sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - TREZE -

- Fernanda Vasconcellos -
- 13 -
- CURIOSIDADE -
Com o passar do tempo o alemão Klaus Renner despertou a sua curiosidade ao ver por demais aguçar  naquela mulher, ainda jovem, de meia idade algo semelhante com tantas patrícias suas de tempos passados. Apesar de ser brasileira, sua cor era alva e de cabelos claros, tal fato a despertar maior atenção. E Klaus, divagar indagou:
Klaus:
--- A senhora tem estudos? – indagou.
Maria:
--- Quem? Eu? Imagine! Fiz o primeiro ano do primário! Eu nasci numa fazenda perto de Japi. Ainda menina de pouca idade, a minha mãe se mudou para Santa Cruz. E depois, nós viemos para Macaíba. Pai eu nunca tive. Apenas mãe. E nem tive irmão. Levei a vida a vender na feira as bugigangas feitas por minha mãe. Depois que ela morreu, eu tive que inventar outra coisa. Arranjei um sapateiro. Esse homem era estudioso. Batia sapato o dia todo, e em troca se pagava com livros. Ele morreu, faz um ano. Mas deixou a sua riqueza: livros. Filho: Nenhum. – disse Maria a lavar o chão.
Klaus:
--- A senhora conhece muitas pessoas? – perguntou com as mãos para trás e olhado a janela.
Maria:
--- Ah. Conheço. Modo de dizer. Conheço o Governador. De vista. Mas eu conheço. De perto, não. Conheço o soldado Carvalho. Esse eu conheço porque todos os dias ele passava em minha banca para comprar frutas. E conheço também o Prefeito. Apenas de longe. Mas conheço. – respondeu a lavar o chão.
Klaus ficou a vigiar a mulher. Ela continuava seu afazer doméstico. O homem batia as mãos para trás uma sobre a outra e olhava como se observa o tempo. E indagou:
Klaus:
--- A senhora nasceu aonde, mesmo? – voltou a querer saber.
E a mulher ocupada então com o assoalho respondeu.
Maria:
--- Japi. Uma nesga de terra. Minha mãe morava na terra do Coronel Theodorico. Um velho baixo. Quer dizer: muito baixo, não. Mas era baixo. Dizem que ele nunca foi coronel. Mas o povo só chama de Coronel. – respondeu a mulher enxugando o tapete.
Klaus:
--- E a senhora? – perguntou o homem.
Maria:
--- Que tenho eu? – indagou a sacudir o pano.
Klaus:
--- O conhece? – perguntou.
Maria:
--- De vista. Ele passava pela frente lá de casa quando a gente já morava em Santa Cruz. Então eu o via passar. Eu calada. Toda acabrunhada. Nem falava. Também eu era desse tamanho. Pequena. – e fez com a mão a altura da menina.
Klaus:
--- E hoje? – indagou.
Maria:
--- Hoje? Eu nunca mais o vi. Parece que ele até morreu. Que Deus o tenha! – suplicou como quem reza.
O ancião ficou a lembrar de casos do seu passado embora nada tenha falado a mulher faxineira. Ele olhava apenas para o céu como se avistasse alguém há muito tempo não visto. Com a sua cara rude de poucos sorrisos, Klaus Renner era um homem taciturno por excelência. Maria caminhava de um lado para outro e falou então:
Maria:
--- O senhor guarda livros nessa estante? – falou sem demonstrar o caso.
Klaus:
--- Alguns! – destacou o ancião.
Maria:
--- Não sei não. O meu marido ou homem – modo de falar – tinha muitos (livros) guardados em uma banca. Alguns, ele reservava. Tinha um monte deles. Política, dia ele. Tinha livros de todos os assuntos. Eu nunca li. Também eu não sei ler. Fotos, até demais. Tinha um livro só de fotos que ele conservava. Um deles, o defunto dizia que, quanto morresse queria que o livro fosse com ele no caixão. Ele o chamava de “Minha Luta”. Eu nem coloquei. Também eu nem me lembrei de tal coisa. Esse livro ainda está guardado no baú. – disse tristonha.
Klaus:
--- Mein Kampf? Minha Luta? – indagou com surpresa.
Maria:
--- Senhor? – falou a mulher como se não tivesse entendido ao certo
Klaus:
--- O livro? O livro que o seu marido guardava? – perguntou extasiado
Maria:
--- Um livro dele. Ele queria tanto bem a esse livro. Quase sempre o estava a ler. – falou a espanar os móveis.
Klaus:
--- Senhora. Fale-me mais do seu marido! Quem ele era! Fale! – dialogou o homem um tanto eufórico.
