sexta-feira, 18 de maio de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 49 -

- Annabelle Sciora -
- 49 -
LUA CHEIA
Entrementes, na capital do Estado, o deputado Godinho já era todo senhor de vir comandar o pleito ao Senado. Ele pensava em se mudar para a capital e depois seguir para a capital federal onde teria maior concentração do seu afazer. Embrulhos de sua mente ao mesmo tempo em poder verificar a folhinha pregada na parede com o Coração de Jesus, e olhar melhor qual seria o dia de lua cheia. Após verificar essa data o Coronel atendeu à porta. Uma garçonete do restaurante trazia-lhe a refeição diária. O restaurante ficava no Hotel onde o coronel e seu guarda costas costumava permanecer na capital por uma ou duas semanas. Era um Hotel de gente rica, por assim dizer e o deputado estadual Marcolino Godinho e seu auxiliar Otelo Gonçalves já estavam bem aquinhoados com o costume de servir na cama como se bem dizia em rodas de amigos. O  salão do Hotel, quando era hora de almoço, lotava de gente da mais alta classe.
Nesse dia, pela manhã, houve a reunião da bancada pró-Governador onde foi pedido integral de todos os deputados estaduais para a eleição para o Senado do pré-candidato Marcolino Godinho, homem forte dos Inhamuns sendo capaz de nos seus municípios o deputado alavancar votos para deputados federais e estaduais com ampla margem de vitória. A reunião atravessou pela manhã até as primeiras horas da tarde. E então ficou decidido pelo SIM em todos os comícios a se fazer e em reuniões particulares entre candidatos e prefeitos regionais de ampla margem municipal.
Candidato:
--- É o mudo todo! – declarou um candidato a gargalhar.
O rojão de recursos abertos pelo Governo fora algo sem precedentes da história do sertão dos Inhamuns e de outras regiões da caatinga e do litoral do Estado. Bandeirolas eram fabricadas e anexadas até mesmo nos carros de boi propalando o nome de Gomide. A poucos meses das eleições só se ouvia o povo simples a chamar alguém e indagar.
Povo:
--- Vai gomidar? –
--- E não? – respondia o outro a sorrir.
E foi assim a peleja do sertão quase torrado dos Inhamuns. Havia seca às vezes com pouca chuva. E quando chovia o povo rezava a Ave Maria em procissão pela caatinga do sertão. Potes e copos na cabeça e nas mãos era a sina da gente sofredora do ingrato sertão. Na região do Cococi tinha recanto de pouca gente. De não mais de sete pessoas. Mesmo assim essa pouca gente fazia também a procissão agradecendo a Virgem Maria de ter se lembrado de mandar chuva essa gente nordestina. Os mocambos em ruinas serviam de eterna guarida a esses sete moradores. Era isolamento, silencio e solidão dessa gente maltrapilha. A única construção dali ainda intacta é uma Igreja datada do ano de 1740.  Mas o povo sem sorte acordava para ouvir alguém falar nas eleições e de votar no coronel Godinho, a salvação da lavoura da caatinga sertaneja.
O Povo:
--- O coronel é bem! – dizia um.
--- Tá! Eu voto nele! –respondia outro.
E a procissão politica seguia a fora em busca de novos eleitores. As paredes da tapera eram remendadas com retratos de Godinho. Um vestido pra Maria, um retrato pra João. Mas no sertão não se via uma gota d’água para molhar o chão. Tudo ficava ao Deus dará. E assim caminha o destino dessa parca gente.
No sitio do Coronel Godinho continuava a celeuma das duas senhoras moças a discutir e a rebater de quando era o duelo. Em um dia de estio chegou à sede da fazenda um vaqueiro meio assombrado a procura do Coronel. Era o fim de uma estafante da qual o deputado estava de muito a cochilar em uma rede. A filha Ludmila se acercou e perguntou ao rapaz o que estava a faltar.
Vaqueiro:
--- Uma vaca morta no aceiro do cercado. Morta por uma flecha. E na flecha esse bilhete. – falou o vaqueiro todo atrapalhado e com muito medo.
Ludmila:
--- Deixa-me ver o que diz! – falou a moça cheia de espanto.
Nesse ponto também chegou mais para próxima a senhora Emília a procurar ver o dizer do bilhete. Nada dizia demais. Apenas marcava um local e a hora. Para Ludmila ficava no mesmo das vezes anteriores.
Ludmila:
--- Serra das Almas. Ao por do sol. Um tiro para cada. – reportou a senhora Ludmila.
A outra senhora, dona Emília, moça dos seus vinte e poucos anos, estava a refletir no escrito da mensagem. E depois de alguns minutos chegou à resposta.
Emília;
--- Já sei. É o duelo. Serra das Almas. Quase noite. Dia de lua cheia! – falou a moça cobrindo de razão.
Ludmila:
--- Será? – indagou perplexa a outra senhora moça.
As duas senhoras resolveram colocar o bilhete na mesa do Coronel Godinho onde ele pudesse ler com mais frieza. Elas colocaram o bilhete e saíram de mansinho do quarto onde o Chefe do clã costumava se reunir para tratar de politica. Nessa hora, o pistoleiro Otelo também estava a dormir. Apenas o Júlio Medalha estava acordado pesquisado os dentes com uma farpa de pau pequeno a olhar o tempo. O marido de Ludmila estava a rachar lenha no fundo do quintal da casa grande. E Renovato, esposo de Emília, estava em sua fazenda há alguns quilômetros de distancia. A mãe de Ludmila estava a cuidar do assado do meio dia. De resto tudo normal, menos a chuva. Essa demorava a chegar. Os cata-ventos faziam a sua vez na ausência da pluviosidade quando essa demorava a chegar.
Ao acordar mais tarde, ainda morto de cansaço pelos comícios no qual andara. O Coronel Marcolino Godinho buscou as chinelas em baixo da rede e não conseguiu achar. E de imediato gritou para todos ouvirem:
Coronel:
--- As chinelas! – gritou bem alto o coronel.
Em um instante, Emília trouxe as chinelas para por nos pés do coronel e saiu depressa para a cozinha. Quando estava ajeitando um peru, novo grito alarmante do coronel.
Coronel:
--- Água! – gritou de alto o coronel estremecendo toda a casa.
Emília disse a murmurar:
Emília:
--- Ô diacho! – e voltou com pressa trazendo um pote de água e um copo.
O velho pôs água no copo e fez sinal para a moça esperar. Após beber dois copos de água ele volta ou a indagar.
Coronel:
--- Teve alguém aqui? – indagou o coronel.
Emília:
--- Pelo visto, não! E se teve eu estava lá dentro de casa. Não deu para ver. – respondeu a moça com o pote em baixo do braço e a segurar o copo
Coronel:
--- Oxente! Mais ninguém mesmo? Onde está teu marido? – perguntou o coronel.
Emília:
--- Na casa fazendo os reparos. – responde a jovem

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