terça-feira, 19 de junho de 2012

ISABEL - 20 -

- Ali Larter -
- 20 -
RECUPERAÇÃO
Quase a dormir, então Toré despertou e disse à sua esposa Otilia. Sua mãe teve três filhos: o primeiro foi ele – Toré; o segundo foi uma garota, Silvia; o terceiro foi um garoto, Arnaldo. Esse morreu logo quando ainda era um bebê. A menina foi até aos doze anos e morreu de febre tifo e, por fim, quando dona Dulce estava com Toré ainda de colo, alguém pôs na sua porta outra menina. Essa foi Luiza. Foram os únicos casais a sobreviver até aqueles dias. A moça então declarou ser até aquela data alheia aos outros nascimentos.
Otilia:
--- Você nunca me falou dessa Silvia. Por quê? – indagou a moça.
Toré:
--- Não via importância. Ela morreu há muito tempo. – fez ver o rapaz.
Otilia:
--- Curioso isso. Eu chegue a imaginar ser a menina uma neta da vizinha. E não a vi mais por essas bandas. Agora você me fala em uma irmã falecida. E como era essa menina? – indagou preocupada a senhora Otilia.
Toré:
--- Ela? Era uma menina. Corpo franzino, rosto pálido, baixa altura. Era uma menina afinal. – respondeu o rapaz já meio sonolento.
De repente, dona Dulce surgiu à porta do quarto de Toré e Otilia e perguntou afinal:
Dulce:
--- Onde está Silvia? – indagou Dulce com voz acanhada.
Aquilo surpreendeu ao casal. Tao de repente a mulher escutou e falou. Era um sintoma de real progresso da enferma. O médico tinha advertido quanto a isso. E no exato momento a mulher falou em Silvia.
Toré:
--- Mãe? A senhora falou? – fez ver o homem desesperado com a mulher a falar.
Otilia:
--- Ai meu Deus! Ela acordou! – falou a moça com farta alegria.
E a mulher tornou a falar:
Dulce:
--- Onde está a minha filha? – indagou a mulher de forma tranquila.
O rapaz, muito alegre pulou da cama e se abraçou com a sua mãe. Do mesmo jeito falou a esposa Otilia. E em seguida, a esposa disse a sorrir ser preciso chamar Luiza para ver o milagre ocorrido com dona Dulce. E, de momento para outro, Otilia saiu a correr desenfreada, abrindo a porta da sala e correndo até a casa de Luiza. Em contra partida Toré pegou a mãe pela cintura e a conduziu até a sala de jantar. O rapaz chorava demais por ter visto aquela cena. Já não mais acreditava na recuperação da mulher. Ouvia falar Otilia, quando a servia o almoço ser aquilo “almoço” e era para “comer”, fazendo o gesto a levar a mão à boca. Se a mulher perguntava o que era “aquilo”, Otilia respondia “ser bife de gado”. E se a mulher perguntava o que era “gado”, a nora respondia ser vaca criada e levada para o matadouro. E a mulher sorria com a palavra “matadouro” como se nunca tivesse ouvido falar. Era tudo isso a se passar na cabeça de Toré a chorar de emoção vendo a sua mãe se recuperando do susto levado há alguns meses.
Toré:
--- Minha mãe! Sente-se aqui! Pronto! Assim! – falava Toré a abraçar a sua mãe.
Quantas imensas vezes a mulher ficou na sala de visita sentada em um sofá sem dizer palavras e a olhar o infinito. E de momento, parecendo um sonho, a mulher despertou.  Mesmo a indagar sobre sua filha morta há vários anos, era um sinal da reabilitação de Dulce. Em igual momento chegou a casa a senhora Luzia acompanhada por Otilia. Eram todas alegrias ao ver a recuperação da mulher sem fala. A filha tão logo chegou se abraçou a sua mãe e se debruçou em seu ombro a chorar, a lacrimejar a tudo enfim a ter podido fazer. Otilia ainda perguntou a Toré se Dulce havia dito algo na sua ausência. O rapaz fez negativo e a mulher, ao ver Luiza lacrimejou também se abraçou com a filha a chamar por Silvia. Então Luiza declarava não ser Silvia, pois esta morrera a tempos idos. E a mulher chorou vertentes lágrimas. Em tudo e por tudo era alegria total da família. Pessoal da vizinhança não fez por menos. O pessoal chegou de repente à casa de Dulce e demonstrava sinais de contentamento pela recuperação imprevista da mulher. Era mulheres e crianças todos procurando ver de perto dona Dulce. A mulher não dava a menor importância àquela total festa. Apenas argumentava:
Dulce:
--- Preciso dormir. Ai que sono! – dizia a mulher no meio de tanta gente.