Maria:
--- Meu marido? Ele era um sapateiro. Depois que serviu ao Exercito continuou com o seu oficio na sua casa. Lá em casa. Homem sisudo. Cabelos loiros. Pele rosada. Não conversava muito. Às vezes com um velho amigo. Esse sumiu de vez. Às vezes saia à noite para tal de reunião. Também não me dizia aonde. Apenas saía. Quando voltava, ele nada falava. Usava um terno para sair à reunião. Uns amigos viam lhe chamar para sair. Dessas coisas. Quando morreu esses amigos levaram o caixão. Depois sumiram! – relatou a mulher com voz dentre lágrimas.
Klaus:
--- Ele não tinha nenhuma correspondência? Revistas? – perguntou com atenção.
Maria:
--- Revistas? Tem muitas. Guerra. Mortes. Tanques. Cada coisa horrível que dá dó. – relatou Maria sem se notar de conta.
Klaus:
--- Eu posso ver alguns livros? Pelo menos o que ele queria muito bem? – indagou com emoção
Maria:
--- O “Minha Luta”? Se o senhor tiver tempo eu trago amanhã mesmo. Ele e outros livros! – relatou a mulher sem tecer mágoas.
Klaus:
--- Isso! Isso! A senhora traga esse livro! Por favor! – relatou com ênfase.
E nesse ponto, o alemão Klaus permitiu à mulher espanar a sua estante para colocar tudo em ordem, sabedor ter sido o seu marido um homem profundamente nazista como muitos outros velhos guerreiros.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - DOZE -

- Melissa Rauch -
- 12 -
SUSPENSE
De imediato, Caio Teixeira se levantou de onde estava e correu para o seu quarto de dormir se trancando afinal. Os que estavam com ele ficaram intrigados com a estranha atitude do cidadão. Por conta disso Bartolo indagou assustado.
Bartolo:
--- Pra onde vai? – indagou perplexo
Dalva:
--- Endoidou? – perguntou sem saber de fato o que sucedera.
Bartolo:
--- Vou lá! – disse o homem assustado.
Dalva:
--- Calma! Ele volta! – reclamou a jovem senhora.
Com um tempo, dito isso, Caio Teixeira voltou conduzindo um punhado de artefatos e se dirigiu direto para a cozinha do apartamento onde procurou colocar os objetos. Ele não fazia nada, a não ser cantarolar uma melodia sem nexo. Apenas um ronronar. E todos aqueles artefatos o homem procurou colocar em definidos cantos a passar então para a sala de visita e outros locais. Ao chegar à sala, olhou para os dois amigos e fez um aviso de silencio. Mesmo assim ninguém soube relatar o por quê. Com seus passos arrastados ele usou de forma atrapalhada para dar um par de sapatos de pele de carneiro ao amigo Bartolo e outro para a moça usar em lugar dos sapatos de solados. E fez o mesmo aviso de silêncio. Subiu os degraus da pequena escadaria e entrou no quarto onde dormia a senhora Dalva e depois de algum tempo saiu, voltando para a sala e foi até a radiola a colocar uma melodia qualquer. Nesse ponto se sentou e se espreguiçou por completo. Dessa vez, Bartolo indagou a ele o que estava fazendo com tamanha precaução:
Bartolo:
--- Que houve? – indagou perplexo.
Caio Teixeira fez sinal de silencio para poder falar com um pedaço de tempo.
Caio:
--- Se nós estamos lidando com um nazista todo cuidado é pouco. Eu rastreei todo o apartamento com aparelhos de escuta. Isso mesmo ele pode ter feito no dele. Agora estamos empatados. Se estamos dispostos a conversar, então vamos sair para algum lugar longe daqui. – declarou com precaução.
Bartolo:
--- Sair? – declarou espantado.
Caio:
--- É o mínimo. Talvez a praia ou outro local. – disse o investigador        
Os três amigos resolveram sair para um local distante, com certeza uma margem de praia onde ficaram a sós. E conversa vai conversa vem, o homem Caio lembrou a Bartolo ter preferido trafegar em seu carro, pois ele era um “estranho” ainda e podia não ter nada a ver com o caso do nazista. Porém, era seguro seguir em outro veículo, afinal, o nazista poderia não estar a sós nesse trabalho e ter mais alguém a auxiliar. O carro do policial, ele mandaria inspecionar no dia seguinte para ter certeza de que não havia nenhum equipamento estranho. E disse mais haver ligado os equipamentos de escuta em um gravador de baixa rotação. Esse aparelho era capaz de “ouvir” por oito dias tudo o que se passava no apartamento do nazista. E agora, era a luta. Todos se combinaram a não usar sapatos de sola do apartamento de Caio.
Caio:
--- Eu coloquei uma rosa vermelha na sandália de Dalva. No sua sandália eu coloquei uma rosa escura. Estamos combinados? – indagou o policial.
Bartolo:
--- Escura? E eu sou algum defunto? – indagou inquieto.
