domingo, 30 de setembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 03 -

- Audrey Tatou -
- 03 -
CÃES
A moça não se surpreendeu com o dizer de seu colega. Olhava-o de forma tranquila. A mão na boca em forma de cunha. O olhar sereno para Otto. Até instantes de forma distante. O rapaz Enoque olhava para e outro e nada dizia. A jovem moça Vanesca olhava serena a figura de Alda Paiva. Porém nada falava. Ela era apenas quem escutava a delirante conversa entre o seu noivo e a jovem Alda. O salão se enchia cada vez mais de pessoas de média classe. Alguns a conversar de seus assuntos corriqueiros. Outros  preocupados em se encontrar uma mesa mais distante onde pudessem confabular seus nervosos temas. A porta de entrada já mostrada o sinal de mais gente a querer entrar. Outras a sair e buscar distinto restaurante menos lotado e onde se pudesse conversar mais à vontade. Esse era o inicio da noite, coisa de nove horas e trinta minutos ou coisa mais. Alda Paiva voltou a conversar  sobre novos assuntos até então não expostos.
Alda:
--- Tinha, no porto um volume de cães. Todos empacotados para embarcar. – relatou a moça de forma alheia ao assunto.
Otto:
--- Cães? Que cães? Adultos? – indagou curioso o rapaz.
Alda:
--- Sim. De certo modo. Cães magros, Pequenos e grandes. Vivos. Eles estavam em gaiolas de arame. Uns latiam. Outros tremiam de medo ou frio. E o Delegado disse ainda ter gatos. Eu não vi. Parece estar em outro setor no porto. – relatou com suavidade a jornalista a fitar Otto de forma disfarçada.
Otto:
--- Cães e gatos? Pra que esses animais? – indagou estupefato o jornalista.
Alda:
--- Exportação. Países da Ásia. Todos tão raquíticos. Cães vadios, desses pegos na rua. Tinha uns maiores. Raça até certo ponto de pura linhagem. – relatou sem emoção a jornalista.
Otto:
--- Ô meu Deus! Cães mesmo? Isso não pode ser! Gatos? – relatou nervoso o homem.
Vanesca:
--- Para onde se leva esses animais? – indagou por sua vez a outra jornalista.
Alda:
--- Pode. Ora se pode. Por aqui pode tudo. Os cães foram pegos em cidades do interior. E eram despachados para países da Ásia. Por lá é consumo franco. Vende-se no mercado. – relatou a moça sem um pingo de emotividade.
Vanesca:
--- Mercado? E vão matar os bichinhos? – relatou apressada a outra jornalista.
Alda:
--- Ora se matam! Os que aguentarem chegar com vida, são mortos sem dó nem piedade. E depois vendidos. Carne de cães, gatos. Até mesmo de cobra e minhocas. O povo come tudo o que se meche. Às vezes, também os que não se mechem. – fez ver sem sentimento a jornalista
Nesse momento, Vanesca se levantou apressada, procurando sair de qualquer forma de onde estava a sentar. Mão na boca. A procura de um lenço. E partiu para o toalete com o maior corre-corre do mundo. Empurrava um. Passava entre os garçons com as suas bandejas. Seguiu entre outros presentes. E alcançou o toalete onde foi fazer o que lhe competia: vomitar. Na mesa, onde ficaram os três jovens, houve até certo ponto um alarme. Alda Paiva indagou de tudo o que dissera o que fizera Vanesca sair com pressa.
Alda:
--- Mas o que foi que eu disse? – indagou curiosa a jornalista.
Otto:
--- Nada. Ela foi vomitar. Não aguentou ter de saber ser naqueles países o consumo de carne de cães serem tão normal.  – fez ver o jornalista. E tornou a olhar o toalete onde Vanesca entrou apressada.
Alda:
--- Nossa! Imagine se eu disser comer formigas e gafanhotos. – sorriu como a sacudir seu corpo a jornalista.
O garçom voltou até a mesa de Otto vendo se o homem tinha mais pedidos a ser feito. Otto consultou os três presentes e comentou ter ele já feito o pedido de uma pizza mais um pouco de vinho do Porto e nada mais. Alda consultou seu amigo e findou por definir ser o mesmo prato para os dois. O garçom agradeceu e se voltou a sair. Nesse ponto chegava à mesa a impressionada Vanesca ainda entediada com a conversa de início mantida com a jornalista Alda Paiva. E foi logo advertido aos presentes:
Vanesca:
--- Nada de cães e gatos! Está bem? – advertiu a moça com as suas mãos a fazer silêncio.
Otto sorriu e Alda também a advertir ter sido um assunto passado. O amigo de Alda salientou ter visto um artigo onde índios consumiam suas vítimas pelas partes nobres. Coxa e glúteo por exemplo. Eram esses os antropófagos. Vanesca tapou as orelhas para não ouvir mais o homem falar. E se levantou de sua cadeira, tento saído para a porta de entrada onde gente muita entrava no restaurante àquela hora da noite. Na porta de entrada a moça ouviu uma conversa entre dois frequentadores de fim de semana. Na conversa um deles contava da morte de um motociclista na rodovia federal.
Frequentador:
--- O homem no automóvel estava embriagado. – disse um dos dois. E eles entraram no restaurante com a conversa sobre o incidente fatal.  
A moça rejeitou o assunto e logo em seguida foi dizendo:
Vanesca:
--- Até aqui, Brutus? – e rangeu os dentes para os inomináveis elementos.
