terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 30 -

- Sherlyn Chopra -
- 30 -
MORTE
Foi uma inquietude de morte a vivida pela mulher. Ao mesmo tempo, os três filhos ao desespero clamavam pelo pai não se deixar levar por aquela fenda enorme a se abrir no chão coberto pelo rio. Com todo esforço possível o homem se segurou em galhos de árvores a descer e fez o impossível para se firmar até chegar, ao longo do percurso a uma abertura melhor e ali conseguir pular para fora da cratera, já todo moído de cansaço e esgotamento. A cratera prosseguia em direção a serra como uma serpente a devorar sua presa. Corpos de gente de animais se viam passar vindo das demais localidades do saco cobertos pela lama onde estava a residir o vaqueiro. De imediato Nina se abraçou com o seu homem ao mesmo tempo ter os filhos a fazer. Chagas olhou para a cratera de enorme tamanho e viu passar os corpos das pessoas mortas. A aflição tomou conta daquela família atormentada pelo terror da morte. Nina e os seus três filhos se agarraram a Chagas com toda força dada por Deus. O homem, inquieto, tentou prosseguir o caminho e, mesmo assustado pelo terror vivido também não parava de chorar pela emoção vivida e o escapar do extermínio certo. E a fenda varava o espaço em busca da mata fechada do monte. Outros corpos seguiam para o além, pelo visto de Chagas. Ele então procurou local mais seguro e caminho até o seu casebre todo falido pelo terrível estrondo ainda ameaçador. Aves, porcos, cavalo tinham fugido do seu cercado a procura de melhor amparo. Chagas olhou desolado para o casebre e caminhou com seus filhos e a mulher para local mais seguro. Em instante o homem parou e voltou o olhar para a tremenda fenda vista de longe e por fim comentou.
Chagas:
--- Eta lasqueira! Eu escapei por pouco. – falou Chagas a se tremer todo.
A mulher abraçada com o homem apenas chorava assim como seus três filhos.
O prefeito da cidade, empossado logo após a morte do titular em um acidente na capital do Estado, estava se deslocando para a sua fazendo quando a terra tremeu, rachou e em seu interior havia um mar revolto de lama. Orestes era o seu nome. No instante em que a Terra estremeceu o homem, em seu carro, também estremeceu de pavor. Ela não atinava ser aquele o terremoto algo tão impressionante a ponto de mover toda uma população de um lado e de outro. Ao seu lado seguia o vaqueiro José. Esse também ficou alarmado com o estrondo havido. A distância percorrida pelo o novo Prefeito não permitiu para ele ver o estrago ocorrido na cidade. Apenas o homem estremeceu de pânico diante do balançar das árvores existentes à margem da estrada como se todas viessem ao chão batido. Dado o inicio o Prefeito Orestes não atinou o certo. E o vaqueiro José apenas disse:
José:
--- Trovão!!! – falou alarmado o homem
O prefeito verificou em varias direções e perguntou:
Prefeito:
--- Que estrondo é esse?! – indagou sobressaltado o chefe do executivo municipal.
José:
--- Parece um trovão na serra! – falou alarmado o vaqueiro.
A essa altura o Prefeito Orestes estava bem distante do centro da cidade. Ele olhou para todos os lados e observou uma casa velha e de dentro saiu uma mulher a segurar o seu filho. A mulher olhou para o céu e nada percebeu. Apenas observou e tocou caminho em direção oposto a procura talvez de alguém. O Prefeito olhou muito bem para a mulher e teve a intenção de dizer.
Prefeito:
--- Senhora! O que sucede? – indagou aquela autoridade.
A mulher olhou em volta teve a intenção de responder:
Mulher:
--- Parece um estrondo! Talvez seja a mina! – falou alarmada a mulher começando a correr.
José;
--- Pra onde ela vai? – indagou o vaqueiro ao prefeito.
Prefeito:
--- Não sei. O chão está balançado! – falou o homem com temor.
José:
--- Tudo está tremendo senhor Orestes! – falou com terrível alarme o vaqueiro.
E a Terra tremia como samambaias ao vento. O prefeito desistiu de falar com a mulher. Essa já estava longe, na carreira dada à procura de alguém, talvez o homem ou a sua mãe. Com certeza. E o certo foi o Prefeito entrar no seu veículo e caminhar em direção a sua casa, em um sítio bem ao longe da cidade. A Terra tremia e o homem, ao solavanco, corria sem trégua para alcançar de vez a sua casa. E tão logo chegou encontrou um pandemônio. A sua mulher abraçada a sua filha menor implorando socorro em preces comoventes. O pessoal da casa estava todos do lado de fora a procurar o destino do trovão inconsequente e ameaçador. Era isso o sentir do pessoal. O povo do sitio também estava alarmado com o terror do chão àquela altura dos acontecimentos. José vaqueiro estremeceu de temor e logo saiu do carro em busca da senhora do Seu Orestes, a dona Diná para acudi-la sem temor de algo suceder por parte do marido de Diná. Mas esse também veio em socorro da mulher e segurou a menina caçula. Essa menina estava a tremer de pavor pelo acontecido. A terra tremia cada vez mais e o vaqueiro largou a patroa e foi ao encontro de sua mulher a correr em desabalada carreira para um canto qualquer.  Tudo era confusão na fazenda. Mulheres e homens, meninas e mocinhas sem contar com os rapazes e idosos. Galos, galinhas, porcos, carneiros, ovelhas, bodes, cabras além do gado. Todos estavam desatinados. Os animais com a correria da gente grande. E o pessoal a temer o fim do mundo, com certeza. Uma mulher de vaqueiro foi dizer ser aquele o final dos tempos:
Mulher:
--- O pastor disse no seu sermão ser esse o final dos tempos! – fez vez horrorizada a mulher evangélica.