Caio:
--- Bem. Podemos trocá-lo! Aceita? – indagou sorrindo.
Dalva:
--- E quando chegar outro? – perguntou um pouco assustada.
Caio:
--- Tenho mais. Tenho mais. Agora, o importante é a mulher. Logo amanhã vou acionar o Plano “B” e a senhora recebe uma empregada um pouco idosa. Ela irá fazer o papel da domestica para lavar as coisas do apartamento do Nazi. Ela sabe executar a sua missão. – dialogou.
Dalva:
--- E se ele não for nazi? – indagou.
Caio:
--- Então nada feito. Nós tiramos a suspeita. – falou o policial.
No dia seguinte, o policial civil Caio Teixeira, esteve com a mulher policial e recomendou-lhe a fazer o papel de empregada de uma empresa de limpeza. Ela teria de ir ao apartamento de um alemão fazer a o recomendado e dizer-lhe estar no lugar da outra doméstica, ausente por estar de férias. O assunto foi tratado de forma confidencial com o condômino e então era o acerto devido com a policial.
Caio:
--- Troque-se é vá à luta. Bata foto do que puder. E verifique estantes retratos. Tudo enfim que houver. – foi à recomendação passada.
O apartamento do alemão era um luxo de antiquários. A mulher se identificou e disse estar ocupando o lugar da mulher anterior por estar de férias. O alemão olhou para um lado e para o outro e mandou entrar para buscar os entulhos guardados do dia anterior. A nova empregada, mulher dos seus 50 anos de idade, de nome Maria das Dores, buscou o balde de despejo e ainda lavou tudo o havido no apartamento. E indagou ao homem – um velho de seus aparentes 90 anos – se teria de limpar as estantes ainda cobertas por toalhas. O ancião reclamou ter tudo feito e nada mais teria a limpar.
Maria:
--- Mas o chão! Ó! Sujo! A mulher parece que nem lavava as coisas direito! – relatou a empregada.
Alemão:
--- Pois limpe. É só isso. A estante não se incomode! – respondeu o ancião alemão.
Maria:
--- Não está vedo o tapete? Quer que eu lave? Não custa nada! É melhor do que botar fora! – falou a mulher sem assombro.
O ancião já impaciente de qualquer jeito autorizou fazer e ficou de pé junto a Maria. E essa perguntou qual o seu nome. Ele respondeu.
Alemão:
--- Sou germânico! – respondeu grosseiro.
Maria:
--- Ah. Eu trabalhei por muitos anos para a família do seu Germano. Capaz de o senhor ser parente do outro! – disse a mulher retirando o tapete para lavar.
Alemão:
--- Não. Sou de outra família! – declarou irritado.
Maria:
--- Pena! Eram tão distintos. A mulher, então! E as filhas também! – respondeu devagar

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - ONZE -

- Kristen Stewart -
- 11 -
- NOVO -
E a conversa continuou por mais algum tempo com Bartolo Revoreto alertando ter no dia seguinte o dever de comprar um novo celular, pois o atual já não servia. E buscou de Dalva o dever de cancelar todo o seu conteúdo deixando salvar apenas alguns celulares que ele talvez precisasse no futuro. Entre outro assunto chegou ao termo de indagar sobre o acidente do domingo, pois ele estava a observar o braço da mulher na tipoia.  Do seu local onde estava sentado em uma poltrona, Caio pegou um envelope que estava em sua caixa e entregou a Dalva, pois era para ela:
Caio:
--- Dalva Tavares. É para voce. Está em minhas correspondências. –dialogou o homem
A mulher recebeu o envelope com certa surpresa, pois tinha a marca do Tribunal de Justiça. Sem conversa, Dalva abriu o envelope e leu o conteúdo. Logo após declarou:
Dalva:
--- Um chamado para a sala de julgamento. E agora? – respondeu a bela mulher.
Caio:
--- É só ir. Pode não dar em nada. Apenas “eles” estão chamando. – retrucou.
Dalva:
--- Mas estou com meu braço doente! – discutiu a dama.
Caio:
--- Pois chegue até “eles” e diga. – respondeu.
Dalva:
--- Já sei que o senhor não entende! – disse de vez a linda dama.
Caio:
--- Ora não entendo! Para quando é a convocação? – indagou
Dalva:
--- Daqui a um mês. – relatou.
Bartolo:
--- Daqui pra lá já estará sarada. – fez ver o homem.
Dalva:
--- Você que é jornalista, eu tenho algo que pode te interessar. – relatou.
Bartolo ficou a olhar a mulher e ficou a esperar o que lhe tinha a declarar. E perguntou:
Bartolo:
--- Pode dizer. Estou a ouvidos. – declarou.
