- Gong Li -
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EMÍLIA
Em um dia qualquer a mocinha
Emília estava a sair do interior da casa grande com uma xicara de café com
leite e de biscoitos para o seu namorado, Renovato Alvarenga. Ele estava
sentado em uma cadeira estofada na varanda da casa, debulhando sementes
qualquer, como se estivesse há matar o tempo. O tempo seco não dava promessa de
chuvas para tão cedo. O calor infernal era tudo que restava. Renovato pensou em
tomar banho na lagoa, coisa rara para ele ajuizar. Ele apenas se lembrava do
pistoleiro Alvino. Esse homem tinha partido há algum tempo depois de ficar com
o seu pai, Manoel Quelé. O velho estava a dormir ou não em um quarto da vila de
casas de vaqueiros destinada apenas a Quelé. Sua idade ainda não tirava a
astucia de um homem já bastante esperto e, com certeza, temeroso contra algo
suspeito. Quando Quelé pediu a moça Ludmila para se arranchar em uma tapera
qualquer, ele já sabia quem era a filha do coronel Marcolino Godinho, homem já
um tanto idoso e mandante em toda aquela região. De momento. O pistoleiro nem
percebeu a sua namorada. E precisou a moça falar:
Emília:
--- Toma! Tais dormindo? –
indagou Emília a sacudir de leve a cafeteira.
Renovato;
--- Ô! Que susto! Nem esperava! –
disse Renovato com alegria.
Emília:
--- Que estavas fazendo? –
perguntou Emília enquanto ele tirava a cafeteiras e os biscoitos.
Renovato:
--- Nada demais. Apenas
recordando Alvino e o seu pai Quelé. Eu penso: Há quanto tempo eles não se
viam!... – falou meio devagar o rapaz.
Emília:
--- É. Tem dessas coisas. A gente
não vê uma pessoa ha um bom tempo e, quando acabar, essa pessoa aparece. –
falou sentida a moça.
Renovato:
--- Você tem pai? – indagou Renovato.
Emília:
--- Não! Nasci por acaso! Quem
homem mais besta! – e saiu abusada de onde estava entrado da sala da casa
grande
Renovato:
--- Ora mais que petulância! –
disse o homem.
Após tomar o café com leite e
comer uma porção de biscoitos, Renovato se espreguiçou e deitou no acolchoado.
Em seguida, baixou aba do chapéu do panamá a cobrir a vista e, sonolento,
adormeceu. Nem sequer notou Ludmila a chegar. Estava ele adormecido como nunca.
Ludmila chutou os pés do pistoleiro de modo vagaroso para ver se o homem estava
a dormir ou não. Com o choque nos pés, Renovato acordou. E vendo Ludmila pôs-se
de pé de imediato. Ainda perguntou:
Renovato:
--- O que houve? – perguntou
assustado o pistoleiro.
Ludmila:
--- Vamos acolá. – respondeu a
moça.
Nem precisava perguntar aonde ir,
pois na certa teria como resposta algo atrevido. E por conta desse desaforo o atirador foi
direto com a moça aproveitando para acertar o seu chapéu de massa da cabeça a
ficar de certo modo com os olhos chegando a bloquear. O rapaz se conteve e
puxou novamente o chapéu de formas a retira-lo da frente dos olhos. A moça
Ludmila agarrou a sua montaria e, de um salto, já estava montada sobre a cela
seguindo de vez para a cidade, pois a direção indicava a cidade de Alcântara
sem mais nem menos. O cavaleiro igualmente fez o mesmo trajeto sem falar e nem
conversar com a sua patroa. Ele cavalgava tranquilo como se nada houvesse a
fazer. Cachorros a latir a passagem dos dois cavaleiros e meninos a correr para
ver com andava mais depressa: se o cavalo ou o trotear dos garotos. E findavam
por ganhar a corrida para o deleite a senhorinha Ludmila. A moça caia na risada
com a ação dos garotos ardilosos. Gatos a correr na estrada de um lado para o
outro e um cão atrás a latir de bravo. Do outro lado o gato estava já em cima
da casa de taipa. E o cachorro a latir por perder a “fera”. O galo a cantar
alto e as galinhas a cocoricar a procura de uma minhoca qualquer. E a moça a
falar:
Ludmila:
--- Quem disse que aqui, um dia,
vai virar mar. ..... – dizia Ludmila torcendo a boca.
Não demorou muito e a moça já
estava no prédio da Prefeitura de Alcântara. O rapaz desceu do seu cavalo a
acompanhar Ludmila sem nada a perguntar ou, a saber. Apenas estava a acompanhar
sua patroa. Logo entrou no imóvel a moça indagou:
Ludmila:
--- O prefeito? – com voz altiva.
O servidor apontou com um dedo a
sala do prefeito e não falou coisa alguma. Apenas palitava os dentes como se
aquilo fosse a ultima descoberta do mundo. O pistoleiro passou pelo rapaz se
dar a menor confiança. O rapaz olhou o par de revolveres do pistoleiro e nada
falou também. A moça do birô foi que falou:
Moça:
--- O prefeito está lá dentro. –
recitou a moça e calou.
O pistoleiro acompanhou Ludmila
sem nada perguntar. Em seguida Ludmila abriu a porta e viu ema cena quase
inacreditável: o prefeito estava a dormir de boca aberta e as mãos cruzadas na
barriga. Ela balançou rápida a cabeça e fez um pigarro. Como o prefeito não
acordava do seu sono, Ludmila se acercou da bancada e pegou um objeto de
escorar papeis fazendo-o cair com ligeira força. O homem teve um susto tremendo
e despertou com rapidez. A moça ficou quieta e nada fez para sorrir. Apenas
falou:
Ludmila:
--- Eu soube que a Prefeitura vai
vender aquelas terras da fazenda do finado Severino Policarpo e eu quero
comprar tudo de uma vez. – falou a moça bem altiva.
Prefeito:
--- Vai vender? Quando? – indagou
assustada a autoridade municipal.
Ludmila:
--- O senhor é quem sabe, pois a
nota está assinada pelo Prefeito. – relatou Ludmila.
Prefeito:
--- Eu assinei? Quando? –
perguntou o Prefeito procurando em cima do birô qualquer nota a respeito da
venda do sito do finado Policarpo.
Ludmila:
--- Ora não se faça de besta.
Como que assina um documente e nem sabe a razão? Está aqui em minhas mãos a
nota. Veja se não está assinada! – reclamou Ludmila mostrando a nota ao
Prefeito.
Prefeito:
---Nossa! É mesmo! E eu assinei?
– perguntou atônito o prefeito.
Ludmila:
--- O preço é esse e eu quero
ficar com as terras. Aliás, não ponha meu nome! Pode por o desse senhor ao meu
lado. Tá aqui o cheque. Mande lavrar a escritura! – determinou a moça.
Renovato:
--- Que? Prá mim? – falou
assustado Renovato.
Ludmila.
--- Presente de casamento! Agora
diga que não casa! – repreendeu a moça em cima da hora.
Renovato:
--- Logo eu? Isso não é possível!
Logo eu? – indagou perplexo o pistoleiro.
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