Marido:
--- Cala tua boca, peste! Queres por fim a tudo?! – indagou alarmado o marido.
Um homem vindo a cavalo da cidade foi logo contar o sucedido.
Jagunço:
--- O sino da Igreja veio ao chão! – falou alarmado o homem.
O Prefeito Orestes nem sequer notou o que o homem acabara de dizer. O Prefeito estava atormentado com o estado de sua filha, aflita a chorar bastante e ele a tomou nos braços indo para mais além da casa grande. A mulher Diná procurava buscar a filha amada pedindo em clamor;
Diná;
--- Eu quero a minha filha! Eu quero a minha filha! – soluçava a mulher em busca da menina.
O Prefeito já não prestava atenção ao dizer da mulher. Apenas seguia sem rumo acalentado a menina enquanto os estrondos prosseguiam constantemente. O jagunço, alarmado, falou para qualquer um.
Jagunço:
--- Pessoal! A cidade está arruinada! Não tem mais nada onde se anda. Nem padre, nem delegado, nem juiz. Ninguém! – relatava inquieto o jagunço;
Foi a vez de outro jagunço ir ao encontro do homem e perguntar:
Jagunço 2:
--- Mas ninguém mesmo? – quis saber assustado o outro jagunço.
Jagunço 1:
--- Não! A gente só encontra cadáver no chão. – falou desesperado o jagunço.
Jagunço 2;
--- Mas o prefeito é o homem! – relatou exaltado o outro.
Jagunço 1:
--- E o que se faz agora? – tremia o jagunço ajudado pela Terra.
Nesse ponto se aproximou o vaqueiro José em meio do tumulto gerado em toda a fazenda com o pessoal às tontas sem saber para onde seguir. E de pronto indagou:
José:
--- O que houve Penetra? – indagou sem saber o motivo da conversa.
O jagunço se virou e, alarmado, voltou a contar a história:
Penetra:
--- A cidade está acabada! Os caminhões de gasolina caíram no buraco! – fez ver alarmado o jagunço.
José:
--- Que buraco? Que buraco? – indagou perplexo José Vaqueiro.
Penetra:
--- O chão se abriu! E tudo foi caindo no buraco! Gente, bicho e até mesmo os caminhões! – relatou sem sentido o homem.
José:
--- Meu Deus do Céu!!! Buraco?! – quis saber com precisão o vaqueiro.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 29 -

- Bianca Bin -
- 29 -
CINZA
 
O dia prosseguiu enevoado com de cinza como se o Manto Sagrado tivesse caído sobre aquele pobre remoto lugar. Os pássaros não trinavam mais e o vento, esse nem mais soprava. Tudo estava quieto. Até o cão não ladrava mesmo tendo a presença de estranhos. Não havia peixes no rio para se fisgar e a carne do boi morto secava nas bancas do mercado. Alguém levava para a sua casa um pouco de frutas, coisa não tão rara no local. Havia silencio entre todos. Os pedreiros do cemitério faziam os últimos retoques no tumulo do ex-prefeito sob um derradeiro lamentoso silencio. A iluminação das casas continuava a faltar. Apesar de tudo, as pessoas vagavam como se fossem mortos vivos a passar de um lado para outro. Os homens tiravam o chapéu para cumprimentar alguém e as mulheres prendiam o véu em suas bocas como modo de guardar silêncio. Uma menina brincava com um garoto da mesma idade apenas a sorrir como se nada houvesse para se lamentar. Um homem montado a cavalo seguia para algum lugar sem falar com alguém. Era um cavalo manco, por sinal. O novo Prefeito decretou luto oficial por três dias e fechou a porta de seu gabinete saindo logo em seguida com destino a sua fazenda sem nada a falar. Em uma casa ouvia-se um som. Era um rádio a pilha. Um noticiário fora de hora. O locutor informava haver trinta mil corpos postos no Instituto Médico da cidade destroçada pelas ondas do mar e pelo temeroso sismo, segundo as últimas informações recebidas. Era de fato de uma estação de outro Estado. Na sequencia o locutor informava ter havido desastres em outras regiões, conformes informes recebidos àquela hora. Uma ponte entre um Estado e outro veio totalmente ao chão interrompendo o transito de veículos e pessoas por completo. Porém essas eram noticias vagas e passadas por muito tempo atrás apesar do noticiário ser da ocasião. O vaqueiro Ernesto ficou a escutar para depois informar ao Coronel Araújo.
Em seguida, um cavaleiro chegava de munícipios mais distanciados com a informação de haver sido destroçado grande parte das moradias da região, algumas com mais de três andares. E mais o homem dizia haver falta de força elétrica nas casas, lojas e indústrias. O povo estava temeroso com a real situação dos seus pertences. Havia falta de gêneros alimentícios por toda a região do oeste e alto oeste e regiões litorâneas. Apenas os moradores em sítios tinham garantidos a sua nutrição por colher os frutos plantados em seus próprios terrenos. Com relação ao tempo, pelo dito do cavaleiro, o sol estava bem e as noites eram frias, como era costume. Rodovias permitiam o tráfego de veículo em certos pontos da estrada. Nas rodovias vicinais havia estragos das estradas em diversos pontos.
Em outro caminhão vindo do extremo sul do Estado, as notícias não eram tão boas. Um motorista chegou a levar três dias de viagem para alcançar o município por conta das estradas totalmente danificadas por causa dos recentes tremores de terra dos últimos dias. Completamente sujo de poeira, o profissional desceu do veículo, espreguiçou-se por completo para ajeita a sua coluna e procurou o bar do posto de combustíveis onde outros profissionais do volante estavam a conversar das estradas por onde trafegaram nos recentes dias. Entrando na conversa, com um copo de cerveja na mão, apesar da bebida não estar gelada, o homem deu a entender ser aquele bar a ter cerveja mesmo quente, o que não era fato comum. E de onde estava a vir, a situação era de perigo.