A bela mulher calou por instantes e logo após afirmou:
Dalva:
--- Nesse edifício, um lugar abaixo, mora um alemão. Ele vive solitário. Quase não fala com ninguém. Quem me disse foi à faxineira. Ela se lembrou do nome: Klaus Renner. Mas pode ser outro nome. Ele tem em média 90 anos de idade. – contou a bela dama.
Bartolo:
--- E o que tem isso? Alemães têm em toda parte! – disse o homem.
Dalva:
--- Sim. Tem. Mas esse tem algo mais. A bandeira com a cruz suástica! – enfatizou a mulher.
O rapaz calou e baixou a sua cabeça como a averiguar certos incômodos impostos aos alemães da época de Adolf Hitler. Afinal, perguntou:
Bartolo:
--- Só isso? Não tem algo mais? Cruz de Ferro ou algo como selos nazistas, livros nazistas, fotos do nazismo? – indagou preocupado
Dalva:
--- Ela observou uma foto de Hitler e de uma mulher que ela não sabe bem quem era. – falou em murmúrio a linda mulher.
Bartolo:
--- Isso já é alguma coisa. – declarou preocupado.
Caio:
--- Eu posso me intrometer? – perguntou com cisma
Bartolo:
--- Claro. Se for para ajudar! – argumentou o homem.
Caio:
--- O negócio é entrar no apartamento. Ele sai, às vezes, pela manhã. Segue até o correio e depois volta. A pessoa tem esse ligeiro tempo para verificar o que tem por lá. – relatou.
Bartolo:
--- Mapas! É assunto importante! Casas, endereços. Tudo o que for. – disse mais o homem.
Dalva:
--- A faxineira reportou ter sido feita uma mexida no assoalho do apartamento. Agora é tudo diferente. Ladrilhos espécie nazista. – destacou.
Bartolo:
--- Como assim? Ladrilho nazista? – falou murmurando.
Dalva:
--- Sim. Tudo com a suástica. E um retrato grande de um coronel ou algo assim. – falou murmurando.
Bartolo:
--- Estranho! De quem era a foto? – perguntou.
Dalva:
--- Talvez dele próprio. Ou alguém do alto comando hitlerista. Talvez. Talvez. – destacou.
Caio:
--- O caso é sério. É saber o verdadeiro nome do Calígula. Ele pode ter trocado de identidade, por certo. – refletiu o policial.
Bartolo:
--- O importante é que ele está aqui e ainda é vivo! E essas cartas? De onde vêm? – perguntou.
Caio:
--- Esse caso eu posso averiguar. Tem gente minha nos Correios. Ele pode se certificar de onde vêm as correspondências. – disse o policial.
Bartolo:
--- E o caso a faxineira? Não se pode colocar outra no lugar da atual? – indagou.
Dalva:
--- Quem? – falou inquieta.
 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - DEZ -

- Angelina Jolie -
- 10 -
- A VOLTA -
Enfim, à volta. Completamente sujo de lama dos pés a cabeça Bartolo Revoreto, cansado por demais nem sabia o que pensar com a sua saída para o mangue do rio. Todo o seu corpo estava cheio de limo, principalmente das botas com maior aparência de algo sobrenatural, pois não se percebia o seu costumeiro uso. Após estacionar seu carro na garagem do edifício o homem, nauseante e de forte odor preferiu tomar o elevador de cargas onde subia ou descia qualquer coisa fora do normal. De imediato, Bartolo subiu e notou a desgraça de suas vestes. Olhando para cima e vendo apenas o teto do elevador, ele não se conformou:
Bartolo:
--- Tem cada coisa! Estou sujo até a medula! Que coisa! – dizia ele falando em surdina.
Ao chegar ao décimo andar, Bartolo abriu a porta do elevador  e, depois de olhar para um canto e para outro, sacudiu as pernas e seguiu com pressa para o seu destino. A chave da porta estava toda encharcada como a lama do mangue o fazendo pensar no estado do seu carro.
Bartolo:
--- Imagine só como está o cambão. – e balançou a cabeça para um lado e para outro.
Como se tivesse a rezar ou falar de tudo o que viu no mangue, ele recitava aquele horror. Já dentro da sala, Bartolo procurou se livrar das vestes e seguiu em frente, com pressa, para o banheiro onde procurou tirar a sujeira do corpo a relata a desgraceira do seu estado. Reclamando horrores ele nem pensava no estado de vida a levar os caranguejos uçá, camarão e aves a se alimentar de tudo o que não servia mais para o homem e resolviam ficar em plena moradia dos mangues. Com tanta coisa a poder supor o homem nem conjecturava das rotas de migração construídas pelas aves nesses ninhos para produzir os seus filhotes. Algas era o fruto do manguezal. Peixes, crustáceos e aves utilizavam o assoreado mangue como um verdadeiro mercado alimentício onde utilizavam todo o fruto caído no rio.
