sábado, 26 de maio de 2012

ISABEL - 03 -

- Ino Menegaki -
- 03 -
OTÍLIA
A conversa entre as duas moças durou ainda um bom pedaço de tempo enquanto Isabel se refastelava a bom prazer e a moça cuidava de arranjar as panelas e pratos. Dona Marina ouvia tudo e não falava nada. A certo instante a moça disse se chamar Otília estando a trabalhar na pensão de dona Marina há um bom tempo e nem se lembrava em voltar para a sua terra, pois a vida na cidade era de uma correria de louco. Otília acordava diariamente às quatro horas da manhã e começava a trabalhar às cinco tendo essa parte de tempo para cuidar de si mesma. Dona Marina também era de acordar logo cedo. Quando era a segunda feira, a dona do estabelecimento cuidava de ir bem cedo da manhã a feira do bairro para angariar preços melhores entre os seus fornecedores. A moça ficava só ou com a ajuda de outra empregada a despachar cafés, bolos, cuscuz, pamonha, mungunzá e outras coisas servidas. Tudo isso Otília dizia enquanto arrumava as panelas. Isabel acabara de fazer refeição e se empanturrou como pode a descansar da comida.
Otília:
--- Tais tristes em mulher. A comida bateu na fraqueza! – falou sorrindo a moça.
Isabel:
--- Fazia tempo que eu não comia tão bem. – respondeu a jovem arrotando afinal.
Otília:
--- Não se avexe! Depois tem o caldo! – apontou a moça para os pretos a serem limpos.
Marina:
--- Deixa ela! Pensa que é só comida que mata? Pois sim! – falou meio sorrido a mulher.
Isabel:
--- Nada! Deixa que eu me ocupe disso! Pode deixar! – falou sorrindo Isabel a cuidar de seus sujos pratos.
E a conversaria continuou tarde a fora à espera dos clientes noturnos quando chegavam para tomar a sopa grossa e gostosa. Era então de fazer serviço de morte. Isabel nunca teria feito algo parecido e se se encostou a Otília a perguntar:
Isabel:
--- E agora? O que é que eu faço? Tem gente as pampas! Cada um que seja o primeiro! – respondia assombrada a novata.
Otília:
--- Deixa comigo! Vai servindo aquela mesa de lá. – respondeu Otília em forma de cochicho.
E assim foi seguindo a vida. Sopa para todos, café para uns, bolos para outros, mungunzá bem servido para quem quisesse. Alguém perguntava:
Alguém:
--- Tem uma cajibrina?  - indagava um homem a fazer cócegas na nova domestica e apontar com o dedo a quantidade certa.
Isabel se atrapalhou toda coma pergunta do freguês e ainda fez questão de não importância as cócegas feitas por ele. E então foi perguntar a Otília:
Isabel:
--- Que diabo é cajibrina? – indagou com temor a moça.
Otília:
--- Cachaça! – sorriu a moça a responde sussurrando.
Isabel:
--- Bem podia! Inda vem cutucar a gente! – reclamou Isabel com acerto abuso.
Pelas nove horas da noite o jantar terminou com as mulheres lavando e enxugando pratos e talheres e a guarda a louça e panelas utilizadas, pois então começava a hora da troca de conversa, ir ter debaixo dos pés de fícus e, não raro a moça Otília saia para “passear por ali por perto”. Era ela quem dizia essa recomendação. Dona Marina nada falava, pois bem sabia dos acertos de Otília para depois das nove horas com certos fregueses. Não raro a mulher falava:
Marina:
--- Tá na hora! – dizia assim e calava.
E a conversa terminava com um sorriso de Otília. Era esse o expediente normal da pensão de Marina. Isabel tomaria conhecimento com passar dos dias. E, na verdade, Otília ”saiu” para dar uma volta na praça. Esse era o segredo da moça ter “compromisso” assumido e mesmo tentar encontrar um “hospede” de ocasião.  Otília não necessitava ser mais explicita nos seus apenas “amores” de poucas horas. Depois de terminado o encontro, ela voltava sorrindo. Isso também fazia parte do segredo. Com a sua naturalidade de moça do interior, Isabel pouco sabia deduzir tais amores clandestinos. E teve a moça de levar um pouco de tempo para entender. Com a noite fria, Isabel teve de se recolher um pouco mais cedo do costume dos dias para frente. E com bastante sono a moça pediu licença à dona Marina e foi dormir seu sono amigo. De inicio ficou a recordar do filho perdido, do seu homem e mesmo do padrasto homem ter por Isabel verdadeiro ódio. Com tais pensares, a moça adormeceu.
Já passavam das quatro horas da manhã do outro dia, e Isabel estava a dormir a sono solto. Nesse momento alguém bateu à porta. E bateu com mais força. Então, vendo ter feito um desesperado momento, esse alguém deixou de bater e se retirou. Mas uma hora passada. E Isabel despertou de um sonho a chamar com rapidez à sua mãe. Com isso, a moça acordou espantada.
Isabel:
--- Mas que sonho eu tive! Uma propaganda fixada na parede como se estivesse avisando para algum evento. – refletiu Isabel com estranheza.
Nesse pontou, Otília voltou e bateu a porta. Isabel se assustou com a hora. E de imediato fez ver a Otília ter paciência, pois estaria pronta em um instante. Otília entendeu e retornou às suas obrigações. E não durou tanto tempo quando Isabel já estava em ordem e pronta para o trabalho, caso de muita pressa. O almoço estava a ferver em outro fogão enquanto os dos preparativos da manhã já estavam a se fazer. Isabel entrou na cozinha e pediu desculpas a Otília por estar desarrumada naquela hora da manhã. Otília respondeu já batido à porta às quatro horas da manhã, por duas vezes.
Otília:
--- Como vi estar você em sono profundo, eu desisti. – sorriu a moça a cuidar das pamonhas.
Isabel:
--- Eu tive um monte de sonhos. Em um eu observava a mulher da farmácia. Ela estava na rua. E conversava com outras três amigas. Nessa ocasião uma das amigas dizia não querer ter filhos para não engordar como a mulher da farmácia. – e caiu na gargalhada.
Otília:
--- Besteira! Será que vai ser burro? Três amigas. É o numero de burro! Eu vou fazer uma fezinha, mais tarde, com seu Ferreira, o passador de bicho. Se der! – disse a moça aventando a hipótese.
No café da manhã teve inicio logo cedo. Os portuários, carregadores e mesmo serventes chegaram e pediram o seu desjejum. Com pressa, as moças do restaurante atendiam aos fregueses com absoluta presteza e apreço. Dona Marina estava na cozinha tão somente para por os pratos e receber o pagamento feito na hora pelos consumidores. Era uma mão na massa e outro no dinheiro. Se faltar dinheiro, a mulher reclamava. Se passar, Marina não dizia nada. E assim continuava o trabalho, quer de manhã, quer de noite. O sossegou apenas aparecia por volta das nove horas. Quando era dia de domingo, o expediente era um pouco mais tranquilo. Dona Marina saía logo cedo para assistir a missa das cinco horas e voltava com pressa para ajeitar os negócios. Se o filho estava em casa, a mulher deixava por sua conta os negócios do dinheiro.
No segundo dia de faina, Isabel ainda estava atormentada a quem servir primeiro. Era um zig-zag constante da mulher a atender a qualquer um. E nesse momento alguém chegou e disse:
Alguém:
--- Mataram um agora a pouco! – relatou o homem um pouco assombrado.
Otília:
--- Quem? – se voltou a moça assombrada com a noticia.

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