domingo, 6 de janeiro de 2013

O FIM DO MUNDO - 31 -

- Audrey Hepburn -
- 31 -
DELEGADO
Nesse estado de coisas o delegado de policia não estava mais na cidade destruída. Há alguns dias, quando houve o insistente perigo na capital do estado, ele se arranjou e partiu para ver de perto como estariam seus familiares. E nunca mais deu noticias. Podia até morrido ou está em algum hospital da capital. A falta de comunicação levava a crer tudo ou nada de esperança. O certo era que o afastado município estava nesse instante sendo destruído por um sismo de proporções gigantescas. E a pequena cidade era então governada termos de Polícia apenas por um cabo: o cabo Tenório. Ele e dois soldados. Com o sismo abatido sobre a cidade, Tenório resolveu liberar os dois presidiários. Um, porque seu julgamento ainda tardava. Outro por já ter cumprido pena e preferiu não sair da cadeia ondo fazia serviços gerais. Até mesmo a cozinha do presidio ou arrumar processos quando nada havia a ser feito. Naquele supremo instante, o ex-sentenciado Cosme Luna correu até o suposto delegado e foi logo a relatar.
Cosme:
--- Seu Cabo! Seu Cabo! O senhor já sabe que sucedeu?! – falou apavorado de olhos bem abertos.
Cabo:
--- Um terremoto! Não está vendo? – bradou o cabo correndo de um lado para outro.
Cosme:
--- Eu sei sim senhor! Mas o sino da Matriz veio ao chão! E um buraco enorme está tragando toda a gente que encontra! É um horror! – relatou Cosme quase louco com a situação do momento.
Cabo;
--- Buraco? Enorme? Que buraco é esse? – indagou alarmado o homem.
Cosme:
--- Não sei! Está se abrindo no chão! – relatou com espanto o ex-presidiário.
Cabo;
--- Ave Maria! Vou já pra lá! – declarou a tremer o delegado substituto.
E ambos teriam de ir ver o tal buraco quando uma multidão entrou na delegacia. Todos falavam ao mesmo tempo e ninguém se entendia. Um deus-nos-acuda sem precedentes. A mulher gritava como nenhuma para salvar seu marido. Um rapaz reclamava pelo burro levado do buraco afora. Um homem clamava por sua mãe de idade avançada. Outros queriam o filhinho de volta. Alguém clamava para se retirar um carro. Enfim, todos pediam alguma proteção das autoridades policiais: um cabo e um soldado, enfim.
Cabo:
--- Silêncio! Eu não escuto ninguém! – bradou o policial.
E todos se calaram por alguns segundos. E de imediato, a turba voltou com mais alvoroço entre choros e lamentos para quem não podia fazer quase nada. Um homem falou do Hospital:
Homem:
--- Não tem médico no hospital “derna” a semana passada! Ora já se viu uma coisa dessas? – lamentou o denunciante pondo seu chapéu nas mãos.
Mulher:
--- E as enfermeiras? – reclamou uma mulher toda arrebitada.
Outra:
--- Quem? Essas? Coitadas! Nem “morgam!” – respondia outra com cara de fastio.
Alguém:
--- Mas o hospital fica pras bandas de lá! – fomentou um homem entristecido.
Na verdade, o Hospital ficava do outro lado da fenda, muito pra lá do Matadouro da cidade. Esse já era bem distante do centro. E o Hospital era mais distante ainda. Desse o tremor havido da capital que os médicos rumaram para outro destino. Havia da cidade, um farmacêutico. Esse fazia o papel de Médico, quando não era caso grave. Mesmo assim, no começo do tremor, nem o farmacêutico se encontrava na cidade. Talvez tivesse ido para atender sua família, por certo. Por certo. Porém, aflito com tanto clamor a um único tempo, o Cabo Tenório resolveu partir para a enorme cratera por ele nunca visto e procurou resolver cada caso apontado. Na calçada do presidio um homem, sentado, maldizendo a sorte, continuava a chorar e lamentar da mula perdida na cratera gigante. Por outro lado, uma carola chegou aflita e maldizendo a sorte. Ela procurou falar com quem pudesse para consertar o carrilhão da Matriz. No entanto, delegado não havia no local e toda a cadeia se encontrava abandonada. A mulher chorou as mágoas.
Carola:
--- O sino! O sino! Ai meu bom Jesus! O sino! – chorava triste a carola.
A cidade em peso estava destruída. Comercio não havia. Indústria de rapadura também não havia. Redes, camas, guarda-louças, camiseiros e mesmo saco de estopa se acabara desde muito tempo. As bodegas existentes, essas não funcionavam por causa do tremor. E o pequeno número de habitantes da cidade, estava então a procura de parentes, alguns já mortos, atraídos pela grande vala. Caminhões atolados na vala. E o posto de gasolina não funcionava pela falta de energia elétrica. Apenas o borracheiro ainda consertava pneus, apesar de não encher de ar. Para ter certeza, o homem enfiava em um tanque de água e observava se o buraco estava fechado. No momento das pessoas a correr em debandada, o borracheiro fez o mesmo e se largou da carreira para ajudar quem precisasse. 
