quarta-feira, 18 de julho de 2012

ISABEL - 26 -

- Rita Hayworth -
- 26 -
CASARÃO
Alguns dias depois Gonzaga chegou ao Bar em companhia do advogado dando tudo como certo,  pois concluíra todo o processo e posse da fazenda. Ele estava exaustos por conta da luta desses últimos dias. A fazenda era imensa e tinha um casarão desabitado. Gonzaga olhou o casarão e depois fez um sorriso. Aquele foi um tempo de estio e nada havia plantado. Apenas o mato crescia. Além disso, havia árvores frondosas ao longo do terreno. Ele não sabia ao certo como cuidar de tudo o que herdara. Quando ele esteve na fazenda, para conhecer o patrimônio herdado, ele não chegou a observar como o chão estava limpo. Gonzaga entrou em companhia do advogado e apenas avistou uma mulher de meia idade, talvez tivesse tempo de vida igual a dele. A mulher vinha logo atrás do dono da fazenda e nada falou. Gonzaga pensou ser alguém ou alguma moradora da fazenda. Ou nada pensou. Apenas notou a mulher a o acompanhar. No entanto foi a mulher a lhe abrir a porta do casarão. Ele agradeceu e logo entrou no casarão.  O visto lhe causou espanto. Uma sala mobiliada por completo e, nas paredes da sala uma porção de fotos de quem fora antigo dono. No meio, a foto de um homem barbudo e ao seu lado a foto de uma mulher. Além dessas fotos, outras mais. Todas corriam as quatro paredes da sala. Gonzaga sentiu um arrepio de temor. A mulher abriu a janela da sala e tudo ficou mais claro. E desse local a mulher saiu para outros compartimentos abrindo as portas até chegar ao final do casarão. E então voltou a ouvir a conversa do homem com o seu advogado.  Nada lhe interessava em saber. Gonzaga nem mesmo pensou na mulher até o ponto quando indagou:
Gonzaga:
--- A senhora é alguém do Juiz? – perguntou inquieto.
Mulher:
--- Não senhor. Eu vim apenas para abrir a casa. – respondeu a mulher.
Gonzaga ficou pensativo, mas nada indagou. Apenas fez com a conversa que estava bem. Mesmo assim, algum tempo, quando Gonzaga já estava na cozinha, ele voltou a querer saber como a mulher estava naquele local. E a mulher respondeu.
Mulher:
--- Sou a filha de sua mãe de criação. Eu era bem miúda quando o senhor foi embora. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Ah bom. Não me lembro de tais assuntos. – respondeu.
Mulher:
--- Dá pra ver. Meu nome é Maria da Penha. Eu sou a caçula dos cinco irmãs. Meus pais se foram. Só restamos eu e os quatro. E o senhor  também. – falou acanhada.
Gonzaga:
--- Penha? Você é Penha? Como mudou! Penha! Eu te carreguei no colo! Penha! Meu Deus! Você era a pivete de todas. Mas como sou burro. Penha! Dá-me um abraço! – disse o homem alarmado em poder reconhecer a mulher do seu tempo de menina.
A mulher se acercou com um ligeiro sorriso para abraçar o homem. Sua pequenez  mostrava ser a mulher parecendo gorda diante de Gonzaga. Esse temia abraça-la com toda a força a temer magoar a mulher. Mesmo assim, ele lhe abraçou com firmeza a deitar a sua fronte no ombro da mulher. Lágrimas jorraram como um pranto esquecido da parte do homem. Foi uma ternura antiga a se desfazer em apenas um segundo de afeto. A mulher se deixou abraçar, porem não verteu lágrimas sentidas. Aquele foi um aperto a durar uma centena de séculos.
Ao passo de algum tempo quando os abraços se desfizeram, Gonzaga indagou pelos seus irmãos ate recentemente tido como da mesma família. E a mulher respondeu:
Penha:
--- Andam por aí. No meio do mundo. Aqui só tem Chica. Os outros caíram fora. Eram oito. Mas morreram três. E assim ficaram apenas cinco e o senhor. – falou a mulher a sorrir de vagar.
Gonzaga:
--- Senhor, não. Pode me chamar de você. – sorriu a lacrimejar o homem.
Penha:
--- É o costume. – sorriu a mulher espanando os braços.
Gonzaga:
--- Eu sei. Eu sei. A gente se acostuma com essa forma de falar. Mas me chame de você. – disse por vez o homem
A mulher sorriu olhando para outro lado e voltou a falar.
Penha:
--- Sabe! Eu conheci o senhor. Por várias vezes eu fui à cidade. E dona Francisca me mostrou o senhor naquele prédio. Foi mais de uma vez. Sei não. Deixa pra lá. – fez ver a mulher.
Gonzaga:
--- Não senhora! Isso é importante. Faz ver da gente se conhecer a mais tempo. – disse o homem com muita atenção.
Penha:
--- Eu sei. Mas sei lá. O senhor era todo fardado. Eu tive até medo. – sorriu a mulher.
Gonzaga:
--- Que fardado mulher? Aquilo é a farda, mas da gente que recebe ingresso. – sorriu o homem.