Motorista:
--- Eu ouvi falar das vacas espantadas. Foi na fazenda de um criador. Os animais correram em debandada quando a Terra tremeu. E o pior: o prédio da Prefeitura rachou ao meio. Foi um caso muito sério. Outros acidentes ocorreram em diversos prédios da Municipalidade. Em outras regiões a situação é igual ou parecida. É isso. – declarou o motorista um tanto alarmado.
OUTRO:
--- Eu ouvi dizer que para o norte já não tem mais ninguém! – relatou outro motorista
MOTORISTA 2
--- E pra onde foi esse povo? – quis saber o motorista dois.
OUTRO:
--- Quem sabe? Enfurnou-se mata adentro. Quando as casas começaram a rachar, o povo tremeu. É o fim – vez ver o outro.
Bêbado:
--- Isso tudo é castigo do céu! O Homem já afirmava: “Não escapa ninguém da morte. Os bons virão comigo. E os maus serão enterrados vivos!”. – fez ver o bêbado com sua voz imponente e a afirmar com os braços levantados para o alto em suas roupas rotas.
E essa preleção acabou com a conversa. Os motoristas rumaram para a cabine dos seus veículos ou para outros locais. Um deles conseguiu encontrar uma meretriz e saiu para o cubículo da mulher onde havia outras meretrizes, algumas cansadas do oficio de qualquer hora. No cubículo, quando se entrava, o motorista olhou bem e viu uma rachadura na parede da casa pobre. O homem ficou inquieto com aquele rasgo na parede. Porem nada ele disse e foi seguir para o quarto dos amores. Mesmo assim no quarto apertado, o rapaz notou vários rachões nas paredes. Alarmado, ele perguntou:
Motorista.
--- Há quanto tempo tem rachaduras nessas paredes? – indagou alarmado o homem.
Meretriz:
--- Não sei. Pouco venho nesse bereu. Talvez esteja rajado desde o primeiro estrondo. – disse a mundana a retirar suas poucas roupas do corpo franzino.
Motorista:
--- Eu nunca vi coisa igual a essa! Rachões! – reclamou o homem.
Meretriz:
--- Onde eu moro foi bem pior. Tudo ficou rachado. É por isso que eu venho para a cidade. – reclamou a mundana.
Motorista:
--- Você tem marido? – perguntou o motorista.
Meretriz:
--- Um velho acamado. Ele não pode mais trabalhar. Eu sustento a ele e aos meus filhos. – respondeu a mundana.
Motorista:
--- Dessa forma? – indagou inquieto o homem.
Meretriz:
--- E tem outra? – respondeu abusada a mulher.
O motorista se entristeceu e tirou do bolso uma nota e deu para a mulher, pois já não tinha vontade de fazer coisa alguma. A mulher olhou o homem tanto desconsolado e disse para o motorista ser aquele jeito de se ganhar a vida.
Meretriz:
--- Moço! Eu não faço isso por querer. É meu meio de vida. Enquanto sou jovem, tem mais. – falou a mulher um tanto ressentida.
O motorista se vestiu como pode e saiu do quarto balançado a cabeça para um lado e outro como a pensar em tanta tristeza acudida aquele trapo de mulher. Em seguida, vinha atrás a mulher acochado o cinto da saia com vontade de saber se o homem desistira por qual motivo. O motorista pediu uma dose de vermute e nada mais contou a mulher. Após beber seguiu para o seu caminhão encostado próximo ao posto de serviço. Por lá ele entrou e procurou repousar por alguns momentos. Com poucos minutos o homem, quase a dormir, levantou do volante assustado por demais. Um estrondo rasgou o chão de norte a sul e abriu uma fenda colossal por toda a pista. Dentro da fenda, um rio caudaloso tragava para o interior os corpos das vítimas. O povo em volta correu alarmado por onde podia correr. Havia gritos de toda a sorte e o estrondo prosseguia com o gigante e brumoso arroio. O motorista ligou o motor do seu caminhão, porém ficou alarmado com a fenda a se dirigir para o seu lado. E nesse momento o homem gritou de dentro do caminhão:
Motorista:
--- Socorro! O mundo está se rompendo! – gritou o motorista em um clamou arrebatado.
E o homem notou o povo ao desespero a correr como se o assustador tremor estivesse a tragar toda a gente. O carrilhão da Igreja veio ao solo provocando um tremendo estrondo a ecoar por longa distância. A enorme fenda cheia de lama se abriu passando ao lado do caminhão a faltar alguns metros para soterrar o veículo. Outros caminhos parados junto ao posto de combustível foram tragados irremediavelmente pela enorme fenda. Mulheres alarmadas gritavam ao desespero igual aos assustados homens a correr para todo lado de forma irremediável. E o romper do quente chão enlameado prosseguia em direção sul parecendo um animal feroz a abocanhar a sua presa indefesa. Gritos de terror eram o que se prestava atenção. Em determinado instante a Igreja teve parte de seu andar a rachar terrivelmente. O muro de um campo de futebol veio ao chão parecendo um pano velho descartável.  Casas de mais de um andar se romperam como se fosse um traste. No mercado público, o pânico gerou tormento. As bancas de pedras onde se guardava a carne de gado foram ao chão. As bodegas sofreram terríveis danos como as lojas de tecido e de roupa. Tudo enfim foi sacudido pelo ribombar do abalo sem piedade. Muito além, no casarão do coronel Araújo, o pessoal foi pego de surpresa. Ouvia-se clamor e piedade por parte das senhoras. O coronel tentava por ordem no desespero das mulheres e Otto, ao desespero, segurava a noiva para evitar maior calamidade.