Após longo período de tempo, o povo saiu para as suas casas abraçando a Luiza e Otilia pela recuperação lenta de Dulce. Após esse tempo, ficaram junto à cama do primeiro quarto os parentes mais próximos de Dulce. Nada quiseram falar do torpor da mulher. Seria preciso dar tempo ao tempo e perceber quando Dulce sairia do seu adormecimento.
Quando tudo se acalmou na residência de Dulce, certa vez, Otilia decidiu ir até ao bar de Isabel contar as novidades. Era uma cara de alegria a de Otilia. Muito embora fosse prematura a se falar em total reabilitação, podiam-se notar as conversas de dona Dulce sobre coisas do seu passado, e com certeza, de Silvia. Ela morreu aos dozes anos acometida de uma febre tifoide, conforme o diagnóstico médico. E disse ainda dona Dulce ter sofrido muito pela morte da pequena filha. Ela às vezes esquecia-se de alguns detalhes para depois emendar com outras coisas do passado. Negócios de marido e mulher. Tudo isso, Otilia contou a Isabel.
Otilia:
--- Ela se lembra de seu marido, motorista de caminhão. Diz a mulher ter ele saído de casa. Depois vai dizer ter sido “outra”  que o tomou. Negócios às vezes sem nexo. Mas, pelo que eu soube de verdade, o marido a abandonou e vive hoje com “outra” mulher. Mas, o homem está em outro Estado dessa região. – relatou a visitante.
Isabel:
--- Isso acontece. É negócio de a gente passar por poucas e boas. Certo dia, eu soube de uma história contada por um freguês. Disse ele ter Gonzaga sido enjeitado por a sua mãe. E assim foi criado com um pessoal do interior. Foi assim que o homem falou. A mãe de Gonzaga ainda era viva. Mas, depois o freguês disse ter sido morta em um acidente. Coisas que eu não dei fé. É tanto que nem falei a Gonzaga. - falou com bastante calma a mulher.
E a conversa demorou por um curto espaço de tempo. Otilia após os beijos saiu em busca de um ônibus em direção a sua casa. No meio da viagem, aproximou-se da mulher um antigo freguês das arruaças da vida. Ela a cumprimentou e foi de chofre na conversa:
Freguês:
--- Como é? Vamos dar uma? – perguntou o freguês com a cara sínica.
Otilia olhou depressa e pediu licença indo se sentar em uma cadeira mis a frente onde já havia uma mulher imensamente gorda. O homem seguiu a mulher e não deixava por menos a indagação.
Freguês:
--- Como é sua banqueira? Agora tais nessa? Eu te conheço sinhá vaca. - falou o homem com tom bravio.
Otilia não suportando mais lhe largou a bolsa na sua cara. O homem se viu agredido e buscou socar a mulher por todos os meios querendo passar sobre a mulher gorda. Essa não saía do canto. Apenas dizia:
Mulher:
--- Tenha modos seu canalha! – dizia a mulher gorda.
Nesse momento o motorista parou o ônibus e pegou o desaforado pela gola da camisa e o despejou para fora da condução. O  homem enraivecido apenas dizia:
Freguês:
--- Eu te pego sinhá vaca! Eu te pego! – dizia o homem com muita raiva em baixo, em plena calçada.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

ISABEL - 19 -

- Monica Bellucci -
- 19 -
INCERTEZA
Passaram-se horas para se chegar a uma versão da causa da doença da mulher, Dulce Pontes. Já era manhã quando o enfermeiro chegou até onde estava Toré e dialogou com o rapaz a tal situação a pedir a presença da família ao consultório do medico. Era um médico de meia idade e especialistas em trombos vasculares cerebrais. Ele atendeu de pronto à família foi de imediato questionar por que tal fato ocorreu. Como ninguém sabia de nada, então o médico explicou ser a mulher forte e ter havido uma isquemia cerebral. A paciente estaria em coma induzido e era preciso algumas horas ou dias parasse ter uma qualificação da enfermidade.
Médico:
--- Talvez ela apresente sequelas. É bem provável ser uma Amnésia. Mas não se pode adiantar qualquer sintoma clínico. O que devemos é esperar por mais 72 horas para se constatar um diagnostico seguro. – falou o médico.
Luiza:
--- Ave Maria! Isso é grave, doutor? – indagou perplexa e chorosa a mulher.
Médico:
--- É o que eu disse: vamos aguardar. – relatou o especialista.
