- Jan Sterling -
- 07 -
JOSEFINA
Emília pôs a roupa na tina para
lavar a roupa de Renovato Chulé naquela tarde/noite do dia. Porém ao colocar a
roupa para lavar a moça teve o cuidado de retirar dos bolsos das calças o mais
importante dos documentos e papeis. Ao verificar tudo o que puxava, Emília
verificou uma foto ligeiramente amassada de uma jovem bela com o dizer atrás:
“Com amor: Josefina”. Aquele retrato deixou Emília intrigada e ficou a pensar:
Emília:
--- Josefina? Quem será?
Namorada? Só pode ser! Ah lá! Deixa prá lá! – reportou Emília colocando a foto
no quarador junto com os demais documentos tirados do bolso de Chulé.
E com isso, pensando em Josefina,
podendo ser namorada de Renovato, Emília continuou a esfregar toda a roupa
antes de por no tacho de água quente para tirar o resto de gordura existente
nas calças e na camisa além das marcas de fogo por ter o homem enfrentado a
duras penas. A mão da moça a esfregar a roupa suja e o pensamento a girar como
um pião solto em uma calçada da vida. Por demais ter Emília esfregado o seu
pensar era um só: Josefina
Emília;
--- E ele é casado? Pode até ser!
Quem duvida é outra! Mais basta! – resmungava Emília com bastante raiva de ser
Renovato casado.
E assim continuava a esfregar a
roupa na tina. Às vezes com bastante fúria. Em outras a moça já cansada de
pensar e de esfregar a roupa nova. Quando lhe dava veneta, ela esfregava com
bastante força para depois esmorecer e passar a mão na testa molhada de suor. E
sempre a falar baixinho:
Emília;
--- Ave Maria! Deus te guie!
Nossa Senhora! Se for casado eu então desisto! – falava baixo a donzela.
Com tais pensamentos a mocinha
terminou de lavar a roupa e meteu no tacho a estar no fogo com água fervente. E
socou as peças para baixo e para cima fazendo um murmúrio para passar a raiva.
Enquanto isso, na sala de
refeição dos vaqueiros e jagunços, estava o pistoleiro Renovato esperando a
boia. Os demais pistoleiros estavam sentados juntos a ele e a conversar sobre o
fogo desse dia. O coronel Godinho e sua filha Lu ainda estavam a acompanhar o
trabalho dos jagunços a acabar de vez com o incendo destruidor de todo o
celeiro. Eles e mais algumas pessoas a fazer o rescaldo onde ainda surgia fogo,
embora sem muito perigo de se espalhar para outro celeiro próximo. O coronel
comandava a todos a falar bem alto;
Godinho:
--- Apaga alí! Apaga ali! Apaga
ali! – recomendava o coronel temendo o revirar do fogo àquela hora da noite.
Os jagunços obedeciam a tudo
recomendado. O carro de boi com uma barrica de água continuava a subir e a
descer a trazer a água para controlar as renitentes chamas. A agua era apanhada
na Lagoa Dourada existente na Fazenda do coronel em um baixio existente para os
lados do Boqueirão dos Meninos um pouco distante da sede da fazenda. Tal lagoa
dizia-se ser mal assombrada, pois o pessoal mais velho contava história de
gente morta a estar viva ou coisa do outro mundo. Animais perdidos; mugidos de
onça para chamar as vacas gordas. Eram coisas deveras assombrosas. Para os
meninos ainda pequenos se dizia:
Assustados:
--- Não vá lá. Se não o bicho de
pega! – alertava a mulher por demais assombrada.
De qualquer forma os homens
costumavam ir buscar água na Lagoa Dourada quando era tempo de seca ou por uma
atitude como a do celeiro a pegar fogo a ponto de destruir todo o plantio do
algodão ou mesmo acabar com os demais celeiros alí existentes. Com relação ao
Boqueirão dos Meninos todos eles temiam o caso. Uma selva gigante a rodear toda
a Lagoa. Quem tivesse coragem podia caçar até mesmo animais de porte médio,
como veados e porcos do mato. Às vezes um coelho ou coisa assim. No tempo de
estio ouvia-se o pio da coruja sempre agourenta. E com seus olhos de fogo feito
dois canhões de brasa. Era assim a vida
no mato da fazenda Guandu.