A passear pela calçada do restaurante a admirar o espetáculo deslumbrante dos cartazes luminosos e as lojas de artigos femininos a ocupar largo espaço da avenida, Vanesca olhava atentos os tais componentes ofertados para a próxima semana como de artigo de requinte e luxo. O brilho das vitrines trazia à moça o enigma de um futuro onde nada mais podia haver de surpresa. A vitrine de moda trazia o requinte da coleção das melhores estampas tropicais. Sapatos mostravam atualização para a estação mais quente do ano. As novelas das TVs trouxeram inspiração aos figurinistas para mostrar o mais deslumbrante dos artigos modernos da plena primavera. Vanesca ficou extasiado com tanto brilho em forma de renda, cetim, couro e algodão. As cores neutras e claras trouxeram o branco e os tons a representar a limpeza da Terra. A reedição da famosa calça boca-de-sino torna-se a modelagem essencial dessa temporada.  Dava bem para entender ter os anos de 1970 ficado fortemente gravados  nessa atual estação.  A jovem sentiu a presença de três casais a olhar as vitrines e a conversar com sorrisos o doce encanto da eterna juventude. E Vanesca sorriu para si ao ver não está só diante daquela maravilha. Os mostruários eram decorados de forma totalmente bem criativa apresentando os modelos em brilhantes formas. Um suspiro enlevou a moça diante de tanta inquietante mostra. Ela se conservava com as mãos para trás e o olhar perscrutador a melhor verificar as formas geométricas apresentadas.  Nesse momento, um pingo de chuva descartou o olhar de Vanesca. Ela olhou para o céu e notou ter chuva em poucos momentos. Enfim, atravessou a rua e correu para o interior do restaurante. Ao chegar ao local já havia chuva muita a cair sem trégua. Outras pessoas procuravam se abrigar sob o esmerado teto do restaurante.
Alguém:
--- Chuva grossa essa. – disse alguém a olhar o firmamento.
Outro:
--- Agora deu. Só faltava essa! – fez ver de forma estranha a outra personagem.
Velho:
--- É chuva, moça! – relatou um ancião ao passar rente a parede.

sábado, 29 de setembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 02 -

- Isabelle Adjani -
- 02 -
JESUS
A sala estava mais repleta com o passar das horas. Otto sorvia com a sua noiva o bom vinho do Porto enquanto trocavam palavras sobre acontecimentos recentes divulgados pela imprensa internacional. E foi assim ter Otto chegado à célebre conversa dada por uma das historiadoras de uma Universidade norte-americanas. Ela falou sobre a descoberta de um papiro datado do IV Século onde aponta Jesus como sendo esposo de Madalena.
Otto:
--- É o Evangelho da Esposa de Jesus. O documento apresenta diálogo de Jesus e os seus discípulos. Jesus teria dito ter em Madalena a sua fiel esposa. O documento não é uma falsificação. – relatou o homem pensador.
Vanesca:
--- Eu não acredito nessas baboseiras. – fez ver a moça a olhar os barcos de pesca.
Otto sorriu e fez novas revelações:
Otto:
--- Mas esse papiro já vem do século II, encontrado na Grécia. Você veja bem ter historiadores feitos ao longo do tempo referencia de Jesus ser noivo de Madalena. E Jesus mesmo falou em certa ocasião de ser Madalena sua esposa. Filipe foi um a dizer ter Jesus beijado a sua mulher a quem amava mais que aos apóstolos. Até agora a Igreja Católica permanece em silencio. – relatou por fim o rapaz.
Vanesca:
--- Já estou embriagada com tanto vinho! É do Porto mesmo? – indagou sem esperanças de o seu noivo dizer que sim.
Otto sorriu e relatou apenas estar o vinho bem saudável. Pelo sabor apresentado era mesmo o Vinho do Porto.
Otto:
--- Eu tenho a impressão de ser o vinho do Porto. Mas, se você aceitar eu aproveito para mudar para o vinho Chateou Duvalier. – sorriu a rapaz.
Vanesca:
--- Nem invente! Eu não aceito mais nenhum. E prefiro a cerveja. E pronto. – relatou a moça já bastante nauseante.
Nesse ponto chega à roda dos amigos a redatora Alda Paiva acompanha de um rapaz. A jovem moça foi de imediato falando com se estivesse vendo aqueles dois amantes pela primeira vez na vida. Queria apenas causar susto aos dois: Otto e Vanesca.
Alda:
--- Olha quem está aqui? Tem quem acredite? – e sorriu largamente.
Otto tomou susto. Embora ele de imediato se recompusesse a sorrir. E foi falando com a companheira de jornal.
Otto:
--- Ora viva! Ela chegou do espaço. – falou refeito o companheiro de Alda.
Alda Paiva não deixou por menos e logo a mandar.
Alda:
--- Do espaço! Eu sei! Tira teu trazeiro dai. Deixa-me apresentar Enoque. O meu amigo. – falou Alda afastando Otto para um lado mais atrás e apresentando Enoque aos dois que estavam sorridentes e amigos.
Já refeitos da surpresa os amantes entraram em animada conversa. Enoque também não se fez de rogado e logo abriu o verbo para todos os presentes. A noite estava amigável e mais pessoas chegavam ao salão do restaurante enchendo cada vez mais de fo0lia e diversão. Na mesa de Otto, nem se dava atenção a tanta gente, pois se sabia serem todos da mesma espécie e operando em locais diversos. Esteva no caso uma moça bem requintada e deveras atraente coisa não bem ao gosto dos amigos. Ela passou como um raio sem ao menos cumprimentar quem estava presente.
Alda:
--- Quem é essa tão importante? – indagou de forma não muito satisfeita à moça.
Vanesca sorriu e Otto respondeu sem trégua.
Otto:
--- A filha de um senhor muito importante da esfera. – respondeu cheio de graça o rapaz.
Alda ficou curiosa e voltou a indagar:
Alda:
--- Quem? – indagou com pressa a jovem moça.
Otto:
--- Ninguém. – sorriu com maestria o rapaz.
Alda:
--- Ora vai. ...Só se for ninguém mesmo. – respondeu a moça a pesquisar a outra moça bem completa do vestir até o cabelo.
