quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O FIM DO MUNDO - 36 -

- Sinone Sinoret -
- 36 -
SOCORRO
 
Quando a canoa com o Coronel Araújo se aproximou bem da embarcação naufragada, aconteceu de ser também a chegava do telegrafista Eugenio, com sua também canoa. Os dois começaram o resgate dos náufragos. A carroça estava quase totalmente afundada. Apenas os dois náufragos se sustentavam em pedaço de madeira quando o socorro chegou. Otto foi resgatado por Eugenio e Vanesca, por sua vez, pelo seu pai.  A moça já tremia de frio  com total pavor de morrer afogada. Otto, por sua vez indagou ao Coronel Araujo para onde eles deviam seguir. E o coronel respondeu:
Coronel:
--- Vamos para onde eu vim! E logo! Vanesca está passando mal! – respondeu com altivez o homem
E as duas canoas, uma com cada um dos parentes de Coronel Araújo, seguiram para o lugar distante. O Coronel tinha o seu remador. A outra canoa era conduzida por Eugenio ajudada por Otto. O tempo se virou por completo e já mostrava sinais de chuvas. Os embarcadiços tomaram empenho para chegar o quanto antes na margem onde o Coronel tinha pegado a embarcação, propriedade de um motorista de caminhão conhecido por Ademar Motorista, homem que fazia viagem de caminhão quando o temo favorecia. Com as agruras do momento, Ademar encostou o caminhão a espera de alguém a fazer reparos da pista rompida desde o começo do terremoto.
Enquanto isso, fora e bem longe da lagoa, estava a cidade onde o Coronel Araújo tinha morado por longos períodos. Na sede do Município estava tudo consumido. Mercado nada vendia; a buraqueira no chão; mortos por todo lado;, casas caídas;, gente a lamentar as suas vítimas;, Hospital de portas abertas embora ninguém trabalhasse;, a Prefeitura de portas fechadas;, Juiz nem se falava. Muito pior era a chefatura de Policia. O lugar era um desprezo. As poucas ainda vivas faziam os enterros dos parentes quando o tempo deixava, pois o lugar era a sede do bombardeio de meteoros em espaço constante. Meninos, moços ou velhos eram as principais vítimas. Para se sepultar um corpo escolhia-se qualquer lugar ou se deixava ao desalento para os urubus fazer a festa. Na verdade, era uma pobreza total. Crianças chorando por ter perdido a sua mãe; homens aflitos por não ter a quem mais recorrer; mulheres desoladas por não haver o mínimo de comida em sua casa:
Mulher:
--- Isso é uma bosta! Até as galinhas sumiram. – dizia revoltada a mulher.
Outra:
--- E as cabras? E as cabras? Foram todas para o buraco. – outra dizia com bastante raiva.
Terceira:
--- Quando acabar não tem um homem nessa casa! – era a terceira mulher profundamente magoada.
Quarta:
--- Uma cidade sem Prefeito! – reclamava a quarta mulher.
Quinta:
--- Ora mais! Que serventia ele teve? – indagou outra com a mão no queixo aparando o cachimbo.
E a cidade virou vila, não tardando em ser aglomerado de taperas. O homem da bodega ficou com as mãos no queixo a espera de boa vontade do tempo.
Bodegueiro:
--- Só tem chuva nessa porqueira! – reclamava com tristeza o bodegueiro
E assim vivia o povo pobre da então vila do desterro. As repartições federais, estaduais e municipais não mais funcionavam. Lojas não havia; comércio nem se fala; indústria? Esse não funcionava. A criação de ovelhas e galetos estava parada. O único setor a operar era o de sepultamento dos mortos. Mesmo assim, era de graça. A choradeira era franca de pessoas a perder entes queridos. A única coisa a perdurar no vilarejo era o bombardeio feito pelas bolas de fogo. Algumas chegavam a destroçar em plena vila. Os motoristas de caminhão de carga pegaram o caminho que eles romperam e seguiram para longe, pois na vila não tinha sequer água. Os burros de carga eram os fazedores de serviços. Mesmo assim, eles eram bem poucos. Os seus tangedores – almocreves, se bem sabiam o seu significado – comiam fumo a passar de um lugar a outro. O carregamento era de modo principal de caixões de defunto. E assim passava o dia a coletar corpos de defuntos e alocar em caixão – se ainda tivesse – e levar para um local feito cemitério. Quando não tivesse caixão, o carrego era mesmo em rede de dormir.  Os seguidores do enterro eram quatro ou cinco parentes do morto. Quando o enterro era de uma criança, se levava outras duas ou quatro crianças vivas para se mostrar ser o enterro de um “anjo”.  Mulheres carpideiras, essas eram de franqueza. Em todo o enterro se levava algumas carpideiras para agourar a “morte”.  Os “ricos”, pessoas de “posses”, esses  eram os mais “lacrimosos” do vilarejo.