Otilia:
--- E tem visita? – indagou sobressaltada a nora de Dulce.
Médico:
--- Por enquanto, não. Ela se encontra da UTI. É só. – concluiu o médico.
Os parentes de Dulce Pontes então saíram do consultório do medico sem nada entender do que sentia a paciente naquele momento de eterno sono. Alguém argumentava sobre amnésia sem saber nada do que falava. Outro dizia ser uma doença grave. E mais alguém temia pelo seu futuro. Nesse momento o enfermeiro Josino se acercou do grupo um tanto ébrio de sono e indagou de Toré.
Josino:
--- Você falou com o médico? – indagou o enfermeiro
Toré:
--- Ele explicou muitas coisas e disse ser possível ela vir a ficar com não sei o que! – falou sem entender o rapaz.
Josino:
--- Amnésia? Terá sido isso? – indagou o enfermeiro a Toré.
Toré:
--- É. Parece que foi essa palavra! – relatou meio sem jeito o filho de Dulce.
Josino:
--- Sim. Foi amnésia. É uma enfermidade temporária. A não ser ter sido a mulher atropelada por um veículo. O que não foi o seu caso. Mas, de outra forma, ela se lembrará do ocorrido. – fez vez o enfermeiro.
Toré:
--- É ruim se ter essa doença? – indagou Toré.
O enfermeiro sorriu e disse.
Josino:
--- Todos nós sofremos de um pouco dessa doença. Ele sofreu um surto maior. Talvez por um Acidente Vascular. – relatou Josino.
Luiza:
--- Acidente? – indagou preocupada a filha de Dulce.
Josino:
--- É. Isso. A gente tem até mesmo ao nascer. Tem casos de pessoas serem vítimas de um acidente vascular por muitos anos. Às vezes deixa sequelas. Outras: menos. – fez ver o homem
Luiza:
--- E ela pegou em algum peso? – indagou preocupada a mulher.
Otilia:
--- Que eu saiba, não. – respondeu a outra nora de Dulce.
Josino:
--- Não é preciso. É um entupimento de uma artéria em alguma parte do corpo o mesmo de uma veia. Esse é o caso. – tentou explicar o enfermeiro.
Então, recomendou Josino a todos rumarem para as suas casas. Ele estava de plantão. Qualquer novidade, Josino retornaria. E assim, o pessoal voltou para suas casas atentas a qualquer chamado de Josino. O restante do dia transcorreu com graves preocupações para Otilia, Toré e Luiza. No meio de todos Luiza era a mais preocupada. Ela passou o restante do dia e da noite a se tremer de medo. Otávio procurava tranquiliza-la, mas a moça tremia de choro, muitas vezes à espera de alguma notícia. No domingo, ela passou logo cedo da manhã em casa de Toré avisando ter de ir para o hospital. O rapaz nada reclamou e disse ter de ir à feira do domingo. Após fazer a feira, ele rumaria para o hospital. E esse tempo demorou três dias. Ao passar do tempo, dona Dulce foi transferida para enfermaria onde havia outros enfermos, alguns em estado grave. A enfermeira verificou a pressão da paciente e saiu sem dizer coisa alguma. As visitas eram programadas para as três horas da tarde, porém, um acompanhante podia ficar desde as primeiras horas da manhã. E assim ficou sentada em um banco a filha de Dulce atenta a qualquer vestígio de fala de sua mãe. Mas Dulce parecia dormir o tempo todo. Nem ao menos na hora da refeição a mulher abriu seus olhos. E de hora em hora a enfermeira verificar a pressão da paciente. No quinto dia de internação a mulher abriu os olhos. A sua filha correu depressa para ver a sua mãe. Essa olhou para a moça e nada respondeu. Luiza se tremeu de medo. Quando a enfermeira veio verificar a pressão da paciente, Luiza comentou:
Luiza:
--- Ela não fala nada! – disse alarmada a filha da enferma.
Enfermeira:
--- É normal. É assim mesmo. Seu quatro está ótimo. – relatou a enfermeira e saiu.
Mesmo sem falar com ninguém ou dizer algo de bom ou não, dona Dulce passou quinze dias internada e recebeu alta. Nesse meio tempo, Otilia esteve no bar de Isabel por varias vezes e dizia sempre ser o quatro de sua sogra de estado ótimo, porém a mulher não falava nada com nenhuma pessoa. Muitas vezes a mulher caminhava pelo salão em companhia de uma auxiliar de enfermagem e de um dos seus familiares, porém nada raciocinava. Em dia de segunda feira a mulher recebeu autorização para sair do hospital. O médico acompanhante revelou ser a mulher portadora de Amnésia. Isso demoraria uns poucos dias ou meses, de acordo com a evolução da enferma. Certo dia, à noite a trocar palavras com o seu marido Toré, a senhora Otilia falou de uma garota. A meninota mostrou o álcool sobre a mesa da cozinha e, desde então, essa menina não mais surgiu pela vizinhança.