E novos assuntos aconteceram. Em dado momento Otto fez perguntas a Alda sobre a matéria da tarde. Ela esteve toda a tarde presa em uma matéria local onde houve de tudo. Mesmo assim, Alda nada falava com seus amigos. E quando falou foi para dizer:
Alda:
--- Normal. Apenas eu vi o acontecido de momento. O delegado da Polícia Federal apresou toda uma carga de sal. No meio da carga estava escondida grande parte de cocaína. Eu vi a coisa e anotei. Não tinha ninguém nas docas. – falou com calma a jovem.
Otto:
--- Como ninguém? – reclamou o parceiro.
Alda:
--- Ninguém de outro jornal. Eu estava só. Apenas Aldo estava comigo. Ele fez as fotos e eu a matéria. O delegado disse ter apresado um avião e daí então ele rumou para as docas. Foi isso apenas. – comentou a moça torcendo o cabelo da cabeça.
Otto:
--- Loucura! Você fez matéria internacional! Loucura! – relatou o jornalista colhendo frutos para a moça plantar.
Alda:
--- Mas eu acho que nem tem importância assim. Foram apenas alguns quilos de coca. Você acha que tem? – investigou a moça.
Otto:
--- Se tem? Ora se tem! Esse estado está um paraíso de tráfico de drogas. E o navio? – indagou o jornalista.
Alda:
--- Está no meio do rio. Ele não pode sair do porto. Foi afastado. A Polícia Marítima esta agora a investigar. O navio é de bandeira estrangeira. Pode haver até uma apreensão de outras cargas. Sei lá! Tá na notícia. O navio e a carga. Eu estava no porto para fazer matéria sobre embarque de frutas para o exterior. Então eu vi a Policia Federal chegar. E me apressei em procurar saber o que havia na carga. O delegado foi quem disse: Cocaína da boa! – sorriu a moça ao falar de certo modo cheia de graça.
Otto:
--- Mas você é doida? Menina! Isso dá primeira página. Um furo! Como é que pode? – comentou extasiado o rapaz
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 01 -

- Alida Valli -
- 01 -
À NOITE
Sexta-feira, fim de semana, oito horas da noite. Otto desligou o seu computador e verificou se tudo estava correto ou se esquecera de algo. Ele bateu no bolso da camisa a procura de uma caneta e estava ciente de estar no mesmo lugar. Em seguida Otto rumou para a bandeja de copos no local de costume e tirou um pouco de café. Ao sorver o café ele olhou para a mesa da redação e viu a moça Vanesca a dedilhar a sua matéria e outras redatoras ao fim do mesmo ofício: concluir o seu trabalho. A caminhar devagar, sorvendo o seu café, Otto se aproximou da mesa de Vanesca e olhou para o seu trabalho. Nada disse. Foi em seguida para outro canto da sala. Ainda ouviu da moça um aceno com a mão direita a querer dizer algo como:
Vanesca:
--- Espere! – falara a moça ao rapaz sem precisar dizer. Em seguida voltou-se para o trabalho.
Otto estava despreocupado, pois o seu trabalho já havia sido concluído. Próximo à porta da redação ele topou com o seu chefe. O homem saía com um pouco de matérias em direção ao diagramador. Ele mostrou as matérias a balançar com as mãos. E nada falou. Otto sorriu ainda sorvendo o seu café.  A moça atendente de telefones já estava pronta para sair. O homem olhou em cima da mesa alguns recados misturados com revistas nacionais. Coisa de só menos importância. Ao voltar a sua mesa de trabalho Otto olhou sem dar importância à matéria da moça Alda Paiva. E ela então olhou para o rapaz  sem nada falar. Apenas enroscava o seu cabelo com o dedo indicador direito. Após esse breve instante, Alda Paiva voltou ao trabalho. Otto se dirigiu a mesa de Vanesca e indagou:
Otto:
--- Pronto? – falou o jovem.
A moça lhe respondeu:
Vanesca:
--- Quase. – e olhou para o rapaz a sorrir.
Otto caminhou para um lado onde depositou o copo na cesta de coisas usadas momento em que a mulher da limpeza recolhia o saco para depois sair da redação do jornal em busca de outros sacos por alí depositados. Ao cabo de alguns minutos, Vanesca se levantou e buscou seus apetrechos de maquiagem e falou para o seu noivo:
Vanesca:
--- Volto logo. – e saiu com pressa para a toalete feminina.
Otto voltou a conversar com Ricardo, chefe de redação. O homem apenas relatou:
Ricardo:
--- O “homem” quer que se dê maior cobertura a represa. O Presidente deve inaugurar ainda esse ano. – falou sem motivo o chefe sacudindo a cabeça para um lado e para outro.
Otto sorriu e vez ver se o Governo já pagara aos trabalhadores terceirizados.
Otto:
--- E os trabalhadores terceirizados já receberam? – sorriu o homem.
Ricardo:
--- Isso ele não fala. Afinal são terceirizados. Pra que falar? – disse o chefe a se apoiar na mesa de diagramação.
Diagramador:
--- Que faço com essa foto? – perguntou o diagramador.
Ricardo:
--- Ponha do lixo. – respondeu o chefe vendo uma foto sobrando na mesa.
O diagramador sorriu e pôs a foto no saco do lixo ao dizer:
Diagramador:
--- Não seja por isso. – sorriu o diagramador.
Otto ficou a espera de Vanesca a olhar as outras jornalistas a bater as suas matérias. Dentre as tais estava Racilva, jovem em tempo de aprendizado de redação. Otto se acercou a moça e olhou bem a matéria. Teve um trecho a merecer reparos. Ele apontou com o dedo. A moça não entendeu de certo. Ele então bateu à teclada e substituiu a palavra. A moça sorriu para Otto e a ajuda prestada por ele.
Racilva:
--- Obrigada! – respondeu a moça a tremer de susto.
Vanesca voltou da toalete e logo se dispôs a sair. Otto também já estava pronto. Ainda assim, olhou a matéria de Alda Paiva e disse-lhe.