Otto:
--- Tenha calma! Tenha calma! Esse terremoto passa! Não entre em desespero! – gritava o jovem a sua noiva.
 Eleanor se agrava com custo a mesa grande para não cair. Sua mãe, Luiza, corria como uma tonta para segurar o velho marido Homero em sua cama. A dona da casa, Matilde clamava pela proteção divina. Todo era por demais assustador. E o pessoal nem sequer observou a lacuna aberta no chão da cidade. Esse prosseguia em direção à casa do homem Chagas, marido de Nina e pai dos seus três filhos. Quando o chão se abriu frente à casa de Chagas esse foi tragado para seu interior. A sua mulher, alarmada, gritava por socorro assim como seus filhos.
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 28 -

- Sofia Loren -
- 28 -
VÍTIMA
Àquela hora da noite, logo nas primeiras horas, o corpo do Prefeito estava exposto no Palácio Negro, interior do Estado. Junto com o do prefeito estava também o do seu motorista. Toda gente da cidade estava presente ao velório de forma silenciosa. Pessoas choravam de comoção. O ataúde era todo negro com enfeites dourados ao seu redor. O do motorista também era igual a do Prefeito. O sacerdote estava no seu local todo vestido de paramentos negros. Havia ainda a família do Prefeito e o seu vice Prefeito já tomado posse. A família do então vice Prefeito também estava presente. O sino batalhava com uma pausa entre um toque e outro. De momento, se podia notar a presença do Coronel Araújo e parte da sua família. Ainda estavam presentes todos os secretários do Município. Um clamor total se abraçou da gente pobre da cidade onde o Prefeito era querido de todos pela ajuda dada a cada um. Notava-se em frente à Praça do local um silencio mortal do povo reunido. Não havia iluminação urbana e o Palácio estava às escuros. Apenas velas vestiam de todo luto o velório. O sacerdote começou a solenidade abençoando a todos os circunstantes. Era um ritual lacrimoso para todos os presentes. Vanesca indagou por que o sacerdote estaria rezando a Missa em horário tão apressado. O seu logo falou em murmúrio ser motivo de viagem para outra Cidade.
Vanesca:
--- Como para outra cidade? – indagou espantada a moça.
Coronel:
--- Não. Parece existir defunto em outros locais. – respondeu a tranquilizar o homem.
Um arrepio de temor percorreu a espinha da filha pelo fato de o seu pai falar em ter “defunto”. E a moça respondeu:
Vanesca:
--- Coisa triste! – murmurou a moça segurando no braço do sei pai.
Otto:
--- A morte é triste. Uma tristeza. Uma dor insuportável! – falou murmurando o rapaz.
Morcegos passavam aos bandos por dentro do Palácio Negro como se viessem prestar singela homenagem aos defuntos. Os silvos dos pequenos andirás eram acompanhados pelo sibilar dos enormes ratos vindos da mata solitária e misteriosa.
Matilde:
--- Bichos! – falou a mulher a observar para o alto.
Otto:
--- São animais noturnos! – comentou o seu genro.
Matilde:
--- Podia se dar fim a esses animais! – reprovou com temor a mulher.
O rapaz calou, mas por dentro sorria.
Ao iniciar a cerimônia fúnebre o sacerdote logo benzeu os ataúdes e a Missa Fúnebre teve inicio com as orações solenes para todos os circunstantes e, de modo especial, para as almas subidas dos mortos.  A celebração litúrgica foi em um clima por demais nervoso de parte das famílias presentes. A angústia comoveu principalmente a mulher do prefeito. Em certo instante, quando o sacerdote falava de bons costumes ouviu-se um grito e a mulher desmaiou. Somente não foi ao chão por estar segura nos braços de sua filha. E foi o grito da moça que se ouviu.
Moça:
--- Ai. Minha mãe! – esse foi o grito assustado da inquieta moça.
Um verdadeiro tumulto se formou no Palácio Negro com gente a indagar assustada o estado de comoção a ser manifestado. A mulher caída nos braços da filha, parecendo a Madona Pietá de Michelangelo uma das mais famosas esculturas já feitas. Tal escultura representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria. Era assim como estava a mulher do ex-prefeito no colo de sua filha. O alarido tomou conta do ambiente soturno onde se rezava a Santa Missa. Do silencio ambiental a comoção total. Quem chegou de imediato para ajudar a moça foi o dono da Farmácia, seu Macário, homem dos seus 70 anos. Em seguida chegou o médico veterinário o Dr. Lindolfo, dos seus 50 anos. Não havia médico naquele pequeno município onde a receita gerava principalmente da criação de gado. E o povo todo se ajuntou em redor da moça para ver o sucedido. O medico veterinário retirou de seu bolso o instrumento da verificar pressão e passou a auscultar a senhora verificando o seu estado de saúde. O povo a tirar as suas conclusões:
Povo;
--- A mulher morreu? – perguntava alguém um tanto assombrada.
Outro:
--- Não sei. Parece. – respondia outro a murmurar.
Terceiro:
--- Terá sido o defunto que veio busca-la? – articulou outra tagarela
Quarto:
--- Sei lá. Isso acontece quase sempre. Você não se lembra do velho Aragão? – fez questão de tecer outro personagem
Quinto:
--- A velha não tem um pingo de sangue. – relatou mais outra pessoa a sair de perto.
Sexto:
--- Está morta? – era a pergunta constante.
Sétimo:
--- Pergunte ao médico? – respondia outra ao desespero.
