- Gabriela Duarte -
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O CASAMENTO
Isabel
entendeu de pronto. E ficou contente por saber ser Otilia uma bela noiva à
porta do casamento. A mulher ficou tão extasiada a procurar palavras e não as
encontrar. Lagrimas desceram dos seus olhos como se não estivesse acreditando
no convite feito àquela hora. Os negócios do bar, com seu movimento, atrapalhavam
até a viúva a atender aos fregueses a pedir uma dose de cachaça ou uma carteira
de cigarros. Era uma mão para aqui e outra para acolá, mas não se continha em
chorar ao saber ser Otilia uma amiga de tamanha sorte. E então mais ainda
Isabel ser a testemunha de inegável casamento.
Isabel:
--- Viva
minha amiga! Viva! Eu estou feliz em saber de você! Viva! – gritava Isabel aos
pulos e abraçada com Otilia.
Otilia
com muita graça soltou uma bela gargalhada ao dizer não imaginar ter tal
casamento severas importância, pois toda moça tinha um sonho de casar um dia ou
qualquer dia de sua vida. Para ela isso era bastante normal.
Otilia:
--- Eu
gosto muito de você. Pelo caso de nos conhecermos de modo tão casual e ficarmos
juntas como duas irmãs ou mesmo duas amigas. Saber de você esse entusiasmo é
isso que importa. E não foi por acaso que eu ti convidei. E Gonzaga também.
Apesar de não estar ele aqui agora. Vocês são os meus parentes mais próximos
nessa vida. – relatou à moça. E por sentimento uma lágrima furtiva lhe tocou a
face.
Isabel:
--- Ah.
Pois é isso mesmo. E para comemorar vamos abrir uma garrafa de Champanhe e
bebermos juntas. – fez ver a mulher viúva ao abrir a geladeira e tirar de dento
uma garrafa da bebida.
E a
conversa prosseguiu por tempos a fora. Otilia a dizer ser a mãe de Toré uma
bela senhora dos seus cinquenta anos. Seu nome era Dulce Pontes e já não tinha
marido. O nome de Toré era Joaquim Pontes. A mulher fazia costuras por
encomenda. Ela passava dia e noite a costurar vestidos de alguém. Uma jovem
moça de seus trinta anos, era filha de criação de dona Dulce. O seu nome era
Luiza. Já estava casada com um empregado da Rede Ferroviária. Seu marido era
Otávio. Eles moravam próximos da residência de Dulce. E dessa forma Otilia mostrou toda a história
de Toré. Ele se chamava Toré por ter uma estatura baixa e entroncada. Homem de
deveras força. E trabalhava como mecânico em oficinas do bairro.
Depois do
convite formulado e das conversas sem maiores importâncias Otilia migrou para a
sua residência onde já estava a trabalhar como ajudante de costureira. Com
certeza no preparo do seu enxoval bem simples, porém de mero gosto. A roupa de
Toré era feita por um alfaiate da região. Enquanto isso, Isabel contava a
Gonzaga o feito de Otilia. E não podia deixar passar o homem de na ocasião
pedir a mão em casamento de sua companheira. É tanto ter ela ficado alegre e
satisfeita por esse enlace. E declarou:
Isabel:
--- Dois
viúvos a se casar! – disse a mulher a gargalhar.
Gonzaga:
--- Pois
é. Eu e você. Junta os trapos em um saco! – disse o homem.
Dai por
diante outro casamento era também anunciado para depois do casório de Otilia e
Toré já devidamente marcado.
O dia
marcado para o casamento de Toré e Otilia passou rápido. Às três horas da tarde
de sexta feira já estavam os dois pombinhos e muitos outros casais novos e
idosos para acertar o enlace matrimonial. O Juiz de Paz falava alguma coisa e
então todos estavam devidamente casados. Isabel e Gonzaga permaneciam ali
apenas para assinar o livro como testemunhas. O vento frio constante soprava do
sul para o norte como se estivesse a agradecer a união do casal. Era uma
espécie de Aleluia dos mais humildes dos seres da sociedade dos viventes.
