Helena
ficou pensativa por alguns instantes meditando no pai daquela criança como
faria para decidir o seu destino. Após alguns minutos senhora viúva
Helena falou sem medo de errar. E disse bem o seu pensar. Algo do seu
verdadeiro íntimo por não querer mais saber de outo personagem em sua parca
vida. E foi o seu recado:
Helena:
--- Está
bem! Eu aceito! Mas não por mim! Mas por meu rebento! O senhor casa comigo. Mas
é só proforma! Nunca toque em mim! Nem por pensamento! Mulheres têm muitas! E o
senhor pode ter quantas desejar! A mim, o senhor não tem! Eu faço isso pelo bem
do meu rebento! Aceita? – indagou Helena de modo firme.
E o
homem pensou um pouco e por fim aceitou. Eles casaram na Igreja e a menina
nasceu no seu tempo. Desde o nascimento a criança ficou conhecendo o homem como
seu pai. A mulher Helena adoeceu de um câncer e estava no final da sua existência
aos trinta anos de idade. Tudo isso Odisseia contou ao rapaz Marcolino naquele
fim de tarde sombrio e triste, cheio de desventura e desamor. Marcolino ouviu o
caso em silencio e apenas despertou quando uma lágrima furtiva viu cair dos
olhos da sua admirável amada. Ele enxugou a lágrima caída com seu lenço de
cetim.
...
Coronel:
--- Foi
isso o que Odisseia me contou naquela tarde de lua cheia, cândida e serena,
professor. O seu pai de criação é o senhor. Tudo isso ela me contou como
lembranças de uma criança amargurada e sentida. Não creio que a virgem Odisseia
tenha dito de outra forma. Passamos aqueles dias, mas nunca tocamos um no
outro. Ao fim de tudo voltamos as nossas casas mais mortos que vivos. Ela
sempre a chorar como nunca fizera antes. E nunca mais eu vi a virgem solitária.
Quando Odisseia casou com Severino eu também não fui nem mesmo convidado. E não
adiantava. Eu, por diversas vezes, a encontrei na Igreja e apenas nos
cumprimentamos e nada mais. Odisseia era uma bela e afetuosa mulher. – disse o
Coronel de forma terna ao seu contendor de lutas antigas.
O
Professor, de momento baixou a vista a olhar para o chão. O seu rifle estava
cruzado em seu peito. Ele não teve a menor reação de novamente atirar no adversário
homem. Sabia então ser tudo a verdade, pois ninguém mais havia dito tal facunda
historia. O Coronel apontou a sua arma de boca para baixo e desfechou o seu
único tiro no chão árido e fofo. Em seguida olhou bem para o Professor e virou
as costas saindo afinal. Nada mais tinha o homem a falar. A lua branca pálida e
serena foi quem ouviu a confissão angustiada do velho Coronel Marcolino
Godinho.
No
derradeiro instante um vulto veio rápido com um rifle apontado para o Coronel a
gritar:
Deodato:
--- É
mentira, meu avo! É mentira! Eu estou aqui para cumprir a vingança! Não vá
embora sujeito, ou atiro pelas costas! – gritou o rapaz com seu rifle pronto
para investir.
O velho
Professor se acercou de Deodato e clamou para o rapaz não atirar contra o
Coronel. Mas não teve tempo. O rapaz Deodato apontou e mirou no Coronel com seu
tiro certeiro. Em determinado instante ouviu-se o deflagrar de uma bala. Foi
então o destemido Júlio Medalha, senhor de tantas mortes, a fazer mais uma
vítima. O tirou desferido foi se alojar do peito do rapaz e o seu rifle
disparou para o ar. Deodato foi
empurrado para trás pelo deflagrar da arma e outro disparo se deu. O rapaz
desnorteado subiu no espaço e logo tombou e caiu com a morte certa. O velho
Professor gritou em seguida:
Professor:
---
Deodato! Deodato! – e foi para junto do seu neto amado. Ali ficou ajoelhado e
inquieto com a cabeça do rapaz Deodato acolhido delicado e meigo em seus braços
como a ninar fecundo a uma criança recém-nascida. Nada o Professor mais falou.
Apenas o lamento surdo e triste de um eterno avô. Júlio Medalha, ainda com a
arma apontada, se aproximou de sua vítima. E ouviu bem quando Deodato
perguntou:
Deodato:
--- Tudo
é mentira meu avô? Tudo é mentira? – falou as suas derradeiras palavras o
rapaz.
Professor
---
Verdade, meu neto! Verdade! – disse o velho incontido a chorar.
...
O
Coronel Godinho começava a viagem de volta a sua casa. A lua cheia se
empalideceu com tanta historia de verdade contada. Embora volumosa, a Lua nada
podia muito mais fazer em defesa daqueles moribundos seres da vida. O piau de
um pavão noturno se ouviu no meio daquela mata a cantar uma história amargurada
e triste de um amor desventurado. Pássaros noturnos voavam em bandos para seu
ninho distante. Garças voltavam para o seu acolhedor ninho nas árvores do
campo. Um anum chorou as lágrimas sentidas em seu eterno cantar. Um tiro se
ouviu na aba da Serra das Almas. Com certeza, o Professor pusera fim as suas amargas
e derradeiras doídas feridas. O sol não mais se via pelo recanto do serrado.
Apenas a Lua Branca a soluçar pungente. De volta, o Coronel com vertidas lágrimas
nos olhos voltava ao sertão amado. Ao lado, as suas duas filhas Ludmila, pela
direita, e Emília, pela esquerda caminhavam serenas e confiantes do seu destino.
Os três marchavam em passos firmes da montaria sem mais precisar de imediato correr.
Logo atrás caminhava o vaqueiro Jeronimo robusto como todos os vaqueiros do
sertão e bem mais atrás, os quatro cavaleiros serenos e calmos com seu ar de
sérios pistoleiros convicto a matar ou, talvez, morrer.
-
FIM -
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