Por volta das oito horas Emília
apareceu muito bem atarantada a trazer os documentos do pistoleiro Renovato e
pôs-se a entregar tudo o encontrado com a esfinge à garota Josefina posta acima
do volume para o homem muito bem perceber ter ela avistado essa foto. Emília
chegou apressada e deu os documentos ao pistoleiro:
Emília:
--- Taí o que tinha! – falou com
certa brabeza a moça a entregar os documentos e a foto.
O pistoleiro apenas respondeu:
Renovato:
--- Obrigado. – e pouco olhou ao
retorno.
Ao pegar os documentos ele viu a
foto da sua irmã e a beijou sem maiores preocupações, pois já era um bom tempo
não ter avistado Josefina. Nesse momento uma moça, talvez freira, pois noviça o
moça foi por um bom período de sua mocidade. E logo a seguir colocou com todos
os documentos o retrato no bolso de trás da calça apertada. E não percebeu
Emília ter feito uma parada no meio do seu caminhar e olhar para trás a ver o
comportamento de Renovato. E foi na hora de beija aquele retrato ter a moça de
veras a olhar a cena. Em seguida Emília sacudiu as tranças do seu cabelo para
frente e para trás e a dizer:
Emília:
--- Merda! Ainda quer outra! –
falou zangada a moça.
E logo seguiu para a cozinha da
casa grande a deixar a turma de vaqueiros, jagunços e pistoleiros a
refastelar-se a seu modo. No salão onde os homens merendavam outras moças e
mulheres serviam o que a eles faltasse. Portanto, Emília não fazia falta. Mesmo
assim, a moça a estar na cozinha da casa grande começou a lagrimejar não
sabendo se de raiva ou se de amargura por ter seu amor sido desfeito a um
piscar de olhos. Até então Emília não sabia dizer o seu estado emocional. E se
lacrimejava era de modo da insatisfação ter tido por causa do elegante moço, o
pistoleiro andarilho Renovato Alvarenga, cujo nome ela nem mesmo sabia dizer.
Apenas alguma vez ouvira um dos outros pistoleiros chama-lo de Chulé. Emília
fez pouco caso do nome, pois acreditava ter ser verdadeiro nome outro sentido.
Mesmo assim a moça lacrimejava constante até ao ponto de sua mãe indagar:
Mãe de Emília:
--- Estas chorando? – perguntou a
sua mãe meio cabreira.
Emília passou a mão no rosto e
respondeu mesmo sem fé.
Emília:
--- A fumaça do fogo do celeiro.
– respondeu Emília e se voltou correndo para outra sala.
A mãe da mocinha ficou a cismar o
tal fogo do celeiro a por argueiro nos olhos de sua filha e não dos outros. Ou
pelo menos nos seus olhos? Havia gente demais no apagar o incêndio do celeiro
desde o seu início. A mãe de Emília, dona Iracema, esteve a ajudar levar os
baldes de água por várias horas, até à tarde. No entanto, os seus olhos não
foram afetados, talvez pelo fato de ter ficado bem ao longe do fogaréu, na
fileira de gente a conduzir a água de um poço ao longe da catástrofe. Por isso mesmo nada lhe afetou os olhos.
Contudo, o tempo se foi e a questão dos olhos de Emília passou por completo da mente
de dona Iracema. Enfim, ainda estava o pessoal a apagar alguma chama e a mulher
teve mais o que fazer. O coronel Godinho e a sua filha Ludmila ainda estavam
por perto do celeiro a comandar o pessoal. Havia várias pessoas em torno do
celeiro. Até a mãe de Ludmila, a senhora Cantídia Godinho ainda estava no
comando dos vaqueiros para retirada do gado em busca de um local mais seguro,
pois o curral não era tao longe assim do celeiro.
Cantídia:
--- Amanhã não vai ter leite! –
arguia a mulher.
Isso por causa do fogo e o
espantar das vacas leiteiras. Tais animais retinham o leite diante da
preocupação em se safar de um fogo, uma cheia ou outra coisa qualquer. Era a
defesa dos animais reter o leite. Se bem for defesa do ser humano em reter o
leite diante de um perigo qualquer. A diminuição na produção de leite materno decorre
sumamente desse perigo. E as vacas também são pares nessa fase de lactação. A
preocupação de dona Cantídia tinha por bem essa noção.
Cantídia:
--- Cho bicho! Pra lá! Prá lá! –
fazia a mulher espantando o gado.
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