- Daniele Suzuki -
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O ENTERRO
A manhã chegou nublada. Ouvia-se
ao longo o roncar dos trovoes. Apenas os trovões! Nada de relâmpago. O vento
soprava de sul a norte com uma frieza imensa a chegar doer nos osso de velhas e
novas pessoas. Os vaqueiros, bem protegidos pela manta e cobertos pelo seu
gibão de couro curtido a suportar aos espinhos da caatinga não sentia tanto
frio assim. A véstia do vaqueiro era curtida de couro resistente. A sua couraça
era semelhante ao couro do gado. O gibão era todo fechado com cordões de couro.
Além disse os vaqueiros vestiam o parapeito a proteger o seu peito. Além do
mais era o vaqueiro vestido de calça, perneiras, luvas a cobrir as mãos e, nos
pes, as alpercatas simples. Para o dono da fazenda a questão era mais simples,
apesar de se vestir de tecido grosso. As moças trajavam vestidos soltos com uma
combinação e os atiradores, cada um, tinha as suas manhãs. Porém. No total,
estavam todos bem arrumados. Havia prenuncio de chuva e o coronel e deputado
Godinho estava atento olhando para o céu carrancudo e frio. Os andarilhos eram
os jagunços a passar de um lado para outro sem conversa e sem assunto. Apenas
passavam levando os seus trabucos. Logo cedo da manhã surgiu à porta a moça
Ludmila, toda protegida por um cobertor e olhou para o céu nublado e
feiticeiro. Apenas Ludmila comentou:
Ludmila:
--- Chuva! – e entrou para o
interior da casa.
No seu canto, a sentar no seu
acolchoado predileto, estava o pistoleiro Renovato Chulé a examinar a sua arma
Colt 45, tirando e repondo a munição do seu lugar e depois a fazer mira e rodar
o tambor para depois travar. Estava tudo bem, ele pensava. Nesse instante
surgiu no alpendre ao lado a garota Emília, coberta dos pés a cabeça e ficou de
perto de Renovato. O homem se assustou com tamanha travessura a mocinha.
Renovato:
--- Que susto! Não tem vergonha, não!
Vá fazer medo assim ao diabo! – reclamou Renovato cheio de pavor
A moça sorriu e então comentou:
Emília:
--- É o frio. Estou feia? –
indagou Emília ao rapaz.
Renovato olhou-a de seu modo e
declarou:
Renovato:
--- Está um monstro! Ora! Ora! –
relatou o pistoleiro
Emília:
--- Não diga assim. E não fiz por
mal. E eu tenho uma palavra para trocar com o senhor. – reportou Emília.
O cavaleiro olhou de novo
suspendendo o seu chapéu e voltou-se ao trabalho. Com um pouco de tempo falou.
Renovato:
--- Fale logo. Tenho pressa! –
detonou o pistoleiro a acertar a missa do revolver.
Emília:
--- Tem pressa que nada! Guarda
essa porqueira! Deixa em falar! – ressaltou Emília meio quente de raiva.
Renovato:
--- Porqueira não! Isso é minha
segurança! Eu que o diga! – reprovou o pistoleiro.
Emília:
--- É porqueira sim! Agora deixe
que eu fale! Você quer dormir em meu quarto? – perguntou a moça sem que nem
mais.
O rapaz se assomou de susto com
tal questão. E logo veio igual a um trovão.
Renovato:
--- Que? Você é doida? Eu dormir
em seu quarto! Nunca! Ora mais! Você é biruta! – relatou assombrado o rapaz.
Emília:
--- O senhor está com um
palavreado à toa! Eu perguntei se o senhor quer dormir em meu quarto! Foi isso!
– ressaltou novamente a moça.
O rapaz levantou a aba do chapéu
novamente e desceu a olhar para as suas armas. E falou!
Renovato:
--- Não! Estou bem onde estou! E
estamos conversados! – disse com brutal insolência o pistoleiro.