Após longo período de escova, Bartolo após se enxugar, saiu do seu apartamento e tocou na sineta do outro a sua frente de sua nova casa. Houve a demora tradicional e com um pouco de tempo alguém olhou pelo visor mágico e logo abriu ao dizer:
Caio:
--- Desça! Onde andavas? – perguntou ao se largar para o interior do seu apartamento.
Bartolo:
--- Vendo a vida dos caranguejos. – respondeu o rapaz.
Caio:
--- Caranguejo? Uçá? Tem vários tipos de caranguejo. Matéria? – indagou a não olhar para trás
Bartolo:
--- Sei lá. Os do mangue. Azul. Uçá. Aratu. Amarelo. Eu sei que é caranguejo. – replicou.
Caio:
--- Uçá, com certeza. É um bom alimento. – falou o homem a retirar da geladeira uma lata de cerveja.
Bartolo:
--- Para os outros. Não para eles. Os pobres coitados vivem enterrados na lama. Quando não: clic. Uma mão o segura pelo costado. É o seu fim. Dali em diante é amarrar e sair à procura de quem comprar. – balançou a cabeça como envergonhado. E depois se sentou do sofá.
Caio:
--- É. Mas todos tem um tempo de vida. Se o Uçá de pega pelas garras, então você verá quem tem mais força. – lembrou o homem.
Instante depois surgiu Dalva. Ela estava fazendo o café da noite e só com um braço vez que o outro estava na tipoia. E logo foi perguntar:
Dalva:
--- Café? – indagou a Bartolo.
Bartolo:
--- Sim. Eu estou até mesmo a precisar. O cheiro do mangue parece não se afastou de vez. – declarou de forma triste.
Dalva:
--- Mangue? – perguntou preocupada.
Caio:
--- Ele esteve pesquisando a vida dos caranguejos. – comentou de veras.
Bartolo:
--- Talvez mais nunca em tenha de comer aquele crustáceo. – lembrou com tristeza.
Dalva:
--- Por quê? É tão bom! Uma caranguejada! – sonhou a moça.
Bartolo:
--- Podridão incrível. O mangue só tem podridão. Garrafas, pneus, curtumes. Águas imundas! – declarou descontente o repórter.
Caio:
--- Tudo nessa vida é imundo! Qualquer dia nós iremos ver a matança de vacas. As tripas. A cabeça. A gente fica a imaginar: e tem gente que ainda come e acha bom! – lembrou.
Dalva:
--- Verdade! O pescador que o diga. Se pega o gado e se tritura o bicho para fazer rações para alimentos. Tem peixe que só se mata para extrair o óleo, como o bacalhau. Apesar desse tipo também se comer a carne bem salgada. Peixes, crustáceos e moluscos. Esses são cultivados pelo homem. – lembrou a mulher.
Caio:
--- E veja bem. É um meio de vida. – lembrou o policial.
Bartolo:
--- Tudo o que se usa é um meio de vida. – lembrou.
Caio:
--- A pesca faz parte da cultura humana. Isso há milênios. A Bíblia descreve muito bem esse pormenor. – destacou.
Bartolo:
--- Mas se esqueceu de dizer de como se faz para pegar caranguejo. – lembrou o repórter.
Caio:
--- Sempre houve algo não dito. Veja bem: caranguejo, aratu ou mesmo a baleia são animais. Não é preciso dizer que eles servem de comida. – relatou
Bartolo:
--- O homem também é um animal E serve de comida. Quer ver? Meta-se em um rio cheio de piranhas ou crocodilos para sentir quão depressa eles nos ataca? – disse por vez.
Dalva:
--- Bem. Ou vocês comem ou passam a vida a pesquisar o sentido da cebola! – falou a mulher.
Bartolo;
--- E por falar em cebola: o telefone não mais tocou? – perguntou.
Dalva:
--- Ah! Vai tocar muito. Ele está desligado. – sorriu a mulher.

DOIS AMORES - NOVE -

- Alicia Vikander -
- NOVE -
- NOVO LAR -
No decorrer da noite, Bartolo foi arrumar seus pertences em um novo lar tendo a companhia de Dalva a orientá-lo onde por uma coisa e outra. Seguia de perto o amigo Caio, levando com vexame tudo que o homem trouxera até mesmo as gravatas, meias e smoking, coisa estranha para Caio nos tempos modernos e atuais. A pegar um smoking o homem se intrigou com tal peça e observou como se nunca o tinha visto. De qualquer modo o homem levou dependurado em um cabide quase a arrastar no chão, suspenso um pouco com o braço de Caio em forma de um quarto de lua. No apartamento, Bartolo cuidava de arranjar todos os seus pertences. Em alguns instantes Dalva indagou se não faltava nada e ele respondeu:
Bartolo:
--- Apenas Ulisses. James Joyce. Edição antiga. Eu comprei para dar a Dafne. Ela nunca o leu! – declarou quase chorando.
Dalva:
--- É um livro? – perguntou.
Bartolo:
--- Sim. Romance. Joyce era Irlandês. Ele compôs a obra entre 1914 e 1921, na Itália, Suíça e França. E a publicou em 1922. O livro foi censurado em diversos países. Estados Unidos e Inglaterra. Espécie de adaptação de Odisseia, de Homero. A primeira publicação no Brasil foi em 1966. – relatou enquanto arrumava a roupa no armário.
Dalva, com o braço na tipoia, apenas o ajudava de qualquer modo a dizer o que ele devia fazer com as suas roupas para cá ou para lá e assim por diante enquanto Caio ficava rodando a procura de algo mais a executar de momento. Um gato miou ao entrar no apartamento. Um miado simples e sem nenhum motivo. Apenas um miado. De cores brancas e pretas esse gato veio devagar a verificar tudo o que era guardado no armário e logo após se deitou em um sofá como se o sono tivesse chegado de repente. Sem maior preocupação, lambeu o pelo e deitou a cabeça ao lado entre meias e gravatas. Bartolo perguntou a Dalva:
Bartolo:
--- Seu? – e apontou para o gato.
Dalva:
--- Não. Mas sempre aparece. E depois some. Eu não sei de quem é o bichano! – respondeu e logo agarrou o gato e fez suave afeto com o pelo em seu rosto.
Caio:
--- Gatos. Interessante! Não são de ninguém. São deles mesmo. Chegam e somem! Não raro passam a vida de um burro. Depois somem sem se saber para onde seguem. No necrotério tem um gato desse tipo. De dia está dormindo. À noite, ele some. – disse o homem a fazer um gesto com as mãos.
Bartolo:
--- Eu tive um gato que o chamava “Pidão”. Era um gato de rua como todos os gatos. Ele aparecia quando sentia necessidade de alguma coisa para degustar. Comia ou bebia um pouco de leite e depois sumia de vez. – sorriu o homem.
Dalva:
--- “Pidão”! Que coisa! E ele atende ao chamado apenas se tem fome. Esse aqui, eu chamo de “Gato” mesmo. Apenas quando ele aparece. Tem tempos que o ouço miar pela cobertura do prédio. Às vezes some de repente. Mas não deixa de ser o meu “gato” – e deu o acocho no bichano para depois o deixar deitado no sofá.
Caio:
--- O gato é um animal predador. Ratos são os principais alimentos. Mas comem também lagartixas e alguns insetos. O gato vive em média vinte anos de idade. A sua presença da Terra é de 40 milhões de anos. Hoje, existe uma população de 250 raças de gatos domésticos. E é de uma personalidade independente. – revelou o homem ao passar de um lado para outro arranjando as roupas de Bartolo.
Dalva:
--- Hum! História antiga! Quarenta milhões de anos! – inquietou a mulher.
A manhã nasceu e Dalva pegou carona no carro de Caio indo até o seu trabalho. O braço esquerdo enrolado até a altura do busto com a mulher há ajeitar o tempo todo. Há essa hora ela sentia uma fisgada como se houvesse algo dolorido em certos pontos. Ela de vez falou em ter que ir ao médico para saber ao certo o que se passava e apanhar uma licença até poder soltar toda a atadura postada. Caio lembrou-se de ter de ir ao Seguro de Veículos novos e à Revendedora para tomar as devidas providências. A mulher de quase trinta anos olhou para Caio e consentiu. Ela queria saber se seria necessário ter de ir também ao revendedor. O homem achou prudente Dalva ter de ir.  E a jovem mulher concordou. Porém teve de ir até ao escritório e avisar de estar impossibilitada para o trabalho naquele dia. Com o passar do tempo à mulher voltou para pegar o carro e sair para até a Concessionária onde relataria todo o ocorrido. Caio seguiu também como a principal testemunha e o homem que fez o apanhado para a Polícia.  Logo após, apesar de ter tomado toda a manhã, Dalva teve de ir para um ortopedista a ver o trauma sofrido em seu braço. Essa parte foi à tarde, por volta das 14 horas ou mais.
