quinta-feira, 31 de maio de 2012

ISABEL - 08 -

- Cameron Diaz -
- 08 -
O QUARTO
O homem calou por certo tempo para poder responder. Ele era viúvo, sem filhos, não tinha parentes por perto e nem vizinhos gostavam do homem. Por isso mesmo, com seu andar meio lento, ele passava todos os dias por casas onde o pessoal cochichava coisas vãs a seu respeito. E ele não prestava atenção de maneira alguma. Gonzaga saía de sua casa pela manhã e retornava somente por volta de meia noite quando todo o trabalho estava terminado e nada mais havia a ser feito. Seu emprego era em um Teatro onde ele organizava quase tudo por assim dizer. Às vezes, principalmente em noites chuvosas Gonzaga aproveitava para dormir no próprio Teatro. Ela não tinha vicio de qualidade alguma. A não ser fazer uma fé no jogo do bicho. E fazia isso apenas como divertimento. À noite, quando havia espetáculo, ele estava a esperar os aficionados nas peças teatrais. Se fosse um amigo muito pessoal, Gonzaga permitia entrar sem a pessoa precisasse comprar ingressos. Era uma vida como sem existência a de Gonzaga ao passar todos os dias. O homem estava ali, de cabeça abaixada, com quem diria sorrindo para a doente e não tinha palavras para responder a Otília. Em certo momento, ele disse a moça:
Gonzaga:
--- Eu moro só. Minha mulher já é falecida. E não tenho filhos. Eu moro em uma casa não muito grande. Mas, se você precisar posso arranjar um colchão para você dormir no quarto ao lado. – disse Gonzaga até com voz acanhada.
Foi justo isso mesmo para Otília. A voz de Gonzaga surgiu como uma reza a um Santo. Enfim, a moça soluçou e começou a chorar. Ela teve um sonho capaz de surgir uma alma e oferecesse a moça todo o poder da salvação. No tal instante, Otília apertou a mão de Gonzaga e nada pode dizer. Apenas apertava a sua mão forte e de vez as lagrimas desciam pela sua face. Após alguns instantes, Otília falou:
Otilia:
--- Ô  meu Deus. Como Tu és bondoso. – e chorava sem saber o que falar.
Gonzaga:
--- Não chore menina. Eu não tenho muita coisa. E o pouco que eu tenho eu divido com você. – respondeu Gonzaga com certo afago.
Após cinco dias a moça teve alta do hospital. Já não sangrava mais. Sua pele morena dava entender ser ela bem mais clara, pois a palidez no seu rosto e suas mãos era dorida. Ao ter alta Gonzaga veio até a moça e a levou para sua habitação no bairro pobre da cidade, ficando a leste onde podia se ouvir o mar em plena madrugada. Otilia caminho devagar, arrastando os pés no chão frio do hospital e segurar o braço de Gonzaga. Por certa vez, ela se ancorou ao corpo do senhor e mais uma vez as lágrimas desceram por sua face. À frente do Hospital tinha uma praça de automóveis. O homem segurou Otilia e abriu a porta para que ela entrasse no banco de trás
O acertado foi de Gonzaga buscar a maleta de Otilia na pensão de dona Marina. Mas, ao procurar as roupas e outras vestes da moça, a dona da pensão se saiu com essa:
Marina:
--- E ela pensa que tem o que? – perguntou enfezada a mulher.
Gonzaga:
--- Não sei. Talvez as roupas de baixo. ...- respondeu o homem certamente acanhado.
Marina:
--- Pois essa mulher não tem nada aqui. Nem a mala! Pôs não digo? Come, bebe, dorme e ainda quer as roupas? Jogue do lixo! É isso que tem uma defunta! – fez vez zangada até de mais dona Marina.
Gonzaga:
--- Nem um sabonete? – indagou com vergonha o cavalheiro.
Marina:
--- Nada! Nem flores para o caixão! – respondeu com mais rancor a mulher.
Nesse ponto da altercação Isabel pediu a Gonzaga que ainda não saísse da pensão, pois a mulher moça tinha algo para entregar a Otilia. E esse se aquietou em um banco em baixo de um barracão. Ali ficou a esperar a doação de Isabel. Foi um pulo. A moça voltou no mesmo instante a trazer a pasta, escova de dente, sabonete e peças intimas para Gonzaga levar à Otilia.