E a conversa prosseguiu com Maria da Penha falando sobre idas e vidas à cidade. E chegou a dizer ter sido companhia da anciã no período da queda sofrida por dona Francisca quando esteve por um período de seis meses. A anciã esteve hospitalizada e desde esse tempo ficou encurvada. E com o tempo ficou mais encurvada ainda. Mesmo assim, apesar da morte dos pais de Maria da Penha, a anciã sempre doou certa importância para os cuidados com a família, mesmo já estando Gonzaga em posição de homem adulto.
Penha:
--- Eu não sei bem. Mas havia certo namoro com um rapaz que carregava água do rio. Para mim foi esse rapaz que teve algo com dona Francisca. Isso eu soube muito depois do senhor vir para a cidade. O rapaz morreu afogado no rio. Isso é o que se diz pelos mais antigos. E dona Francisca não podia ter o filho em sua casa. Por isso a mulher inda mocinha, doou a criança para a minha mãe criar. Isso, ela fez. E sobre o pagamento, ela sempre fez. Mas é conversar que se conta. Quando o senhor escapuliu da nossa casa, eu ainda era pequena. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Eu nem porque sai de casa. Sei bem que sofri o diabo. Trabalhei como balaieiro durante muito tempo. Depois fui engraxate. E um monte de coisa. Hoje estou no Teatro. Mesmo assim, tive um casamento. A primeira mulher morreu logo cedo. Passei tempo sem ninguém. E, certa vez, encontrei uma moça. Nós nos damos certo. Enfim, agora estou passando por nova vida. – disse o homem.
Após tecer tantos diálogos ele terminou olhando o campo, vendo o existente em toda parte, como a Serra do Monte, algo que ele jamais esquecera. Nessa serra caiu um rapaz e veio terminar no solo. O rapaz ficou todo quebrado. Porém sobreviveu. Olhando  a serra ele relembrou o passado.
Gonzaga:
--- A Serra. E o rapaz escapou. – comentou o homem.
Nesse ponto das lembranças o advogado chamou por Gonzaga lhe tirando do seu sonho para mostrar os documentos. No Bar, ele foi recebido por sua mulher, Isabel, e disse algo de bom grado à jovem senhora.

terça-feira, 17 de julho de 2012

ISABEL - 25 -

- Paulette Goddard -
- 25 -
FRANCISCA
Gonzaga ficou pensativo com o presente da sua mãe. Talvez ela não quisesse que ninguém soubesse ser ela a verdadeira mãe do cavalheiro. As lágrimas encheram seus olhos pela ação da anciã e nem deu por fé quando dona Lourdes trouxe um pacote todo enrolado e depositou em suas pernas. Gonzaga estava a sentar na cama de dormir da anciã. Ela apenas observou o pacote e nada fez. A mulher foi quem despertou a sua atenção:
Lourdes:
--- Esse era o presente do senhor. Tome. Agora é seu mesmo. – falou sem tristeza a mulher.
Gonzaga nem teve ação de abrir o embrulho. E foi dona Lourdes que citou:
Lourdes:
--- Tem uma roupa completa e um par de sapatos. – cruzando as mãos às costas e saiu de perto do homem.
A tristeza era tamanha para Gonzaga. Ele sentia-se em lágrimas como uma criança recém-nascida onde tudo é claridade para um ser vivido apenas na ignorância do seu infeliz passado onde nada se lhe importava. Choro longo de um pobre funcionário de um Teatro. E no seu desalento ele não encontrava explicação para tudo o quanto fez a sua mãe querida. Longe de saber o feito da anciã por sua causa. Tudo era silêncio no peito do homem,  pois, na verdade, ele queria apenas afogar as suas mágoas. Após um tempo infinito ele olhou de volta para a dona Lourdes e essa, sem querer maltratar mais ainda o homem respondeu a pergunta não feita ainda:
Lourdes:
--- Foi meu filho quem comprou essa roupa. E o sapato. Eu creio que vai dar certo no senhor. O meu filho, certa vez, foi ao Teatro e viu o senhor. Era para tomar as medidas da roupa. E o tamanho do sapato. Ele fez tudo isso a mando de dona Francisca. Ela não podia mais andar. – falou com calma e displicente dona Lourdes.
O homem continuava a chorar as lágrimas tardias e convulsas a lembrar de tempos remotos quando a humilde senhora passeava dia a dia pela calçada do Teatro. Nada pedia. E nada lhe era dada. Enfim ninguém ligava para aquela velha senhora. Ela caminhava lenta, alquebrada como se estivesse apenas a pensar nas agruras da vida de uma tão doente anciã. Ela não olhava para ninguém e mal pedia o favor de alguém atravessar a rua a puxar a sua mão. E quando fazia continuava a caminhar vagarosa mais olhando o chão que o espaço à frente. Indo ou vindo era a mesma mulher mergulhada em seus remorsos de não ter alguém para deixar a sua provável fortuna. E tudo isso Gonzaga pensou por um lapso de tempo quando nem mesmo as borboletas pousavam para depositar a sua célula feminina em uma flor de lírio.
Gonzaga:
--- O  seu filho está em casa? – indagou Gonzaga corando e amargurado por seu destino.
Lourdes:
--- Ele saiu logo cedo. Serviços extras. Ele trabalha como alfaiate. – respondeu a mulher sem maiores causas.
