domingo, 20 de maio de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 51 -

- Jiang Yi Yan -
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DUELO
A senhora Ludmila foi tomada de surpresa com a informação prestada pelo vaqueiro.       Era um assunto trancado a sete chaves e, no entanto vasou sem se saber por que. Ela não entendeu de qual forma o vaqueiro veio lhe dizer tal assunto. Mas, de qualquer forma agradeceu a sua presteza. O que mais inquietava a Ludmila era seguramente à forma de um vaqueiro saber de pormenores, embora não tenha ventilado tanto assim. Uma coisa era certa; seu pai saiu para um duelo ao por do sol. Disso a senhora tinha toda a certeza. De um modo ou de outro o vaqueiro era sobremaneira astuto de contar o tal segredo apenas a senhora Ludmila. Contudo podia ele até contar sobre o assunto a alguém mais. No vexame seguido Ludmila teve a pressa de chamar Emília e prestar contas do sabido. Então era a vez de partir atrás do seu pai aplicando toda a pressa. A senhora Ludmila chegou a pensar em chamar o vaqueiro para essa missão, mas deu de lado. Por isso indagou de Emília sobre a questão.
Emília:
--- É melhor chamar o homem. Eu tenho certeza de que o Professor não está só nessa empreitada. Só? Ele não está! – falou convencida a dona Emília.
Ludmila:
--- É bom mesmo. A gente chama o vaqueiro! Afinal, a senhora tem toda a razão! Além do mais eu e vossa mercê vamos seguir por outro caminho. O trato foi bem urdido pelo Professor. – falou afinal a senhora.
E as duas senhoras seguiram com mais o vaqueiro conhecedor da mata da inóspita região e as caatingas existentes em toda capoeira e então fincaram o pé em busca de ajuda ao Coronel Godinho, homem forte e corajoso sem temer alma penada. O Coronel era alto de quase dois metros de altura, busto agudo, barba por fazer, cara redonda e encruada para se dizer bem feia, olhos agudos, mãos firmes, barriga ampla tal e qual um criador do sertão. Na verdade o homem dava medo de se ver. A sua fala era grosa e vagarosa, movia o pescoço para um lado e para o outro, vestia roupas sertanejas e a cavalgar, era um verdadeiro monstro a sentar em uma cela. Suas pernas grosas eram o complemento daquela figura de pouca conversa. As duas senhoras mais o vaqueiro truculento caminhavam a toda pressa pelas veredas do sertão se encobrindo dos estradeiros, homens fortes e destemidos.
Com pouco tempo das duas senhoras saírem, uma voz se fez presente: era o atirador Júlio Medalha. O homem estava aos braços da donzela Isabel quando notou, por um caso ou por outro da ausência de ambas as senhoras. Então. Nem pensado mais de um segundo, Júlio um tanto desajeitado para conversa com a namorada estalou o chicote a procura das duas senhoras. Antero Soares levantou a vista e viu Medalha a correr deixado de lado a sua namorada. E pegou também o chicote, se amontou em seu cavalo e fez fica pé em direção ao outro cavaleiro. Em seguida, Otelo, que esteve a dormir e acordou com a fuzarca feita pela noiva, não contou dois e se montou em seu cavalo seguindo imediatamente para ver se encontrava os demais. O povo da fazenda, todo assustado, ficou sem saber o que contar um ao outro. Isabel ficou plenamente entristecida e de certa forma com bastante raiva. A moça foi largada no ímpeto de suas emoções por um cavaleiro sem rumo ou noção.
Isabel
--- Droga! Que Diabo é isso! – bateu Isabel com o pé no chão.
Mulher;
--- É o emprego dele minha filha. Não tem hora para sair e nem para chegar! – respondeu a mulher
Isabel:
--- Droga! Droga! Droga! Isso é o Demônio! – reclamou a moça desesperada com a boca trincada de tanto ódio.
Homem:
--- E Freira diz isso? – perguntou um homem alarmado
A sanfona do velho Chico fez um acorde para baixo como se quisesse dizer: tudo estava terminado.
Os cavaleiros não tinha noção do acontecido. Apenas seguiu na carreira, um distante do outro. Ao passarem pela porteira do cercado o homem estava postado e olhou com olhos firmes a dizer:
Homem da porteira:
--- Danou-se! É o mundo todo! – falou perplexo o vigia do momento.