Otilia:
--- Eu cheguei a pensar em se tratar de uma neta da mulher ao lado. Mas. ...É curioso! Não a vi mais. Nem na casa e nem em outro lugar. – falou preocupada a senhora Otilia.
Toré:
--- Deve ser uma garota da vizinhança. – falou Toré a se acomodar na cama.
Otilia:
--- Pode ser! Mas àquela hora da madrugada? – falou com estranheza a mulher.
Toré:
--- Pois é. Elas correrem noite e dia. Eu tinha uma irmã que era assim. – falou quase a dormir.
Otilia:
--- Irmã? Que irmã? Luiza? – indagou preocupada a esposa.

domingo, 17 de junho de 2012

ISABEL - 18 -

- Gloria Swanson -
- 18 -
APARIÇÃO
Em um dia de sexta feira da semana seguinte, dona Dulce acordou pela madrugada e notou a lâmpada da sala acesa. Como Dulce havia desligado a lâmpada então imaginou ser Toré  a estar na sala para fazer qualquer coisa. Ela chamou o filho e esse não respondeu. Outra vez o chamou, e nada de resposta. A mulher se levantou da cama, com cuidado, calçando as suas chinelas em baixo da cama, reunindo sua mantilha a cobrir os seus ombros e seguiu ao quarto do filho, bem devagar. Então pode ver o casal a dormir e então voltou a sala para apagar a lâmpada acesa. Com certeza o filho acordou pela madrugada e acendeu a luz, verificou os seus petrechos e voltou para o quarto. Dulce pensou desse jeito. Mas, a chegar à sala, Dulce se espantou com o visto. Em uma cadeira onde punha os tecidos para costurar, ali estava sentada uma menina de seus doze anos. Ela olhou por mais tempo e notou uma filha sua que morrera quanto completara doze anos. A sua filha sorriu para a sua mãe e não falou coisa alguma. A mulher, tomada de espanto, gritou o nome do filho Toré:
Dulce:
--- Toré! Toré! Acuda-me! – gritou Dulce Pontes e a seguir desmaiou.
O filhou acordou sobressaltado a imaginar a voz de sua mãe e em seguida chamou por ela.
Toré:
--- Mãe! Mãe! A senhora me chamou? Mãe! - gritou mais alto o rapaz.
No igual momento Otilia, mulher de Toré, acordou e indagou algo a comentar:
Otilia:
--- Toré! Pra onde vai? – indagou Otilia tão de repente.
Toré:
--- Minha mão parece me chamar. – correu para o quarto pegado com o seu.
Otilia de imediato acompanhou o marido e foi em busca de informação.
Otilia:
--- Que foi? Que foi? – indagou espantada a mulher de Toré.
Esse saiu do quarto, pois nada de sua mãe estava no recinto. Ele rumou em direção à sala de entrada onde estava a lâmpada acesa. O que o homem viu tomou-lhe de espanto. A sua mãe prostrada sem sentido em um divã ali existente. Ele olhou em torno e nada pode ver. Segurou o pulso de Dulce e gritou alarmado.
Toré:
--- Mãe! O que a senhora tem? – gritou com alarme o rapaz.
Otilia correu com pressa e pediu para ouvir o seu coração se estava a bater. A mulher demorou por alguns segundos e declarou ao final:
Otilia:
--- Está viva, sim. É chamar alguém! – comentou Otilia a se referir a outra filha da mulher.
Toré olhou com agonia o declarado por Otilia. E pensou um pouco:
Toré:
--- Tem álcool? – perguntou agoniado o rapaz;
Otilia:
--- Lá dentro! – informou as pressas Otilia.
Toré:
--- Vou buscar! – deu a ver o rapaz.
Otilia:
--- Espere. Eu vou. É bom chamar Luiza! – disse Otilia aperreada.
Toré:
--- Não posso agora. Traga o álcool! – reclamou amedrontado o rapaz.
Otilia:
--- Vou já! Vou já! – respondeu com pressa a mulher.