Oitavo:
--- Vou nada! Saiu já daqui! – respondia a mulher a sair.
Velho:
--- Homem! Isso é apenas um chilique! – articulou um velho a sorrir.
Com o passar dos minutos, a mulher do ex-prefeito morto em acidente foi conduzida para um cômodo separado pela força do Coronel Araújo, a filha da vítima, o veterinário e outras pessoas. Todos se juntaram e levaram a mulher desacordada. A sala era pequena, porém tinha ventilação adequada. Não havia iluminação elétrica e logo alguém trouxe velas para clarear o ambiente. O sacerdote um pouco alarmado, ainda veio até a sala onde puseram a mulher e por fim perguntou e podia continuar com a missa.
Coronel:
--- Faça o que tem a fazer. – respondeu o coronel um pouco neurastênico.
O sacerdote respondeu afirmativo e foi para a sala dos mortos a concluir a cerimonia religiosa. Com o alvoroço feito pelo pessoal, o sacerdote viu não ter muito a concluir. E logo benzeu as urnas e deu por encerrada o ato litúrgico. Mas depressa o sacerdote saiu e ninguém sabe ao certo para onde fugiu. As pessoas reunidas ainda ficaram no salão do Palácio até horas da madrugada.  Quando chegaram às 9 horas, houve o sepultamento no cemitério local e tudo estava concluído.
O dia pareceu um domingo. Gente conversava sobre o acidente crucial do Prefeito. Houve quem dissesse ser a estrada mal traçada. E pessoas alegaram com surpresa ter muitos carros nos acostamentos dos postos de combustível. Alguém falou na destruição da capital.
Um:
--- É destruição total! – relatou alguém.
Dois:
--- Prédios foram ao chão! – falou outro.
Três:
--- Tem mortos em cima de mortos! – reclamou por seu turno outra pessoa.
Quatro:
--- E não se enterra? – perguntou algum desastrado.
Quinto:
--- E como vai se enterrar os mortos? Ora basta! – reclamou o que estava a falar.
Sexto:
--- Ah eu estando lá! – delirou um pau d’água.
Sétimo:
--- Que tu fazias seu pau d’água? – indagou uma mulher com voz antipática.
Sexto:
--- Me deitava com a defunta! – disse o pau d’água.
Sétimo:
--- Tu queres é levar uma nas ventas! – respondeu exaltada a mulher.
Sexto:
--- Ou na...- e um bofete comeu no centro dado pela mulher pondo o bêbado por terra.

sábado, 8 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 27 -

- Eva Mendes -
- 27 -
O PORCO
Quando chegou a hora do almoço o coronel não se conteve. O  gigante porco estava à mesa, totalmente assado e deliciosamente cheiroso. No restante da mesa feita de carvalho, própria se receber visitas, estavam ainda peru e galinha, também assados. Além disso, estavam os complementos, como arroz, farofa e bastantes saladas de variados estilos. Porém, o Coronel arregalou os olhos diante do majestoso porco assado, todo coberto de folhas e uma maçã em sua boca. Aquilo era mesmo um suíno na verdade. E para o Coronel, notadamente não tinham palavras para descrever.
Coronel:
--- Um porco?!! Ora veja só! Um magnifico e suculento porco! É a recepção a noiva! – gargalhou o Coronel nem querendo por sua mão no suíno.
Vanesca:
--- Ora meu pai! O almoço é de todos! Lamento dizer ter seu Homero seus problemas de saúde! De resto, todos pode abocanhar uma porção! – falou a sorrir a moça.
Coronel:
--- Mas, isso é um porco! Eu estava sevando para a páscoa! – falou elegante o coronel.
Corina:
--- Do ano que entra? – indagou meio séria a mulher governanta.
Coronel:
--- E já passamos as Festas? – indagou o coronel se virando para um lado e para outro.
Corina:
--- As Festas ainda virão. Mas a Semana Santa já foi há bastante tempo! – afirmou a governanta.
Coronel:
--- Então em homenagem ao senhor “Honório”. – fez ver o Coronel a sorrir.
Otto:
--- Queira me desculpar Coronel. O nome do meu pai é Homero! – disse o rapaz a sorrir.
Coronel:
--- Que seja. Mas o importante é Homero está entre nós. E agora, melhor do que nunca! – falou o Coronel com seu vozeirão.
Vanesca:
--- Só imagino no Quartel! – sorriu a moça olhando para o noivo.
Otto:
--- Que houve no Quartel? – perguntou em voz sussurrante o namorado.
Vanesca:
--- Ele era a enciclopédia ambulante. – sorriu a moça.
E todos se sentaram à mesa grande de almoço. O velho Homero nem sequer falava. Ajudado por sua filha deglutia uma perna da galinha ou mesmo um peito de frango. Era uma verdadeira comilança e ninguém podia falar de tanta a boca cheia. Vinhos, licores, conhaques e ponches não faltaram. O Coronel de um lado e a sua mulher do outro. Os noivos Vanesca de Otto ficaram sentados juntos, mas sem poder conversar de tanta boca cheia. Os botijões de vinho corriam para um lado e para outro, num traça-traça, num vai e vem de dar gosto. Corina se postou ao lado dando às ordens as empregadas para não deixarem faltar nada. O Coronel procurava conversar com a mão a segurar uma fatia de porco. Contudo não falava nada e somente balançava a fatia de porco no ar, pois sua boca estava cheia de comida. Os demais procuravam não sorrir pelo medo de se engasgar com um pouco de farofa ou de arroz. Pimenta não faltava. O velho Coronel abocanhava uma porção de porco e fogueava com pimenta. E só fazia apenas:
Coronel:
--- Hum! – queria dizer com certeza estar muito bom, pois sua cabeça virava para um lado e para outro.