Isabel:
--- Pegue o pacote. É só o que eu tenho. Onde ela está? – indagou Isabel sem maior intenção.
Gonzaga:
--- Na minha casa. Eu arranjei um quarto para ela. Agora vou levar o que a senhora me deu e comprar algumas coisas para ela fazer refeição. – relatou o homem.
Isabel:
--- Certo. Como eu acerto a vossa casa? – perguntou Isabel a olhar em volta.
Gonzaga:
--- É  fácil.  É só seguir o rumo da venta. – sorriu o homem ao dar o roteiro da casa. 
À tarde Isabel resolveu ir até onde Otilia estava. Para acertar com o endereço da casa a moça foi em companhia de Gonzaga. Era um caminho estranho para a moça, com subidas e descidas até chegar a parte plana onde se erguia a casa de morada de Gonzaga. Ele sentiu cansaço por ter de subir e descer constantemente pelas travessas e vias, as mais severas possíveis. Porém, tal fato era apenas o inicio de uma caminhada onde apenas existiam as casas de gente pobre. E por isso, Isabel se sentiu familiar, pois parecia até com a sua terra natal. Redes de arrasto dependuradas nas cercas era o maior assombro da moça. A certa altura, Isabel perguntou a Gonzaga para que serventia aquelas tralhas dependuradas para, com certeza, secar. O homem sorriu a caminhar em seu modo e, por fim, respondeu:
Gonzaga:
--- Arrastão. É de pescaria. – comentou o homem.
Isabel:
--- Pescaria? E os homens apanham peixe com isso? – apontou a moça para as redes.
Gonzaga:
--- Ora está! E muitos! Desde tainha até tubarão. - sorriu o homem a continuar o seu caminhar.
E Isabel um tanto assombrada comentava nunca ter visto coisa igual. Em seguida, após subir um batente, a moça chegou à casa em companhia de Gonzaga. O homem abriu a porta e viu de imediato a sua amiga Otilia e apresentou a vista de Isabel. As duas mulheres se abraçaram e Isabel, de momento, se afasto um pouco alertando Otilia para evitar fazer esforço, pois  a moça ainda estava em resguardo.
Otilia:
--- É verdade. Mas o pior já passou. Eu garanto nunca mais fazer esse negócio. O que eu passei, nem te conto! – chorou a moça em confiar em Isabel.
As duas mulheres jovens ficaram a conversar sabre a estadia no hospital e mais coisas vãs enquanto Gonzaga fazia uma arrumação na dispensa e colocando mais artigos para a moça, quando quisesse fazer uso. Ele foi até o banheiro e sentiu a cheiro azedo do vaso. Ele puxou a descarga e voltou com seu andar lento até o quarto da moça. Olhou para a mesinha e notou faltar algo. Gonzaga perguntou:
Gonzaga:
--- O relógio? – perguntou Gonzaga.
Otilia:
--- Lá dentro. Eu estava fazendo sopa. Se o senhor quiser, é só tirar. – respondeu Otilia.
Isabel:
--- Sopa? Estás na cozinha? – perguntou a visitante.
Otilia:
--- Mas não faz esforço. Eu sinto falta de você. Nossas conversas. – chorou Otilia.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ISABEL - 07 -

- Scarlett Johansson -
- 07 -
O REPOUSO
Porém não havia sangramento por questão de vasos. Houve sim; a ruptura uterina por consequência das contrações fortes e contínuas num trabalho de parto. De um modo ou de outro, Otília foi conduzia em um carro de Meu Veio motorista e mecânico. O homem ajudou a levar a jovem moça para o hospital onde teria maiores cuidados por parte de ginecologistas e obstetras a fazer plantão naquele pronto-socorro do Estado. Nada demorou tanto assim. De imediato a enfermagem colocou os tubos de medicamentos, soros e foi verificar o tipo de sague de Otília para poder injetar na veia da paciente. Desacordada ou nada sabendo, Otília se deixou fazer tais operações de imediato.  A chuva era forte por demais no hospital. O sistema de iluminação era próprio, pois não havia a energia normal em falta na capital. O Hospital era um mundo à frente de toda a Cidade. Os cuidados com os pacientes novem ou não eram mais do que se podia cuidar em uma casa ou um quarto de pensão. As atendentes passavam vexadas e sem reclamar ou se perceber ter alguma coisa em falta. Eram mulheres plenamente capacitadas para atender a um idoso ou a um recém-nascido. Tudo feito no maior cuidado com presteza e carinho. De nada se ouvia alguém falar da falta do medicamento. Os médicos estavam sempre a pronto para dar a vida a um indigente ou a um paciente de melhor condição no atender. De um lado estava à moça Otília, totalmente indigente. E foi do mesmo modo no atender. Levou-se para a sala de pronto socorro onde se submeteu Otília a laparoscopia onde os profissionais da saúde podiam corrigir tudo o de errado cometido. Para os homens e mulheres da ciência de nada importava o chicotear dos trovões a todo instante.
