sábado, 24 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 11 -

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PANDEMÔNIO
No instante do estrondar na fazenda de Severino Policarpo, toda uma região, as mais distantes possíveis, ouviu o barulho ensurdecedor como se fosse muito e bem perto das casas grandes ou pequenas. Era o mundo se acabando a todo custo e em troco de nada. De forma aturdida o povo do mais longínquo recanto imaginava dizer ter sido um trovão inquietante e assustador aquele pandemônio infernal. A correria se fez presente no povo da vila da Lagoa e a qualquer preço a procurar refugio por baixo de mesas e camas. O acalento das crianças era o mínimo a se fazer. Todos com o maior pavor da tragédia anunciada. Nas acanhadas prateleiras das bodegas as estantes estremeceram e as garrafas foram ao chão se partindo aos cacos. Era o terror onde ninguém podia adivinhar o acontecido.
Alguém:
--- É o trovão! É mundo a se acabar! – gritava a mulher a correr desenfreada.
Outra:
--- Vala-me São Francisco! – gritava outra a procurar abrigo debaixo da cama.
--- Tamos lascados! – anunciava um homem a correr desembestado a qualquer canto.
Vacas, bezerros, touros, garrotes, ovelhas, cabras, bodes e ainda animais silvestres e mesmo o galináceo, os veados, cotias e até mesmo os cães e gatos corriam a qualquer preço para lugar nenhum. Os cavalos amarrados nas forquilhas se espantaram e puxaram as rédeas e saíram amedrontados na correria desenfreada. Os animais partiam para os lugares mais distantes em busca de algo onde pudessem se esconder.
Bêbado:
--- É o mundo todo! – dizia um bêbado anunciando o fim dos tempos, com uma garrafa em baixo do braço e um copo na mão posto pra cima de sua cabeça.
E o estrondar acontecia a todo instante com panelas, caldeirões, tachos a voar pelos ares na casa em chamas. Não tinha fim o drama da morada para todo mundo poder ver a cena. No sitio ao lado, porém distante, o coronel Marcolino Godinho dava um soco para o alto como quem quisesse dizer algo:
Godinho:
--- Tome o troco! – respondia o velho sem sorrir.
Na frente da casa grande do coronel,  o pistoleiro Renovato Alvarenga, o Chulé, se levantou do seu assento com temor da tamanha explosão ouvida há alguns quilômetros de distancia. A moça Lu correu para fora a perguntar:
Ludmila:
--- O que foi isso? – perguntou a moça desnorteadas com a explosão na casa bem longe.
E, com efeito, também chegou à donzela Emília totalmente desnorteada a perguntar ao pistoleiro Renovato cheia de pavor pelo qual ouvira naquele instante.
Emília:
--- Onde? Onde? Onde foi esse estrondo? – indagou alarmada a moça.
Ninguém sabia responder ao certo o efeito de tal explosão.  O pistoleiro Renovato caminhou até a soleira do alpendre e tentou advinha o fato acontecido sem nada para falar. A fumaça branca se tornou escura e subiu aos ares na distancia onde não se podia acreditar ser apenas o fogo da mata. Renovato pressentiu de algo mais ocorrido. Porém nada reportou afinal. O velho Coronel Godinho nada falava, mesmo assim se mostrava satisfeito com o acontecido. A esposa de Godinho, senhora Isadora Marques chegou para frente do casarão e pôs a mão na boca a refletir:
Isadora:
--- Meu Deus do Céu! O que é isso? -  indagou a mulher com muito susto
A capangada da Fazenda Guandu ficou toda abismada com o acontecido apenas a olhar a fumaça a subir e nada mais podia calcular.
Mulher com panelas:
--- Que foi isso? Incêndio? – perguntava a mulher da cozinha com o tacho na mão a olhar a fumaça negra subir.
Na cidade de Alcântara foi ouvida a explosão pelo povo do lugar e da roça. A gente toda olhava para o céu a observar a fumaça e perguntar onde poderia ter sido o drama total. Prefeitos, vereadores, até mesmo a polícia se acercava para ver mais de perto o terror incondicional havido em algum local bem distante da sede do município. Cada qual no seu cavalo rumou para o local da tragédia temendo com certeza de chegar tarde demais. Era fogo muito o havido no casarão onde nada restou. Apenas os moradores da fazenda do Policarpo, atordoados por demais choravam o desassossego havido nas suas vidas.  O lamento era sem quietação com moças, mulheres, rapazes, vaqueiros e mesmo jagunços a chorar suas mágoas. O  corpo do velho Policarpo jazia no chão coberto de cinzas bem ao longe da casa grande apenas com algumas pessoas a rezar e seu filho Deodato a lamentar.
Deodato:
--- Meu pai! Meu paizinho! Por que isso foi acontecer com o senhor? – era tudo a dizer o rapaz ajoelhado ante o cadáver.
Ao chegar ao local o pessoal da cidade, viu-se ter nada mais a fazer, pois os estragos eram totais na valiosa fazenda de Policarpo. O pessoal ao redor a fazer penitencia e outro a buscar algo em qualquer chão era tudo o haver desnorteado dos moradores. E o prefeito então afirmava não haver mais nada a ser feito.
Prefeito:
--- Tudo acabado! Nada mais se pode fazer! – lamentou o prefeito vendo a devastação da casa.
Duas horas depois da estrondosa explosão o coronel Godinho viu chegar os seus comandados tendo à frente o destemido bandoleiro Otelo Gonçalves Dias, o senhor Satanás. Esse apeou bem como os seus companheiros de viagem e a olhar o coronel, nada demais o homem falou. Apenas adentrou na sala e foi buscar um pouco de água para beber. Os três companheiros também fizeram o mesmo. O coronel veio para quarto de reuniões e nada mais falou com a turma de atiradores. Ele esteve até àquela hora no alpendre acompanhando a fumaça negra a sair bem longe da casa de Severino Policarpo. Os pistoleiros foram até a cozinha da casa grande do coronel e buscaram um pouco de comida. Enquanto isso o jagunço Bem-te-vi caminhou para sua casa de gente pobre. Nesse momento, Renovato Alvarenga, o Chulé, se aproximou do bando e nada indagou. Apenas olhou para Satanás, em olhar inquisidor para saber de algo. Satanás nada sabia dizer.  Chulé então falou:
Chulé:
--- O Prefeito passou para o lugar. – disse apenas Chulé sem maiores comentários.
Satanás estava já na mesa para comer munguzá e nada respondeu. Apenas olhou para Chulé querendo saber mais alguma coisa. Esse nada falou, pois não sabia o sucedido. O rapaz do punhal, Antero Soares, o Foguetão, chutou um tamborete para sentar. E olhou bem os olhos de Chulé. E Chulé olhou bem para o seu companheiro de empreitada. E nada falou. Então, Chulé se levantou para ir ao seu serviço. Nesse instante, um jagunço chegou e procurou pelo coronel Godinho:
Jagunço:
--- Onde está o coronel? – perguntou desaforado o jagunço.
Satanás:
--- Que você tem a dizer? – indagou Satanás bem serio.
Jagunço:
--- O fazendeiro Policarpo morreu! Um fogo devorador consumiu sua casa! – respondeu o jagunço um pouco desnorteado.
Satanás:
--- Quem disse a você? –perguntou Satanás.
Jagunço:
--- Eu vim de lá! Toda gente está apavorada! – respondeu o jagunço a tremer de medo.
Satanás saiu e foi até o escritório do coronel relatar o ocorrido. Afinal tinha saído tudo nos conformes. Era agora apenas pagar pelo feito, pois desta forma o serviço estava completo. Nada mais restava fazer.



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