Vanesca olhava o noivo e tocava a sorrir. Otto apenas dizia:
Otto:
--- Come se não esfria! – relatava o noivo abocanhado um pedaço do porco.
E o almoço durou até duas horas da tarde quando então o Coronel já podia falar alguma coisa.
Coronel:
--- Vocês sabem? Eu nunca comi tanto na vida! – disse o homem a gargalhar.
Após o almoço, era a vez de lavar as mãos, a boca e tirar uma sesta ou siesta pela grafia original espanhola. O tempo estava estio e o sono levou a todos os convivas a dormirem um pouco da tarde, afinal fazia tempo que os viajantes não dormiam um minuto sequerer. Já estava a boca da noite quando o sino forte tocou na Igreja. Um badalar compassado e sonoro. O sino da morte. Era o que dizia o povo. Em sua fazenda, o Coronel estava a escutar as badaladas, mesmo sendo distante. O homem se levantou da rede armada no alpendre e foi até a entrada do alpendre. Ernesto estava atento e de imediato indagou:
Ernesto:
--- Quem morreu? – indagou surpreso o vaqueiro.
Coronel:
--- Gente importante. – destacou o coronel olhando para o lado da igreja.
Ernesto:
--- Se foi alguém importante o Coronel já tinha sido avisado. – falou o vaqueiro.
Coronel.
--- Não sei. Pode ter chegado naquele instante a noticia. – fez ver o coronel procurando a todo custo ver a Matriz.
Ernesto:
--- Eu vou saber. – reclamou o vaqueiro.
Coronel:
--- Não. Deixa. Alguém vem me trazer notícia. – declarou o Coronel olhando a esmo.
Ernesto:
--- Já sei. Eu mando um jagunço. – reclamou o vaqueiro um tanto abusado.
Dito e feito. Porém, quando o jagunço se montava no cavalo para saber do ocorrido, um coroinha chegou apressado à casa grande e procurou logo o Coronel Araújo. E foi pronto a dizer ter sido o prefeito da cidade que morreu. O Coronel se alarmou ainda mais:
Coronel:
--- Que você está dizendo? – perguntou um tanto zangado o coronel.
Coroinha:
--- O carro tombou em uma ribanceira na chegada da Capital. Tinha um carro quebrado da estrada. Tudo está um buraco só. O motorista puxou para o lado direito e o carro mergulhou no buraco enorme onde era a estradada. – falou bem calmo o coroinha.
Ernesto:
--- Não estou dizendo?! Isso é o fim do mundo. Agora foi o prefeito. Depois, quem será? – indagou perplexo o vaqueiro.
Otto:
--- A estrada está toda quebrada. Nós viemos pelo raso da montanha. Já havia noticia de 15 mil mortos. – destacou o rapaz.
Vanesca:
--- O Prefeito morreu? – indagou assombrada a moça vinde de dentro da casa grande.
Otto;
--- Sim. Você o conhecia? – indagou o rapaz.
Vanesca:
--- Nem fede, nem cheira. Era um bom homem. Como a filha. Eu vou me arrumar e chego lá. – informou a moça correndo aflita para o interior da casa.
A sua mãe veio para onde estava o marido e perguntou:
Matilde:
--- O prefeito? – indagou a mulher um tanto confusa.
Coronel:
--- Assim me disse o garoto. – declarou cismado o coronel.
Matilde:
--- Não é possível. Tanta luz! – reclamou a mulher.
Coronel;
--- E o motorista. Desse ninguém fala. – comentou o homem


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 26 -

- Zsa Zsa Gabor -
- 26 -
CONVERSAS
Esse foi o tom das conversas durante o caminhar na estrada de areia onde só havia sulcos formados por carroças, burros e cavalos. Cada qual que tivesse história para contar. E o riso caiu no centro. Em manhã tranquila de sol, todos hilarizavam ao seu próprio estilo. Mesmo assim. O carro trafegava incessante a procura do casebre do vaqueiro Chagas, homem que matou sua mulher com 90 facadas ao flagrar tendo relações com outro homem. O Coronel Araújo sabia muito bem do caso. Contudo nada conversou no caminho da casa de Chagas. Apenas, uma vez, ele comentou sobre o homem a declarar ser ele um vaqueiro perfeito. E nada mais:
Coronel:
--- Chagas é um vaqueiro perfeito. – falou o coronel com olhar seguro no seu caminhar.
Ernesto;
--- Como Chagas tem poucos. Eu rendo homenagem ao homem! – comentou o vaqueiro
Ao passar por um sitio Vanesca relatou ser aquele mesmo o caminho. Ela observou mulheres a trabalhar ponde roupa no varal.
Vanesca:
--- É esse o caminho. Eu me lembro das mulheres a estirar roupa no varal. – sorriu a moça com seus dedos pregados à boca.
Coronel:
--- Quer dizer: estamos no caminho certo. – respondeu o velho pai de Vanesca.
Uma cabra atravessou a estada de areia e fez o homem brecar o carro e soltar um palavrão. O vaqueiro Ernesto procurou tranquilizar o seu patrão. Contudo o homem apenas tinha raiva:
Coronel:
--- Eu quase matei esse bode! – fez ver com bastante raiva o velho
Vanesca:
--- Cabra, meu pai. Cabra. – sorriu a moça no passar do instante.
Coronel:
--- Cabra! Bode! Tudo dá no mesmo! – relatou o homem um tanto confuso.
Vanesca:
--- Cabra tem cabrito. – sorriu a moça.
Coronel:
--- Qual a diferença? – indagou meio confuso o coronel.
Vanesca:
--- Bode faz. – relatou a gargalhar a moça.
