- Charlize Theron -
- 16 -
ASSOMBRO
Dias
depois, na semana seguinte, era por volta da meia noite e a gente moradora da
região dos Trilhos já dormia a sono solto em todas as residências. Quando
muito, era um trole a passar vindo de um terminal de trens ou coisa assim. Os
galos cantavam a meia noite como era o seu costume. As luzes das casas quase
todas apagadas sobrado um a tenra lâmpada acesa para alumiar a casas e nada
mais. Um choro de criança era o mais que se ouvia. O silencio era total naquela
ocasião. Um ruído despertou a senhora Dulce. A mulher já havia dormido desde as
onze horas. E acordou com um agitar de cadeiras e um arrastar de mesa. De
inicio a mulher nada pensou. Mas, ao passar do tempo ela chamou pelo seu filho,
Toré, a dormir em um quarto anexo com a sua mulher. Dona Dulce acreditava ser o
rapaz quem zoara dentro da casa ao ir ao banheiro. Por isso mesmo, para se
certificar chamou pelo filho.
Dulce:
---
Toré?! Toré?! É você?! – indagou inquieta a mulher.
E nada
ouviu Dulce como resposta. Do seu quarto ela percebia o havido no quarto do
filho, ambos vizinhos separados por uma parede a dar espaço na parte de cima. O
seu filho estava a dormir, pois o ressoar de Toré, isso ela ouvia. O barulho na
sala de jantar para de ser feito. Mesmo assim, a mulher se levantou, com
bastante cuidado, pois os ratos temerosos não podiam arrastar cadeira e nem
virar a mesa a derramar uma panela ao chão, como Dulce ouviu naquela hora da
noite. Agasalhada por um manto, toda encolhida de frio, Dulce foi até a sala
onde ligou a lâmpada para melhor ver o sucedido, Porém, tudo estava quieto. Nem
cadeira e nem mesa saíram do seu lugar. A olhar as ratoeiras Dulce teve a
percepção de ver estarem ainda como suas iscas intocadas. Três ratoeiras a
dormir o sono do justo. De inicio, ela pensou na casa ao lado. Ficou Dulce a
escutar para ter a certeza. Nesse instante, surgiu às suas costas o seu filho a
indagar:
Toré:
--- Que
foi mãe? Ratos? – perguntou Toré a olhar as ratoeiras. Tudo estava normal. E
ele voltou para saber da sua mãe o que houve.
Dulce:
--- Não
sei. Um barulho esquisito. Alguém puxando as cadeiras. Chegou-se até derrubar a
panela. Eu vim ver, mas tudo estava normal. Estranho! Muito estranho! – falou
com temor a mulher.
Toré:
--- Deve
ser o gato. Ele não dorme durante a noite. – fez ver Toré olhando para o
telhado.
Dulce:
--- Gato
não puxa cadeira e nem derruba panela! – respondeu a mulher com certa ira.
Toré:
--- Então
foi na casa da vizinha! A senhora chamou alguém de lá? – indagou Toré.
Dulce:
--- Você
é besta? Como vou saber se alguém de lá derruba panela? – resmungou a mulher
enraivecida.
Toré:
--- Eu só
pensei. Pode ser o velho bêbado. ... – imaginou Toré.
Dulce:
--- Só
tua imaginação! Como é que pode vir gente derrubar panela na minha casa? E
arrastar cadeira? – disse Dulce olhando para o filho e fazendo um tuc com a
boca.
Nesse
ponto chegou Otilia um pouco assombrada. E indagou:
Otilia:
--- O que
houve aqui? – perguntou a mulher de Toré se agasalhando do frio.
Dulce:
--- Nada
não! Besteira minha! – respondeu Dulce com a cara enfarruscada.
Toré:
--- Minha
mãe disse que ouviu gente arrastando cadeira e derrubado panela! – respondeu o
rapaz a sua esposa.
Otilia:
---
Virgem! E quem foi?! – indagou espantada a mulher de Toré.
Toré:
--- Não
houve nada demais. Tudo estava em ordem. Eu penso ser o vizinho em bruta
carraspana a vomitar. – sorriu Toré.
Otilia:
--- O
vizinho?! – indagou perplexa a moça.
Dulce:
---
Invenção dele! Tá vendo que ninguém arrasta cadeira?! – argumentou Dona Dulce.
Otilia:
---
Virgem! Eu tenho é medo de certos beberrões! – relatou com firmeza a jovem.
Toré:
--- Nem
parece! – completou o marido.
Otilia:
--- Nem
parece o que? Por que eu trabalhei no bar?! Não tem nada a ver! – reclamou a
sua esposa.
Dulce:
--- Esse
matuto só pensa besteira! – respondeu a mulher e a procura de uma cadeira para
se sentar.
O rapaz
sorriu e alertou para que a sua mãe fosse se deitar.
Toré:
---
Amanhã é outro dia. Vamos dormir que a noite é d’água. – sorriu o rapaz.
Dulce:
--- Estou
sem sono. Fico aqui mesmo. – disse a mulher embora cansada.
E então
ficou Dulce a meditar talvez no barulhe havido. A sua nora também resolveu se
sentar para fazer companhia a sua sogra.
Otilia:
--- Eu
também estou. Fico com a senhora. – disse a moça.
Dulce:
--- Por
mim pode ir se deitar. – falou a mulher cansada pelo tempo.
Toré:
--- E eu?
– sorriu baixinho o rapaz.
Otilia:
--- Vá
pra cama que depois eu chego. – falou Otilia a pensar no barulho.
Dona
Dulce ficou cismando do acontecido até às três horas da madrugada quando voltou
a dormir no seu quarto. O trem passava da Tração para a Estação do outro
bairro. A máquina vinha por todo o percurso e, na dobrada da linha o maquinista
apitou para alertar a vinda do trem e espantar burros da estrada de ferro.
Talvez alguém. Pois na continuação do dobrar havia uma feira de produtos das
outras cidades da região. Várias pessoas frequentavam a feira durante a noite
toda e até mesmo pelo restante do dia. Os bêbados já estavam cheios de cana e
muitos deles dormiam o sono da paz. Nem sonhar, os bêbados sonhavam. Mesmo
assim muitos deles faziam caretas atrozes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário