- Keira Knightley -
- 04 -
CININHA
O balaieiro ainda ofegante pela
pressa como chegou à pensão de dona Marina nada tremia e apenas era só um homem
de carregar balaio e, em certas ocasiões, reportar os notáveis acontecimentos
havidos na Capital e mesmo no interior próximo ou distante. Ele era como um
homem que sabia de tudo ou de nada sabia. Robusto, moreno, roupas aos trapos e
quase sem botões na camisa, mãos enormes, braços fortes, todos os fregueses da
pensão o conheciam por simplesmente Canhão. Se, na verdade, Canhão tinha um
nome de batismo, nem ele mesmo sabia dizer, porquanto do seu apelido era só o
quanto atendia. E nesse dia Canhão já estava com a notícia de patente morte
acontecida:
Canhão:
--- Ali! Foi bem ali! O povo todo
está lá! Um homem pegou a mulher com outro e deu só uma peixeirada na virilha!
Ela botou todo o sangue pra fora! Morreu! Eu vi! Estava lá! O homem fugiu! E
ninguém sabe pra onde! – relatou Canhão, apressado por demais e limpando o
rosto de suor.
Canhão trazia um balaio vazio e,
pois na parede da casa. As mulheres ficaram abismadas e dona Marina ainda
perguntou:
Marina:
--- E quem é a mulher? –
perguntou mexendo um tacho de comida a trazer na sua barriga.
Canhão:
--- Cininha! Parece! É mulher da
vida! – respondeu o homem forte.
Canhão, quando andava parecia até
um homem saído da caverna. Era banzeiro e caminhava como o homem a trazer o
mundo em suas mãos. Ao dizer ser a mulher uma prostituta, o caso parecia ter
encerrado. É tanto que os circunstantes retomaram às suas atividades comuns:
apenas comer e sem mais comentar.
Circunstante:
--- Ah! Cininha! Eu sei quem era!
Bonita! Mas era de todos! – comentou um dos circunstantes.
Circunstante – 2:
--- Eu sei quem era o homem com
qual viva atualmente. Era José Palácio. Era qualquer um. Vivia do que as
mulheres davam a ele. Espécie de gigolô. Eu sei quem é! – teceu comentário
outro da mesa.
E a conversa girou em tono de
Cininha, cada um contando o saber da dama da noite. Outros falavam do tempo em
que era ainda adolescente a mulher. Cada um que tivesse uma história diferente
para contar. Houve até um caso de um mecânico a dormir no banco de um velho
carro o qual não servia para nada, a espera do bar fechar para ele poder buscar
Cininha.
...
Cininha:
--- Que estás fazendo ai? Eu não
gosto que você me espere. Eu fico enquanto tem gente! – proferia Cininha com a
cara abusada.
Mecânico:
--- Ora! Eu não gosto quando você
fica! – dizia o homem acabrunhado.
Cininha:
--- Ah lá! Pois se quiser é
assim. Se não quiser pode passar! – respondia a dama.
Mecânico:
--- Mas eu gosto de você. É só
isso! – falava o mecânico como a pedir clemência.
Cininha:
--- Gosta porque quer! Eu não
pedi! A rua é larga! Eu tenho a minha vida! E é com ela que vou viver até a
morte! – falou com muita raiva a mulher.
Mecânico:
--- Não diga isso Cininha! Você é
uma pessoa descente. Tem tudo para ser gente grã-fina. Eu mesmo posso dar outra
vida a você! – disse mais assustado o mecânico.
Cininha:
--- Coma moléstia que tu ganha?
A-ra! Va esperando! Nunca você vai ter a satisfação de me ter como mulher
somente sua! Eu tenho os meus convidados! Eles têm dinheiro de monte! E é com
eles que eu faço meu pé de meia! – respondeu a mulher de forma arisca.
Mecânico:
--- Eu tiro minha vida se você
não me aceitar! – repostou o mecânico com a cabeça pendida.
Cininha:
--- Tira
a sua vida? A-ra! Tira nada! Você nasceu pra ser corno! Ou comigo ou com outra!
A sua mulher foi à primeira! De chifre não se morre! – fez ver Cininha.
...
Circunstate-2
--- E no
outro dia encontraram o mecânico enforcado é uma arvore. – disse o
circunstante.
A
conversa ainda durou mais algum tempo a se falar da vida das mulheres perdidas,
das damas da noite quanto acalmava no comércio. Então era a vez das mulheres
começar a fazer a vida com uns e com outros.
As horas
passavam e os comentários sobre Cininha foram se acalmando porque nenhum
consumidor aparecia para levantar o assunto. Por vezes, um motorista vinha toar
café por alguns instantes e logo voltava. Hélio, filho de dona Marina, apareceu
de repente dizendo apenas a estar de viagem no caminhão de Otacílio para pegar frutas
em Estado vizinho. Talvez ele somente voltasse dentro de três ou quatro dias.
Hélio:
--- É a
viagem de sempre. Otacílio está ocupado com entrega de jornais. E, eu sou o
único em que ele confia. – sorriu leve o rapaz.
Isabel:
--- Qual
cidade? – indagou a moça querendo saber se era perto ou longe de seu lugar.
Hélio:
--- Eu
vou a várias. Macaxeira, Peroba, Montes e outras. Você conhece? – indagou
sorrindo o rapaz.
Isabel:
--- De
nome, apenas. Nunca fui. – relatou a moça lavando panelas.
Hélio:
--- É bom.
Lugares de gente pobre, porém rica de afeto. – reconheceu o motorista enquanto
arrumava a suas roupas de viagem.
A sua mãe
disse apenas ter colocado o macacão em cima de tudo, na mala onde se punha
roupas.
Marina:
--- Ali!
– e apontou a mala ao rapaz.
Hélio foi
vera mala e tirou seu macacão de viagem. E respondeu a sua mão ter ainda um
outro macacão. Um sujo de graxa.
Hélio:
--- Está
todo suje de graxa. Ele eu quero levar. Se houver necessidade eu uso o velho. –
responde o rapaz.
Marina:
---
Aquele, eu limpei. Está no varal. – respondeu a mulher.
Hélio:
--- Ô
mãe. Não precisava lavar. É o macacão de trabalho. – reclamou o rapaz
procurando a roupa no varal do lado de fora da casa.
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