Enfermeira:
--- Que venha o Céu! – dizia alguém na sala de cirurgia.
A mecânica funcionou e ao cabo de uma ou duas horas a pacientes estava pronta de novo para a vida. Ainda sedada, Otília nada se mexia. Gonzaga permaneceu no hospital até o ponto de saber ter a moça sido posta em um quarto do hospital. O homem se refez e ainda assim, quando saiu para casa, um trovão deveras assustador se rompeu de repente bem acima do mar. O relâmpago clareou toda a colina.
No dia seguinte, com a iluminação da sua casa plenamente refeita, dona Marina cuidava dos pratos a servir a quem viesse. Isabel foi mais uma vez a única a trabalhar com toda pressa a buscar e a levar pratos de uns e de outros consumidores da manhã. O tempo havia clareado pela manhã logo cedo nem parecendo ter chovido a píncaros durante a noite e madrugada. Nas oficinas próximas os operários já estavam no serviço como se nada tivesse ocorrido. No bar, seu Arnaldo estava a limpar todo o local com a ajuda de sua mulher, dona Iracema. Os funcionários da Companhia de Águas estavam a chegar logo cedo do dia onde executavam as suas obrigações. No setor havia quem dissesse:
Operários:
--- Que chuva aquela! – dizia um operário a trabalhar.
--- Nem me diga! Onde eu moro estava tudo empoleirado. – fez vez outro companheiro.
Na pensão seguia a rotina diária. Café, pão, cuscuz, mungunzá, pé-de-moleque e outros pratos para quem desejava comer do melhor. Por esse tempo, surgiu ainda alquebrado pela noite de sono o senhor Gonzaga para comer sua leve refeição. Isabel então perguntou ao homem com um gesto na cabeça:
Isabel:
--- Então? – indagou Isabel com respeito a Otília.
Gonzaga:
--- Passa bem. Pelo menos, passava ontem a noite. – fez ver Gonzaga um pouco cansado.
Isabel:
--- Vai ficar! Vai  ficar! Tudo Deus pode! Se Deus quiser! – comentou a moça a toda pressa
Dona Marina vinha saindo e ainda perguntou ao homem com a cara assustada:
Marina:
--- Morreu? – indagou a mulher.
Gonzaga:
--- Não. A moça está bem! – disse o homem procurando um local para se sentar.
Marina:
--- Ô! Pensei de o senhor dizer ter ela morrido! – falou a mulher com sua voz arrastada.
Gonzaga nada mais respondeu. E o seu costume de fazer cócegas nas outras pessoas sequer pensou em inventar. Era o seu costume fazer um clic e depois remendar com graça o que ouvira do companheiro. Se um colega dizia: “Brincadeira!” em tom de reprovação Gonzaga apenas respondia: “Qual é a ‘eira’?” -  e sorria a vontade. Costumeiramente Gonzaga tomava café todas as manhãs com tudo o que se servia. Contudo, naquele dia resolveu não querer coisa alguma. Por insistência de Isabel ele aceitou uma pequena xicara com café e nada mais.
À tarde Gonzaga foi a vista das três horas da tarde ver o moça como estava. Ele levou maçãs e uvas para Otília. Com o tempo estio, Gonzaga adentrou no aposento da moça e lhe fez presente as frutas adquiridas. Otília agradeceu e então sorriu. Lagrimas rolaram pela face da mulher ao ver ter somente Gonzaga como seu visitante. Mesmo assim, o homem declarou ter Isabel a intenção de vista-la também. A moça então mais que chorou. Gonzaga, respeitando o local de silencio ainda perguntou:
Gonzaga:
--- O médico o que disse? – indagou sussurrado.
Otília:
--- Nada! – respondeu a moça.
