- Lua Blanco -
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SENADOR
E outro dia, no fim de semana, o velho Coronel Godinho estava a se divertir com as peraltices dos seus bezerros a trocar marradas umas contra o outro. E com ele estavam Otelo Gonçalves, Júlio Medalha e Antero Soares. Os bichos brutos nem ao menos pareciam tão brutos assim. Eles se divertiam com as marradas e o velho Coronel também tendo por companhia os três homens da fazenda. Além dos três tinham mais os vaqueiros e os jagunços. Os bezerros a darem marrada uma contra o outro e os sorrisos do coronel deliciavam a maioria dos assistentes para não dizer, todos os presentes. Foi nesse instante, de surpresa, a chegar ao alpendre da casa grande a filha Ludmila querendo saber quais graças os bezerros faziam:
Coronel:
--- Marradas! – e sorria como que.
A moça ficou a olhar por pouco tempo e de imediato logo falou de forma firme e resoluta.
Ludmila:
--- Meu pai. Deixando os bezerros de lado, vamos conversar coisas mais sérias. – falou a moça.
Coronel:
--- Ótimo! O que, por exemplo? – indagou sem perder a vista dos bezerros.
Ludmila:
--- O que, por exemplo: o meu casório. Isso é muito mais importante! – respondeu a moça um tanto intranquila.
Coronel:
--- Quem é que vai casar contigo menina? – zombou o coronel da própria filha.
Ludmila:
--- Meu pai! Escute aqui! Eu não estou pra zombarias! Eu já tenho um noivo e ele vai querer casar logo! E o senhor dá logo a minha mão ou não? – indagou muito irritada a moça ao bater no chão com o pé.
Coronel:
--- Ora menina! Tu levas jeito em casar? Deixa isso pra quem pode! E que noivo é esse que de doido só falta às calças? – sorriu o coronel ao responder.
Ludmila:
--- Olha meu pai! Eu não estou de prosa! O meu noivo está aqui na vossa frente! – falou a moça e partiu para segurar pelo braço Antero Soares, o homem do punhal, também chamado de Foguetão.
O homem, assustado com aquele inusitado instante ficou assustado por ser ele o escolhido pela moça Ludmila. E do seu modo procurou se esquivar. Mas a moça sustentava o braço do rapaz com toda força e coragem. A seguir Ludmila bateu com o seu pé no pé de Foguetão. E a atitude da moça deu uma dor terrível para que tivesse calo seco. O rapaz ficou a pinotear com um único pé.
Coronel:
--- Esse é o escolhido pela filha do coronel Marcolino Godinho? – quis saber assustado o homem rude do campo.
Ludmila nem ligava para a dor de Antero em seu dedo mindinho do pé e disse de uma só vez.
Ludmila:
--- É esse sim meu pai. (e olhou para Antero e lhe estendeu a mão direita com a cara bem trancada) – Pede a mão a meu pai! Avia! Logo! Não tem o que perder! – falou zangada a moça
Antero:
--- Mas eu, sinha dona? Eu? Logo eu? – falou Antero pinoteando de dor.
Ludmila:
--- Avia logo ou senão te dou outra canelada! Pede! – e ficou sisuda para o pai.
Antero:
--- Mas coronel, eu nem pensava nisso. ... – falou Antero quando sofreu outro pisão.
O homem se torceu de dor com o novo pisão de Ludmila e não se conteve então para pedir a mão da noiva entre lágrimas a rolar pela face.
Antero:
--- Tá certo! Eu peço! Se a senhorita quer, está pedida vossa mão. – falou manso o homem.
Coronel:
--- O que foi homem? Vosmicê quer casar com essa doida de varrer casa? – indagou irritado o velho.
Antero:
--- Se ela quer coronel? O que eu posso fazer? – perguntou Antero mancando do seu pé.
Ludmila:
--- Eu quero é? E quem fez aceno pra mim? – perguntou irritada Ludmila.
Antero:
--- Eu fiz aceno? – indagou Antero sem saber.
Outra pisada no pé do homem do punhal! E esse se esticou em dor. Com seus ais, ai, ai. E ele não teve outra saída a não ser concordar.
Antero:
--- Tá certo! Eu caso! Mas só essa vez! – respondeu o homem atormentado de dor.
Ludmila:
--- Só essa vez é? – falou a moça agarrando o braço do homem com poder mais forte.
Coronel:
--- Tá bem. Tá bem. Vocês se casam no fim da semana que vem! – resolveu o coronel apartando a guerra entre noivos.
Então, o homem da sanfona não largou o fole e puxou a concertina numa música capaz de todos poderem dançar. E foi baile assim por diante. Antero com o pé quebrado a dançar de qualquer forma com a sua pretendente noiva.
Nesse momento de alegria e descontração chegou um carro na fazenda do coronel Godinho com três homens. Dois deles muito bem armados. Os dois desceram do carro e abriram a porta para o terceiro homem. Cassimira bem ao gosto dos três, e o homem desceu do carro oficial, placa do Governo do Estado. Ele se aproximou do Coronel Marcolino Godinho, fez a festa a cumprimentar o homem forte da fazenda e foi logo a dizer.
Homem Um
--- Coronel! O governador pede a vossa presença em sua casa ainda hoje! – destacou o homem sem meias conversas.
Coronel:
--- Ainda hoje? Como é que pode? Nós estamos no final de semana e eu estou com um casório marcado! – relatou meio assustado o Coronel Godinho.
Homem Um:
--- É do vosso interesse, coronel. O governador está esperando a vossa visita! – destacou o homem bem vestido.
Coronel:
--- Danou-se! Se é assim pode voltar e logo dizer que eu chego já! – respondeu o Coronel ao homem de terno de cassimira.
O carro seguiu com pressa e se perdeu de vista no barro da fazenda. O Coronel chamou de imediato o seguidor Otelo Gonçalves e mandou ver o seu carro para se por da estrada. De imediato, Júlio Medalha foi dizendo:
Medalha:
--- Coronel! Eu sendo o senhor levava mais pessoal. Tem um moço que eu já topei parada com ele. E ele estava entre os dos pistoleiros do Governador! – falou sem assombro o valente pistoleiro Medalha.
O Coronel Godinho ficou a pensar e logo determinou:
--- Nós vamos por outra estrada! O senhor também vai comigo! E Foguetão! Vamos partir! – disse o homem com voz firme.
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