Otto:
--- Vá fundo! – falou o rapaz querendo dizer – “Mais ação”. -  
Em seguida, Otto e Vanesca saíram com pressa, pois já estava quase meia hora em atraso. Eles rumaram para o elevador onde já estavam mais duas moças de outras secções a conversar algo sem nexo e por isso mesmo sorriam.
Vanesca:
--- Demora! – falou a moça com cara de quem quer sair o mais rápido possível.
Otto:
--- O restaurante já deve está cheio há essa hora. – falou o rapaz sem muita conversa.
O automóvel rumou em direção de um restaurante muito procurado pelas moças e rapazes e se tornara o chamariz dos encontros de fim de semana. Um sinal fez o motorista brecar. Duas mulheres atravessara a rua quase correndo. Uma anciã atravessou sem pressa, pois o sinal estava a indicar o vermelho. Otto olhou a idosa senhora e ficou a pensar em quantas eras teria aquela mulher. Um corpo franzino, saia comprida até ao chão, cor de luto, bengala na mão. Isso era tudo da mulher corcunda vergada pelo tempo. Um homem atravessou em sentido contrario agarrado a sua feliz namorada. Do outro lado a rua os carros estavam parados enquanto nos bares da vida os garçons corriam de um lugar a outro para atender com maior presteza aos fregueses. Após um tempo o sinal abriu para os carros e Otto se dirigiu em sentido à direita em busca do restaurante de costume. A moça Vanesca olhava as vitrines do interior do carro e apertava a mão de Otto para que ele também olhasse aqueles lançamentos da semana.
Vanesca:
--- Olha que chique! – dizia a moça a verificar os lançamentos da moda nas vitrines.
Otto:
--- É apelação. Não tem nada de chique. – respondeu o rapaz preocupado em encontrar um local de estacionamento ao chegar ao restaurante.
Vanesca:
--- Você também é um desmancha prazer. – vez ver a moça com a cara nervosa.
Otto:
--- Mais não é mesmo? – sorriu sem querer o rapaz a estacionar o carro em um pátio.
O flanelinha veio depressa para dizer ao dono do carro que ele estava ali a tomar conta dos automóveis para ninguém arranhar os mesmos. O flanelinha apenas fazia o seu dever de ganhar alguns trocados dos donos dos carros. Otto deixou uns trocados com o rapaz se encaminhou a entrada do restaurante. Como era de se pensar a respeito, o local estava quase completamente lotado. A sala era toda muito bem arrumada e uma vitrine existente no local  dava para se ver os  barcos de pescas a trafegar com lentidão no rio.  Os bravos garçons ou empregados de mesa transitavam céleres de um lado para o outro para atender com presteza aos pedidos já um bom tempo que eram feitos. As mesas com quatro ou seis cadeiras eram para dar mais luxo ao recinto. Otto não reparou bem nesses magníficos detalhes,  pois já estava acostumado a se ver nesse aprazível local de comes e bebes. Com o passar dos minutos, o rapaz puxou um garçom pela túnica e pediu uma bebida como vinho, para dois. O garçom conferiu a mesa e disse apenas:
Garçom:
--- Um instante. – e caminhou apressado para o interior do bar.
 

sábado, 15 de setembro de 2012

ISABEL - 56 -

 
- Camila Pitanga -
- 56 -
PRÊMIO
Os dias, semanas e meses passaram. Houve quem perguntasse pelo resultado do certame para a escolha do nome do bar de Isabel. A resposta chegava com certeza para já. A comissão do apurado já estava há bastante tempo com os envelopes lacrados. E nada de ser dada a resposta. Ninguém sabia por certo quem eram os membros das duas comissões: uma para apurar o nome do vencedor. Outra, para dar o resultado. E o vexame ocorria até se chegar a conclusão. Em uma sexta feira, Gonzaga fez ver ter chegado a decisão feita pela comissão de jurados. E seria dado o nome do vencedor. A comissão de três nomes era mesmo dos frequentadores do bar. E então, à noite, veio o resultado. O bar estava repleto de entusiastas concorrentes e de não concorrentes. Cada qual que torcesse as mãos à procura de saber e ouvir o tal resultado. Havia gente de perto e da distancia. Alguns desconhecidos da velha turma de habitués vindos da época do bar quando era simplesmente bar. Nesse dado instante três personalidades, muito embora fossem habitués contumazes, assumiram suas posições em uma banca. E daí, então começou o alvoroço apenas apagado pela voz austera de Gonzaga:
Gonzaga:
--- Silencio, por favor! Agora teremos a leitura do vencedor! – fez ver o homem a sacudir as suas mãos e a sorrir complacente.
E houve vagaroso silencio no recinto. Apenas alguns se perguntavam para que tanta quietude naquele local. Outros advertiam para o moço calar. Uns ébrios acenavam com o copo na mão.
Bêbados:
--- Viva a democracia! – diziam os embriagados ao se levantar de suas mesas.
Outros argumentavam com certa ojeriza:
Outros:
--- Esse está bêbado por certo! – e olhava o bêbado e se voltava para a mesa do júri.
Após esse breve intervalo, o presidente da Comissão, com certo receio, pegou um mapa e, antes de ler, fez uma pausa e olhou para a seleta plateia. Nada mais a se registrar, o homem declarou tudo o que havia de ser dito. E, por fim, veio a decisão:
Júri:
--- Entre tantas contribuições recebidas, o Júri colheu entre todas, duas, as que foram as mais votadas. E nessas duas, há um empate: Alguém advoga ser dado o nome de Taverna. Outro alega ser Taverna de Isabel. Estas se encontram empatadas em seus respectivos números. Cabe aos que se encontram aqui, agora decidir o nome que fica. Ou puramente Taverna ou se põe o nome de Taverna de Isabel. – relatou o presidente do Júri. E passou a ouvir a resposta.
Foi de puro silêncio o que houve. Ninguém sabia como decidir qual seria o nome verdadeiro. Por fim, a quebrar o silêncio, alguém se levantou de sua mesa e disse contundente.