Nesse mesmo instante a vizinha bateu à porta a procura de saber o havido, pois ouvira a gritaria de Toré pedido ajuda a dona Dulce. A mulher disse isso após entrar na sala. Quem abriu a porta foi a própria Otilia e logo voltou para a cozinha numa correria desenfreada. Ela procurava a garrafa de álcool com toda a presa e nem observou a menina que estava na sala de jantar. Foi preciso de alguns segundos para olhar para trás e ver a menina de doze anos a apontar a garrafa de álcool em cima da mesa. Ela pensou se tratar de alguém da casa vizinha e ao mesmo tempo não deu a maior importância. A menina trajava vestido branco e comprido pelo o que Otilia pode observar de relance. De posse do vidro correu para a sala de visita e esfregou álcool no pulso de Dulce. A mulher continuava sem sentidos. Otilia pediu para Toré ir à casa de sua irmã. O homem não sabia o que fazer.
Otilia:
--- Depressa! Vá embora! – reclama a sua mulher. A vizinha procurava despertar dona Dulce de qualquer forma.
Outras pessoas chegaram à casa de dona Dulce. A casa se encheu de gente, por assim dizer. O homem parecendo ser enfermeiro chegou às pressas e pediu licença. Ele tomou o pulso de dona Dulce e recomendou levar com urgência ao pronto-socorro.
Otilia:
--- Levar em que? – perguntou sem sossego a mulher.
Enfermeiro:
--- Eu tenho um carro. Pode-se levar com urgência. Eu posso aplicar uma injeção de coração. Mas é forma paliativa. O que ela se alimentou essa noite? – indagou o enfermeiro.
Otilia:
--- Ela comeu macaxeira! – falou desassossegada a mulher.
Enfermeiro:
--- Vou buscar o carro em pouco tempo. Depois de aplicar a injeção! – disse o homem.
Nesse instante chegou à casa a filha da mulher. Desesperada como que, Luiza reclamava por socorro e abraçou a mãe de uma só vez. O seu marido veio logo a seguir. Otavio indagou a Toré se a mulher passava bem. O rapaz confirmou que sim.
Otavio:
--- É bom levar ao pronto socorro. – recomendou o outro genro de Dulce.
O enfermeiro já estava com o seu carro estacionado na frente da casa. Ele entrou e observou o estado de torpor da mulher.
Enfermeiro:
--- Não reage. Vamos levar para o Hospital. Imediatamente! – falou com pressa o enfermeiro
Toré:
--- Agora assim? – indagou aperreado o seu filho.
Enfermeiro:
--- Logo! Não tem jeito! Ela não reage! Vamos! – reclamou o enfermeiro.
Em alguns instantes a mulher dava entrada no pronto socorro para ter o atendimento devido. O médico de plantão observou a paciente quase morta e orientou colocar a mesma em um balão de oxigênio até poder internar de vez dona Dulce. O filho Toré e a sua mulher mais a outra filha Luiza ficaram no salão a espera de alguma noticia. O enfermeiro entrou com pressa acompanhado a doente. Josino era o enfermeiro do socorro de dona Dulce. Ele trabalhava no hospital. Naquela madrugada era sua folga. Mesmo assim, voltou ao serviço para acompanhar aquela paciente. Luiza não se conformava. E dizia:
Luiza:
--- Minha mãe! Minha mãezinha! – chorava a mulher ao colo de Otilia.

sábado, 16 de junho de 2012

ISABEL - 17-

- Gwyneth Paltrow -
- 17 -
O VEXAME
Dias depois se deu o casamento de Isabel e Gonzaga na parte do religioso. O casamento foi em um dia de sábado. Nesse sábado Isabel passou o dia na casa de Toré. Com Isabel vinham dona Dulce, Otília e o próprio Toré. Era uma viajem para tratar da arrumação da noiva. Os seus padrinhos eram Toré e Otília. Os adultos sentem coisas de criança. Esse do casamento é um deles. A noiva não pode se mostrar ao noivo apesar de viver junto com ele há um bom tempo. E para o noivo vale o mesmo. A pressa  do noivo é coisa de dar em doido. Assim foi com Luiz Gonzaga. O homem ficou apressado para ver a noiva entrar da Igreja. Antes disso e o dia todo, Gonzaga fechou o bar antes da 01,00 horas da tarde. O negócio era se ajeitar para não chegar tarde a Matriz onde o padre já não sabia mais de tal casório. Não fosse o rapaz a cuidar de a Igreja ter de chamar o idoso e barrigudo padre, ele até depois da janta estaria a dormitar.  Para uns essa moleza era própria do sacerdote. Para outros, não era tanto assim. Era preguiça mesmo. Com certeza, as carolas ficavam a olhar o padre. Esse, não raro, na hora de um casamento sempre perguntava ao seu coroinha:
Padre:
--- O que vem agora? – perguntava o padre ao coroinha.