Emília:
--- Tá vendo! Tá vendo! – pondo
as mãos nos quadris – É o que a gente ganha quando se quer fazer um favor a um
degenerado que nem esse! - e batendo o pé da soleira do alpendre – Eu perguntei
se o senhor quer dormir! Eu não estou no quarto não! E eu nem vou lá para bem
lhe informar! Se o senhor prefere as vacas? Pois passe bem! – e saiu apressada
com os desaforos a sair ao longo do caminhar pelo corredor.
Nesse momento o pistoleiro
entendeu a pergunta e depois de alguns minutos se aproximou dele o pistoleiro
Otelo Gonçalves para lhe informar a boa nova:
Otelo:
--- Compadre! Tenho novas para o
senhor. A partir de agora nós estaremos acomodados na sala de hospedes da casa
grande como gente grã fina. – relatou Satanás a sorrir.
Renovato procurou chão nos pés
sem encontrar. E relatou em seguida:
Renovato:
--- Que? Foi o que Emília quis
dizer! Ah maluca sem meias palavras! Deixa-me pegar a danada! – relatou
Renovato e rodou nos pés saindo apressado em direção à cozinha da casa.
E lá chegando foi de encontro com
Emília e em vez de pedir desculpas ele foi a pedir licença e logo despachou
Emília. Mas ao mesmo tempo a reconheceu e voltou-se para Emília a dizer
palavras desconexas querendo exprimir as suas desculpas.
Emília:
--- Ah! Agora já quer né? Eu bem
podia jogar o senhor nos chiqueiros dos porcos! Ora mais! E não devia não dar
mais o quarto para o senhor! Umpf! – fez a moça por arrogo.
Tudo feito e o desaviso mostrado
o rapaz caminho para o seu quarto especial onde poria seus petrechos a toda
guarda. Uma vez ter ele entrado e se encontrou com Ludmila. Essa não vez por
menos: sorriu a valer pelas travessuras feitas por Emília. O rapaz não entendeu
patavinas do ocorrido e entrou no novo quarto.
O tempo se fechou inteiramente por
completo com relâmpagos e trovoes atormentadores. A chuva era torrencial As
biqueiras jorravam água a todo minuto! Cavalos e gados estavam nas suas
cocheiras. Os vaqueiros a gritar:
Vaqueiros:
--- Haja chuva! Tempo bom de
inverno! Uip! – gritavam os vaqueiros.
No meio de toda a alarmante
ventania, de muito longe se ouvia um som de um realejo a tocar uma triste
melodia como sinal de eterno lamento. Era uma perene e imortal marcha fúnebre.
Da fazenda de Severino Policarpo vinha o distante som em meio o barulho dos
trovoes e de turbilhão de águas. Chuva e mais chuva. A chuva fazia a vez de lamúrias
de talvez um ente querido. Uma mulher, talvez. Quem sabe! A sua mulher. Talvez
a sua mãezinha. Certa vez Policarpo chorou as lágrimas incontidas pela morte da
sua esposa. Isso fazia longos anos. E nesse momento talvez os dois estivessem
juntos. O padre na intensa chuva, debaixo de um pano estirado por cima para os
mais favorecidos, rezava o oficio da morte e bendizia a urna onde repousava em
paz o velho Policarpo. Choro se ouvia de parentes e amigos. Uma mulher chorava
as mágoas de não poder estar presente na propicia hora do acidente fatal. Chuva
e lágrima eram sempre presentes nos sepultamentos de entes queridos. Um clarim
tocou a música do silencio para todos os presentes. Naquela hora era tudo
momento de pura saudade e eterno pranto. De um lado estava o irmão do morto e a
sua família e do outro estava apenas o seu filho, o jovem Deodato, o mais lamentoso
de todos os presentes. O clarim tocava em um aceno de dor ao lado do realejo a
impingir as mais dolentes notas de um acorde infausto. Até o derradeiro
instante era o pranto derramado entre todos os presentes.
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