Alguém:
--- Eu sou de acordo ser posto o nome de Taverna de Isabel! – relatou o cliente do bar.
Silêncio total. Por fim, com a decisão tomada, o Júri decidiu:
Júri:
--- Que seja feito o nome de Taverna de Isabel. Tenho dito. – falou sério o presidente.
E desse momento em diante houve regozijo total dos eternos beberrões. O prêmio ficou para o autor do nome e ele ganharia o seu conjunto de vídeo e áudio. Ninguém esperou por isso. Todos queriam mesmo era beber. Quem tirou a sorte grande do certame depois haveria de procurar receber. E a festa rolou a noite e madrugada do dia seguinte quando já estava o sol a nascer.
Racilva e Suzana tiveram a possibilidade de continuar seus estudos interrompidos. A mãe de Suzana, dona Maria Clementina, viveu dias maravilhosos ao lado de Valdivino. Toré, sua mulher Otília, sua filha Sílvia, a irmã Luiza e seu marido fizeram viagem de turismo a bordo de um transatlântico. Apenas a mãe de Toré ficou sozinha na sua casa em frente aos trilhos do trem. O homem, Gonzaga, sua mulher, Isabel cuidaram de abrir um albergue para pessoas idosas. Paulo, filho de Maria José, e seu amigo Francisco, filho de Isabel, continuaram os seus estudos. Maria              José, apenas reclamava com a vida:
Maria:
--- Haja luta. – falava a moça quando cuidava de dona Salete, mãe de Isabel.
Quando passava um avião mesmo por longe da casa, Maria José ainda olhava com temor para a aeronave. E no próprio meio dos frequentadores do Bar havia o murmúrio de alguém a dizer ter Gonzaga construído o remodelado uma casa para dar abrigo aos mais carentes, oferecendo café da manhã, almoço ao meio dia, lanches e janta ao inicio da noite. Na parte religiosa, havia uma Igreja onde todo dia havia a Santa Missa. Um retrato da mãe de Gonzaga foi edificado em um pilar ao centro do albergue e com o seu respectivo nome: Maria Francisca de Algarve. Era uma foto bela de quando a mulher ainda era muito jovem. Alguém disse certa vez:
Alguém:
--- Ele vai ser governador desse Estado. – relatou um homem meio desconfiado.
Outro:
--- Governador eu não digo. Talvez um deputado. – disse o outro.
Terceiro:
--- Talvez Prefeito! – disse um terceiro a sorrir.
Mas, Gonzaga estava alheio a tudo isso. Ele apenas queria trabalhar com Isabel para os mais necessitados. E com o albergue, onde Gonzaga pôs o nome de sua mãe, Maria Francisca de Algarve ou simplesmente Albergue Maria Francisca, ele trabalhava para o sustento dos mais carecidos aproveitando a produção de legumes, frutas, leite e verduras da fazenda onde ele buscava tudo o precisado. Certa vez, ao perambular ao devaneio, ele descobriu uma gruta em uma rocha. E por lá ele entrou. No seu entrar ele notou ser a gruta algo misterioso, pois estava ali uma mina de ouro. Na verdade, ele teve dúvida no que vira. E trouxe uma amostra de pedra para um ourives da Capital e solicitou ao mesmo examinar se a amostra era de algum metal. O Ourives pesquisou e não foi sem assombro ao dizer:
Ourives:
--- Onde encontrou isso? – perguntou o ourives meio tonto ao ver tanto ouro em uma pedra
Gonzaga:
--- Em uma pedra da minha fazenda. – relatou o homem abismado com o ourives.
O homem buscou mostruário em revistas e em outras pedras pequenas para fazer a comparação. Então, assombrado, o homem declarou sem meias palavras.
Ourives:
--- Isso é ouro. Do mais puro ouro. E o senhor tem outas amostras? – indagou o ourives ainda a examinar a pedras..
Gonzaga:
--- Tenho outras a escorar a porta. Mas é ouro mesmo? – indagou desconfiado o homem.
O ourives ficou perplexo e então falou meio suado.
Ourives:
--- Faça o seguinte: procure um advogado e entre com um requerimento no Departamento Nacional de Produção Mineral. O Governo vai pagar ao senhor por achar ouro em sua propriedade. Mas faça isso agora. Não pense duas vezes. Vá embora, meu senhor! – relatou o ourives ao homem.
Gonzaga:
--- Está bem. Eu vou. Não se perturbe. – declarou Gonzaga ao ourives, um velho magro e corcunda a vestir roupas comuns.
Dai por diante Gonzaga cuidou de fazer o que era certo e requereu ao Departamento Nacional de Produção Mineral a concessão da mina de ouro no seu quintal. O assunto tomou espaço em todos os jornais do País e do Mundo. Gonzaga nem sabia o ter descoberto a mina de ouro. E perguntou a Isabel meio descrédito.
Gonzaga:
--- Querida? Isso é verdade? – indagou o homem a sua mulher.
Isabel:
--- Se é ou não eu não sei. Eu quero tirar minha carta de motorista. Eu vou guiar aquele carro pela primeira vez na vida! – sorriu a mulher ao tomar conta de suas tarefas na Taverna.