Coroinha:
--- As alianças! – segredava o coroinha ao vigário.
Padre:
--- Ah bom! Estão casados. – sempre dizia o sacerdote.
Por vias de dúvidas, o coroinha sempre estava a puxar na batina do padre quando era para mudar de página na Bíblia quando estava em um casamento mais pomposo.
Mas deixando isso para mais tarde, Isabel reclamava de tal costura no seu vestido de cetim. E toca a remendar na parte apertada. A noiva suava que nem bica. E sempre estava a dizer:
Isabel:
--- Vumbora gente! – relatava Isabel impaciente batendo com o pé no chão.
Tal coisa dava para Toré a oportunidade de gargalhar até demais. Sempre curioso com o que se fazia na sala, Toré ia e vinha da cozinha para fora da casa e dava uma olhada no que estava para cosicar ainda. Como se o negócio não tinha fim, Toré saía a gargalhar até os bofes saírem.  E Otilia reclamava de Toré:
Otilia:
--- Vem costurar, munheca! – dizia Otilia zangada com o marido.
Munheca significava pessoa que nada sabia. Era, com precisão, uma munheca de pau. Sem movimento.
O motorista do carro de aluguel a estar esperando pela noiva e seus convidados, cheirava mais a cebola que a própria cebola. Parecia até ter ele comido apenas cebola no seu almoço. E com cachaça, certamente. Toré foi quem observou tal fato. Nada quis saber para não espantar o motorista. Apenas conversava da safra dos hortifrutigrajeiros nessa ocasião. E o motoristas nem sentia aquilo com o seu bafo azedo de cebola. Apenas, a mastigar fumo, cuspia ao lado. E respondia a Toré apenas balançando a cabeça. O homem era bem trajado como mandava o rigor de um motorista de carro de aluguel: calça, paletó, camisa, gravata, cinturão, sapatos muito bem polidos com meias e um lenço no bolso da lapela. O homem era cem por cento de  elegância. A não ser pelo fumo a mascar constante e a cebola mal cheirosa a expelir no tempo. Nesse ponto ele era dono de um hálito horroroso. Enquanto isso, Gonzaga ficava a arrumar os seus trajes completo e, no bar fechado, o rapaz fazia a limpeza completa de todos os entulhos deixados na parte da manhã. Na verdade ele varria o chão com um pano molhado de estopa. Isso porque mais tarde estaria tudo aberto para atender aos fregueses. E se tudo desse certo a cervejada seria por conta da casa. Apenas os pratinhos eram pagos. De um momento a outro, Gonzaga chamava o assistente do bar:
Gonzaga:
--- Menino! Abotoa aqui! – gritava Luiz Gonzaga para o rapaz.
E o garoto, correndo, vinha fazer o serviço. Abotoa aqui, ponha o sábado engraxado, veja se tem prega no paletó, a calça está apertada, a meia é curta demais. E todas essas reclamações a se dar pelo homem antes do casamento.
Garoto:
--- “É um inferno esse homem”. – pensava o garoto com seus botões.
Após tudo arranjado, já eram às cinco horas da tarde, Gonzaga se retirava todo arrumado indo direto para a Matriz. Atrás, a turma toda das oficinas, do teatro. E mesmo o diretor do teatro estava à espera na nave do templo onde estavam outros amigos e penetras de Gonzaga. Uns reclamavam:
Pessoas:
--- Que calor da moléstia! – pronunciava um deles muito baixo.
--- Tá um horror! – replicava outro.
--- E o padre já chegou? – indagava intranquila uma mulher.
A nave é a ala central da Matriz onde se reúnem os fiéis de modo a assistirem o serviço religioso. Com certeza, a nave situa-se no eixo ocidental da Igreja estendendo-se do átrio da entrada principal ao Coro onde ficam os cantores das celebrações litúrgicas. A Matriz era de uma altura regular com cinco arcos de cada lado e a nave no centro. Nessa nave tinham os bancos e ao final estavam os santos e o Santíssimo Sacramento, ou seja, a Hóstia Consagrada onde todos os devotos faziam a persignação a passar pela Hóstia. Isso significava que Deus estava presente naquele recinto de  cerimonia e orações.
