- Zhang Ziyi -
- 50 -
SUSTO
O Coronel Godinho mancando de
chinelo talvez por causa da subida e descida dos palanques eleitorais, caminhou
até o seu quarto onde depois saiu meio aturdido pelo sono fora de hora enquanto
coçava a cabeça de cabelos já quase todos brancos e entrou na privada. Ali
demorou o instante necessário para cumprir suas obrigações e voltou a andar
meio manco, com a cara abusada à procura de mulher. Cantidia Marques estava na
cozinha a preparar o almoço. Ele encontrou a sua senhora e indagou se esteve
alguém a sua procura nas últimas horas.
Cantídia:
--- Aqui, não. Só se esteve lá
fora! – respondeu a mulher um pouco abusada.
O homem retrocedeu e caminhou
para a sala de despachos onde se sentou de forma sem jeito e abriu a boca como
se o mundo estivesse pedindo socorro. O Coronel ficou então em alguns instantes
até notar um bilhete dobrado em cima do birô. Ele se curvou e pegou o papel. De
imediato ele leu o conteúdo. Tudo apenas levava ao já imaginado: Odisseia.
Desde moço, quando ainda era rapaz, ele conheceu Odisseia, uma garota
extraordinária por todos os encantos dotados. Meiga, bela, sensual, alva,
esbelta entre outros predicados. Ele se então do principio se apaixonou por
Odisseia, filha do Professor. Apenas um, porém: o pai da virgem não quis o
namoro da sua filha com Marcolino Godinho. Após varias conjecturas, os dois
arquitetaram uma fuga. E assim foi feito. Para o Professor, o destemor dos dois
foi algo imperdoável. Passaram-se uns dias até os dois reaparecerem: Odisseia e
Marcolino. O pai de Odisseia prometeu vingança a Marcolino. E dai então nunca
mais houve paz entre Marcolino e o Professor. Tempos depois, Marcolino se
engraçou de outra donzela. Apenas havia um destaque nesse namoro: a donzela era
namorada de outro rapaz de nome Severino. Mas, conversa vai, conversa vem, a
moça de nome Cantídia aceitou ser namorada do rapaz Marcolino e deixando de
lado o jovem Severino. Foi então nova contenda. Com isso, o jovem Marcolino
estava jurado de morte por duas partes: o Professor e o jovem Severino. E essa
intriga durou a vida toda. Quando o Professor perdeu a filha, Odisseia, casada
com o jovem Severino, namoro arranjado pelo próprio pai, então o Mestre entrou
em desespero total. A filha querida estava morta. Contudo a raiva ferrenha do
velho Professor continuava a queimar até um dos dois morrer: o Professor ou o
velho Marcolino Godinho agora casado com dona Cantídia moça de boas prendas. A
situação atingiu o ponto de ambos decidirem matar ou morrer um dos dois naquela
hora no lugar marcado de Serra das Almas, nascente do rio da Conta, lugar ermo
de todos os viventes daquele lugar. E o dia marcado foi o por do sol com a lua
cheia, sem testemunhas para qualquer lado. Apenas o professor e o Coronel.
As senhoras Ludmila e Emília
ficaram atentas ao movimento do velho Coronel Marcolino Godinho nos próximos
dias. A lua clareava boa parte do campo quando já era noite. Mesmo sem saber o
motivo da vingança e por quem, elas pelos menos sabiam quando se daria o
deflagrar do fogo cruel. Os dois homens teriam de conduzir seus rifles com uma
bala. Quem acertasse no outro sairia vitorioso. E se não atingisse um no outro
com ferimento de morte sabe Deus o que aconteceria. Esse foi o acerto fatal e
final.
Enquanto isso, uma surpresa de
entorpecer a alma de cada qual. Uma jovem com roupas simples, cabelo curto, tez
formosa, estatura nem baixa e nem alta chegou sorridente, correndo por assim
dizer, ao alpendre da casa grande onde estavam Ludmila e Emília e parando em
seguida de uma forma estonteante onde seus braços sacudiam para frente e para
traz, típico de quem está a correr. Ao parar de repente, ainda esfogueada, a
visitante, a sorrir apenas disse as duas senhoras moças:
Visitante:
--- Olá! Estou morta de cansada!
Como vão vocês? –indagou a moça a sorrir.
Ludmila:
--- Bem! Mas quem é você? – quis
saber assustada a senhora Ludmila.