O casal
rumou para onde morava na rua onde o trem fazia a curva para seguir direto para
a estação. Os dois tremiam de felicidades. O carro era uma caminhonete de
Gonzaga. De tão apertada que era a boleia, quase não dava para levar quatro
pessoas: Gonzaga da direção, Isabel e mais os dois pombinhos alegres e
satisfeitos. Em casa ficou a mãe de Toré, a senhora Dulce e a sua filha Luiza
além de pessoas vizinhas tratando de organizar a festa do casal. A chegarem a
sua casa os dois noivos trataram logo de abrir a garrafa de Champanhe para
comemorar aquela festa de gente pobre. Nessa ocasião estava presente o senhor
Otavio, casado com Luiza, filha de criação de dona Dulce Pontes. Durante a
festa era amplo o numero de vizinhos a entrar e a sair da casa, beber mais do
que podiam e assim seguiam a vomitar para entornar outras bebidas novamente. A
festa durou parte da noite quando o casal foi deitar. De imediato, um ruído
espantou Toré. Rato, provavelmente. Ele
se levantou e, de posse de uma vassoura pesquisou a sala do almoço a procura do
barulhento rato. Após intensa procura, ele, Otilia e sua mãe Dulce voltaram a
deitar dizendo a mulher serem ratos da vizinhança e nada mais.
Dulce:
---
Ratos! Bichos nojentos! – falou seria a mulher. E foi se deitar também.
Mas o
caso não parou nesse ponto. Novos acontecimentos acudiram o rapaz. Toré, de imediato
se levantou e de posse da vassoura mexeu em tudo para ver se o rato aparecia de
alguma maneira. Por precaução, ele desligou a luz da sala e ficou quieto a
esperar do rato. Passou um largo tempo Toré, a espera de novos acontecimentos.
Como se nada mais ocorresse ele voltou a deitar no quarto ao lado da sala onde
já estava acostumado a dormir. Ele e Otilia. O tempo correu e nada aconteceu.
Por fim. Por volta das três horas da madrugada o sono foi mais forte e ambos
adormeceram.. O tempo da madrugada passou rápido eram mais das sete horas da
manha quando Toré acordou. Olhou ele para a sua mulher. Ela estava a dormir.
Sua mãe, Dulce, já havia acordado e cuidava do café da manhã. Toré, meio
aturdido pelo sono pediu a benção a sua mãe e depois viajou a procura do rato
da noite passada. Nada ele encontrou. Todos os cantos da sala foram examinados
por Toré. E ele, afinal respondeu a sua mãe.
Toré:
--- O
desgraçado deve ter uma toca em outro lugar. Pelo menos aqui não está. – disse
Toré.
Dulce:
--- Tem
muito rato aqui. Eles se escondem durante o dia. Eu vou ver as minhas costuras.
Eles podem subir na máquina. – respondeu a mulher a coar café.
Toré:
--- A
senhora já viu algum bicho destes por aqui? – indagou o rapaz.
Dulce:
--- É só
o que tem. Se eu for contar? – relatou a mulher a coar o café.
Toré:
--- Luiza
saiu antes da meia noite. – falou Toré.
Dulce:
--- O
marido tem serviço logo cedo. – respondeu dona Dulce.
Toré:
--- Hoje é
sábado! – respondeu inquieto o rapaz.
Dulce:
--- Que
tem isso? Sábado, domingo. Ele não tem dia para parar. Nunca vi! – fez ver a
mulher e encheu a caneca de café do rapaz.
Toré:
--- Estou
zonzo. – relatou Toré como querendo acordar.
Dulce:
--- Toma
café que desperta. – e buscou bolos e biscoitos para o rapaz.
Toré:
--- Não
tenho fome. – respondeu o rapaz escorando a cabeça em cima da mesa.
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