- Liu Yifei -
- 01 -
O INÍCIO
O ônibus já estava chegando ao
centro da cidade trafegando por uma única pista após mais de doze horas a rodar
pelo morno sertão nordestino. Mulheres, homens, moças, rapazes, crianças até
mesmo de colo já estavam exausto pela demora do carro a transitar pelo chão de
barro creio de cratera do interior. As crianças choramingavam por tudo e por
nada e as mães davam de mamar aos meninos carentes de mais afeto. Algumas
mulheres já quase todas assanhadas cochichavam com seus maridos pela demora do
carro chegar de vez ao terminal. Outras poucas mulheres a conduzir seus
rebentos reclamavam estarem presas de gases e não viam a hora de descer para
fazer as suas necessidades. O carro ainda a correr e a passar por casas nobres
e pessoas ricas era tudo o de se ver.
Meninos a correr de um lado para outro cheio de alegria e contentamento.
Uns gritava para outros. Uma moça talvez acenando ao namorado. E com beijos
dados a sorrir. O calor da tarde aquecia ainda mais o desespero dos viajantes. Isabel, bela e faceira, a dormir ou fazer de
conta de dormir, com a cabeça pendida no encosto do banco de viagem nada
reclamava. O guri, logo atrás, rompeu num pranto, como se tivesse assustado ou
qualquer coisa desse tipo. A sua mãe o acalentava terno nos braços a lhe tecer
conselhos de afago. O sol da tarde batia forte no interior do carro como um cão
danado. Em seu sacolejar na estrada quente e macia o carro nada era de
conforto. Um cortejo fúnebre seguia percurso em sentido contrario pela igual
rodovia. Isabel abriu um olho e viu o carro negro recoberto de flores e
grinaldas. Outros carros seguiam o primeiro. No interior do segundo carro, a
moça vislumbrou a figura de uma mulher toda coberta de luto a consolar por
outra mulher, talvez filha. O sacolejo do ônibus deixou passar os outros
carros. As pessoas eram todas cobertas de luto. Isabel fechou de novo o olho.
Ela estava com sono, com fome, com sede e com amargura para tudo. O sacolejar
do carro apenas lembrava a dor de um amor distante. Esse amor tivera igual
final de féretro passado. Um garoto no carro espirrou. Foi um espirro forte. A
mãe limpou o nariz da criança com um pano. Isso tampouco assustou Isabel. O trafego de veículos aumentava a cada
momento e com isso a jovem já estava de chegar a alguma pensa de cobrar menor
preço. Nos hotéis de luxo, isso ela não queria nem pensar. Tudo era coisa de
gente milionária. A cidade era até pequena pelo que Isabel pode observar na
verdade. Com a cabeça deitada no banco do ônibus ela apenas conservava um olho
meio aberto para observar por onde o veiculo transitava. A choradeira dos
meninos nem um pouco a incomodava. Isabel esperava um transporte para qualquer
lugar desde as cinco horas da tarde do dia anterior. Ela saiu de casa, às
escondidas, pulando a cerca de varas e saindo até a casa de outra mulher quase
vizinha depois do ataque do seu padrasto para fazer sexo com a jovem. Isabel se
defendeu enfurecida e fugiu momentos depois levando maca com peças de roupas,
rede, cordas, perfumes e coisas de mulher. A sua mãe não estava e mesmo se
estivesse nada faria em sua proteção. Enfim, a mulher, inda moça, relatou à
razão de sua fuga a outra mulher e dizendo ter de ir para a estrada onde
tomaria um ônibus para qualquer lugar não importasse qual. Apenas surgiu um ônibus
muitas horas mais tarde. Isabel, solitária, com lágrimas nos olhos, de raiva ou
de dor, atentando a esmo, apanhou o veículo sem saber mesmo para onde era o seu
destino ou qual percurso o carro seguia. Sem noção das horas perseguidas ele
viu a cidade como um todo, o caminho, as casas, as ladeiras, as ruas, e, por
fim, a estação derradeira. Foi então ter ela despertado do seu pesadelo. A
observar desventurada ela estava em alguma cidade do nordeste. Olhou bem para o
pessoal a descer. Homens, mulheres, moços e moças e também crianças. Uma das
crianças chorava demais com a sua mãe a limar o nariz do seu filho. Isabel
desceu um pouco mais atrás e chegou ao motorista do veículo a perguntar qual
cidade era aquela. O motorista respondeu e a moça desceu para pegar a maca de
viagem do lado de fora do carro. Muita gente a transitar no vai e vem de quem
chega e quem sai. Ela ficou a admirar as casas comerciais e por fim, perguntou
a um rapaz ali posto onde tinha uma pensão para alugar quartos. O rapaz
informou, mas olhando a mulher de cima a baixo voltou a dizer.
Rapaz:
--- Ali tem uma mulher que aluga
quartos! A moça pode procurar! Deixa-me levar a maca! – respondeu sorrindo o
rapaz a Isabel.
Ela sequer fez objeção. O rapaz
pôs a maca na cabeça e rumou em direção ao local indicado tendo a moça a
perguntar se o preço era alto. E rapaz não sabia, mas todas as mulheres
hospedadas no local nunca reclamaram de coisa alguma. Os carros passavam em
vertiginosa correria entre populares a transitar de um lado e outra das calçadas
numa presa infernal. Isabel, totalmente suada gostaria de ter um banho, trocar
de roupas e tomar algo melhor para pôs de vez o fim à fome. Ela contou o
dinheiro e viu quanto era afinal. Pôs a mão no peito para ter certeza de estar
guardado um pequeno punhal. Isabel trazia o punha para onde seguia. Foi um
presente do seu homem, morto meses atrás em uma contenda com um simples
inimigo. O rapaz dito homem levou apenas uma cutilada de faca e morreu. Isabel
vivia em comum com esse homem há alguns anos. Os dois foram criados quase
juntos. O namoro foi apenas uma questão de tempo. Ela se juntou ao rapaz. Ainda
a moça teve um filho e não escapou por conta de uma doença não sabida.
Pessoas:
--- Ele está com morfeia. - dizia alguém.
Outras:
--- Que morfeia? Isso é doença de
gente grande. Um purgativo é o remédio! – outro falava com a cara fechada.
Isabel costurava para os clientes
de melhor renda e fazia produtos como os de milho, goma seca e molhada, bolos
até mesmo os de casamentos. Na verdade, se não tinha dinheiro era porque
raramente o pessoal pagava pelas costuras. A vendagem de produtos comestíveis
era de pequeno lucro, quando não tinha a menor renda a receber do que era
feito. Assim era a tão mal vivida a de
Isabel ainda moça de seus 15 anos.
Ao chegar à casa de alugar
quartos, Isabel pegou a maca e agradeceu ao garoto procurando então saber de
quanto se pagava por um aluguel. A mulher atenciosa lhe foi dizendo ser uma
paga insignificante, pois naquele lupanar somente se ajeitava quem tinha a
maior necessidade de ficar. Com tal explicação dada à moça já ficou de orelha
em pé. Nesse momento, uma desorganização tomou conta de imediato da pensão
lupanar. A moça encostou-se ao balcão enquanto uma das tais mulheres da vida
rezingava com um homem por motivo de dinheiro. Era uma briga cruel de negócio
por sinal não bom. A da vida respondia com ênfase ao gigolô da maneira a mais
severa. Isabel ficou a olhar aturdida com aquele desentendimento.
Mulher:
--- Você está pensando o que? Que
sou como as outras? – dizia a mulher toda em desaforo.
Gigolô:
--- Pra mim você é uma puta! –
respondeu o gigolô com muita raiva.
Nesse ponto a mulher arrastou um
canivete e soltou a faca do mesmo desferindo golpe na barriga do gigolô a dizer
com severidade.
Mulher:
--- Sou puta, mas me honro! –
respondeu a mulher tentando furar mais o gigolô.
Nesse ponto, a dona do bar, os
garçons e demais pessoas acudiram o gigolô enquanto a mulher da vida tentava
sair para pegar o seu caminho pela calçada da rua. Quem estava por perto não fez
nem sinal em deter a mulher, pois dessas arruaças era comum ocorrer no recinto
quer de noite, quer de dia. A dama saiu e começou a correr enquanto aperreado o
gigolô ferido procurava estancar o sangue da barriga pondo um lenço em cima e a
gritar de dor. Ele dizia impropérios para a mulher enquanto outras damas
passavam e olhavam sem dizer nada. Apenas duas delas sorriam e diziam.
Damas:
--- Olhe! Vá se meter com Laura!
Ela não leva desaforo pra casa nem um tico! – falou com desprezo a dama da
sala.
E logo a dama se sentou em uma
cadeira posta ao leu para quem quisesse sentar. Outra dama se aproximou da mesa
e olhou com certo desprezo para a nova candidata a chegar. Ouvindo e vendo tudo
isso quando nem menos chegava, Isabel arrumou a mala e saiu do recinto. E nem
deu ouvido a dona do bar quando essa falou:
Dona do Bar:
--- Ei, Moça? E o quarto? –
gritou a mulher para Isabel.
Essa não respondeu ao apelo e
pegou a calçada do bar indo à procura de outro local onde pudesse repousar com
maior tranquilidade. O caso a dama e do canivete lhe deixou bastante
apreensiva, pois não sabia então por onde caminhar. A maca estava pesada por
demais e na rua passavam transeuntes indo e vindo com maior pressa notando a
presença de Isabel como uma pessoa a mais. Nesse instante, um homem bem trajado
se acercou de Isabel. Após lhe cumprimentar indagou se a moça estava procurando
algum lugar para morar. Isabel, meio estonteada não soube nem mesmo o que
responder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário