- ELKE SOMMERS -
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O FIM
Na capital, os senhores do mar,
procuravam ouvir qualquer sinal de telegrafia vindo de algum canto qualquer. O
Universo parecia está emudecido. Em todas as frequências, as mais remotas, nada
havia de sinal telegráfico. Eikki Launis, já cansado e aborrecido deixou tudo
de mão, pois sabia não ter mais comunicação, a menor possível com algum macanudo de onde fosse. As outras naus
igualmente se desvaneciam após intensas horas de procura. O temporal continuava
a cair com maior intensidade e relâmpagos vomitavam seus raios em contenda com
as bolas de fogo da cauda do cometa. Em ligeira oportunidade Eikki resolveu
partir com seu barco para ancorar no trapiche de amarração do cais onde estava
o Yate Clube. E as demais embarcações também fazia o mesmo trajeto. Seria a
última oportunidade para se resguardar da tempestade do céu. A ventania soprava
com mais firmeza destroçando pedaços de tarugo onde os barqueiros costumavam a
amarrar as suas barcas. Eikki notou tudo ao abandono na parte do Yate. Poucos
homens restavam no local capaz de amarrar um barco. Em tal instante o capitão Eikki
do barco de nome “Morena”,
referencia a um lugar da Finlândia indagou de outro capitão.
Eikki:
--- O senhor não quer ir para o
trapiche do Yati? - foi o que tencionou
saber do companheiro do mar.
Capitão-Um:
--- Está tudo ao abandono.
Talvez eu siga viagem para o mar aberto! – reclamou o marinheiro.
Eikki:
--- Eu suponho não seguir
viagem. O tempo está em fúria. – destacou o homem.
O outro capitão olhou para o
céu totalmente escurecido por um nevoeiro denso e nada reportou. Na sua cabine,
o capitão da barca “Morena” ouviu um
leve sinal de Morse. E de imediato
procurou saber de onde era o sinal a chegar. E foi logo a responder. Então ele
ficou, a saber, ser de um barco pesqueiro. O dialogo se firmou e então as
notícias chegaram de formas mais frias do possível. O telegrafista passou um
rádio informado ser a Terra um ponto nefrálgico do fenômeno “Gato”, pois a cauda do cometa estava furiosa
em sua perseguição. E o capitão Eikki se deteve para ouvir o sinal onde o
telegrafista informava ser aquele o fim da Terra, pois haveria terremotos,
maremotos gigantescos. Ventos solares eram os mais comuns a provocar caos na
Terra. E seguia o telegrafista a informar sobre predições catastróficas. Havia
notícia das Filipinas onde houve erupção de um vulcão a causar morte de um
milhar de pessoas. E da Sibéria, houve um asteroide cuja explosão atingiu para
além de 60 quilômetros de distância. Asteroide esse de mais de 100 toneladas. A
sua explosão equivaleria a mil bombas do tamanho da de Hiroshima. A explosão causou
estragos a distancia de dois mil quilômetros. As calotas polares estão se
desmanchando. A morte dos recifes de coral é caso inacreditável. Um radioamador
dos Estados Unidos predisse ser esse o
fim do mundo e logo após desligou seu transmissor. E Eikki solicitou aos seus companheiros dos
demais barcos a ouvir a transmissão desse telegrafista feita em dezessete
metros.
Capitão Um
--- Pergunto: Quem opera e de
onde? – passou o radio para o telegrafista.
Telegrafista:
--- Eu estou num barco de pesca
perdido no meio do mar. Na China houve desastre. Casas foram tragadas por
enorme fenda no chão. – relatou o telegrafista ao desespero.
Na cidade, era tudo escombros.
As poucas pessoas andavam como sombras e nada mais a procura de algo para se
alimentar entre pedras demolidas dos outrora augustos edifícios dos seus opulentos
ocupantes. Soldados do Exercito percorriam todos os amofinados caminhos sem
saber de mais coisa alguma a fazer. Eles estavam a cumprir ordens do Comando. Apenas isso. A tempestade das
águas transformada em lama não parava de cair. E as bolas de fogo seguiam sua
rotina dia e noite. Fazia mais de um mês de tanta angustia a acudir o pobre
povo da cidade outrora bela. No Quartel
General em pandarecos seguia o seu ritmo normal do dia a dia. No caso, foi à
vez de se apresentar ao Comando o
velho Coronel Araujo, já no gozo de
sua reserva. Quando estava à procura de sepultar a sua mãe foi à filha lhe
dizer de forma alheia o que disse a anciã pouco antes de morrer. O Coronel Araujo tomou um susto com o
dizer da moça Vanesca e logo após,
com chuva e tudo resolveu partir para o Comando.
Nesse ponto, Otto teve de encontrar
o corpo do seu pai engalhado entre arbustos, já sem vida. Otto também providenciou o sepultamento em um cemitério do lugar
levando o corpo metido em uma rede, da mesma forma como foi sepultada a anciã Anunciada, mãe do Coronel Araujo.