 
FIM
 
 
 
 
 

ISABEL - 55 -

- Debora Secco -
- 55 -
ASSEMBLÉIA
 


Durante a tarde daquele dia o assunto do Governador e da sua renúncia foi o ponto quente dos parlamentares da Oposição. A Casa se encheu de gente para ouvir os ataques feitos pelos deputados estaduais com respeito ao Governo e os seus auxiliares diretos. Não havia chão para caber tanta gente, mesmo pessoas indiferentes ao caso da renúncia.  A sessão começou na hora aprazada logo após o novo Governo assumir. De qualquer forma o novo governante era um cidadão que entrou na chapa como um cão entra na Igreja. Ele nem era carne e nem peixe, ou melhor: nem fedia e nem cheirava. Porém, quando ele era um simples funcionário da Prefeitura, armava-se de pau e bandeira a gritar pelas ruas contra o Governo Municipal por não coletar o lixo da cidade e nem dar aumento aos seus servidores – do lixo -. Era esse o rapaz inquieto a comandar a turma de servidores municipais catadores de lixo. Levava a vida desse jeito até um dia ser convidado para participar da chapa do Governo e, daí então, ele se aquietou de vez e nunca mais falou em lixou ou coisa podre. Apenas seguia os princípios do Governo. Sempre como Vice e nada mais. Naquele momento ele não era mais Vice, e sim Governador de direito e de fato,  pois lhe coube a função como um ex-Vice.  E sendo um Governador, ele teria que fazer as pazes com os deputados da oposição ou seguir como sempre caminhou. O certo é que naquela tarde os deputados oposicionistas – era a maioria na Assembleia – desceram o malho no ex-governador e, por consequência no Vice, então já governador do Estado. Um dos tais descrevia a celeuma imposta pelo Governo e a mortandade feita pelos peitos-largos custeados por pela administração estadual.
Deputado:
--- Esse Governador que saiu do poder – e já saiu tarde – era quem mandava trucidar homens, mulheres e até crianças de colo. Vejamos agora o que esse novo Governador vai fazer em defesa dos justos. Não se pode mais suportar tamanha atrocidade onde homem e mulheres são sacrificados a mando de seus administradores. Não é justiça o que se fazia de noite ou de dia. O Poder Judiciário tem que se pronunciar a respeitos dessa vil corja de assassinos contumazes e sem respeito. - - dizia o parlamentar em um discurso mais longo da história do poder legislativo.
Na Casa lotada de gente, ouvia-se murmúrios de pessoas tecendo comentários sobre a ação de a Polícia Federal ter pretendido naquele dia um grande número de policiais estaduais e outros  parlamentares da situação envolvidos a matança de homens ditos malfeitores no Estado. Enquanto outros argumentavam não ser oportuno à oposição fazer discurso de rancor e ressentimento.
Ouvinte:
--- Ele só sabe fazer discurso raivoso e vingativo. – comentava um deles.
Outro:
--- Isso é peça de teatro. Quaro ver se ele for eleito governador. – falou outra pessoa de forma sem ouvir o discurso da oposição.
Mais um:
--- Só quero saber é se alguém vai defender as prostitutas. – sorriu o homem ao sair da sala.
Outro mais:
--- Olha que tem uma alí. – apontou um assistente para uma das moças a cuidar dos afazeres da sessão. –
O seguinte:
--- Qual? Qual? – perguntou o seguinte querendo olhar melhor para a moça.
Ouvinte:
--- Eu acho que essa oposição está perdida em seu mandato – argumentou o ouvinte.
O caso teria maior prosseguimento na sede da Polícia Federal. O Quartel General foi solicitado pela Polícia Federal para enviar uma parte dos presos. E houve um verdadeiro tumulto por parte dos advogados por não saber para onde eles deviam seguir daquela hora em diante. A impressa corria as tontas para ver se conseguia qualquer tido de informação. No Comando Militar não houve acesso. E no setor da Polícia era do mesmo jeito. O dia findou sem grandes novidades, a não ser a prisão efetuada do Governador, Secretários, deputados, bandidos e vereadores. A Impressa fez plantão junto a sede da Polícia para cobrir qualquer caso surgido nas caladas da noite. Mesmo assim, o sono bateu e muita gente da reportagem resolveu dormir no interior dos carros ou coisa assim. Pela madrugada, três horas mais ou menos, ouviu-se um grito. E desse grito um tumulto. Os repórteres acordaram de sua vigília. Todos procuraram saber o havido. A entrada da Polícia estava trancada. Mas um repórter registrou a saída de um carro com a sua câmera.
Repórter:
--- Tem coisa. E grossa. Esse carro saiu pela hora da madrugada.... – revelou o cinegrafista.
Houve um tumulto de repórter a querer saber se tinha algo a se declarar. Um policial veio até o portão e disse apenas a informação:
Policial:
--- O Governador morreu. – disse o policial.
Repórteres:
--- Morreu? Mas morreu como? De que modo? Onde ele está? Quem notou essa morte? – era tudo a conversa dos repórteres.
O policial saiu sem mais dizer nada. As câmeras foram acionadas, os repórteres a chamar a redação – no caso das emissoras de rádio – os fotógrafos acionaram suas baterias de fleches. A agonia foi terrível. Com um pouco de tempo o veículo retornava. E a seguir, outro veículo. E, por fim, um rabecão, carro para transportes de mortos. O caso tomou novo rumo. Era coisa grave o acontecido. As moças das equipes de reportagem ficaram sem ação para falar de algo não sabido. Os rapazes ficaram em igual situação. Uns cinegrafistas subiram em umas mangueiras existentes em um terreno baldio para ver se tiravam algo de dentro do setor da Polícia Federal. Novos carros chegaram e entraram no setor da PF. Houve um tempo enorme e o dia já estava clareando. Para não dizer não se fazer nada, os fotógrafos fizeram fotos dos seus relógios há marcar as horas. As moças tremiam de medo como se não quisessem dizer mais coisa alguma. Nenhum movimento de dentro da prisão da Policia. A não ser uns agentes a passar de um lado para o outro. Com o passar das horas, o diretor da Polícia Federal se pôs a disposição da Imprensa. Eram 8 horas da manhã. O delegado falou pouco, mais o suficiente para se entender. Em seguida distribuiu uma nota explicativa. Ao seu lado estava o médico legista e o Governador do Estado.  Não se sabe por onde o Governador entrara. Mas a nota  explicava ter o ex-governador sido morto por enforcamento. Usando de um cinturão o homem subiu em uns degraus existentes no presidio e ali pôs a amarra e se jogou ao chão. Foi um baque surdo e abafado notado apenas por outro detento. Esse homem deu o alarme e a PF foi mobilizada.  A nota era lacônica e fria. Nada dizia ter sido o ex-governador uma pessoa má ou boa. Apenas dava a nota. O Delegado da PF, logo após, sem responder questão, saiu da Sala na companhia do Governador eleito como vice e do médico legista. De qualquer modo, para sustentar a matéria a impressa faz a sua versão. O ex-governador foi levado para o interior do Estado onde se fez as exéquias.  O novo governo do Estado demorou horas para decidir se punha luto ou não.  Em algumas escolas a bandeira foi hasteada a meio pau, tão logo a direção da escola ficou sabendo da morte súbita. Alguns repórteres foram destacados para o interior para dar cobertura jornalística à cerimônia fúnebre. O novo Governador não se aventurou em ir. No seu Gabinete procurou escolher o seu secretariado.