Entre camas e outras, visitas afins, uma enfermeira se aproximou do homem a perguntar.
Enfermeira:
--- O senhor é o pai? – indagou quase sem falar a enfermeira.
Gonzaga:
--- Amigo. Eu trouxe a moça para ser atendida. – respondeu o homem.
Enfermeira:
--- Ela está bem. Deve ter alta em breve. – replicou a enfermeira.
Gonzaga:
--- Assim é melhor. Se assim a senhora acha. – disse o homem a contragosto.
A enfermeira tomou o pulso e a pressão de Otília e nada falou. Apenas se dirigiu a outra cama onda estava mais paciente. Otília estremeceu um pouco e isso deixou preocupado o homem. Nesse momento ele perguntou se estava a sentir algum incomodo. E a moça respondeu:
Otília:
--- Náuseas!  - foi o que respondeu.
Gonzaga:
--- É bom dizer a enfermeira. – disse o homem quase a soletrar.
A enfermeira estava a passar quando Gonzaga a chamou com o seu tradicional “psite”. Então a enfermeira se voltou e ouviu Gonzaga. O homem declarou ter a moça um estremecimento naquele momento. A enfermeira declarou ter Otília de sentir alguns calafrios. Porém não era nada de mais.
Enfermeira:
--- Isso é normal. Passa com os dias. Dois dias. – relatou a enfermeira a sair depressa o salão dos enfermos.
Gonzaga se voltou para Otília e declarou está tudo normal. A moça ainda a lacrimejar indagou a Gonzaga afinal o que faria ao sair do hospital.
Gonzaga:
--- Vai para a sua casa. – disse com calma o homem.
Otília:
--- Mas eu não tenho casa. Para a pensão a mulher não vai me querer. E eu não sei para onde ir. O senhor tem quarto em sua casa? – perguntou a moça um tanto aflita.

O REPOUSO

terça-feira, 29 de maio de 2012

ISABEL - 06 -

- Charlize Theron -
- 06 -
INVERNADA
A enxurrada trazia os basculhos encontrados pelo caminho de ladeira a cima fazendo uma perigosa agitação para os mecânicos. Esses suspenderam o trabalho que eles faziam a frente das oficinas pelo cuidado com a sua própria segurança e nada mais. A gritaria teve inicio nesse ponto com cada qual arrastando seu material de serviço, fechando os carros e correndo para dentro das oficinas. Eram dez oficinas e não se podia observar movimentação alguma para o recomeço das atividades normais. A temperatura caiu vertiginosamente impedindo o trabalho dos pintores e a ação dos lanterneiros. Era chuva muita, dessas que engrossam cada vez mais a todo instante alagando ruas e calçadas a impedir a ação dos próprios trabalhadores das lojas de artigos automotivos. Foi então a gritaria.
Mecânicos:
--- É chuva muita. – diziam uns.
--- Engrossa o caldo Arnaldo! – alguém dia se referindo as bebidas.
--- O negocio é cana! – outro falava a se esfregar todo com os seus próprios braços.
E foi assim à tarde e noite daquele dia. Arnaldo era dono de um sujo boteco de vender, principalmente bebidas. Ao escutar o seu nome se virava e torcia o braço para cima como a quem dizer:
Arnaldo:
--- Vamos dá-lhe!  – e sorria eufórico a limpar o balcão.
O temporal veio com relâmpagos e trovões. Em determinado instante o céu estremeceu por causa de um forte trovão. E tudo ficou escuro de repente. Apesar da claridade da tarde, até mesmo as lâmpadas dos postes acenderam inesperadamente. A chuva cada vez mais forte interrompeu até mesmo o fornecimento da elétrica para certos pontos da cidade, caso só a conhecer no dia seguinte ao se fazer um balanço dos estragos causados pela deficiência de iluminação. Se nas ruas tinha luz essa mesma faltava na maior parte da capital a deixar as donas de casa em polvorosa.