Na hora marcada Gonzaga estava presente à Matriz a espera de sua noiva. Ladeado por duas testemunhas – um mecânico e sua esposa – ele era impaciente com as arrumações feitas pelo o uniforme. Em um minuto se dizia acochado. Em outro era folgado demais. E o Sacerdote velho e barrigudo batia as suas mãos a espera da entrada da noiva. O Coro estava já pronto para entoar a Marcha Nupcial. A falta era apenas da noiva. E levou mais meia hora para o automóvel chegar. E assim que se deu o inicio a cerimonia religiosa para unir Gonzaga e Isabel para todo o sempre. Isabel ingressou na Matriz acompanha por sua testemunha a fazer o papel de seu pai – já morto – adentrado devagar como toda a cerimonia religiosa exigia. Muita gente dentro e fora da Matriz. Estava também a anciã, com seu manto a cobrir a cabeça e olhar cheia de graça aquela união santificada por Deus. A certa altura, de fora da Matriz, a anciã demonstrou satisfação e eterna alegria. E por fim, a anciã declarou a murmurar.
Anciã:
--- Deus te guie meu filho! Deus te guie! – falou em murmúrio a anciã.
E depois do enlace matrimonial era vista a velhinha a transitar bem devagar e arqueada pela calçada da Matriz e a rumar em via desconhecida. Quem pode ver a anciã, notou apenas o carro vindo em debandada e atropelar a velhinha. Foi uma coisa terrível e cruel. Pessoas das redondezas acorreram para acudir anciã. Mas era tarde demais. O carro, em debandada, seguiu a frente sem parar e as pessoas procuraram anotar a placa do veículo. A velha estava morta. Sua cabeça foi esfacelada pelas rodas do automóvel. Ela de nada sentiu. Formou-se uma turma em volta do corpo da anciã e alguém foi chamar a policia para garantir a morte da velha.
Tudo isso aconteceu enquanto na Matriz bem próxima o homem Luiz Gonzaga contraía núpcias com a sua querida noiva Isabel. Após o ato religioso os noivos tomaram o carro e rumaram em sentido contrario do acidente mortal da anciã.  Gonzaga soube depois de algum tempo da morte da velhinha. Ele ficou abismado por ter um acontecimento trágico ser a ocorrência no instante do seu casamento. E nem ficou, a saber, da velhinha abençoar o casal naquela legítima hora dos cânticos sagrados da Ave Maria. Toré abriu a garrafa de champanhe para comemorar a festa dos nubentes. E a festa prosseguiu noite adentro:
Gente:
--- Viva os noivos! – gritava um dos participantes.
--- Viva! – recitavam os demais.
E dona Dulce, Otilia – sua nora – e Toré – o seu filho – fazia a festa junto de Isabel, Gonzaga e toda a turma de fregueses do bar. O diretor do Teatro foi mais comedido. Após desejar votos de felicitações partiu para outro encontro no meio da fuzarca a imperar em toda a sala. A vitrola a tocar musicas da época e as garçonetes a servir os pratinhos eram tudo o que faltava naquela hora.
Freguês:
--- Mais uma aqui! – gritava um freguês a gargalhar.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

ISABEL - 16 -

- Charlize Theron -
- 16 -
ASSOMBRO
Dias depois, na semana seguinte, era por volta da meia noite e a gente moradora da região dos Trilhos já dormia a sono solto em todas as residências. Quando muito, era um trole a passar vindo de um terminal de trens ou coisa assim. Os galos cantavam a meia noite como era o seu costume. As luzes das casas quase todas apagadas sobrado um a tenra lâmpada acesa para alumiar a casas e nada mais. Um choro de criança era o mais que se ouvia. O silencio era total naquela ocasião. Um ruído despertou a senhora Dulce. A mulher já havia dormido desde as onze horas. E acordou com um agitar de cadeiras e um arrastar de mesa. De inicio a mulher nada pensou. Mas, ao passar do tempo ela chamou pelo seu filho, Toré, a dormir em um quarto anexo com a sua mulher. Dona Dulce acreditava ser o rapaz quem zoara dentro da casa ao ir ao banheiro. Por isso mesmo, para se certificar chamou pelo filho.
Dulce:
--- Toré?! Toré?! É você?! – indagou inquieta a mulher.
E nada ouviu Dulce como resposta. Do seu quarto ela percebia o havido no quarto do filho, ambos vizinhos separados por uma parede a dar espaço na parte de cima. O seu filho estava a dormir, pois o ressoar de Toré, isso ela ouvia. O barulho na sala de jantar para de ser feito. Mesmo assim, a mulher se levantou, com bastante cuidado, pois os ratos temerosos não podiam arrastar cadeira e nem virar a mesa a derramar uma panela ao chão, como Dulce ouviu naquela hora da noite. Agasalhada por um manto, toda encolhida de frio, Dulce foi até a sala onde ligou a lâmpada para melhor ver o sucedido, Porém, tudo estava quieto. Nem cadeira e nem mesa saíram do seu lugar. A olhar as ratoeiras Dulce teve a percepção de ver estarem ainda como suas iscas intocadas. Três ratoeiras a dormir o sono do justo. De inicio, ela pensou na casa ao lado. Ficou Dulce a escutar para ter a certeza. Nesse instante, surgiu às suas costas o seu filho a indagar:
Toré:
--- Que foi mãe? Ratos? – perguntou Toré a olhar as ratoeiras. Tudo estava normal. E ele voltou para saber da sua mãe o que houve.
Dulce:
--- Não sei. Um barulho esquisito. Alguém puxando as cadeiras. Chegou-se até derrubar a panela. Eu vim ver, mas tudo estava normal. Estranho! Muito estranho! – falou com temor a mulher.
Toré:
--- Deve ser o gato. Ele não dorme durante a noite. – fez ver Toré olhando para o telhado.
Dulce:
--- Gato não puxa cadeira e nem derruba panela! – respondeu a mulher com certa ira.
Toré:
--- Então foi na casa da vizinha! A senhora chamou alguém de lá? – indagou Toré.
Dulce:
--- Você é besta? Como vou saber se alguém de lá derruba panela? – resmungou a mulher enraivecida.
Toré:
--- Eu só pensei. Pode ser o velho bêbado. ... – imaginou Toré.
Dulce:
--- Só tua imaginação! Como é que pode vir gente derrubar panela na minha casa? E arrastar cadeira? – disse Dulce olhando para o filho e fazendo um tuc com a boca.
Nesse ponto chegou Otilia um pouco assombrada. E indagou:
Otilia:
--- O que houve aqui? – perguntou a mulher de Toré se agasalhando do frio.
Dulce:
--- Nada não! Besteira minha! – respondeu Dulce com a cara enfarruscada.
Toré:
--- Minha mãe disse que ouviu gente arrastando cadeira e derrubado panela! – respondeu o rapaz a sua esposa.
Otilia:
--- Virgem! E quem foi?! – indagou espantada a mulher de Toré.
Toré:
--- Não houve nada demais. Tudo estava em ordem. Eu penso ser o vizinho em bruta carraspana a vomitar. – sorriu Toré.
Otilia:
--- O vizinho?! – indagou perplexa a moça.
Dulce:
--- Invenção dele! Tá vendo que ninguém arrasta cadeira?! – argumentou Dona Dulce.
Otilia:
--- Virgem! Eu tenho é medo de certos beberrões! – relatou com firmeza a jovem.
Toré:
--- Nem parece! – completou o marido.
Otilia:
--- Nem parece o que? Por que eu trabalhei no bar?! Não tem nada a ver! – reclamou a sua esposa.
Dulce:
--- Esse matuto só pensa besteira! – respondeu a mulher e a procura de uma cadeira para se sentar.
O rapaz sorriu e alertou para que a sua mãe fosse se deitar.
Toré:
--- Amanhã é outro dia. Vamos dormir que a noite é d’água. – sorriu o rapaz.
Dulce:
--- Estou sem sono. Fico aqui mesmo. – disse a mulher embora cansada.
E então ficou Dulce a meditar talvez no barulhe havido. A sua nora também resolveu se sentar para fazer companhia a sua sogra.
Otilia:
--- Eu também estou. Fico com a senhora. – disse a moça.
Dulce:
--- Por mim pode ir se deitar. – falou a mulher cansada pelo tempo.
Toré:
--- E eu? – sorriu baixinho o rapaz.
Otilia:
--- Vá pra cama que depois eu chego. – falou Otilia a pensar no barulho.
Dona Dulce ficou cismando do acontecido até às três horas da madrugada quando voltou a dormir no seu quarto. O trem passava da Tração para a Estação do outro bairro. A máquina vinha por todo o percurso e, na dobrada da linha o maquinista apitou para alertar a vinda do trem e espantar burros da estrada de ferro. Talvez alguém. Pois na continuação do dobrar havia uma feira de produtos das outras cidades da região. Várias pessoas frequentavam a feira durante a noite toda e até mesmo pelo restante do dia. Os bêbados já estavam cheios de cana e muitos deles dormiam o sono da paz. Nem sonhar, os bêbados sonhavam. Mesmo assim muitos deles faziam caretas atrozes.