Ele não teve nem tempo de fechar para um e para outro, pois a perseguição era uma coisa de morte ou vida. Ao passarem no sitio de Renovato, esse gritou: 
Renovato:
--- Ei! Pra onde vocês estão seguindo? - gritou o homem. E sem mais nem menos segurou o seu cavalo, mesmo estando sem cela e arrancou em disparada atrás grupo da perseguição sem saber ao menos do que se tratava. E assim, seguiram todos. Cada um o mais distante do outro. E as duas novas senhoras e o vaqueiro por nome Jerônimo já estavam bem distantes. Em um dado momento o vaqueiro informou o atalho para que eles não fossem notados pelo Coronel Marcolino Godinho. Por um instante a senhora Emília indagou do vaqueiro:
Emília:
--- Como o senhor descobriu esse negócio? – indagaram alarmada e cheia de preocupação.
Jeronimo:
--- E que não sabe o que se passa em uma fazenda, sinhá? – respondeu o homem.
A galope moderado por causa do matagal os três seguiram abrindo caminho como se podia. Jeronimo com um facão de sabre era o mais ativo a cortar a mata por onde tinha de seguir. Na estrada, seguia sem maior contemplação o Coronel Godinho em marcha lenta montado em seu cavalo a seguir direto para a Serra das Almas nascente do rio das Contas e do rio Poty. Eram quatro horas da tarde e o percurso era logo para se vencer. O homem estava seguro do local escolhido pelo Professor. Foi da Serra das Almas onde o Coronel esteve quando rapaz moço em companhia a filha do Professor, a encantadora deidade, a virgem Odisseia. Bela e extasiante semideia de cabelos soltos abertos ao vento. Foi naquela serra onde eles passaram noites e dias na fuga alucinante ostentada pela mente de imaturas figuras dramáticas e sonhadoras do destino incerto. Desses delirantes instantes ficou a promessa de vingança do Professor. Essa era a hora aprazada, apesar de Odisseia ter sucumbido a muitos anos da terra do ninguém.
Era o fim. Era um rifle. Era um projétil para cada um. E se não viessem a serem na verdade atingidos de mortes, eles pagavam pelo seu destino desumano de não mais ouvir ou falar da virgem deusa Odisseia donzela de encantos inebriantes. O Professor, em cima da Serra das Almas avistara o seu contendor e soltou um breve sorriso. Após esse instante, o homem se ausentou da aba e foi esperar mais adiante. No local tinha uma pedra onde o Professor se sentou com o seu rifle entre as pernas a socar o chão. Na hora, chegou a imagem da virgem soberana onde parecia uma esfinge.
Professor:
--- Odisseia amada! Meu arco por teu poder! – recitava o homem.
As horas passaram lentas com o sol ainda a flamejar em plena aba da Serra das Almas, e a lua toda cheia a ouvir os lamentos de  amargura de um cavalheiro sem paz e sem glória. Na doce e calma cordilheira apenas se ouvia o cantar dos passarinhos no verdejar das matas escuras. Era a hora final de um eterno amor. O pai agonizante pela ausência da filha amada e virginal. O velho Coronel sabedor de toda a história a subir a colina para ver o seu desumano e ostensivo senhor do destino mal traçado. Uma onça do mato espreitava os abutres da terra como não querer o tudo acontecer. Hienas postadas nas pedras a sorrir cheia de encantos a espera de um jantar tranquilo. A pantera negra se escondia por entre a folhagem tenebrosa da mata imaculada. Tudo enfim conspirava para o duelo ao entardecer. Dois homens. Duas feras. Dois rifles. Era tudo o que havia para conspirar contra o destino do Professor e do Coronel. Já em cima da chapada onde o vento soprava com imensa força o Coronel gritou:
Coronel:
--- Pronto professor! A hora é chegada! –gritou o homem. E a voz ecoou por todo o sertão.
Em seu canto, a sentar sobre uma pedra, o Professor sorriu. Sorriu com seu maior prazer. Odisseia estava entre os dois a pedir clemencia. O Professor lhe dia apenas;
Professor:
--- Clemencia está dentro dessa arma. – falou o homem tanto desgastado.

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