Já estava a anoitecer quando Otília chegou toda envergada de braços unidos ao corpo a gemer como quem padecia uma forte dor e passou por Isabel adiantando para sua colega ter tirado o feto. E por tudo feito ela teria de ir se deitar,  pois as dores eram lancinantes. Isabel ouviu e nada comentou para não dar vazão à dona Marina de todo o saber. Isabel estava servindo às mesas postas do lado de dentro da pensão, motivadas pela tempestade de raios e trovões arrebatantes onde havia até mesmo falta de luz. E até na pensão. Dona Marina usou o método antigo: lampião de gás.  Embora se aquecesse no fogão à carvão, a mulher sentia frio intenso a todo instante. Quando Otília voltou à mulher nem chegou a prestar atenção. Foi nessa ocasião ter um senhor de nome Gonzaga a indagar se a outra moça do serviço estava adoentada que dona Marina falou:
Marina;
--- Não sei! Ela saiu. Com esse inverno..... Mas deve voltar ainda hoje. – respondeu com a fala arrastada a mulher.
Gonzaga:
--- Mas a moça já voltou. Estava toda encorujada. Pobre coitada. É essa chuva mesmo! – deduziu seu Gonzaga.
Marina:
--- Ela voltou? Eu nem vi. Essa menina, você viu Otília? – indagou um pouco displicente a mulher.
Isabel:
--- Ela está no quarto. – falou Isabel sem tecer comentário.
Marina:
--- Pois chame a moça. Aqui só tem você. Chame a moça. – falou arrastada dona Marina.
E Isabel, sem mais nem menos foi correndo ao quarto de Otília avisar ter dona Marina tomado  conhecimento ter a moça retornado. E não podia dizer outra historia.  Queria Isabel saber qual historia teria para contar:
Otília:
--- Eu estou muito doida. Diga a dona Marina que eu estou passando mal. Ela vai entender. - ressaltou a moça toda se contorcendo de dor.
Isabel:
--- Ela vai entender o que? Que você tirou a criança? – indagou assustada a moça.
Otília:
--- É. Sim. Diga a ela! Eu não aguento mais! Ai que dor! – respondeu a moça a lacrimejar com a dor terrível.
Isabel:
--- Meu Deus! Você está cheia de sangue! Olha o colchão?! – falou alarmada Isabel olhando para baixo da coberta de Otília! E pôs a mão da boca com os olhos bem abertos.
E finalmente saiu do quarto com imensa pressa assustada por demais e a chorar também com a certeza de dona Marina entender a situação de Otília. E foi em um minuto a contar para a mulher com respeito a situação da antiga domestica da pensão. A chuva caia a píncaros sobre toda a cidade, No bairro onde ficava a pensão à lama já atingia meio metro não permitindo o transito de carros pequenos. Apenas caminhões e ônibus podiam transitar sem maior susto. Além do mais havia falta de luz e não se sabia quando devia voltar à energia. Isabel contou o que não queria e a senhora da pensão logo se alarmou:
Marina:
--- Morrer? Na minha casa? Nunca! Pode mandar a moça encher a mala! Ora mais! Eu tô mole mesmo! Os outros fazem o serviço e vem morrer às minhas custas! Pode mandar a moça procurar outra cova! Eu não estou dizendo! – fez ver a mulher cheia de ira.
E nessa ocasião os ânimos se aqueceram dos demais consumidores noturnos. E um foi o próprio Gonzaga a indagar o estado de saúde da moça. Com isso Isabel falou:
Isabel:
--- Ela está morrendo. Tá um monte de sangue assim! – relatou a moça fazendo gesto com as mãos.
Gonzaga:
---Deixa-me ir até o quarto, velha? – perguntou Gonzaga a dona Marina. O homem costumava chamar a mulher de “velha”.
Marina:
--- Que me importa! Vá morrer noutro terreiro! – comentou com muita ira a mulher.
Gonzaga mais Isabel foram até o quarto de Otília. A turma quase toda foi ver a mulher. Na ocasião, Gonzaga nada indagou. Apenas disse à moça:
Gonzaga:
--- É melhor leva-la para o hospital. Eu peço a Meio Veio e ele leva agora. – relatou Gonzaga falando com Isabel.
Isabel:
--- Quem é esse homem? – perguntou assustada a nova domestica.
Gonzaga:
--- Meu Veio? É um homem. Ele leva na hora. Vou buscar o carro. – falou Gonzaga e saiu mais que depressa.
A mulher se esvaia em sangue. Sua palidez era enorme. Quem a viu procurava correr do local com bastante temor.  A certa altura, Otília já nem podia mais falar. Quase todo o sangue correu de vez. Isabel não sabia o que fazer para contornar a situação grave por demais. A hemorragia era provável de um rompimento de uma artéria. A mulher podia ter a morte quase imediata por soltar todo o sangue em jatos fortes e rápido. Isabel se lembrava de caso semelhante ocorrido onde morava. A mulher corria risco de morte e, em vez de deixar a pessoa apenas deitada, procurava manter a pessoa um pouco mais elevada do que seu próprio coração e fazer pressão por dez minutos em cima do local do sangramento.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

ISABEL - 05 -

- Julia Roberts -
- 05 -
ABORTO


No decorrer da semana Isabel já estava arranjada com as comidas e, por acaso, bebidas para a grande parte dos frequentadores da pensão, principalmente aos costumeiros do meio dia, por assim dizer e quando os homens pediam uma cajibrina, birita e até mesmo saideira  ela estava com a mente certa de uma bebida forte, como cachaça. E assim Isabel se seguiu aprumada e além das bebidas, a moça já estava contende a oferecer um tira-gosto, coisa não vista no interior onde a prestimosa serviçal atendia a todo gosto dos homens frequentadores. Para dizer se havia algum simpático, Isabel nem se voltava a esse caso. No seu trabalhar tinha apenas de servir e lavar pratos até às nove horas quando estava pronta para cair na cama.
E a vida foi assim sem maiores atropelos. O movimento do dia e o parar quando houvesse feriado. Certo dia, não muito tempo depois, Isabel estava desperta por volta das quatro horas da manhã quando bateu a sua porta a domestica Otília. Era cedo para se começar o serviço. E por pouco tempo Otília foi conversar com sua nova amiga de serviço coisas do dia a dia. Até ai tudo bem. Mas ao continuar da conversa Otília chegou a falar em uma questão de abortu:
Isabel:
--- Aborto? – indagou com assombro a moça.
Otília;
--- É. O negocio está atrasado. Eu fui a Taperoá e ele falou ser menino. – explicou Otília.
Isabel:
--- Filho? Você está buchuda? – indagou mais alarmada ainda.
Otília:
--- Eu creio. Mas Taperoá disse que se faz aborto. E eu estou na duvida. – reclamou a moça.
Isabel:
--- Quem é esse Taperoá? – indagou bastante cismada.
Otília:
--- É um enfermeiro. Ele entende do caso. Eu não tenho é dinheiro para pagar. – relatou a moça bem preocupada.
Isabel:
--- Dinheiro? E se cobra para fazer uma sujeira dessas? – indagou perplexa
Otília:
--- É verdade. Tem os medicamentos.....Ele faz o aborto...Tem muita coisa. ... Mas se paga pelo serviço. ... Agora, eu não tenho dinheiro para fazer o aborto. – comentou quase a chorar.
Isabel:
--- E o pai? – perguntou a moça a querer sabem o homem responsável.
Otília então entrou em um desengano total e baixou a cabeça por entre as suas pernas para dizer se ela uma mãe solteira.
Otília:
--- Não tem pai. Eu saí com vários. Pode ser qualquer um. – relatou a moça a chorar.
Isabel:
--- Qualquer um? Como é que pode? Na minha terra nunca ouvi falar desses troços! – falou mais assombrada que nunca.
E Otília caiu em pranto longo e lastimoso por não ter numerário para fazer aborto. Era um caso deveras de aflição a todo custo. Isabel ficou pensativa sobre o problema da sua amiga. E por fim deu sua resposta.
Isabel:
--- Peça um adiantamento? – falou a jovem ao se referir o numerário para pagar o aborto.
Otília:
--- Dinheiro? É o que você pensa. Aqui não se ganha coisa alguma. A gente trabalha pela comida. Dinheiro se arranja nas saídas da noite. Mas nem todos os fregueses dão certa quantia para se pagar até mesmo o quarto. – falou a soluçar a moça do bordel.
Isabel:
--- Onde fui amarrar meu jumento! – relatou Isabel pensativa.
Isabel ficou a pensar ter feito o mais complicado dos negócios da sua vida. Estava a moça em um lupanar o qual se passava por pensão de servir comida. A infortunada operaria nada estava a receber qualquer centavo pelo feito. Isso também acontecia no interior: moças empregadas a trabalhar sem nenhum pagamento em casas dos soberbos e faustos Coronéis. Era assim que Isabel tinha a conhecer a gente rica do lugar. Já chegara às quatro e meia da manhã e as moças ouviram o barulho das panelas. Com certeza, dona Marina estava a cuidar das tarefas da manhã. Em seguida, Otília pediu licença a Isabel para se ausentar e tomar conta do serviço.