UM –
--- Coitada da morte! Não dá prá quem quer! – era o que se ouvia falar por parte da matutada.
Dois –
--- Eu que não quero estar na vida dela! – dizia alguém virando as costas.
Três –
--- O defunto era tão bom! – lamentava um terceiro
Quatro:
--- ‘Pru’ fogo! ‘Pru’ fogo! – respondia uma quarta pessoa.
Quinto;
--- Não diga isso meu rapaz!  Não diga isso! .... Tem gente muito pior do que o morto! – respondia o homem com os olhos torcidos para o quarto personagem.
Quarto:
--- Isso é comigo? É comigo? Se for diga logo! – ressaltou de forma enfezada o homem ajeitando a faca na cintura.
E o negocio para por aí o se matava alguém por tudo ou por nada.
Quando os dois barcos com os seus passageiros chegaram à beira d’água da lagoa, já começava a chover de modo fraco. Eugenio olhou para o céu e não quis dizer o que ele pensava. Otto e Vanesca se apressaram em descer. Vanesca tinha maior cuidado por conta do seu pai. Otto caminhou olhando para trás e buscou se informar do velho Homero, relojoeiro aposentado por causa da trombose sofrida.
Eleanor respondeu a pergunta como eles se sentiam em uma casa não sendo mesmo a deles. A moça nada respondeu e fez apenas um sacudir de ombros. Logo a seguir Otto pediu a benção de sua mãe, Luiza, e foi até o local onde estava o velho Homero. Ele não disse nada. Apenas fez um afago passando a mão na cabeça do seu pai.  Nesse momento apareceu na sala o dono da casa, conhecido por Ademar motorista. Os dois fizeram amizade e logo o rapaz Otto indagou como estava a vida por aquele local. O homem, ainda moço, respondeu ter pavor das bombas do céu.  O rapaz sorriu e explicou ser apenas um cometa.
Ademar:
--- É por isso mesmo. Com os seiscentos diabos! Esse negócio estragou minha vida. Agora não posso mais nem sair de casa! – replicou o homem.
Otto soltou uma bela gargalhada e tentou explicar ser cometa um corpo do nosso sistema. Ele, quando passa próxima a Terra, provoca um ‘coma’.
Otto:
--- Esse teve origem há 200 anos. Era previsto a sua passagem pela Terra. ‘Coma’ é o que se dá igual a cometa. Coma = cometa. É isso. Ele tem uma cauda enorme, de vários quilômetros. E essa cauda tem uma estrutura de centenas de quilômetros. – explicou com ênfase o rapaz.
Ademar.
--- É esse “porcaria” quem vem cair em cima de nós? – indagou perplexo o motorista.
Otto:
--- Isso mesmo. Pelo visto, o senhor Eugenio informou ter recebido mensagens de várias partes informando ter o cometa destroçado Usinas Nucleares e até mesmo em nossa Terra, já rompeu um reservatório muito grande. Imenso até. É provável não se ter energia elétrica pelo um bom tempo. – fez ver o rapaz.
Ademar:
--- Porcaria! Bem! Eu estou acostumado a carbureto e lamparina! Energia nem me faz falta. Mas a mulher reclama a bessa pela falta de luz. Eu não sei o que faça! – reclamou Ademar por sua vez.
Quando todos já estavam dentro da casa e jumentos, cavalos, bois, vacas e mesmo o caminhão de Ademar dormiam o sono das mil e uma noites, um estrondo se ouviu. Nesse ponto o rádio telegrafista tinha saído em seu barco a rumar para a sua casa. Mas o estrondo pegou toda a gente de surpresa a ponto do Coronel Araújo perguntar de repente:
Coronel:
--- Que diabo foi isso? – indagou alarmado o homem.
E não se teve tempo para nada. Uma vaga gigante provocada por uma enorme bola de fogo veio a cair no centro da lagoa. A explosão do impacto deveu-se a vertiginosa rapidez da bola de fogo vazando por todo o recanto da baía e espalhando a lama por imensos campos. O Coronel Araújo quis abrir a porta da casa, mas a onda de lama foi bem mais rigorosa. Todas as casas pequenas de perto da lagoa foram cobertas pela imensa onda. A casa de Aderbal, mais afastada das outras casas, sofreu menos impacto. Mesmo assim, de qualquer forma só deu tempo ao homem se levantar, pois a brava onda gigante atravessou toda a sala, quebrando portas e janelas e penetrado por toda a moradia. Foi um impacto tão violento que ninguém pode se esquivar. Tudo estava consumado.
 

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