Gonzaga passou a vista na parede da sala onde pode ver um velho retrato de uma jovem esbelta e cheia de encanto como uma borboleta. E percebeu também a fotografia de um menino pousado com uma corneta a meia luz. Então ele indagou de dona Lourdes:
Gonzaga:
--- Ela? – indagou o homem.
Lourdes:
--- Sim. Quando moça. Ao seu lado um menino. Se reparar bem esse quadro é o senhor quando menino. – falou a mulher.
Gonzaga:
--- Eu mesmo? – indagou admirado com a fotografia.
Lourdes:
--- Sim. E tem mais. Fotos de amigos. Essa aqui sou eu. – reparou a mulher.
Gonzaga:
--- Como ela fazia tudo isso? – indagou ao leu o homem.
Lourdes:
--- Ela pagava todos os meses para o pessoal o criar. As fotos ela mesma foi com o senhor. – relatou a mulher.
Gonzaga:
--- Comigo? Não me lembro. Quando foi tirada a foto? – perguntou o homem,
Lourdes:
--- Tem a data ai embaixo da foto. – falou a mulher.
Nesse ponto Gonzaga procurou ver melhor e, na verdade, estava a data gravada à mão feita pela própria Francisca. E isso fez ainda mais chorar o homem. Era um tempo que nem ele mesmo se lembrava. E revolveu a memoria sobre o pagamento tendo por fim indagado.
Gonzaga:
--- Minha mãe pagava para o pessoal me criar? – indagou surpreso o homem.
Lourdes:
--- Foi assim que ela me falou. – respondeu a mulher sem mais nada falar. 
O homem se sentiu mais solitário ainda não conversando com o seu amigo Toré e passou a observar com o maior cuidado as fotos expostas na parede da casa node dona Francisca viveu por uma eternidade. E de relance se lembrou do sitio deixado como herança por ela e das casas existentes bem próximas a casa onde a mulher residia. Ele nada sabia sobre a herança de mais alguma coisa. Talvez a sua mãe tivesse deixado algo para dona Lourdes. Pensamentos vãos a lhe cobrir a memoria em certo pedaço de tempo. E então indagou Gonzaga.
Gonzaga:
--- Faz tempo que a senhora morar nessa vila? – indagou.
Lourdes:
--- Um punhado. Nem sei quantos. – falou a mulher.
Gonzaga percebia ser a mulher uma inquilina ou, talvez morasse de graça para cuidar da velha senhora. Mas ele não teve a coragem de saber na ocasião. E olhava nas molduras os retratos antigos expostos ao longo dos anos. Então o homem sentiu coragem em saber da vida da mulher com relação à moradia.
Gonzaga:
--- A senhora morar nessa casa de aluguel? – quis saber.
Lourdes:
--- Faz tempo que dona Chica me deu a casa para morar. Mas isso foi de boca. Eu fiquei aqui para cuida da velha. – falou.
Gonzaga atentou para a situação e resolveu mais nada falar. Apenas se apressou em dizer ter de ir para o seu ponto de comércio e voltaria na vila algum tempo.
Lourdes:
--- Se o senhor quiser eu tenho o pagamento uns alugueis. Da vila. Das casas ainda não recebi. – falou Lourdes.
Gonzaga:
--- Eu vejo isso depois. No momento vou ter de pegar alguns documentos meus. A senhora fique com os alugueis.  – falou  o homem.
A mulher nada falou. Apenas se conservava de braços cruzados  próximo ao busto e com o rosto bastante sério. Não falou em marido nem Gonzaga perguntou algo a respeito. Ele apenas olhou os seus dedos e nada viu de marca por uma aliança. Certamente era uma mulher só. Tinha ela a companhia de um filho. Talvez. O caso foi encerrado com o homem a chamar Toré para seguir caminho. No portão da vila ele observou a presença de José Luiz e demais pessoas residentes naquelas pobres casas.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ISABEL - 24 -

- Vivien Leigh -
- 24 -
A CASA
E Gonzaga se lembrou de um incidente havido no palco em obras do Teatro, porém não ligava a fisionomia de Zacarias a outros funcionários de empresas particulares a prestar serviço de assistência no casarão.         Havia sim, um caso de um rapaz que quebrou o pé com uma boa martelada, porém esse fato ficou restrito a turma de operários da obra. E Zacarias, esse homem Gonzaga não se lembrava de ter visto o homem.
Gonzaga:
--- Era muita gente a entrar e a sair todos os dias. Eu fico na parte da bilheteria. - respondeu sem maiores pretensões.
Toré sorriu e vagou pelas estreitas ruas da vida a procura de maiores casos além dos já falados quanto ao caso do ancião. E, de imediato pensou na casa onde morava José Luiz, mecânico aposentado por força de seus filhos. Na verdade José Luiz não trabalhava por causa de uma deficiência nas mãos a qual impedia exercer a função primordial de trabalhar ajustando todo o carburador de um carro, coisa especializada por ele. E os seus filhos cumpriam a tarefa levando a feira de toda a semana para o seu pai como préstimo ao velho enfermo. José Luiz morava em um casebre logo a frente da casa da velha senhora Maria Francisca. E Toré se lembrou de ir à casa de José Luiz e saber de algo mais a respeito da anciã morta em um atropelamento. Desse modo, a se lembrar de mais profundo do caso, Toré convidou o seu amigo Gonzaga par tentarem uma conversa com o velho José Luiz, bem mais conhecido por Zé Mortalha. Foi então ter Toré prevendo a Gonzaga:
Toré:
--- Por favor, não vá falar em cemitério. – sorriu Toré ao seu compadre.
Gonzaga:
--- Cemitério? Por quê? – indagou perplexo o homem.
Toré sorriu ainda mais e, logo em seguida, foi a dizer:
Toré:
--- Mortalha! Cemitério lembra mortalha! – sorriu ao desbravar o rapaz.
Gonzaga:
--- Mortalha? O que tem a ver uma coisa com outra? – indagou mais embaraçado o homem.
Toré:
--- É que Mortalha é o nome de José Luiz. – sorriu ao desbravar o jovem.
Nesse ponto, Gonzaga sorriu também.
Em um segundo os dois amigos rumaram para a casa de José Luiz,  Mortalha, a nem ligar para a gritaria de suas esposas a indagar para onde os dois tinham partidos:
Esposas:
--- Ei! Vocês? Para aonde estão fugindo? – gritavam as duas mulheres preocupadas com seus maridos.
Não obtendo resposta desejada Isabel e Otilia voltou para o interior do bar, zangadas por demais e Isabel a dizer ter depois de saber Gonzaga ser dono de uma terra não teve mais sossego na vida.
Isabel:
--- Merda de herança! – falou a mulher com a cara rude.
Enquanto isso, Toré chegou à residência de José Luiz. A essa altura o homem já estava almoçado e descansava ouvindo o rádio como as pernas estiradas no sofá. A sua mulher foi quem atendeu aos dois homens. Ela já havia conhecido Toré. Mas não conhecia Gonzaga. De vez a mulher perguntou se eles queriam falar com algum dos seus filhos. Como a resposta foi negativa então ela já foi chamar o seu marido, pois os homens queriam mesmo era falar com José Luiz.   Lento até demais, José Luiz  veio até a porta de sua casa e mirou o rapaz mais jovem e logo descobriu quem era:
José Luiz:
--- Toré? Que estás fazendo aqui há essa hora? – disse o homem calmamente.
Toré:
--- Já vi que estás lúcido. Eu e meu amigo, estamos procurando a casa a anciã Maria Francisca conhecida por minha vó. Eu sabia dela morar por esses meios. Agora, o endereço eu não sei. Minha Vó. O senhor sabe? – indagou o rapaz.
José Luiz:
--- Mas claro. Ela morreu. Mas a sua casa é aí em frente. Isso é uma vila. E tem outras casas aqui pra baixo. Quem toma conta é uma senhora moradora da vila. Pode ir saber que ela diz. – falou o homem já idoso.
Toré:
--- Está bem. Esse é Gonzaga, dono de um bar onde a turma come e bebe. – sorriu o rapaz e apontou para Gonzaga.
José Luiz:
--- Ah bom! Então podem ir à casa do meio. É   lá que mora dona Lourdes. Diga para ela que eu mandei. – respondeu o velho Mortalha.
Com essa e mais duas historias os dois companheiros saíram à procura de dona Lourdes, a mulher responsável pelas casas e vilas da anciã desaparecida. Não demorou nada para a mulher atender os visitantes. Apenas, um pouco desconfiada, Lourdes quis saber quem eram os dois homens. E foi então que começou a conversa:
Toré:
--- Meu nome é Toré. Esse é meu amigo, Gonzaga. Nós estamos à procura da senhora, pois ficamos nós sabendo ter a senhora o cuidar das casas da anciã Maria Francisca. Esse homem é o filho de dona Francisca. Mas até hoje ele não sabia da mulher ser sua mãe. Ele foi dado a uma pessoa e, depois, nunca mais ouviu falar na sua verdadeira mãe. É isso. – falou como sabia o jovem.
A mulher, com os pés cruzados pelo lado de dentro da porta, se alegrou quando se referiu a Gonzaga, pois a anciã sempre falava no seu filho.
Lourdes:
--- Ela sempre me falava dele. Mas era temerosa em se declarar ser sua mãe, pois abandou a criança ainda pequena na casa de uns matutos. Foi isso que a velha me falava. – respondeu por fim a mulher.
Gonzaga:
--- Pois eu sou Gonzaga, filho legítimo. Porém nunca perguntei a dona Francisca ser ela a minha mãe, pois nem sabia ser ela de fato a mulher que eu queria conhecer. – falou o homem com os olhos cheios de lágrimas.
Lourdes:
--- Ora mais que besteira. Ela guardava tudo sobre o senhor. No baú estava amontoado uma porção de recortes de jornais. E ainda tem certidões e tudo mais. Venha, pois eu mostrar para o senhor. Na verdade, eu também te conhecia do Teatro. Certa vez dona Francisca me apontou e me pediu segredo. – sorriu a mulher já com a chave na mão para abrir a porta do casario.
O certo foi que Gonzaga tomou conhecimento de tudo quanto à velha Francisca arrumava para o seu ninho e por nada no mundo revelava os seus segredos a ninguém. Gonzaga pode ver retratos antigos, quando ele ainda criança. E mais adulto. Sua formatura. O seu trabalho no Teatro. A vida simples que ele levava. Os documentos de cartório mostrando quando do seu nascimento. Seu nome real. E muitas outras coisas mais. Ele se espantou ao ver uma mantilha postada no canto da cama e aí foi feita a pergunta:
Gonzaga:
--- E essa mantilha? – indagou meio estranho o homem.