Otília:
--- Vou chegando. Depois a gente conversa. Bico calado. Não que ela saiba. – falou Otília a se referir à dona Marina.
E nesse ponto se ausentou a nada virgem para se ocupar das suas obrigações. Era mais o dia de terror a enfrentar. Café para um, mungunzá para outro, cuscuz para não sei quem. E a vida continuava sem progresso na rotina de Isabel.  O certo é ter a moça a procurar outra ocupação em qualquer canto. Mesmo assim, salário era uma coisa de se falar. Se fosse para a rua, ela arranjava algo para comer e beber. Mas então ficava o problema de moradia. Diante de tais fatos, Isabel se aquietou de vez a espera de melhor ocasião. Na tarde daquele dia Otília se ausentou da pensão. Ela deu informação para onde deveria ir e disse apenas o de sempre:
Otília:
--- Vou caminhar. – falou Otília a meia voz para Isabel.
Isabel:
--- Para onde você vai? – perguntou preocupada a moça.
Otília:
--- Ali! – e apontou para a rua.
Sem mais nem menos a moça saiu. Ela e sua barriga. Isabel ficou a supor se teria Otília conseguido dinheiro com os mecânicos ou motoristas os quais estiveram na taberna. Mas de nada adiantou o seu pensar. Apenas a mulher dona do restaurante ainda perguntou:
Marina:
--- Onde foi à menina? – indagou com sua voz de quem chora.
Isabel:
--- Não sei. Não me falou. Disse apenas que ia ali. – comentou a outra ajudante de cozinha.
Marina:
--- Estranho. Vai assim sem dizer a gente? – cismou dona Marina.
Isabel:
--- Deve ter ido a alguma farmácia. – declarou Isabel tentando suavizar o caso.
Marina:
--- Estranho! Ela teve algum compromisso? – perguntou a dona da pensão.
Isabel:
--- Se tem nada falou. – respondeu Isabel enxugando a louça.
Marina:
--- Hum rum. Essas mulheres? – indagou sem querer dizer o sento da frase
O tempo mudou de vez. A chuva se fez presente. Era um aguaceiro total. Dona Marina recuou as mesas para baixo de um galpão, mas nem por isso evitou a se molhar. Isabel também estava na mesma faina. A chuva engrossou e de um momento para outro só se ouvia o gritar dos mecânicos a se encolher de frio com a chuva torrencial.

domingo, 27 de maio de 2012

ISABEL - 04 -

- Keira Knightley -
- 04 -
CININHA
O balaieiro ainda ofegante pela pressa como chegou à pensão de dona Marina nada tremia e apenas era só um homem de carregar balaio e, em certas ocasiões, reportar os notáveis acontecimentos havidos na Capital e mesmo no interior próximo ou distante. Ele era como um homem que sabia de tudo ou de nada sabia. Robusto, moreno, roupas aos trapos e quase sem botões na camisa, mãos enormes, braços fortes, todos os fregueses da pensão o conheciam por simplesmente Canhão. Se, na verdade, Canhão tinha um nome de batismo, nem ele mesmo sabia dizer, porquanto do seu apelido era só o quanto atendia. E nesse dia Canhão já estava com a notícia de patente morte acontecida:
Canhão:
--- Ali! Foi bem ali! O povo todo está lá! Um homem pegou a mulher com outro e deu só uma peixeirada na virilha! Ela botou todo o sangue pra fora! Morreu! Eu vi! Estava lá! O homem fugiu! E ninguém sabe pra onde! – relatou Canhão, apressado por demais e limpando o rosto de suor.
Canhão trazia um balaio vazio e, pois na parede da casa. As mulheres ficaram abismadas e dona Marina ainda perguntou:
Marina:
--- E quem é a mulher? – perguntou mexendo um tacho de comida a trazer na sua barriga.
Canhão:
--- Cininha! Parece! É mulher da vida! – respondeu o homem forte.
Canhão, quando andava parecia até um homem saído da caverna. Era banzeiro e caminhava como o homem a trazer o mundo em suas mãos. Ao dizer ser a mulher uma prostituta, o caso parecia ter encerrado. É tanto que os circunstantes retomaram às suas atividades comuns: apenas comer e sem mais comentar.