Coronel:
--- Você quer me ensinar? Quer me ensinar? – indagou irado o velho.
Vanesca:
--- Não. Eu só estou dizendo. – disse a moça a sorrir
E com isso o carro seguiu à frente até chegar à casa de Chagas. Quem estava na frente era a mulher do vaqueiro. Ela se encheu de sorrisos. E de imediato declarou:
Nina:
--- Bom dia coronel. Chagas saiu bem cedo da manhã. Bom dia a todos. Queiram entrar. A casa é simples. – relatou a mulher fazendo cena para os convidados.
Após o bom dia de todos Otto foi rever de imediato a sua mãe Luiza. A sua irmã também apareceu e comprimento a todos. O velho Homero estava deitado e deitado ficou. Apenas falou meio sem fala a indagar se era Otto. A filha respondeu:
Eleanor:
--- É Otto. Ele chegou. – tranquilizou assim o velho pai.
Conversas e mais conversas, os meninos a escutar, a mocinha a sair de casa a observar de olhos atentos o carro novo e nem passar a mão para não arranhar. Ela ficou simplesmente a olhar.  Otto tirou a cela que lhe foi emprestada e devolveu a Nina como se fosse um presente.
Otto:
--- Vim devolver. – disse o rapaz.
Nina:
--- Ora mais tá. – sorriu a mulher pondo a cela, os arreios e outras peças nos braços.
O velho coronel ainda perguntou para onde o vaqueiro tinha saído. A mulher Nina apenas respondeu como quem não sabia para onde.
Nina;
--- Mundo afora. – declarou a mulher.
O vaqueiro Ernesto aceito um tico de água para gargarejar, pois tinha sede e gargarejar a água fazia bem a saúde, dizia o homem. Nina sorriu e nada contestou. Apenas perguntou:
Nina:
--- Tá fria? – indagou a mulher
Ernesto:
--- Do pote. – respondeu o homem.
Nina;
--- Fui buscar inda agora. – disse Nina com meio sorriso.
Ernesto:
--- E o cacimbão? – perguntou o homem.
Nina:
--- Lá dentro. Ele não teve tempo. – disse a mulher.
Ernesto:
--- Eu preciso conversar com Chagas. Vamos tocar o buraco para frente. – relatou o homem.
Nina:
--- Se Deus quiser. – arrematou a mulher.
Coronel:
--- E se Ele não quiser? – indagou o velho pouco sorridente.
Ernesto:
--- Bem! Então a gente não faz! – disse o vaqueiro tirando o chapéu da cabeça.
Com poucos momentos apareceu o vaqueiro Chagas. E foi logo a cumprimentar o coronel. E em seguida, o rapaz Otto e o restante da tropa. Ao coronel, disse o vaqueiro estar buscando uma rês perdida numa capoeira. Por mais a tentar o vaqueiro não a encontrou.
Coronel:
--- É roubo? – indagou o coronel um tanto preocupado.
Chagas:
--- É mais fácil ser mordida de cobra. – disse o vaqueiro coçando a cabeça.
Ernesto:
--- Já notava o vôo de urubus. – comentou de qualquer forma o vaqueiro.
Chagas:
--- Já pensei até. – disse o vaqueiro coçando a barba.
Ernesto:
--- Não se juntou? – perguntou o vaqueiro querendo saber de a vaca não tinha seguido com outras vacas.
Chagas:
--- Parece que ela está amojada. – relatou o vaqueiro a pesquisar o ambiente perdido.
Ernesto:
--- Será que não se embrenhou pela mata? – indagou o homem.
Chagas:
--- Já pensei nisso. – respondeu o vaqueiro a coçar o pé.
A essa altura, Otto ajudou o seu pai a entrar no carro do coronel, colocando-o no banco dianteiro, ao lado do motorista. A sua mãe, a irmã e a noiva foram no banco traseiro. Ele preferiu ir na carroça puxada pelo jegue. Ele e o vaqueiro Ernesto. Por fim, estava, a saber, Otto ter de chegar bem depois, no tempo. O sol estava quente e Ernesto disse, por fim, ao seu “compadre” Chaga ter de ainda voltar para procurar a vaca. Esse afirmou ter entendido.


domingo, 2 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 25 -

- HEDY LAMARR -
- 25 -
RESGATE
A conversa entre os visitantes e o pessoal de casa demorou um longo tempo. Nem sequer houve tempo de assar o porco. O bicho ficou para cozinhar no dia vindouro. Otto falava das agruras pelas quais sua família passou e Vanesca, sempre junta a seu pai discorreu sobre a hecatombe pela qual sofreu a capital. Prédios elevados foram ao chão. Não havia água ou luz elétrica. Houve fogo no campo de pouso da Aeronáutica. Não se sabia de coisa algumas. As emissoras de rádio estavam fora do ar. Nem jornais circulavam, mesmo por causa da onda gigante de uma semana passada e depois por causa do sismo. As pessoas comentavam os estragos sofridos nas suas residências. A pista principal estava em ruínas. Não havia suprimentos para quem precisasse. Os hospitais vivaram cemitérios. Pessoas ao desespero findavam morrer ao relento, pois não havia como atendê-las. Os veículos particulares tinham virado escombro. Não havia gás ou demais combustíveis para atender ao pessoal rico ou pobre. Alguém se soubesse de algo era o transmissor das notícias. Vanesca ao dizer tudo ainda chegou à vez de falar por ela a dormir no chão no meio do mato. O noive tinha escapado do Hospital onde estava sendo atendido.
Vanesca;
--- É um horror! – chorou lágrimas a moça.
Otto:
--- Se o fim do mundo for daquele jeito, já estamos no fim. Isso é o que penso. – falou com voz engasgada o rapaz.