Passante:
--- Que merda! Agora que se descobriu quem matava ou mandava matar. – disse um homem ao passar à frente do Palácio.
Outro:
--- Homem! Isso é a vida! Quem morre, acaba! – falou outro.
E na Taverna de Isabel a conversa tomava maior sentido com os frequentadores a comentar a morte e a falar de quem assumiu o pode, assim, de imediato. Os mais afoitos bem disse ser um lixeiro o Governador do Estado, Outros foram a fora ao dirimir tal dúvida a salientar ter lixeiro capaz de tudo no interior do Estado.
Um:
--- Eu vi coisa recente, um concurso para coveiro. Imagine! – relatou o homem de boca aberta.
Dois:
--- É. Coveiro é coveiro. Não são aquelas tuias. – sorriu o magnata de mesa.
Três:
--- E Isabel? Vai pôr luto na taverna? – indagou um terceiro homem.
Isabel:
--- Quem? Eu? Só se for! – resmungou a mulher a fazer comida em seus pratos.
Gonzaga:
--- Eu temo por Silva. Onde ele anda? – indagou o homem a Isabel.
Isabel:
--- Não vi mais. Deve estar na luta. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Luta? Que luta? – indagou mais uma vez o homem
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ISABEL - 54 -

- Paola Oliveira -
- 54 -
PUB
Em um dia de uma semana após o divertir da lagoa, Gonzaga ouviu de um cliente a observação de mudar o nome de Bar para um mais afeiçoado com pub. Algo semelhante a Help Irish Pub soaria bem melhor. E dai por diante teve inicio a discussão entre os frequentadores. Alguns acreditavam em se tirar o Bar de Isabel criaria problema com os frequentadores. Outros eram de opinião diversa. E teve quem dissesse mudar para Irish se tornaria deselegante:
Frequentador:
--- Pouca gente sabe o que significa Irish. Talvez duas ou três pessoas. E colocar Help? Nossa Senhora dos Aflitos. E se tem que mudar, é pôr um nome regional. Bem mais terra. Na Inglaterra eles puseram nomes de cidade. Ou não puseram nada. Pelo menos os ingleses chamam de Public Houses. Nome popular. Por exemplo – Isabel Pub House. Ou pelo menos Casa Pub Isabel. Coisa assim. Nem tiraria o sentido de Pub e colocaria o nome já tradicional. – relatou o freguês.
Gonzaga:
--- Muito bem. Façamos então uma votação. Os frequentadores mandam um nome que mais se adequa e, no fim, o melhor será o nome da casa. Está bem assim? As propostas ficarão guardadas em um cofre. Quando chegar o final, ele será aberto. Uma comissão formada por três cavalheiros terá a incumbência de tirar os nomes da urna. E, depois, outros três senhores darão um prêmio no valor total de “x” em prêmios de monitor de computador, todo completo, com notebook e coisas mais e um televisor de 21 polegadas. Esse será o premio. Os candidatos inscritos para verificar o conteúdo dos nomes, terão uma significativa remuneração. E mais: Os nomes devem ser dados em sigilo. Um envelope a parte terá o nome do inscrito. Que acham disso? – indagou Gonzaga a todos os presentes a recepção no pub.
Freguês:
--- É democrático. Eu aprovo! – disse um homem.
Outro:
--- Eu também. – falou outro.
E assim, todos os frequentadores tiveram a oportunidade de opinar de modo adequado. Já no dia seguinte a imprensa divulgava o concurso para o nome do Pub de Isabel. O assunto tomou conta da cidade e até de outros centros nos Estados mais próximos. Cuidou-se de depositar os nomes no cofre para após um mês o mesmo ser aberto e do seu local os três ilustres senhores examinar cada nome e cuidar de resolver o mais chegado ao ambiente. Isabel não disse nada a respeito do assunto. Ela estava, nesse momento, a frequentar aulas de direção para tirar sua carta de motorista. O presente do marido foi algo fenomenal. O veículo de dois assentos, prateado, pleno luxo a percorrer as ruas da cidade e até mesmo do interior. O Morgan era o luxo sem par. Embora a mulher não tenha habilidade de dirigir, pois ainda estava a aprender, o seu automóvel, dormindo sossegado na garagem de sua casa, todo coberto por um cobertor era uma espécie de “deusas” dos lugares mil. A mulher não via a hora em poder dirigir o seu magnífico Morgan pelas ruas e estradas da cidade e das proximidades.
Nesse meio tempo, o Governo Federal mandou um ultimato para o Governo do Estado em decidir a hora de abandonar o cargo. O Governado estava sem cobertura na Assembleia Legislativa, pois a maioria dos deputados já estava contra a sua administração.  Isso representava a minoria de parlamentares a apoiar o seu mandato. Quatro investigadores da polícia estavam metidos nos assassinatos a mando de políticos da situação do Estado e do próprio Governador. Havia inclusive um senador e um deputado federal. O Secretário de Segurança também estava envolvido no esquema do tal famoso Mão Branca. A polícia federal armou uma operação logo de madrugada da manhã desse dia e cobriu toda a área do senhor deputado estadual doutor Sandoval Quaresma. No casarão era esconderijo inclusive quatro bandoleiros pertencentes a polícia do Estado. Esses malfeitores foram identificados pelo agente da polícia federal, José Baldoíno cuja identidade fora mudada para Manoel do Sertão ou apenas Sertanejo. Às cinco horas da manhã os agentes federais invadiram a fazenda dando ordem de prisão do deputado Quaresma e aos quadrilheiros. Todo pessoal ainda dormia estando apenas acordada a senhora Josefa Maria da Conceição, cozinheira da casa grande. A sua filha Nívea Maria tinha saído para o mato onde estaria a cumprir as suas necessidades normais e corriqueiras. Os agentes cuidaram da mulher. A filha “Matuta”, nome pelo qual era conhecida, ao ver os agentes, correu em debandada para dentro da selva o por lá apavorada ficou a olhar para o movimento feito no interior da fazenda. A demora foi rápida. O deputado Sandoval Quaresma acordou sob as  armas e a voz de prisão do delegado da Policia Federal. Os demais agentes cuidaram dos cinco homens – um era de fora do bando, pois não pertencia a Policia do Estado -. Mesmo assim, era bandoleiro afamado. O deputado aos gritos apenas dizia ser ele deputado a não recebia ordens de qualquer um. Os seus argumentos de nada valiam, pois, o deputado foi algemado da mesma forma como os demais capangas. As viaturas rumaram mundo afora com presteza da prisão.
Enquanto isso, seis horas da manhã, outro grupo de agentes bateu à porta do palacete do Governador com a mesma missão. Na parte de fora, a guarda policial quis impedir, porém foi em vão. A Polícia Federal prendia no mesmo tempo o Secretario de Segurança, dois deputados estaduais envolvidos também nos crimes de Mão Branca e buscou mais vários vereadores de cidades do interior. Na Capital Federal houve a prisão de dois deputados federais e um senador pertencente ao partido do Governador. Houve choro muito, porém de nada adiantou tal reclamação. Antes do meio dia, o Governador pedia demissão das funções acompanhadas por todos os Secretários de Governo. Nesse dia a imprensa não teve hora para terminar as suas atividades. O jornal da oposição era o mais procurado nas bancas, pois saíra em edição especial a contar toda a trama armada pelos setores do Governo.
Leitor:
--- Menino? Que confusão é essa? – perguntava alguém plenamente extasiado.
Outro:
--- Esse negócio de Mão Branca é antigo! – respondia outro.  
Alguém:
--- Quem é o bandido? – indagava um terceiro sem saber de nada.
Na Taberna de Isabel o caso virou um estardalhaço. As mesas eram todas ocupadas pelos habituais frequentadores e todos relatavam das peripécias dos homens do poder. Para alguns, o caso terminaria em banho Maria. Outros argumentavam ser o inicio de o grande golpe militar. E tinham os falavam em tragédia por parte do Governador:
Um:
--- Duvido que ele se entregue! Mas duvido mesmo! – relatou um aos seus companheiros.   
Nesse mesmo dia advogados entraram em cena. Era uma correria louca. Os mais afoitos eram os juristas compenetrados na causa do Governador. No corre-corre dos jurisconsultos moviam-se uns e outros para cada lado. Trombada com diferentes juristas era apenas o visto. Na Polícia Federal eles entravam com petições para ter o direito de falar com o seu intercessor. Havia advogados para os deputados, secretários de Estado e até mesmo vereadores. A sede da Polícia se tornou pequena pra ter tanta gente confinada. Alguns presos foram mandados para outras dependências da Repartição Federal enquanto outros ficavam em solitárias amargando a própria sorte. Quarteis do Exercito foram solicitados para guarda tanta gente. E nesse vai-e-vem o dia se passava com maior rapidez possível. Uma carta de renúncia chegava à Assembleia Legislativa no fim do primeiro expediente. Era do próprio Governador. Pequenos aviões decolavam a todo instante em busca de outras paragens. Um Secretário de Estado entrou em uma convulsão por ele não perceber o grau de responsabilidade nos crimes hediondos praticados pelos elementos da Polícia Civil. O Coordenador da Polícia entrava e saia do prédio da Polícia Federal em seu passo ligeiro. A sua gordura não atrapalhava em nada a sua corrida. Quando abordado pela reportagem ele sempre tinha a dizer:
Coordenador?
--- Nada a comentar! Nada a comentar! – e se metia em um carro a leva-lo para locais não sabidos.
O Diretor da Polícia Federal se entrincheirou em sua pasta e não recebia repórter para dar qualquer explicação. O ruge-ruge de gente, carros, kombis,  Bestas e outros mais era um desassossego na vida dos principais envolvidos na causa. Enquanto na Assembleia o caso se tornava pânico, nas demais secretarias de Estado os funcionários apenas comentavam a boca pequena.
Funcionário:
--- Eu sabia que isso dava em convulsão. – comentava alguém a falar baixo.
Funcionário Dois.
--- Eu não sei de nada! – comentava outro.
Funcionaria Três.
--- Ave Maria! Quem diria! – falava uma moça um tanto perplexa.
Funcionária Quatro:
--- Eu vou alí e volto já! – dizia outra servidora, baixa e gorda saindo depressa da repartição.
Funcionário Cinco:
--- E o Governador morreu? Morreu? – indagava outro alheio a toda celeuma.
Funcionário Seis:
--- Homem! É hora de eu ir para casa! – dizia outro se desculpando para sair e bebericar.
O movimento de carros oficiais e particulares era intenso em toda a cidade. E ninguém se importava com uma batida de carro no transito vertiginoso. Apenas regava uma praga para alguém e seguia seu rumo para qualquer lado. Os barres se enchiam de gente. E a Taberna de Isabel era a mais frequentada.