segunda-feira, 7 de maio de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 40 -

- Aloana Tal -
- 40 -
O SITIO
O Prefeito do município de Alcântara, José Jeronimo dos Anjos recebeu o cheque e passou a olhar o pequeno papel sem nada entender, até porque ele não entendia mesmo e ficou a pensar no documento assinado por ele mesmo. Eram documentos de monte todos os dias e José Jeronimo nem se lembrava do tal pondo à venda as terras devolutas pertencidas ao fazendeiro Severino Policarpo. Mesmo assim, o documento em suas mãos comprovava. E o cheque era a conta total. Então ele chamou ao seu gabinete seu assessor e mandou visitar o sitio e dar por comprada a fazenda. E assim foi feito. O resultado:
Ludmila;
--- Agora é com você. – disse a moça a Renovato. E abriu um largo sorriso.
Desse dia em diante, Renovato e Emília tinham mais a fazer. Além da casa grande, Emília se dedicava a reconstruir a casa desmoronada pela explosão de munições guardadas em um quarto abaixo da casa. Era a luta brava. O pistoleiro já não importava mais com a segurança da sua protegida, Ludmila Godinho, mesmo porque a calma voltou a reinar na casa do coronel. Os dois ainda namorados lutaram dia a dia para recuperar o resto da casa em um trabalho insano de matar coração. E com essa luta eles reconstruíram parte da casa após meses de luta sem teima. Certa vez, contudo, Renovato encontrou na soleira da porta um bilhete. E no bilhete a inscrição. “Esse mundo é meu”. Apenas era isso escrito. O rapaz procurou as suas armas e se voltou para um lado e para outro e nada pode enxergar. O rascunho era perturbador de quem, talvez quisesse se apossar da terra produtiva. De imediato, Renovato procurou o seu amigo Otelo Gonçalves e lhe mostrou o bilhete. Otelo olhou com firmeza e depois desse tempo por fim argumentou:
Otelo:
--- Coisa de gente de perto! – declarou com calma.
Renovato;
--- Mas quem? Quem? – indagou apressado o rapaz com olhos bem abertos.
Otelo:
--- Não sei. Devo mostrar ao Coronel. – comentou o homem.
E pouco tempo depois o Coronel Godinho estava a verificar o conteúdo da mensagem e notadamente o homem verificou a frente e atrás para depois emitir a sua opinião. Bem sereno como se não tivesse alguma dúvida o Coronel então se pronunciou a respeito.
Coronel:
--- Esse bilhete não é de quem vocês estão a pensar. Ao menos a letra não é astucia de um rapaz. Eu vou levar para o Instituto de Datiloscopia da Capital. Eles podem conferir a caligrafia dessa letra. – formulou o Coronel.
Renovato:
--- Mas isso leva tempo? – indagou o pistoleiro.
Coronel:
--- Um pouco! Um pouco! – falou o coronel
Renovato:
--- Mas se aparecer alguém e perguntar de quem é a terra? – falou depressa o rapaz.
Coronel:
--- O senhor diz ser sua! Ora! Não é verdade? – indagou o coronel.
Renovato;
--- Ah bom! Isso é! Mas tem o casório! – alertou Renovato
Coronel:
--- Não tem nada uma coisa com outra! – falou enérgico o coronel.
E a conversa terminou nesse ponto. Sábado foi o dia do casamento entre Renovato Alvarenga e Emília da Conceição aduzindo o nome de Alvarenga. Ela não soube ou não quis dizer o nome do pai, com certeza. E no batistério também não especificava quem era o pai. Por isso, ficou o saber por não saber com o formulado pela noiva: “Nasci por acaso”. Porém, o dia era de festa tendo a mãe de Emília a chorar por causa da filha amada. A irmã de Renovato foi aquela do bom conselho
Josefina:
--- Não chore minha filha. Ela vai ficar morando aqui mesmo. – dizia a freira.
Mas a mulher, Iracema, não se conformava por tamanha dor.
Iracema:
--- Eu queria tanto que a minha filha não casse! – caía no choro com tanta lamentação.
Josefina:
--- Mas Deus quis assim. Então é bem melhor para a sua filha Emília. – consolava a freira.
E a festa continuou noite adentro com a sanfona do velho Chico a animar os folgados festeiros do meio do solar. A animada festa com o coronel Godinho e sua esposa; a filha do coronel, Ludmila se mostrando para o futuro marido Antero Soares era tudo o importante. Quase duras horas da madrugada de domingo e o animado pagode resolveu acabar de vez. Os noivos, já então casados, tinham saído de mansinho a deixar os solteiros e os casados a se divertir por mais tempo. A fogueira armada no quintal em frente a casa ainda ardia com fumaça e firmeza. Os fogos rompiam a noite e madrugada afirmando ser aquele o casório de Emília. O povo tomava quentão e o arrasta-pé só acabou quando o sanfoneiro não mais podia tocar. Foi uma festa e tanto o casório da fazenda do Coronel.
Na manhã do domingo, na feira, o povo só falava no casamento de Emília. Alguns poucos ainda perguntavam:
Gente:
--- E casou? Quando? – perguntava a gente pobre das fazendas.
Outros:
--- E eu não sabia! Mas veja! – falava uma mulher a ficar de boca aberta.
O Convento repicou o sino a anunciar a Missa das sete horas da manhã enquanto na matriz a Missa era um pouco mais tarde. Cavaleiros passavam da feira sem falar com ninguém. Era o costume do vaqueiro do mato. Alguns traziam garrotes para vender na feira. Outros traziam bodes e cabras para acertar negócio. Meninos já grandinhos vendiam sequilhos e cocadas enquanto outros ofereciam caldo de cana. A feira era um mundo. Mulheres faziam tapioca e bolo preto e vendiam aos seus “compadres” por qualquer preço. Além, um homem oferecia ervas aromáticas e plantas medicinais e nas bancas os mais ricos eram o dono da carne, feijão, farinha, açúcar, goma, arroz e macarrão. Era o mundo só aquela feira de Alcântara. 
Em um determinado momento uma briga. Dois homens. Cada um armado de peixeira. Ataram as camisas um no outro. E a desavença teve inicio. Cada qual cutucava o outro. O povo se aglomerou em torno dos dois deixando vago o ponto da briga. Olha a briga. Olha a faca. O tal a cair primeiro era sangrado na goela. Essa celeuma durava quase meia hora. Nesse ponto a guarda militar chegou ao destino. E apartou os contendores para levar a prisão. E povo ficou decepcionado.
Povo:
--- Nem houve briga! – dizia um desconsolado.
Outro:
--- Nem houve morte! – respondia outro.
E assim terminou a briga na feira de Alcântara. Na outra semana, talvez, os dois contendores tomariam a decisão de lutar outra vez. E dessa vez não tinha polícia a resolver a luta. 
Quase uma semana depois o Coronel  Marcolino Godinho voltou à fazenda vindo da capital com novas notícias do Instituto de Datiloscopia da Capital com respeito aos exames feitos na mensagem deixada na porta da nova fazenda do seu novo proprietário, Renovato Alvarenga. O exame feito comprovava ter sido o bilhete escrito por um homem de certa idade.

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