Coronel:
--- Calma! Calma! Para tudo há um jeito. Não vejo desespero para tão pouco. O sismo foi sentido aqui também. Casas racharam, a Matriz sofreu danos. O povo correu com temor. Porém, tudo passou. Pode-se notar um sismo por dia e nada mais. Na capital o negócio foi mais violento. Eu tenho recebido preciosos  informes dos incêndios até mesmo na Base Aérea. E não tive mais contato com vocês por falta de energia na capital e adjacências. A Marinha e o Exercito já estão mobilizados. Essa questão das estradas é um perigo para quem utiliza esse meio de transportar gente e carga. Mesmo assim, tudo se resolve a contento. – tranquilizou o coronel com voz serena.
Otto:
--- Eu penso nisso, - comentou melancólico o rapaz.
Corina:
--- As galinhas daqui deixaram de por ovos. Eu só penso nos tremores. – reclamou a mulher.
Matilde:
--- Mas as galinhas tem esse costume. Quando ouve um grito suspende a postura. – relatou por seu lado a mãe de Vanesca.
O Coronel sem querer. E os demais também sorriram. Afinal todos sorriram. Enfim, era uma gargalhada só. E com esse estado de coisas, sem porco para comer, o coronel resolveu a questão.
Coronel:
--- Bem! De manhã logo cedo nós vamos buscar os parentes do rapaz. – relatou o homem.
Vanesca:
--- E a égua? – indagou a moça um tanto assustada.
Coronel:
--- Fica aqui. Alguma dúvida? – perguntou o coronel aos demais.
Ernesto:
--- Eu fico com a égua. Pode deixar. – disse o vaqueiro bem ciente da situação.
Coronel:
--- Ovos! Ora já se viu? – perguntou o coronel aos demais.
Então todos sorriram menos dona Corina cujo semblante era de zanga, pois ninguém acreditada no que ela afirmava. Então, ela saiu e deixou pra lá o pessoal. Vanesca observou Corina e se largou a procura de sua antiga ama. Chegou até Corina, ela se abraçou e pediu imensas desculpas por conta do velho coronel. A mulher ficou feliz por ter Vanesca a seu lado.
Logo cedo do dia seguinte, após o desjejum de todos os viajantes o Coronel Araújo acionou o seu veículo, colocando na mala a sela e outros complementos da égua, tudo o que Otto havia dado a ele. A manhã cedo era de sol firme denunciando verão dos mais terríveis. Acercaram-se do veículo, a moça Vanesca, filha do coronel, o noivo Otto e mais o vaqueiro Ernesto. Esse disse saber onde morava o vaqueiro Chagas, antigo morador da fazenda do coronel. Esse homem esteve preso por algum tempo após ter matado a sua mulher com mais de 90 facadas. Isso fazia algum tempo. Quem falou sobre esse crime foi à noiva de Otto. Todos sabiam, porém não comentavam o caso.  O coronel Araújo se viu pronto e chamou a turma para a viagem quando teria que buscar a família de Otto.
Coronel:
--- Vamos? Tudo arranjado por aqui. – falou o homem a fixar a mala do carro.
A moça sorriu com a nova aventura. De remente a moça quis saber:
Vanesca:
--- E a égua? – indagou inquieta.
Otto:
--- O animal fica. O vaqueiro Ernesto se prontificar em cuidar da égua. E ela está amojada, por fim da história. – relatou o homem
Vanesca:
--- E você vai dizer isso ao homem? – indagou espantada a moça.
Otto:
--- Eu digo. Não tem pra que mentir! – afirmou o rapaz.
Coronel:
--- Vamos passar na casa do Prefeito Gregório. Apenas para dar comprimentos. Eu sei como essa gente é feita. De um modo ou de outro.  .... – falou o coronel
Vanesca:
--- Quem é o prefeito. Meu pai? = perguntou sem lembrança a moça
Coronel:
--- O mesmo! O mesmo! – achou graça o coronel por dizer tal coisa.
Em alguns minutos o carro parrou em frente a Prefeitura da Cidade. O coronel falou com uma moça, filha do Prefeito. Ele queria saber do paradeiro do Chefe. A moça respondeu:
Moça:
--- Foi na capital! – sorriu a moça em pé junto a porta da Prefeitura.
Coronel:
--- Quando? – indagou o coronel sem maior preocupação.
Moça:
--- De manhã cedinho! – relatou a moça com o mesmo sorriso.
Coronel:
--- Foi buscar lenha? – indagou o coronel querendo fazer graça.
A moça soltou uma gargalhada e depois respondeu.
Moça:
--- Quase isso! Ele foi ver o problema da falta de energia. O senhor sabe né? – disse a moça sorrindo.
Coronel:
--- Tomara! O negocio está preto! Eu tenho energia. O prefeito também. Mas a população está na miséria. Os poços estão vazios. A barragem não funciona! Tá ruim mesmo! – rebateu o coronel.
Moça:
--- O povo está indo buscar em tambor, lata, jegue e até pinico. – e caiu na gargalhada a moça.
Coronel:
--- Pinico?! Essa não dá! Mas pinico? – indagou assustado o coronel.
Moça:
--- Sim. Tem gente que traz água em urinol mesmo! – sorriu a  moça por ultima instancia.
Coronel.
--- Assim não dá! Vou seguir! Lembranças! – disse o coronel confuso com a história de “pinico!”.
Na volta do carro ainda teve de ouvir a sua filha afirmar.
Vanesca:
--- Ora pai! Que tem isso? Tem gente que bebe água até em pneu de carro! – sorriu a moça.
Coronel:
--- Mas pinico? – falou sem saber o que dizer o coronel.