No Quartel General, o Coronel
Araújo se apresentou ao Superior
pela escala, o Major Edmundo Campos
conhecido por Major Campos. O Major cumprimentou o Coronel e foi fazer um relato da atual
situação e informar ter sido o comandante do Exercito acometido de um AVC o que fez forçar o homem assumir o
posto maior. Falou mais ter o Comandante chamado o Coronel Araújo, antes mesmo de adoecer com o intuito de fazê-lo
assumir algo para por em dias a grave situação da instituição e das demais sob o seu comando. O
coronel Araújo coçou a cabeça e falou:
Coronel:
--- E não tem quem assuma? –
indagou o coronel se coçando todo.
O Major Campos sorriu e se
levantou da poltrona onde estava e mostrou as suas vestes. Uma calça
esfarrapada apenas. A túnica cobria os farrapos. E falou:
Major:
--- Está vendo ao extremo que
nós chegamos? E eu até estou bem vestido! Tem praça andando sem ceroulas. –
respondeu o major vendo-se cair lágrimas dos seus olhos.
Coronel:
--- Isso é um insulto! Como é
que pode uma coisa dessas? – respondeu o homem cheio de cólera.
O Major voltou a sentar na
poltrona e esperou a resposta do Coronel
Araújo sobre o destino a tomar naquela tarde de muita chuva, relâmpagos,
trovões e o pavor das tormentas vindas do céu em forma de ogivas de fogo. Um
fogo eterno para bem se dizer. O vento rugia temeroso por todos os cantos sem
se importar com o que fosse menor ou maior mais o fragor da morte. Vento norte,
vento sul. Vendavais de todos os recantos da Terra. Um calafrio deu em cima do
major Campos e esse se encolheu todo
com temor e arrebatamento. Não havia sol sobre a Terra. Nem tampouco estrelas
ou mesmo a Lua esquiva. A morte rondava a todos os vivos como um uivo do louco
e feroz lobo voraz. Nem ao menos o canto triste da coruja se fazia ouvir ou do
rato, do sapo e mesmo da serpente. Tudo era cor de luto naquela tarde de
tempestade voraz. E o Coronel Araújo
á frente do major mordia os lábios.
Coronel:
--- E o Governador? – indagou
preocupado o coronel.
O Major Campos sorriu antes de
responder.
Campos:
--- Fugiu! Desapareceu! Com
certeza deu uma de louco! Pelo que eu rastreei, a sua mulher morreu quando o
edifício onde morava desabou. A mulher e a filha. Talvez outros parentes.
Morreram quase todos os deputados. Outros escapuliram. E também o Prefeito da
cidade. Caso terrível esse. Quem ficou ou morreu depois ou virou esmoler. A
cidade é tudo um escombro. – falou chorando o major.
Araújo:
--- E o que se pensa em fazer?
– indagou intranquilo o coronel.
Campos:
--- Eu? – (sorriu) – Entregar
as chaves ao senhor meu General. – reportou o homem a sorrir.
O Coronel Araújo nem deu fé ser ele General e nada comentou de pronto. Porém, demorado uns segundos,
ele abriu o cenho e se declarou:
Araújo:
--- Eu? Como eu? E o que eu vou
fazer? General? – falou de forma inquieta o homem.
No dia seguinte já com o seu
fardamento de General o ex Coronel Tomaz de Araújo caminhava em
seu Jeep augusto e solene enfrentando fortes temporais, faíscas de raios,
relâmpagos a não dar trégua, trovões e as impensadas fortes e terríveis bolas
de fogo caídas da cauda do cometa para a primeira reunião com os destacados
chefes das três armas. Ele estava para se apresentar como o Comandante em Chefe
Geral das Armas do Exército aos outros Comandos então sediados na Capital do
Estado. O Jeep Willys MB do Exercito era um tipo magro e sem conforto algum,
mas muito corajoso e carismático. Ele foi utilizado como veículo de
reconhecimento e toda Companhia ostentava seu orgulhoso “magrelo”. Foi num
veículo desse tipo ter o General Araújo
ido ao encontro dos outros comandantes da Marinha e Aeronáutica. Homem forte e
decidido era ele capaz de enfrentar guerras e batalhas nos confins do universo
ardente como já estava a encarar as temíveis bolas de fogo arremessada da cauda
do cometa. Antes de entrar no Jeep Willys, o Comandante foi saudade pelo
motorista do veículo a lhe bater continência. O General Araújo tomou até um
susto dado o costume ter esquecido se de tal formalidade. Ele agradeceu e
perguntou apenas ao cabo motorista:
General:
--- Como está o “magrelo”. –
perguntou o homem com gesto de sorrir.
Cabo:
--- Ótimo General. Eu não o
deixo faltar nada! – respondeu sem mais nem menos o motorista.
General:
--- Velho carro. Velho e ótimo.
Eu a pensar em dirigir um carro desses! – comentou a sorrir o General.
E logo em seguida o General
seguiu viagem para se encontrar com os outros componentes das Forças Armadas em
reunião a ser realizado no Cassino dos Oficiais, prédio amplo e bem cuidada
onde o vento, a chuva, relâmpago e trovões não acoitavam de qualquer modo. As
ogivas de fogo continuavam a cair no morro como se não tivesse nada para matar
ou morrer. Cada ogiva vinha direto para a Terra do alto de sua cauda.