- Julia Roberts -
- 05 -
ABORTO
No
decorrer da semana Isabel já estava arranjada com as comidas e, por acaso,
bebidas para a grande parte dos frequentadores da pensão, principalmente aos
costumeiros do meio dia, por assim dizer e quando os homens pediam uma
cajibrina, birita e até mesmo saideira
ela estava com a mente certa de uma bebida forte, como cachaça. E assim
Isabel se seguiu aprumada e além das bebidas, a moça já estava contende a
oferecer um tira-gosto, coisa não vista no interior onde a prestimosa serviçal
atendia a todo gosto dos homens frequentadores. Para dizer se havia algum simpático,
Isabel nem se voltava a esse caso. No seu trabalhar tinha apenas de servir e
lavar pratos até às nove horas quando estava pronta para cair na cama.
E a vida
foi assim sem maiores atropelos. O movimento do dia e o parar quando houvesse
feriado. Certo dia, não muito tempo depois, Isabel estava desperta por volta
das quatro horas da manhã quando bateu a sua porta a domestica Otília. Era cedo
para se começar o serviço. E por pouco tempo Otília foi conversar com sua nova
amiga de serviço coisas do dia a dia. Até ai tudo bem. Mas ao continuar da
conversa Otília chegou a falar em uma questão de abortu:
Isabel:
---
Aborto? – indagou com assombro a moça.
Otília;
--- É. O
negocio está atrasado. Eu fui a Taperoá e ele falou ser menino. – explicou
Otília.
Isabel:
---
Filho? Você está buchuda? – indagou mais alarmada ainda.
Otília:
--- Eu
creio. Mas Taperoá disse que se faz aborto. E eu estou na duvida. – reclamou a
moça.
Isabel:
--- Quem
é esse Taperoá? – indagou bastante cismada.
Otília:
--- É um
enfermeiro. Ele entende do caso. Eu não tenho é dinheiro para pagar. – relatou
a moça bem preocupada.
Isabel:
---
Dinheiro? E se cobra para fazer uma sujeira dessas? – indagou perplexa
Otília:
--- É
verdade. Tem os medicamentos.....Ele faz o aborto...Tem muita coisa. ... Mas se
paga pelo serviço. ... Agora, eu não tenho dinheiro para fazer o aborto. –
comentou quase a chorar.
Isabel:
--- E o
pai? – perguntou a moça a querer sabem o homem responsável.
Otília
então entrou em um desengano total e baixou a cabeça por entre as suas pernas
para dizer se ela uma mãe solteira.
Otília:
--- Não
tem pai. Eu saí com vários. Pode ser qualquer um. – relatou a moça a chorar.
Isabel:
---
Qualquer um? Como é que pode? Na minha terra nunca ouvi falar desses troços! –
falou mais assombrada que nunca.
E Otília
caiu em pranto longo e lastimoso por não ter numerário para fazer aborto. Era
um caso deveras de aflição a todo custo. Isabel ficou pensativa sobre o
problema da sua amiga. E por fim deu sua resposta.
Isabel:
--- Peça
um adiantamento? – falou a jovem ao se referir o numerário para pagar o aborto.
Otília:
---
Dinheiro? É o que você pensa. Aqui não se ganha coisa alguma. A gente trabalha
pela comida. Dinheiro se arranja nas saídas da noite. Mas nem todos os
fregueses dão certa quantia para se pagar até mesmo o quarto. – falou a soluçar
a moça do bordel.
Isabel:
--- Onde
fui amarrar meu jumento! – relatou Isabel pensativa.
Isabel
ficou a pensar ter feito o mais complicado dos negócios da sua vida. Estava a
moça em um lupanar o qual se passava por pensão de servir comida. A infortunada
operaria nada estava a receber qualquer centavo pelo feito. Isso também
acontecia no interior: moças empregadas a trabalhar sem nenhum pagamento em
casas dos soberbos e faustos Coronéis. Era assim que Isabel tinha a conhecer a
gente rica do lugar. Já chegara às quatro e meia da manhã e as moças ouviram o
barulho das panelas. Com certeza, dona Marina estava a cuidar das tarefas da
manhã. Em seguida, Otília pediu licença a Isabel para se ausentar e tomar conta
do serviço.
Otília:
--- Vou
chegando. Depois a gente conversa. Bico calado. Não que ela saiba. – falou
Otília a se referir à dona Marina.
E nesse
ponto se ausentou a nada virgem para se ocupar das suas obrigações. Era mais o
dia de terror a enfrentar. Café para um, mungunzá para outro, cuscuz para não
sei quem. E a vida continuava sem progresso na rotina de Isabel. O certo é ter a moça a procurar outra ocupação
em qualquer canto. Mesmo assim, salário era uma coisa de se falar. Se fosse
para a rua, ela arranjava algo para comer e beber. Mas então ficava o problema
de moradia. Diante de tais fatos, Isabel se aquietou de vez a espera de melhor
ocasião. Na tarde daquele dia Otília se ausentou da pensão. Ela deu informação
para onde deveria ir e disse apenas o de sempre:
Otília:
--- Vou
caminhar. – falou Otília a meia voz para Isabel.
Isabel:
--- Para
onde você vai? – perguntou preocupada a moça.
Otília:
--- Ali!
– e apontou para a rua.
Sem mais
nem menos a moça saiu. Ela e sua barriga. Isabel ficou a supor se teria Otília
conseguido dinheiro com os mecânicos ou motoristas os quais estiveram na
taberna. Mas de nada adiantou o seu pensar. Apenas a mulher dona do restaurante
ainda perguntou:
Marina:
--- Onde
foi à menina? – indagou com sua voz de quem chora.
Isabel:
--- Não
sei. Não me falou. Disse apenas que ia ali. – comentou a outra ajudante de
cozinha.
Marina:
---
Estranho. Vai assim sem dizer a gente? – cismou dona Marina.
Isabel:
--- Deve
ter ido a alguma farmácia. – declarou Isabel tentando suavizar o caso.
Marina:
---
Estranho! Ela teve algum compromisso? – perguntou a dona da pensão.
Isabel:
--- Se
tem nada falou. – respondeu Isabel enxugando a louça.
Marina:
--- Hum
rum. Essas mulheres? – indagou sem querer dizer o sento da frase
O tempo
mudou de vez. A chuva se fez presente. Era um aguaceiro total. Dona Marina
recuou as mesas para baixo de um galpão, mas nem por isso evitou a se molhar.
Isabel também estava na mesma faina. A chuva engrossou e de um momento para
outro só se ouvia o gritar dos mecânicos a se encolher de frio com a chuva
torrencial.
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