Enquanto isso, no começo de tudo, quando a Terra estremeceu de dor e de raiva, no Hospital, estava no local apenas uma enfermeira. Eram três nesse turno. Porém, uma estava de folga por ter completado o horário de outra no dia anterior. A segunda pedira para sair e buscar um enxoval em uma costureira. Como tudo estava calmo, apenas ficou uma enfermeira naquele turno e mais alguns técnicos de enfermagem, o pessoal ASG e um técnico em manutenção da energia. Como faltava energia, o rapaz deixou o local de trabalho e foi para a sua casa. Foi nesse instante que a Terra estremeceu. Um barulho ensurdecedor tomou conta de tudo. A enfermeira caminhava com um vidro de soro nas mãos e foi ao chão com o estremecer de tudo. Um ancião que estava deitado na cama, veio ao chão por conta do barulho e do estremecer da Terra. Não havia médico no Hospital, pois todos tiveram que ir para a capital onde a tragédia tinha sido maior há alguns dias. O certo foi a enfermeira cair e não tinha nem a proteção de alguém para se soerguer de verdade. O tremor era horrível e o estrando com a abertura da fenda era ainda tão grave da enfermeira não saber o sucedido. Com o impacto da Terra, tudo estava em reboliço no Hospital. Estantes vieram ao chão junto com os frascos de medicamentos. A cozinheira se atrapalhou toda com a zoada ensurdecedora e outras pessoas que procuravam receber medicamentos igualmente foram ao barro. Uma pergunta era feita:
Gente:
--- O que é isso? – perguntava à mulher a espera de seus remédios.
Outro:
--- O mundo está se acabando meu povo! – relatou um home ainda no chão.
E ninguém conseguia se soerguer, pois a Terra tremia com bastante força. O pânico foi geral em todo o Hospital. Mulheres se segurando nas mesas ou camas. Algumas alarmadas com a tragédia vinda não se sabem de onde. Um vigia engoliu o apito de tão apreensivo ele estava. Um guarda caiu de nádegas no chão. Um carro buzinou insistente não sabe a razão. Era, enfim, um pandemônio assustador.
Homem.
--- É a guerra! – gritou o homem espichado pelo chão.
Após alguns de terror, a enfermeira conseguiu se levantar e notou de imediato à sua frente o estrago feito pelo aparente terremoto. Embora ainda sentada no chão a mulher por fim gritou de uma forma sem precedentes ser aquilo um terremoto igual ou pior o qual abalou a capital em dias passados. A tremer de medo, a mulher procurou se levantar com todo o sacrifício observando para todos os lados o estrago feito no Hospital.  Vidros de medicamentos espalhados pelo chão, borrachas, gases, máscaras e tantas outras coisas a existir em uma casa de saúde de cidade de interior.
Enfermeira:
--- Terremoto! Terremoto! Terremoto! – gritou a mulher.
No restante da casa de saúde havia também mulheres e doentes, todos caídos e alguns a procura de ajuda para poder se levantar. Porém, ninguém era capaz de dar a mão, pois o terremoto era tão violento coisa nunca vista na cidade. Cada qual procurava se apoiar em uma banca ou cadeira e se por de pé. Apesar do sismo, era o muito a ser feito por pacientes ou não. O velho caído da cama emitia um ruído como a pedir socorro;
Ancião:
--- Gente! Acuda! Acuda! – falava o ancião a todo custo.
Um rapaz saiu apressado à Clínica de Doutor Teixeira, veterinário, talvez o único médico na cidade e entrou como um foguete na sala do homem. Esse estava todo atrapalhado com as suas prateleiras a cair, vidros pelo chão, uma estante emborcada, gatos, cães e até cavalos todos soltos na buraqueira. O rapaz não sabia o que dizer e o homem embaraçado a segurar as estantes para proteger algumas das aves engaioladas e, mesmo, os medicamentos e negócio para tratamento de animais grandes e pequenos. Mesmo assim, o rapaz alarmado chamou o veterinário para socorrer o povo doente no Hospital.
Rapaz:
--- Doutor! Doutor! Chega urgente! Tem gente morrendo no Hospital! – declarou com muito temor o rapaz.
O veterinário ainda todo atrapalhado se voltou para ver quem estava a chamar. E disse então:
Teixeira:
--- Por favor, me ajude aqui! A prateleira! A prateleira! – respondeu o veterinário enquanto suportava a prateleira. A Terra tremia como um cão.
 

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