A moça soltou uma bela gargalhada
dessas onde as pessoas quase morrem de susto e voltou a comentar.
Visitante:
--- Não de reconhece? Estou tão
mudada assim? – sorriu a moça – Eu sou Isabel! – e gargalhou em seguida para as
duas senhoras moças.
Ludmila/Emília:
--- Isabel! Como você está
diferente! Sem roupa! – disseram as duas amigas.
E Isabel continuou a gargalhar a
ponto de se urinar na roupa. Após esse espaço de tempo, ela voltou quase ao
normal declarando.
Isabel:
--- Deixei o hábito! Larguei
tudo! O amor falou mais alto! Vim buscar o meu amado Júlio! Confesso que foi
isso e nada mais! – disse Isabel a gargalhar.
Ludmila/Emília:
--- Júlio Vento? O pistoleiro? – falaram as duas senhoras cheias
de inquietação.
Isabel:
--- É isso! Pistoleiro ou não é o
homem que me satisfaz. Ele está? – indagou Isabel preocupada e cheia de temor.
Ludmila;
--- Ele está no quarto do motor.
Mas duvido que a reconheça! Nossa Mãe! – declarou Ludmila com a mão na boca e
seguida também por Emília.
Isabel:
--- Seja o que Deus quiser! Vou
ver a fera! – gargalhou a ex-Noviça esse encaminho para o quarto da maquina de
força.
E as duas senhoras, Ludmila e
Emília também seguiram a ex-Noviça para ver o que resultava o encontro dois
amantes por assim dizer. Era uma risadinha pra cá e outra risadinha pra lá com
as duas senhoras inquietas por demais a percorrer o alpendre e depois descer o
batente, em uníssonas parecendo máquinas a vapor, quando um gancho desce o
outro desce também e assim eram s duas senhoras logo atrás da ex-Noviça a cair
na risada com seus braços a sacudir o vento para cima e para baixo. As mulheres
da cozinha vendo tal desespero declararam também em uníssonas:
Mulheres:
--- Vai haver guerra! – disseram
todas de uma só vez,
E com isso as mulheres
engrossaram o calmo e todas seguiram para o quaro da máquina para ver o tal
desfecho. Vieram também as mulheres dos vaqueiros, os vaqueiros e os jagunços
para ver o desandar da carruagem, ou seja, o encontro de Isabel Júlio Vento. Era uma celeuma total aquela da
tarde do dia da união ou não das duas peças dessoldadas. Até o velho Chico
também se virou de onde estava e, com a sua concertina, correu para ver de
perto Isabel e Júlio. Foi uma algazarra geral com o povo a marchar todos em grupos
e todos de ombro a ombro, uns com trajes de cozinheira, outros com trajes de
vaqueiros. As mulheres dos vaqueiros com qualquer roupa e a segurar os meninos
no colo. Outros meninos a caminhar à frente; e os jagunços a tirar o chapéu e a
gritar palavras apenas entendidas por eles. A concertina do velho Chico a tocar
melodia sem se saber a qual era a mais animada do trajeto. Enfim o encontro;
Isabel e Júlio. O homem ficou perplexo com tamanha atitude da moça e voltou de
imediato a perguntar com as mãos e a roupa cheia de graxa:
Júlio:
--- Que diabo é isso? – indagou
assustado no interior do quarto da maquina de força.
Em cima da hora a moça se atracou
com Júlio e deu-lhe um forte beijo na boca chega às pernas se ergueram em
uníssonas pondo o homem ao desequilíbrio quase a cair para trás com seus olhos
esbugalhados de temor. A máquina de força, parecendo sentir o efeito da emoção
de Isabel largou um apito ensurdecedor de dá dó no coração. E a concertina
emendou tal clamor a tocar um rasqueado para todos os presentes. E a dança daí
continuou. Gritos de alegria por todos os circunstantes. E Isabel, anda ébria,
disse apenas a tal frase:
Isabel:
--- Vamos dançar gente! – disse
alegre a ex-Noviça.
E daí o concerto prossegui tarda
a fora como todos a dançar os folguedos do sertão seco e arredio para quem
pudesse ver. Era folia a todo custo com a gente a dançar, voltear, cantar e
saltitar de alegria. E foi nesse instante de contentamento quando um vaqueiro
surgiu em plana algazarra. E o vaqueiro procurou Ludmila para falar.
Vaqueiro:
--- O coronel debandou! – relatou
em segredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário