quinta-feira, 29 de março de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 16 -

- Daniele Suzuki -
- 16 -
O ENTERRO
A manhã chegou nublada. Ouvia-se ao longo o roncar dos trovoes. Apenas os trovões! Nada de relâmpago. O vento soprava de sul a norte com uma frieza imensa a chegar doer nos osso de velhas e novas pessoas. Os vaqueiros, bem protegidos pela manta e cobertos pelo seu gibão de couro curtido a suportar aos espinhos da caatinga não sentia tanto frio assim. A véstia do vaqueiro era curtida de couro resistente. A sua couraça era semelhante ao couro do gado. O gibão era todo fechado com cordões de couro. Além disse os vaqueiros vestiam o parapeito a proteger o seu peito. Além do mais era o vaqueiro vestido de calça, perneiras, luvas a cobrir as mãos e, nos pes, as alpercatas simples. Para o dono da fazenda a questão era mais simples, apesar de se vestir de tecido grosso. As moças trajavam vestidos soltos com uma combinação e os atiradores, cada um, tinha as suas manhãs. Porém. No total, estavam todos bem arrumados. Havia prenuncio de chuva e o coronel e deputado Godinho estava atento olhando para o céu carrancudo e frio. Os andarilhos eram os jagunços a passar de um lado para outro sem conversa e sem assunto. Apenas passavam levando os seus trabucos. Logo cedo da manhã surgiu à porta a moça Ludmila, toda protegida por um cobertor e olhou para o céu nublado e feiticeiro. Apenas Ludmila comentou:
Ludmila:
--- Chuva! – e entrou para o interior da casa.
No seu canto, a sentar no seu acolchoado predileto, estava o pistoleiro Renovato Chulé a examinar a sua arma Colt 45, tirando e repondo a munição do seu lugar e depois a fazer mira e rodar o tambor para depois travar. Estava tudo bem, ele pensava. Nesse instante surgiu no alpendre ao lado a garota Emília, coberta dos pés a cabeça e ficou de perto de Renovato. O homem se assustou com tamanha travessura a mocinha.
Renovato:
--- Que susto! Não tem vergonha, não! Vá fazer medo assim ao diabo! – reclamou Renovato cheio de pavor
A moça sorriu e então comentou:
Emília:
--- É o frio. Estou feia? – indagou Emília ao rapaz.
Renovato olhou-a de seu modo e declarou:
Renovato:
--- Está um monstro! Ora! Ora! – relatou o pistoleiro
Emília:
--- Não diga assim. E não fiz por mal. E eu tenho uma palavra para trocar com o senhor. – reportou Emília.
O cavaleiro olhou de novo suspendendo o seu chapéu e voltou-se ao trabalho. Com um pouco de tempo falou.
Renovato:
--- Fale logo. Tenho pressa! – detonou o pistoleiro a acertar a missa do revolver.
Emília:
--- Tem pressa que nada! Guarda essa porqueira! Deixa em falar! – ressaltou Emília meio quente de raiva.
Renovato:
--- Porqueira não! Isso é minha segurança! Eu que o diga! – reprovou o pistoleiro.
Emília:
--- É porqueira sim! Agora deixe que eu fale! Você quer dormir em meu quarto? – perguntou a moça sem que nem mais.
O rapaz se assomou de susto com tal questão. E logo veio igual a um trovão.
Renovato:
--- Que? Você é doida? Eu dormir em seu quarto! Nunca! Ora mais! Você é biruta! – relatou assombrado o rapaz.
Emília:
--- O senhor está com um palavreado à toa! Eu perguntei se o senhor quer dormir em meu quarto! Foi isso! – ressaltou novamente a moça.
O rapaz levantou a aba do chapéu novamente e desceu a olhar para as suas armas. E falou!
Renovato:
--- Não! Estou bem onde estou! E estamos conversados! – disse com brutal insolência o pistoleiro.
Emília:
--- Tá vendo! Tá vendo! – pondo as mãos nos quadris – É o que a gente ganha quando se quer fazer um favor a um degenerado que nem esse! - e batendo o pé da soleira do alpendre – Eu perguntei se o senhor quer dormir! Eu não estou no quarto não! E eu nem vou lá para bem lhe informar! Se o senhor prefere as vacas? Pois passe bem! – e saiu apressada com os desaforos a sair ao longo do caminhar pelo corredor.
Nesse momento o pistoleiro entendeu a pergunta e depois de alguns minutos se aproximou dele o pistoleiro Otelo Gonçalves para lhe informar a boa nova:
Otelo:
--- Compadre! Tenho novas para o senhor. A partir de agora nós estaremos acomodados na sala de hospedes da casa grande como gente grã fina. – relatou Satanás a sorrir.
Renovato procurou chão nos pés sem encontrar. E relatou em seguida:
Renovato:
--- Que? Foi o que Emília quis dizer! Ah maluca sem meias palavras! Deixa-me pegar a danada! – relatou Renovato e rodou nos pés saindo apressado em direção à cozinha da casa.
E lá chegando foi de encontro com Emília e em vez de pedir desculpas ele foi a pedir licença e logo despachou Emília. Mas ao mesmo tempo a reconheceu e voltou-se para Emília a dizer palavras desconexas querendo exprimir as suas desculpas.
Emília:
--- Ah! Agora já quer né? Eu bem podia jogar o senhor nos chiqueiros dos porcos! Ora mais! E não devia não dar mais o quarto para o senhor! Umpf! – fez a moça por arrogo.
Tudo feito e o desaviso mostrado o rapaz caminho para o seu quarto especial onde poria seus petrechos a toda guarda. Uma vez ter ele entrado e se encontrou com Ludmila. Essa não vez por menos: sorriu a valer pelas travessuras feitas por Emília. O rapaz não entendeu patavinas do ocorrido e entrou no novo quarto.
O tempo se fechou inteiramente por completo com relâmpagos e trovoes atormentadores. A chuva era torrencial As biqueiras jorravam água a todo minuto! Cavalos e gados estavam nas suas cocheiras. Os vaqueiros a gritar:
Vaqueiros:
--- Haja chuva! Tempo bom de inverno! Uip! – gritavam os vaqueiros.
No meio de toda a alarmante ventania, de muito longe se ouvia um som de um realejo a tocar uma triste melodia como sinal de eterno lamento. Era uma perene e imortal marcha fúnebre. Da fazenda de Severino Policarpo vinha o distante som em meio o barulho dos trovoes e de turbilhão de águas. Chuva e mais chuva. A chuva fazia a vez de lamúrias de talvez um ente querido. Uma mulher, talvez. Quem sabe! A sua mulher. Talvez a sua mãezinha. Certa vez Policarpo chorou as lágrimas incontidas pela morte da sua esposa. Isso fazia longos anos. E nesse momento talvez os dois estivessem juntos. O padre na intensa chuva, debaixo de um pano estirado por cima para os mais favorecidos, rezava o oficio da morte e bendizia a urna onde repousava em paz o velho Policarpo. Choro se ouvia de parentes e amigos. Uma mulher chorava as mágoas de não poder estar presente na propicia hora do acidente fatal. Chuva e lágrima eram sempre presentes nos sepultamentos de entes queridos. Um clarim tocou a música do silencio para todos os presentes. Naquela hora era tudo momento de pura saudade e eterno pranto. De um lado estava o irmão do morto e a sua família e do outro estava apenas o seu filho, o jovem Deodato, o mais lamentoso de todos os presentes. O clarim tocava em um aceno de dor ao lado do realejo a impingir as mais dolentes notas de um acorde infausto. Até o derradeiro instante era o pranto derramado entre todos os presentes.




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