- Cameron Diaz -
- 08 -
O QUARTO
O homem
calou por certo tempo para poder responder. Ele era viúvo, sem filhos, não
tinha parentes por perto e nem vizinhos gostavam do homem. Por isso mesmo, com
seu andar meio lento, ele passava todos os dias por casas onde o pessoal
cochichava coisas vãs a seu respeito. E ele não prestava atenção de maneira
alguma. Gonzaga saía de sua casa pela manhã e retornava somente por volta de
meia noite quando todo o trabalho estava terminado e nada mais havia a ser
feito. Seu emprego era em um Teatro onde ele organizava quase tudo por assim
dizer. Às vezes, principalmente em noites chuvosas Gonzaga aproveitava para
dormir no próprio Teatro. Ela não tinha vicio de qualidade alguma. A não ser
fazer uma fé no jogo do bicho. E fazia isso apenas como divertimento. À noite,
quando havia espetáculo, ele estava a esperar os aficionados nas peças
teatrais. Se fosse um amigo muito pessoal, Gonzaga permitia entrar sem a pessoa
precisasse comprar ingressos. Era uma vida como sem existência a de Gonzaga ao
passar todos os dias. O homem estava ali, de cabeça abaixada, com quem diria
sorrindo para a doente e não tinha palavras para responder a Otília. Em certo
momento, ele disse a moça:
Gonzaga:
--- Eu
moro só. Minha mulher já é falecida. E não tenho filhos. Eu moro em uma casa
não muito grande. Mas, se você precisar posso arranjar um colchão para você
dormir no quarto ao lado. – disse Gonzaga até com voz acanhada.
Foi justo
isso mesmo para Otília. A voz de Gonzaga surgiu como uma reza a um Santo.
Enfim, a moça soluçou e começou a chorar. Ela teve um sonho capaz de surgir uma
alma e oferecesse a moça todo o poder da salvação. No tal instante, Otília
apertou a mão de Gonzaga e nada pode dizer. Apenas apertava a sua mão forte e
de vez as lagrimas desciam pela sua face. Após alguns instantes, Otília falou:
Otilia:
---
Ô meu Deus. Como Tu és bondoso. – e
chorava sem saber o que falar.
Gonzaga:
--- Não
chore menina. Eu não tenho muita coisa. E o pouco que eu tenho eu divido com
você. – respondeu Gonzaga com certo afago.
Após
cinco dias a moça teve alta do hospital. Já não sangrava mais. Sua pele morena
dava entender ser ela bem mais clara, pois a palidez no seu rosto e suas mãos
era dorida. Ao ter alta Gonzaga veio até a moça e a levou para sua habitação no
bairro pobre da cidade, ficando a leste onde podia se ouvir o mar em plena
madrugada. Otilia caminho devagar, arrastando os pés no chão frio do hospital e
segurar o braço de Gonzaga. Por certa vez, ela se ancorou ao corpo do senhor e
mais uma vez as lágrimas desceram por sua face. À frente do Hospital tinha uma
praça de automóveis. O homem segurou Otilia e abriu a porta para que ela
entrasse no banco de trás
O
acertado foi de Gonzaga buscar a maleta de Otilia na pensão de dona Marina.
Mas, ao procurar as roupas e outras vestes da moça, a dona da pensão se saiu
com essa:
Marina:
--- E ela
pensa que tem o que? – perguntou enfezada a mulher.
Gonzaga:
--- Não
sei. Talvez as roupas de baixo. ...- respondeu o homem certamente acanhado.
Marina:
--- Pois
essa mulher não tem nada aqui. Nem a mala! Pôs não digo? Come, bebe, dorme e
ainda quer as roupas? Jogue do lixo! É isso que tem uma defunta! – fez vez
zangada até de mais dona Marina.
Gonzaga:
--- Nem um
sabonete? – indagou com vergonha o cavalheiro.
Marina:
--- Nada!
Nem flores para o caixão! – respondeu com mais rancor a mulher.
Nesse
ponto da altercação Isabel pediu a Gonzaga que ainda não saísse da pensão, pois
a mulher moça tinha algo para entregar a Otilia. E esse se aquietou em um banco
em baixo de um barracão. Ali ficou a esperar a doação de Isabel. Foi um pulo. A
moça voltou no mesmo instante a trazer a pasta, escova de dente, sabonete e
peças intimas para Gonzaga levar à Otilia.
Isabel:
--- Pegue
o pacote. É só o que eu tenho. Onde ela está? – indagou Isabel sem maior
intenção.
Gonzaga:
--- Na
minha casa. Eu arranjei um quarto para ela. Agora vou levar o que a senhora me
deu e comprar algumas coisas para ela fazer refeição. – relatou o homem.
Isabel:
---
Certo. Como eu acerto a vossa casa? – perguntou Isabel a olhar em volta.
Gonzaga:
---
É fácil.
É só seguir o rumo da venta. – sorriu o homem ao dar o roteiro da casa.
À tarde
Isabel resolveu ir até onde Otilia estava. Para acertar com o endereço da casa
a moça foi em companhia de Gonzaga. Era um caminho estranho para a moça, com
subidas e descidas até chegar a parte plana onde se erguia a casa de morada de
Gonzaga. Ele sentiu cansaço por ter de subir e descer constantemente pelas
travessas e vias, as mais severas possíveis. Porém, tal fato era apenas o
inicio de uma caminhada onde apenas existiam as casas de gente pobre. E por
isso, Isabel se sentiu familiar, pois parecia até com a sua terra natal. Redes
de arrasto dependuradas nas cercas era o maior assombro da moça. A certa
altura, Isabel perguntou a Gonzaga para que serventia aquelas tralhas
dependuradas para, com certeza, secar. O homem sorriu a caminhar em seu modo e,
por fim, respondeu:
Gonzaga:
---
Arrastão. É de pescaria. – comentou o homem.
Isabel:
---
Pescaria? E os homens apanham peixe com isso? – apontou a moça para as redes.
Gonzaga:
--- Ora
está! E muitos! Desde tainha até tubarão. - sorriu o homem a continuar o seu
caminhar.
E Isabel
um tanto assombrada comentava nunca ter visto coisa igual. Em seguida, após
subir um batente, a moça chegou à casa em companhia de Gonzaga. O homem abriu a
porta e viu de imediato a sua amiga Otilia e apresentou a vista de Isabel. As
duas mulheres se abraçaram e Isabel, de momento, se afasto um pouco alertando
Otilia para evitar fazer esforço, pois a
moça ainda estava em resguardo.
Otilia:
--- É
verdade. Mas o pior já passou. Eu garanto nunca mais fazer esse negócio. O que
eu passei, nem te conto! – chorou a moça em confiar em Isabel.
As duas
mulheres jovens ficaram a conversar sabre a estadia no hospital e mais coisas
vãs enquanto Gonzaga fazia uma arrumação na dispensa e colocando mais artigos
para a moça, quando quisesse fazer uso. Ele foi até o banheiro e sentiu a
cheiro azedo do vaso. Ele puxou a descarga e voltou com seu andar lento até o
quarto da moça. Olhou para a mesinha e notou faltar algo. Gonzaga perguntou:
Gonzaga:
--- O
relógio? – perguntou Gonzaga.
Otilia:
--- Lá
dentro. Eu estava fazendo sopa. Se o senhor quiser, é só tirar. – respondeu Otilia.
Isabel:
--- Sopa?
Estás na cozinha? – perguntou a visitante.
Otilia:
--- Mas
não faz esforço. Eu sinto falta de você. Nossas conversas. – chorou Otilia.
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