Lourdes:
--- Ela comprou para dar de presente a sua esposa. – sorriu a mulher.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

ISABEL - 23 -

- Katy Perry -
- 23 -
A ORIGEM
E no seu olhar, Toré ficou a pensar se contaria ou não algo sabido por ele há poucos tempos. Gonzaga era filho adotivo, disse o homem tinha a conhecer. E sabia por um advogado ter herdado herança de sua mãe de sangue, a senhora Maria Francisca Algarve, cuja imagem ele nunca sobe dizer qual. Poderia ser uma portuguesa rica e teve o garoto como único filho e o seu marido morrera antes ou outras situações de tal forma. Ele – Gonzaga – nunca se aprofundou em saber qual era a sua ascendência. Gonzaga jamais se importou em saber quais seus parentes, mesmo se tivesse algum. Ele vivia, antes de comprar o bar, como um servidor do Estado, lotado no Teatro e vivia daquela renda quando não era afortunado no jogo do bicho para bem dizer. Teve uma esposa e essa morreu. A casa na qual vivia, era uma simples casa. Com o correr do tempo conheceu Isabel. Ele, para bem dizer, nunca pensou em casar pela segunda vez. Dormia, as vezes, em uma esteira no palco do Teatro, pois o movimento não deixava ele sair para a sua casa simples. No atual momento, o homem já estava mais confortado e até caso com Isabel. E para completar, veio a noticia de ter herdado uma fazenda ou um sitio da sua mãe verdadeira: Maria Francisca Algarve. Para Gonzaga essa noticia era uma dor de cabeça. Procurar papel e coisas mais. Tudo isso para justificar a sua origem.
Gonzaga:
--- É. Vamos ver se isso vai dar certo. Ou se vai ser mais uma dor de cabeça. – disse ele e sorriu
Toré ficou a pensar, E depois de alguns instantes ele resolveu falar.
Toré:
--- Eu conheci um homem. ....Já idoso. ... E ele conhece você. Pelo que me disse, é desde você criança. – fez ver o rapaz um pouco desconfiado.
Gonzaga:
--- É. E que ele sabe de minha vida? – indagou sorrindo o homem.
Toré:
--- Bem. Ele pouco falou. Mas conheceu a sua mãe verdadeira. – disse mais o rapaz.
Gonzaga:
--- Conheceu minha mãe? Conversa! Isso é coisa prá boi dormir. Eu não conheci essa mulher? E ele a conheceu? – gargalhou o homem
Toré:
--- É essa misteriosa mulher não era tão misteriosa assim. Ela estava com você todos os dias. Pelos nesse momento. – falou com precaução o rapaz.
Gonzaga:
--- É. E você sabe também que é a tal mulher? – indagou o homem sem parar de sorrir.
Toré:
--- Eu estive com ela. E conversamos até demais. E ela me disse que um dia se declarava a você – falou o rapaz um tanto cauteloso.
Gonzaga:
--- Você conhece a minha mãe? Tais conversando? E que ela? – perguntou de modo serio o homem.
Toré:
--- O nome você já tem. Falta apenas sincronizar a pessoa. Maria Francisca Algarve é a mulher que morreu atropelada no dia do seu casamento. – falou sério o rapaz.
O homem então parou de flutuar e encarou o rapaz para logo perguntar em seguida:
Gonzaga:
--- Você é doido ou fala sério? – indagou o homem com cara muito seria.
Toré:
--- Eu já sabia da história. Apenas não te contei. Maria Francisca esteve na Igreja assistindo o teu casamento. E abençoou ao final. E partiu com aquele jeito acorcovado de andar. – falou sério o rapaz.
Gonzaga:
--- Meu do céu! Minha vó? Aquela mulher acabada? Ela era a minha mãe? – indagou o homem com as lágrimas caindo dos olhos.
Toré:
--- Pois é. Ela me contou toda a história. Desde o começo. Quando teve que dar para uma família. Tudo, tudo! – respondeu o rapaz.
E Gonzaga então chorou por demais. Ela já não duvidava da palavra do seu amigo. Não raro a verde sempre dói. Mesmo assim é melhor se saber logo cedo do que tarde demais. A anciã passava todos os dias pela calçada do Teatro. Não raro, Gonzaga pagava almoço para a anciã. Todos a chamava de minha vó. Ele também seguiu o exemplo dos mecânicos. Na verdade, Maria Francisca tinha um corpo franzino. Ele nunca perguntou qual a causa a motivar a anciã ficar daquele jeito. Também era um defeito de pouca monta para Gonzaga ficar ciente. E o homem perambulou pela frente do bar, com as mãos para trás, uma sobre a outra, em divagar em seus próprios pensamentos. Quantas vezes ele dera de o que comer àquela anciã sem nunca perguntar de onde era ela. Ás vezes, e tão somente, ele articulava uma conversa  sem desejos:
Gonzaga:
--- Está bom um almoço? – perguntava o homem.
E a anciã respondia:
Anciã:
--- Sim! Bom demais! – dizia a anciã Maria Francisca sem precisar seu nome.
