma e outra cozinheira até chegar ao
ponto onde estava a distinta senhorita. Ao chegar ao local onde estava a moça
de vez o pistoleiro foi logo perguntar como se não tivesse saído para longe do
salão das comidas.
Renovato:
--- Onde está o meu prato sinha
dona? – indagou desnorteado o pistoleiro
A moça olhou de lado para
Renovato a cuidar do asseio das panelas e logo despejou uma saraivada de
insinuações.
Emília:
--- Botei para os porcos, pois
não vi nenhum outro a caminhar por lá! – respondeu bastante abusada a donzela.
O pistoleiro ficou desapontado com
a resposta da moça e fez cara feia. Por fim perguntou Renovato a moça como se
nada tivesse dito a ele naquele momento.
Renovato:
--- Pode por ainda um pouco pra
mim? – indagou Renovato com pouco de pressa a ajustar seu chapéu na cabeça.
O corpo do homem se envergou em
direção a moça e ele ainda estava a ajeitar com as suas mãos o seu chapéu ao
tempo em esboçava leve sorriso. A moça olhou de volta para o pistoleiro e toda
arrebitada se pôs em marchar para cuidar do taxo da comida e fez de conta não
ver o pistoleiro. Em seguida correu com o taxo até o salão e lá depositou em um
prato um alto volume de munguzá. Em seguida Emília pegou o taxo e se arribou em
direção a cozinha passando por Renovato, dando um encontrão a chegar a pisar em
seus pés. O homem gritou na se sabe se de raiva ou de dor levantando o pé para
esfregar como se o mesmo estivesse ferido naquele canto.
Renovato:
--- Olha meu pé, senhorita! Ui!
Ui! Ui! – proferiu pistoleiro a mancarem um único pé.
A moça sorriu e perguntou ao
pistoleiro que ainda mancava se o pisão tinha doído.
Emília:
--- Ah doeu? Doeu? – indagou a
moça no seu jeito brejeiro e entrou na porta da cozinha.
O pistoleiro Chulé findou a
caminhar mancando em um pé só e a olhar para a jovem Emília com a cara bastante
abusada pela dor sentida. Ao passar pela porta a moça ainda fez um sorriso com
se querendo se vigar de alguma coisa ou de alguém. O pistoleiro nada respondeu
e sem tirar a vista da porta procurou a se sentar-se à mesa da comida onde
estava ainda uma porção de vaqueiros e jagunços. Em seguida, Chulé meteu a boca
no prato como se nunca tivesse visto um prato de munguzá.
O jagunço Bem-te-vi acercou da
porteira do cercado de Severino Policarpo. E
logo foi dizendo ter em mãos um
presente para o dono da fazenda aos demais jagunços de posse da porteira. Ele
levava o corpo de outro jagunço, já bem morto por um golpe certeiro de punhal a
lhe perfurar a nuca causando morte quase instantânea. Os jagunços olharam bem
para a figura montada em seu cavalo e um deles chegou a dizer:
Outro Jagunço:
--- Esse é Zé de Cota? –
perguntou de modo estranho o jagunço da porteira.
O outro jagunço respondeu
qualquer coisa e pinoteou em seu cavalo com a pressa destemida a correr de
algum tiro com certeza a disparar pelos demais jagunços da porteira da Fazenda
do senhor Severino Policarpo. Ele nem deu sentido ao chamado feito por um dos
tais e cavalgou apressado, em zigue zague para se defender de algum tiro
desfechado em sua retirada. Os jagunços ficaram a comentar se era mesmo Zé de
Cota. Ao passar alguns minutos ficou a desavença de quem levaria o presunto
para o velho Policarpo, dono da Fazenda.
Dizia um:
--- Leva tu! –
Dizia outro:
--- Eu não! Leva tu mesmo! –
E nessa lengalenga ficou a
responsabilidade para o jagunço principal. Ele fora quem recebeu o presunto na
porteira. Portanto, nada mais do jagunço entregar na fazenda ao seu chefe. O
certo foi do jagunço a caminhar rogando pragas contra os outros compadres e ao
mesmo tempo amaldiçoar o jagunço morto por qualquer motivo de ter feito. Era um
dia de sol forte e chegar à fazenda era por demais problemáticos,
principalmente alguém levando um presunto sem futuro algum. Tendo isso feito o
jagunço se arrependeu de tal modo e finalmente ele deixaria Zé de Cota
pendurado em qualquer galho de arvores existente no caminho.
Jagunço:
--- Deixo sim! Ele que venha
buscar! Eu vou embora agora mesmo! – decifrou o jagunço.
Dito isso, o jagunço dependurou
Zé de Cota no pé de aroeira e rumou por um caminho mais distante e de vez
procurou se esconder o restante do dia para ninguém notar o seu paradeiro.
Horas depois um vaqueiro encontrou dependurado em um pé de aroeira o corpo de
Zé de Cota. Com a aparência de um morto vivo, o jagunço pendurado parecia pedir
ao vaqueiro ter ele a caridade de lhe soltar. Nesse momento o vaqueiro se
assombrou de verdade e correu mato a cima e mato a fora e sem poder gritar,
pois sua voz estava embargada de terror. O vaqueiro caminhou para a fazenda a
gorgolejar por alguém de dentro e a pedir socorro. O terror aplacado no homem lhe deixou sem
fôlego e logo desmaiou. Uma mulher veio
em seu socorro e logo verificou ser ele o vaqueiro Enério Suçuarana, vaqueiro
da fazenda. A mulher chamou alguém o mais depressa possível. Nesse momento
apareceu o fazendeiro Severino Policarpo pelo vexame da mulher em acudir o
vaqueiro. Com o fazendeiro vieram também várias outras pessoas da casa grande
igualmente a procurar saber o acontecido.
Mulher:
--- Acudam aqui! Acudam aqui! O
vaqueiro Enério Suçuarana está morrendo! Acudam pelo amor de Deus! – gritava a
mulher cheia de pavor.
Com isso, chegaram outros
moradores do sitio e puxaram Enério para local mais alto e esfregaram as mãos
em seu pulso e em seu peito para ver se o homem tornava a consciência. Após um
breve tempo o vaqueiro abriu os olhos e balbuciou algo indecifrável. Um homem
procurou compreender então falou depois de alguns minutos:
Homem:
--- Ele falou em um morto! –
disse espantado o homem do socorro.
Nesse ponto o dono do sitio
falou:
Policarpo:
--- Morto? Quem? – fez sentir o
velho Policarpo totalmente desnorteado.
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