Circunstante:
--- Ah! Cininha! Eu sei quem era! Bonita! Mas era de todos! – comentou um dos circunstantes.
Circunstante – 2:
--- Eu sei quem era o homem com qual viva atualmente. Era José Palácio. Era qualquer um. Vivia do que as mulheres davam a ele. Espécie de gigolô. Eu sei quem é! – teceu comentário outro da mesa.
E a conversa girou em tono de Cininha, cada um contando o saber da dama da noite. Outros falavam do tempo em que era ainda adolescente a mulher. Cada um que tivesse uma história diferente para contar. Houve até um caso de um mecânico a dormir no banco de um velho carro o qual não servia para nada, a espera do bar fechar para ele poder buscar Cininha.
...
Cininha:
--- Que estás fazendo ai? Eu não gosto que você me espere. Eu fico enquanto tem gente! – proferia Cininha com a cara abusada.
Mecânico:
--- Ora! Eu não gosto quando você fica! – dizia o homem acabrunhado.
Cininha:
--- Ah lá! Pois se quiser é assim. Se não quiser pode passar! – respondia a dama.
Mecânico:
--- Mas eu gosto de você. É só isso! – falava o mecânico como a pedir clemência.
Cininha:
--- Gosta porque quer! Eu não pedi! A rua é larga! Eu tenho a minha vida! E é com ela que vou viver até a morte! – falou com muita raiva a mulher.
Mecânico:
--- Não diga isso Cininha! Você é uma pessoa descente. Tem tudo para ser gente grã-fina. Eu mesmo posso dar outra vida a você! – disse mais assustado o mecânico.
Cininha:
--- Coma moléstia que tu ganha? A-ra! Va esperando! Nunca você vai ter a satisfação de me ter como mulher somente sua! Eu tenho os meus convidados! Eles têm dinheiro de monte! E é com eles que eu faço meu pé de meia! – respondeu a mulher de forma arisca.
Mecânico:
--- Eu tiro minha vida se você não me aceitar! – repostou o mecânico com a cabeça pendida.
Cininha:
--- Tira a sua vida? A-ra! Tira nada! Você nasceu pra ser corno! Ou comigo ou com outra! A sua mulher foi à primeira! De chifre não se morre! – fez ver Cininha.
...
Circunstate-2
--- E no outro dia encontraram o mecânico enforcado é uma arvore. – disse o circunstante.
A conversa ainda durou mais algum tempo a se falar da vida das mulheres perdidas, das damas da noite quanto acalmava no comércio. Então era a vez das mulheres começar a fazer a vida com uns e com outros.
As horas passavam e os comentários sobre Cininha foram se acalmando porque nenhum consumidor aparecia para levantar o assunto. Por vezes, um motorista vinha toar café por alguns instantes e logo voltava. Hélio, filho de dona Marina, apareceu de repente dizendo apenas a estar de viagem no caminhão de Otacílio para pegar frutas em Estado vizinho. Talvez ele somente voltasse dentro de três ou quatro dias.
Hélio:
--- É a viagem de sempre. Otacílio está ocupado com entrega de jornais. E, eu sou o único em que ele confia. – sorriu leve o rapaz.
Isabel:
--- Qual cidade? – indagou a moça querendo saber se era perto ou longe de seu lugar.
Hélio:
--- Eu vou a várias. Macaxeira, Peroba, Montes e outras. Você conhece? – indagou sorrindo o rapaz.
Isabel:
--- De nome, apenas. Nunca fui. – relatou a moça lavando panelas.
Hélio:
--- É bom. Lugares de gente pobre, porém rica de afeto. – reconheceu o motorista enquanto arrumava a suas roupas de viagem.
A sua mãe disse apenas ter colocado o macacão em cima de tudo, na mala onde se punha roupas.
Marina:
--- Ali! – e apontou a mala ao rapaz.
Hélio foi vera mala e tirou seu macacão de viagem. E respondeu a sua mão ter ainda um outro macacão. Um sujo de graxa.
Hélio:
--- Está todo suje de graxa. Ele eu quero levar. Se houver necessidade eu uso o velho. – responde o rapaz.
Marina:
--- Aquele, eu limpei. Está no varal. – respondeu a mulher.
Hélio:
--- Ô mãe. Não precisava lavar. É o macacão de trabalho. – reclamou o rapaz procurando a roupa no varal do lado de fora da casa.