O jovem Bartolo se enveredou nos assuntos de redação. Naquele dia o Governo estaria a entregar, oficialmente, a parte rodoviária a passar pelo Parque onde estava construído um autódromo. Aquele era um assunto de campanha política, ele sabia muito bem. E em lugar de ir para a cerimonia Bartolo resolveu tomar outro melhor seguimento: o do mangue. Alí os apanhadores de caranguejos se atolavam na maré até o ombro para apanhar os crustáceos. Era uma matéria e tanto. Para Bartolo, era seguir o caminho o qual ninguém dava a menor importância. O caranguejo auçá era de um tipo de outra paragem do rio. O seu corpo é totalmente protegido por uma carapaça. O crustáceo tem quatro patas terminadas em unhas pontudas. As fêmeas usam para proteção dos ovos. Eles habitam as regiões litorâneas do mundo todo, sendo que algumas espécies preferem os mangues. Seus alimentos são peixes mortos e possuem a capacidade enorme de adaptação em qualquer tipo de água, até mesmo em águas sujas e poluídas. Foi dessa espécie que o homem resolveu buscar a matéria.  Conhecedor da estrada, Bartolo seguiu no seu veículo em busca do local para promissor da cata do caranguejo auçá ou uçá. Esse era o tipo comum de se encontrar nos mercados da cidade e nas feiras livres. O pescador tinha o temor de enfiar o braço por completo até topar com o caranguejo dentro da lama escura e asquerosa com um cheiro total de mangue azedo. Era uma faina diária de vários pegadores do crustáceo. Homens sujos até o topo. Quem não o conhecia, ficava ao destemor. Todos os apanhadores de caranguejos eram completamente imundos de lama amargosa.
Quando chegou à nascente do rio Potengi, a 176 quilômetros de Natal no município de Cerro Corra o homem Bartolo, todo preparado, com botas até o joelho e roupas de caçador, olhou e viu o nascedouro onde a água fluía. Não havia mais o que se esperava. As matas destroçadas, viveiros ilegais, manguezais destroçados e muito lixo até mesmo urbano. Um apanhador de caranguejo estava já pronto para pegar o crustáceo sem proteção qualquer. Apenas vestia uma espécie de bermuda, já toda suja como se fosse de óleo. Mas nada lhe impressionava. Negro da maré do rio, apenas os olhos eram brancos. Entre carcaças de animais mortos jogados por matadouros, o homem estava já de braço todo sujo pela luta em apanhar a todo custo o caranguejo. Caranguejo Uçá, como se chamava no interior do Estado. As plantas do mangue se assemelhavam a árvores de natal. Naquele trecho tinha de tudo. A pneus velhos até  tênis e latas. Ostras eram de monta. Aquele, sem dúvidas, era um rio morto, mesmo produzindo a riqueza do povo pobre e arredio. Peixes, caranguejo e ostras era o cardápio de cada família a viver a margem do rio Potengi apesar da morte de galinhas e cachorros pela poluição vivente. Era uma mortandade em massa provocada principalmente pelas indústrias a despejar em águas do Potengi o que já não lhe servia. Entre homens sujos de lama havia também as catadoras a viver há vários anos a extrair os moluscos no mangue. A pesca de camarões era outra imagem. Os apanhadores dos camarões usavam o método ilegal por colocar carrapaticida  para matar os mariscos.
Bartolo:
--- É o fim de tudo. Aqui tem de tudo. Até gasolina além de curtumes. – disse acabrunhado.
Apanhador:
--- Tem de tudo o que não presta. E o que presta é muito pouco. Eu levo um dia para recolher um pouco de caranguejo. A minha “muié” é a quem mais sofre. Coitada! Os meninos pegam os seus peixinhos para não dizer que não pegou coisa alguma. – falou amortecido o apanhador.
O dia acabou para Bartolo Revoreto. Na viagem de volta ele pensava em quantos caranguejos o apanhador fisgou de fato.

domingo, 26 de janeiro de 2014

DOIS AMORES - OITO -

- Hedy Lammar -
- OITO -
- REVOLTA -
Do outro lado da ponta a mulher Dafne desligou o seu aparelho telefônico. E nesse caso, do lado oposto, Dalva ficou a indagar a seu recente amigo ou conhecido, o motivo da separação tão brusca a causar revolta intensa em Dafne a ponto de a mulher jogar na cara que o seu ex-marido tinha levado por roubo um celular. O homem então falou o possível. Não havia roubo. Esse celular ele estava com Dafne porque Bartolo tinha comprado e dado a sua ex-mulher. Na hora em que foi buscar as suas roupas, a mulher – Dafne - não se encontrava no instante em seu apartamento. Então, Bartolo juntou tudo e inclusive o celular, levando para ao lugar onde estava.
Dalva:
--- Curioso! Ela reclama por algo que não é dela! – advogou a linda mulher.
Bartolo:
--- A senhora ainda não sabe de nada. Nós nos casamos há dez anos. Há cinco não fazemos sexo. Cinco ou seis. Eu não sei bem. Eu fico a pensar em “outro” caso. Quando eu chego a casa, ela está dormindo. Quando saiu para o trabalho ela ainda dorme. Se eu procurava, ela se fazia de mouca. Enrolava-se toda e virava a bunda. Eu só sentia a “catinga” da bufa. Eu findei por dormir no sofá. E comendo um saco de pipocas! – reclamou o homem.
