De fato o Coronel Marcolino
Godinho não soube bem o que ouviu do Professor a lhe falar aquela frase um
tanto obscura. E por isso ele não deu tanta importância. No calor de um duelo,
os beligerantes costumam a soltar frases sem nexo. Ou talvez o Professor
estivesse mesmo a dizer o que falou ou mesmo pronunciou. Ele era um homem
conhecedor capaz de soletrar palavras desconexas para os demais. Porem a frase
de nada adiantou para o Coronel Godinho. O homem, apenas com sua arma posta nos
peitos deitou de imediato de uma forma vagarosa para o chão duro da serra. E
então, ao mesmo tempo, falou:
Coronel:
--- Professor! Eu sei ser um
senhor um homem deveras culto! E com isso, não é a pessoa vinda de por conversa
fora. Eu sei disso. Muito bem! Mas me conserve um pouco de vida enquanto lhe
falo sobre algo! Talvez, e com certeza, o senhor sabe de tudo e um pouco mais!
Talvez! – falou calmo o Coronel, homem de assombrosa estatura e um porte físico
espetacular.
O coronel pôs-se a ouvir o falar
do coronel com seu rifle cruzado no peito. E em certo momento, já deixando a
pedra em que ficou a sentar, falou serio e alto.
Professor:
--- Diga logo o que tem a dizer e
vamos parar de conversa! – falou ele de forma estupida.
O coronel fiou serio e então
falou:
Coronel;
--- Está
vendo essa pedra na qual o senhor estava a sentar? – e apontou com a outra mão
a pedra pequena onde o Professor esteve a sentar. – Pois bem! Faz muito tempo o
que te vou falar! Era tarde! O sol se punha como agora! A Lua Cheia já estava
no seu caminhar. Uma lua enorme! Se bem me lembro, até maior do que essa! – e
apontou a lua – Foi um dia de muita correria entre eu e Odisseia! Ela já estava
bastante cansada! E eu também! Nada sabíamos de futuro ou qualquer coisa!
Apenas queríamos descansar de tanta tormenta! Odisseia, nessa ocasião, talvez
lembrando o seu passado de poucos anos, me contou essa história! Ela estava com
a sua mãe já para morrer. Somente Odisseia e Helena. Dona Helena! Que Deus
tenha as duas em seu solar! - completou
o velho Coronel retirando o chapéu e baixando a vista. – Tudo que eu vou dizer
foi Odisseia quem me falou. Ela era uma menina de seus dez anos! A mãe de
Odisseia lhe contou algo surpreendente naquela ocasião para a menina! – fez ver
o coronel com a sua boca seca sem ter nem saliva para cuspir.
...
Helena:
---
Minha filha! (cansada) O que vou te contar é apenas para você saber! –
(cansada) – Eu era ainda moça. Tinha os meus vinte anos. Aqui no sertão, já
quem tem vinte anos (cansada) parece ter muito mais. (cansada).Os mais velhos
contam ter isso tudo ser de mais. (cansada). Eu, naquele tempo me apaixonei por
um homem. Ele não tinha nada para dar. (cansada). Somente o que o rapaz possuía
eram suas duas cartucheiras carregadas de balas. (cansada). E dois revolveres.
Isso, e nada mais. (cansada). Nós nos casamos na Igreja e ele seguiu a vida que
Deus lhe deu. (tosse). Sempre voltava para casa, quando não tinha o que fazer.
(tosse). E era tão pouco o que fazer por essas bandas. (ansiando). Ele matava
as pessoas inimigas de alguém. Era pistoleiro, por assim dizer. (tosse). Um
dia, pouco antes do almoço. ..(tosse-tosse). Ulisses estava em uma bodega da
Vila quando entrou um homem com roupa de vaqueiro. (tosse). O homem, forte,
cabelos lisos, pele clara, dois revolveres se enfurnou até o balcão. (tosse). O
homem pediu uma bebida e um prato. O dono da bodega serviu de imediato.
(ânsia). Então o homem foi para uma mesa esperar o prato. E chegou logo! Ele se
pôs a comer! (tosse). Foi então que Ulisses se meteu na conversa. Ele perguntou
ao forasteiro:
Ulisses:
---
Posso me sentar na vossa mesa! – indagou com voz forte.
Forasteiro:
--- Não!
– respondeu o forasteiro.
Ulisses:
--- Por
que não? O senhor é o dono da mesa? – indagou o rapaz de forma de briga.
O homem
olhou para Ulisses e nada respondeu continuando a comer o seu guisado.
Instantes depois o homem respondeu:
Forasteiro:
--- Só
quando eu acabar. – disse o homem a comer seu guisado.
Ulisses
ficou nervoso e chamou o homem para um duelo. O homem nada respondeu. Então
Ulisses chutou um banquinho de madeira e foi logo a dizer.
Ulisses:
--- Pois
se prepare para morrer! – e sacou de sua arma para atirar no forasteiro.
O
forasteiro foi mais rápido e disparou dois tiros nos peitos de Ulisses. Esse
desandou e caiu em cima de um saco de farinha tendo morte imediata. O
forasteiro olhou para um lado e para outro e como ninguém na bodega reagiu ele
se pôs para fora onde pegou a sua montaria. Era passada quase uma semana da
refrega quando o homem apareceu na casa de Ulisses. Olhou bem para Helena e viu
a barriga crescer. Ela estava grávida de dois meses. E o forasteiro falou
ditando o seu nome e a perguntar se a mulher tinha parentes por aquela região.
Helena de nada responde e apenas indagou com a cara atrevida a estender a roupa
no varal:
Helena:
--- Que
é que o senhor quer aqui? Não já basta o que fez? – falou a mulher com muita
raiva.
Forasteiro:
--- Eu
quero pedir desculpas à senhora. Mas foi o seu marido quem me provocou. –
respondeu o forasteiro.
Helena:
--- Não
tenho nada com isso! Vá embora! Suma da minha frente! – reclamou a mulher cheia
de ira.
O
forasteiro ficou na incerteza de Helena talvez porque a mulher estivesse
gestante e ele seria a culpa de tudo o acontecido. Finalmente falou a mostra a
sua barriga:
Forasteiro:
---
Quantos meses? – indagou o forasteiro montado em seu cavalo e de braços
cruzados sobre a cela da montaria.
Helena
baixou a vista para o ventre e depois de algum tempo respondeu:
--- Dois
meses! Tenho mais o que fazer! – e pegou a bacia de roupas e se pôs a sair.
O
forasteiro se antecipou e logo apressou a pergunta.
Forasteiro:
--- A
senhora já tem nome? – indagou o forasteiro apontando o ventre da mulher
A mulher
ainda olhou para ele e declarou:
Helena:
--- Nem
tenho e nem sei se vou ter. Boa tarde! - - disse a mulher e foi saindo para a
cozinha da casa.
O homem
volteou em seu cavalo de acercou da cozinha ainda em sua montaria.
Forasteiro:
---
Espere moça. Só mais um instante. A senhora aceita casar comigo? – perguntou o
forasteiro de uma forma leve.
Helena
escutou bem o dito pelo homem e se voltou como se tomada de espanto:
Helena:
---
Espere aí! O senhor mata meu homem e vem me pedir em casamento? Estou cheia
dessa conversa. Até nunca! – disse a mulher de dentro da cozinha com a bacia ao
lado.
Forasteiro:
--- Mas
é certo. Pelo menos eu dou
um nome ao seu filho. Se isso for importante. – refletiu o forasteiro.
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