Ela apenas olhava para Gonzaga com uma fisionomia triste como de alguém a estar bem longe daquele lugar. Em cismar consigo mesma, ali está diante do filho seu. Porém nada articulava nesse real sentido. Apenas Maria Francisca ficava alheia a todo sentimento do homem. Esse sorria por vez e nada apenas falava. Ele era calado e nada sabia indagar à mulher. Em certa ocasião dona Maria Francisca olhou bem a face de Gonzaga. Por alguns minutos ela sentiu vontade de acaricia-lo. Esse ate foi notado pelo próprio Gonzaga. Em determinado instante o homem se levantou de uma prancha onde sempre ficava e falou qualquer coisa para Maria Francisca. Assim acabou a cena de ternura da mulher. Ele foi até a banca de jogo onde estava o homem que bancava bicho e pediu para verificar a extração da noite anterior. O homem com a cara abusada pegou um papel e deu para Gonzaga. Esse com esmero anotou a casa dos bichos para dar oportunidade a anciã sair de vez do local, na pensão de dona Marina. O homem ficou receoso com a velha mulher por um bom espaço de tempo desde àquela hora de almoço.
Gonzaga:
--- Mas por que você não disse logo essa história? – perguntou revoltado o homem
Toré ficou calado por certo tempo e afinal deu o testemunho.
Toré:
--- Quem sabe muito da história é Zacarias, sogro da minha irmã Luiza. – fez ver Toré.
Gonzaga:
--- Quem é esse Zacarias?! – indagou esquentado o homem cheio de raiva.
Toré:
--- Você não o conhece. Mas ele te conhece. Aliás, ele esteve no Teatro fazendo um serviço no palco. Mas Zacarias o conhece há bastante tempo. Desde criança. – falou Toré ainda arrependido com a conversa em torno de Maria Francisca.
Gonzaga:
--- Teatro? Fazendo serviço no palco? Nunca vi tal homem. – relatou o dono do bar com a cara abusada.
Toré:
--- Você se lembra. Pelo menos de um ajudante que meteu o martelo no pé. – sorriu o rapaz ao lembrar o fato.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

ISABEL - 22 -

- Catherine Zeta Jones -
- 22 -
Na verdade, Toré abriu uma loja de artigos de automóveis onde ele era o mecânico ou, pelo menos dava a orientação precisa, e o outro era o senhor Paulo Nogueira mais conhecido pelo sobrenome. A loja de autopeças foi aberta na rua principal do bairro onde havia outras lojas concorrentes. Seus preços accessíveis davam a vantagem de vender muito mais. Quem procurava adquirir um disco de embreagem procurava de imediato por Toré, pois sabia ser ele o dono do conhecimento de todas as peças de auto. A loja ficava em um andar térreo do prédio, pois no andar de cima era a morada do senhor Nogueira e de sua família. A loja era ampla, de duas casas já compradas pela firma resultando em um comprimento de doze metros de frente e trinta metros de extensão. Com o nome sugestivo de Loja São Cristóvão, padroeiro dos motoristas a nova empresa tinha todo o sortimentos de artigos para auto, incluindo equipamentos sonoros.  Toré continuava a residir na rua chama da Linha (do trem) e a sua esposa aproveitava o tempo para fazer o vestuário do bebê. Em certa ocasião, parou um automóvel na frente da casa. Era mesmo Toré. Ele adquirira o carro por preço de ocasião e tudo o que havia necessidade de reparos ele mesmo fazia ou um mecânico José Pereira era também o responsável pelos acertos. Quando o carro estacionou na porta a mãe de Toré indagou quem seria o tal, com voz mais ou menos lenta e olhando para trás do ponto onde estava sentada em sua máquina de costura.
Dulce:
--- Quem é? – indagou de modo estranho a mulher olhando para a porta.
Otilia:
--- Toré! Com certeza ele veio apanhar alguma coisa! – respondeu Otilia torando a linha com os dentes.
Mas Toré estava ali para mostrar o seu primeiro carro. Foi assim ele a dizer:
Toré:
--- Olha o nosso carro! – sorriu Toré a mostrar o auto na porta da casa.
Otilia:
--- Não disse ser ele. Menino! Um carro?! – falou a mulher totalmente assustada com a nova aquisição de Toré.
Toré:
--- É o seu presente por conta da barriga! – sorriu Toré repleto de alegria.
A mulher sorriu e logo saiu da cadeira onde estava e o beijo ternamente. Foi um beijo prolongado, demorado até quando ele pode falar com a sua mãe, Dulce Pontes, a dizer ser o carro presente para as duas mulheres da casa. Dulce ficou feliz, mas logo após decidiu ser o presente apenas para o filho do casal a nascer.
Toré:
--- É pra todos vocês, então. Mulher, mãe e o rebento. – e agarrou a esposa e beijou em seu ventre amado. Toré nem parecia o homem de tempos atrás.
Na manha daquele domingo inicio da semana, Toré foi com a sua esposa para visitar o amigo Gonzaga e apresentar a nova aquisição: o carro. Era por volta das dez horas. O bar estava com seu comercio reduzido como era frequente em todo o domingo. Pessoas passavam vindas da Igreja Matriz após a Missa das nove horas. Toré ainda olhou em direção da Matriz e viu um grupo de pessoas. Com certeza era um batizado. Ele olhou e tirou a vista para descer com sua esposa Otilia. Por certo, Gonzaga esfregava a estopa no chão e, quando o automóvel estacionou em frente ao bar ele se soergueu e, depressa, pode ver Toré, esposa grávida e o carro. E de imediato foi logo a dizer:
Gonzaga:
--- Muito bem. Um belo carro, compadre! – ressaltou Gonzaga a seu amigo.
Toré:
--- Foi o que deu para compar. Ainda falta fazer uns reparos. – sorriu o rapaz apontando a lataria.
A mulher, Otilia, cumprimentou o seu compadre e saiu correndo para o interior do restaurante a chamar por Isabel.
Otilia:
--- Onde está o povo dessa casa? – indagou sorrindo a mulher.
Isabel:
--- Amiga! Até que enfim! – gritou exaltada a mulher do bar.
Otilia:
--- Pois é. A barriga me atormenta. Quais as novidades? – indagou Otilia a sorrir.
Isabel:
--- Mulher! Eu não te conto! Sabe que está internada? – indagou Isabel com olhos atentos.
Otilia:
--- A velha! – respondeu Otilia em cima da hora.
Isabel:
--- Como você soube? Pois é mulher. Dona Marina. O filho? Nem se sabe dele! Coitada! Eu tenho é pena! – relatou Isabel pela mulher Marina.
A conversa continuou por mais tempo com o relato de Marina. Talvez fosse gangrena ou mesmo diabetes. O restaurante estava fechado e toda a freguesia tomou o rumo do restaurante onde Isabel preparava almoço para os fregueses. A mulher já sabia como servir, pois o pouco tempo a permanecer na pensão lhe deu meios para servir aos contentos a vasta freguesia. Em um só tempo, havia também o atendimento da outra parte do restaurante. Enfim, terminava tudo em uma só tarefa. Nesse momento, além de Das Dores havia mais duas garçonetes a servir. Salário baixo. Isabel aprendeu com Marina a despachar as ninfas para a saída com seus homens. No domingo, ainda com sono apareceu uma das tais. Como não podia fazer nada se sentou em uma cadeira e deitou a cabeça na mesa do bar. Isabel olhou para a moça e depois sorriu para Otilia.
Otilia:
--- Vai ter muito que aprender. – falou muito baixinho a mulher.
Isabel voltou a olhar a moça e depois disse a Otilia assuntos de interesse de ambas.  Enquanto isso, Gonzaga tratava de olhar de perto o carro novo de Toré. Lá pras tantas, Gonzaga falou em uma herança. Ele estava para receber um sítio no interior dado por herança  à sua provável mãe.
Gonzaga:
--- Sabe? Eu sou filho adotivo. Desde muito cedo eu descobri ser filho adotivo. Mas eu não ligava para tal. Agora, um advogado me procurou para dizer ser eu filho único de Maria Francisca de Algarve. Ela morreu e me deixou por herança um sítio enorme. O caso é que eu tenho de procurar alguns documentos e provar ser filho adotivo do pessoal que me criou. – falou sem pressa o homem.
Toré:
--- A sua mãe morreu quando? – indagou o rapaz.
Gonzaga:
--- Não sei. O advogado me informou ter ela ser vítima de um acidente de carro. Porém não deu detalhes. – falou o homem
Toré;
--- Agora me veio um pensamento. A mulher que andava por aqui, corcovada, morreu quando você se casou. Ela foi acidentada por um carro quando a gente estava na Igreja, Interessante! – falou o rapaz com um pouco de desconfiança.
Gonzaga:
--- Eu soube desse acidente. Foi próximo a Igreja. – detalhou o homem.
O rapaz ficou a olhar o seu compadre e nada falou.

AUTOMÓVEL

segunda-feira, 9 de julho de 2012

ISABEL - 21 -

- Katy Perry -
- 21 -
PASTOR
Nos dias seguintes Luzia costumava ir com a sua cunhada levando dona Dulce ao hospital onde a mulher conversava com o médico de todos os males surgidos na sua vida e as venturas quando estava boa de saúde. Era costume levar a mulher a cada 15 dias para verificar o processo de andamento da enfermidade até o ponto onde o médico deu alta há dois meses depois considerando o bom progresso na paciente. Desde então a mulher não mais falou em sua filha Silvia. Eram também dois meses de gravidez de Otilia. A mulher já sentia um leve aperto nos vestidos e foi não foi Otilia estava a cosicar as saias de casa ou de rua. Toré era o homem mais feliz do mundo por ter Otilia como grávida. Ele não tinha outro assunto a não a ser a gravidez. Certa vez, chegou à oficina um novo freguês para fazer conserto no seu automóvel. Ele era um homem calado e a todo tempo estava por perto do mecânico a procura de saber maiores detalhes do serviço. Vez por outra outro mecânico passava por perto do dono do carro e o cumprimentava dizendo sempre “irmão”. Por fim Toré para tirar a dúvida foi perguntar ao proprietário do automóvel se o homem era ”crente”. Então recebeu por resposta ser ele Pastor:
Pastor:
--- Sou pastor da Igreja. – relatou o homem sério e de poucas palavras.
Toré:
--- Sabe? Nunca tinha visto um Pastor de perto! – falou Toré.
O homem não deu resposta. Era calado e calado permaneceu. Toré saiu de baixo do carro e olhou bem o pastor para poder perguntar.
Toré:
--- Pastor é uma autoridade? – perguntou o rapaz.
Pastor:
--- Sim. Ele responde pelo seu rebanho! – confirmou o pastor com indiferença.
Toré:
--- Rebanho de gente? – indagou alarmado e de olhos bem abertos o rapaz.
Pastor;
--- Sim. Rebanhos. Todos nós somos rebanhos de Cristo, nosso Salvador. – comentou o pastor.
Toré:
--- Danado. Eu pensava que rebanho era só de ovelhas! – vaticinou o rapaz meio desconfiado.
O Pastou olhou bem sério para o mecânico e depois de alguns segundos, respondeu:
Pastou:
--- O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. – recitou o proverbio bíblico
Toré:
--- Quem disse isso? – perguntou desconfiado o mecânico.
Pastor;
--- O Rei David, quando estava no Oasis, à noite, cercado por tropas do Rei inimigo: Salmo 23.
Toré:
--- Isso é do tempo do “Ronca”. – falou o mecânico e se voltou ao serviço por baixo do carro.
O Pastor nada respondeu. Na sua mudez ele atinava ser o rapaz uma alma perdida, alheia ao conjunto do rebanho. Depois de algum tempo, o mecânico se voltou para a parte de dentro do carro a continuar o serviço. Naquele momento foi tomado de surpresa. Ele encontrou um preservativo por dentro do assento de traz do automóvel. Toré teve muito cuidado em pegar o envelope. Após alguns segundos, saiu do automóvel e entregou ao Pastor o nobre preservativo abençoado e disse:
Toré:
--- Salmo UM de Toré. – e saiu fora sem mais dizer coisa alguma.
O Pastor ficou com o preservativo na mão a olhar e procurando então saber de quem foi ou quando foi deixado aquele protetor de pênis em seu carro.
Certo dia, quanto ainda fazia dois meses de gestação, Otilia foi até ao bar de Isabel mostrar a barriga já crescida e trocar ideias com a amiga. No tempo Otilia ficou surpresa com o visto. Isabel também estava grávida. Pouco mais de um mês. E Otilia gritou de felicidade.
Otilia:
--- Você também? – gargalhou a moça apontando a barriga de Isabel.
Isabel:
--- Pois é. Nós duas. Você em um mês e eu no outro. Ô castigo! – respondeu Isabel olhando a barriga de Otilia.
Na verdade, o que Isabel falou – ô castigo – não tinha nada demais. Era apenas por mostrar coincidência das duas amigas estarem grávidas quase ao mesmo tempo. E nessa história rumou a conversa durante a tarde inteira. Roupas de criança, babador, berço, cortinas, brinquedos entre tudo o mais. Isabel falou ter de ir ao ginecologista todos os meses para ele poder acompanhar a evolução do parto. Otilia nem se preocupava com tal motivo. E respondia apenas:
Otilia:
--- Deus dará o frio conforme a roupa! – sorriu a jovem gravida a sua amiga.
Mas, em contra partida, Isabel tinha que ir ao dentista para extrair ou obturar um dente. Esse era o maior problema a ser enfrentado por aquela mãe gestante. Isabel já teve um filho. Esse morreu de uma doença nunca revelada para ela. Assim já existia de como se comportar durante a gravidez. Ela era criada, como pode se dizer, no mato. Mesmo assim, de quando em quando tinha a visita de um ginecologista no posto de saúde existente nas redondezas de sua casa. Além do mais, uma parteira famosa tinha sempre de ir a sua casa a examinar a barriga da mulher. Essa tal ação dava vergonha a jovem por ter de mostrar a barriga a uma mulher ‘de fora’, como sempre dizia em sua conversa com Otilia. Por sua vez, Otilia teve um parto de uma criança de um mês. Isso, a mulher se lembrava de muito bem.
Isabel:
--- Eu nunca tive problema de aborto. – respondia a mulher gravida a sua colega.
Otilia:
--- Nós, mulheres, sofremos demais. Os pais não estão nem aí. – falou Otilia achando graça por demais.
Nesse ponto chegou Gonzaga com uma feira para descarregar do seu carro. E quando viu a moça Otilia totalmente grávida, admirou-se por demais. E logo foi dizendo:
Gonzaga:
--- Olha ela? Mas aquele Toré! – gargalhou Gonzaga ao ver a moça em estado de gestação.
Ele falou em Toré porque nunca se falou em ser pai. Alias Gonzaga nunca falou nem mesmo de outros assuntos, a não ser quando já estavam ambientados para o rapaz ser o padrinho de casamento de Gonzaga. E com o passar dos dias, nada mais se falava. Otilia, então falou numa oferta de trabalho para Toré:
Otilia:
--- Agora está pensando em montar uma loja de artigos de automóveis. – sorriu a mulher.
Gonzaga:
--- Quem? Aquele arruaceiro? – falou espantado o velho amigo.
Isabel:
--- Não me digas? Isso é novidade das boas! – sorriu contente e alarmada a companheira.
Otilia:
--- É. Ele e um homem. Os dois entraram em sociedade. O homem entrou com o dinheiro e Toré com seu aprendizado e mecânico. – ressaltou a jovem gravida.