Dalva gargalhou por demais. E Caio sorriu leve como já sabendo do assunto. Ou pelo menos adivinhando o tal tema. E Bartolo se levantou da poltrona. Então começou a falar:
Bartolo:
--- Na verdade, era uma tolice. Eu pensei muito em me suicidar por perder Dafne. Agora, vejo a vida de outra forma. Já não havia vida em comum entre nós. E nem sexo. Eu me contentava com meus sonhos. Eu sonhava com um alguém a fazer amor. Era um delírio toda aquela emoção. E acaba quando eu acordava. – comentou o homem a olhar o horizonte profundo perdido da amplidão..
Dalva:
--- O homem pensa muito em ter sexo com a mulher. Eu vejo o caso diferente. Para mim, a vida é um conjunto de afeição. – lembrou a mulher com emoção.
Caio:
--- A vida continua meu amigo. Com ou sem sexo. Isso é um mero acaso. Voce se encontra com uma mulher em plena rua e olha para trás vendo aquele volume. Parece para o homem que é uma coisa do outro mundo. Mas algum coração palpita por aquela mesma senhora ou moça jovem.  – advertiu com paciência o homem.
Dalva:
--- Eu já vi muitos casos assim. O homem por termo a vida por causa de uma prima-dama. Não pensa ele que aquela mulher é uma entre outras que ele olha e não vê. – salientou.
Bartolo de voltou para a mulher e voltou a indagar com eterna paciência.
Bartolo:
--- A senhora é casada? – indagou sem perceber nem aliança.
Dalva:
--- Fui. Agora, não sou. Hoje ele segue o seu caminho e eu o meu. – salientou sem orgulho
Bartolo:
--- Eu já casos assim. Casa e separa. Casa de novo. Pode ser até o destino. – disse o homem.
Caio:
--- Para mim, não há destino. – declarou o homem a prosseguir seu caminhar em busca da janela.
Bartolo:
--- Minha mãe sempre dizia: “Não case com italiana”. Mas eu nem refleti nisso. – comentou.
Dalva:
--- Quem é a sua mãe? – indagou.
Bartolo:
--- Espanhola. Mora na Espanha. Granada. Meu pai é dessa terra, aqui mesmo. Parece que fruto de índio com português. Ela se encantou por ele e ambos casaram. Eu sou nem do mar nem da terra. Nasci a bordo de um navio. – falou a fazer o meio ambiente com as mãos.
Dalva gargalhou e depois declarou:
Dalva:
--- Eu sou PFB. – declarou a sorrir.
Bartolo:
--- Que é isso? – indagou a estranhar.
Dalva:
--- Portugal, França e Brasil. – gargalhou ainda mais.
Caio.
--- Ainda bem. E eu nem sei quem sou. – se voltou da janela com as mãos para trás.
Dalva:
--- Por que sua mãe é contra as italianas? – falou mansa.
Bartolo:
--- Não sei. Talvez por causa do sangue. Não se misturam bem. Mas, quando eu estava na Universidade, olhei aqueles ubres ousados e belos. E fiquei por tanto embevecido. Dali foi só um casamento. – trincou as mãos.
Dalva:
--- De onde ela veio? – indagou.
Bartolo:
--- Os avós são de Verona. Ela é brasileira da gema. Mas o sague ferve. – respondeu com as mãos fechadas feitas um muque.
Novamente Dalva gargalhou. E Caio fez o mesmo com seus muques a mostrar os plenos dentes serrados.  Logo após, Dalva falou:
Dalva:
--- Eu não sei. Mas acho que nada tem isso com outro. Russos, Alemães, Gregos. Tudo é uma coisa só. – falou reticente.
Caio:
--- Os Sumérios foram os culpados! – falou grave com a mão para o alto.
Dalva:
--- Sumérios? Que sumérios? – indagou estranhando.
Caio:
--- Sumérios! Eles chegaram aqui na Terra há 450 mil anos em busca de ouro. E fornicaram com as nossas mulheres. Os Anunnakis fizeram os primeiros homens e mulheres da Terra! Noé era Anunnaki. Esse negócio da Bíblia está tudo errado. Moises roubou a Bíblia da Pirâmide para ensinar ao povo. E os Judeus dizem hoje que foi Deus. Esse Deus não existe. Existem Deuses. E esses deuses são todos sumérios. A linhagem de Adão, que não foi só um apenas. E foram vários. Eles foram Adamus. Depois os judeus que também são sumérios, ficaram a falar que eles são “filhos” de Jeová. E são. Nós todos somos. Filhos dos Anunnakis, homens de cabeças negras vindos do planeta Nibiru. Nós somos do espaço. – relatou entusiasmado.
Bartolo:
--- E o que tem essa gente com os italianos? – perguntou abismado.